O Cardeal sentou-se com um ar preocupado e disse para o Bispo, que sentado num outro sofá lia o jornal:
- E agora como vai ser? Deixámos de fazer parte do protocolo do Estado. E eu que abracei esta vocação, pensando sempre que iria estar presente nas inaugurações e festas em lugar de destaque! Que vai ser da minha vida.
O Bispo, levantando os olhos do jornal onde lia a referida noticia, comentou:
- E então eu, que até tinha a minha agenda livre aos fins de semana para poder estar presente nessas tão importantes cerimónias protocolares.
Ficaram ali os dois, cabisbaixos e meditativos, tentando colocar em ordem os seus pensamentos. Que grave e profundo golpe lhes tinha infligido aquele governo socialista.
Que iria ser da Igreja, que como todos bem sabiam, tinha sido fundada, instituída, precisamente para se fazer representar no protocolo de Estado.
Noutro ponto da capital, ufano da sua inteligência, o chefe do governo, dizia para os seus pares:
- Isto é que foi uma remodelação importante que fizemos! Agora já sabem quem manda e quem é verdadeiramente reformador!
Um dos ministros, levantando a sua mão em jeito de pedir a palavra, disse:
- É verdade, Senhor Primeiro, mas podemos agora falar do desemprego.
Responde-lhe o outro indignado:
- Então você, depois desta tão importante medida vem-me incomodar com coisas comezinhas. Esfalfa-se a gente a elaborar remodelações importantes para o país e a única coisa que você sabe falar é do desemprego! Ora abóbora, homem!
O ministro engoliu em seco, e reconheceu a justiça das palavras do Primeiro.
No Patriarcado, depois do riso contido provocado pela ironia do que tinham dito um ao outro, o Cardeal e o Bispo dirigiram-se à Capela e de joelhos oraram:
Ouve Senhor a nossa prece, por este pobre país que não encontra rumo e se perde na pequenez dos seus objectivos.
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