domingo, 13 de fevereiro de 2022

A IGREJA E A ZEBRA

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Pai o que é a Igreja?
Vou contar-te a história da zebra que se achava mais bela do que todas as outras.

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Aquela zebra considerava-se perfeita.
Quanto a ela as suas listas eram as mais bem desenhadas, o contraste entre o branco e o preto da sua pelagem era fantástico, as suas crinas eram belíssimas a esvoaçar ao vento, o seu pescoço era digno de uma rainha, o seu andar era majestoso, o seu trotar fazia inveja aos outros animais trotadores e, portanto, aquela zebra achava que não precisava de mais nenhuma zebra para viver a sua vida, mais, até achava que de alguma forma as outras zebras impediam o seu crescimento dia a dia.

Um dia em que estava com sede aproximou-se do rio para beber, mas apercebeu-se que junto ao local melhor para beber, estava um bando de leões que com certeza lhe iriam fazer mal.
Com muito cuidado e com toda a velocidade que era capaz, chegou à água, bebeu duas ou três gotas sofregamente e, quando estava quase a ser apanhada pelas leoas e leões, conseguiu fugir, não sem levar na sua linda pele as marcas das garras de uma leoa que ainda lhe tinha tocado.
Percebeu então que para beber água e, sabendo que dependia daquela água para viver, melhor, que aquela água era a sua vida, precisava de outra estratégia.

Absorta nestes pensamentos a zebra foi-se aproximando de uma manada de outras zebras como ela, e ouviu uma delas que lhe perguntava: Então minha irmã zebra, andas sozinha porquê?
A zebra olhou para a outra com um certo desdém e respondeu que não precisava de ninguém para fazer o seu caminho, para fazer a sua vida, pois sabia muito bem como ir e por onde ir.

A outra zebra, baixando a cabeça com uma certa humildade, respondeu-lhe que também ela e as suas irmãs daquela manada sabiam o que queriam e para onde iam, até porque tinham uma delas como cabeça da manada que as ia guiando no caminho, e todas elas se iam ajudando umas às outras a fazer o caminho no dia a dia.

A nossa zebra, na sua importância, respondeu-lhe que não precisava de ninguém para fazer caminho dizendo-lhe claramente: Eu cá tenho o meu caminho!

A outra, amorosamente, (humanamente falando), respondeu-lhe que sozinha não seria fácil, porque no caminho há muitas coisas a distrair uma zebra do seu propósito, há muita erva fresca noutras planícies, (mas que essas planícies que parecem tão boas, são perigosas porque têm inimigos para lhes fazer mal), que uma zebra pode magoar-se a caminhar e assim as outras a podem ajudar, e que, afinal, todas juntas e, muito mais ainda lideradas por uma zebra mais sábia, era muito melhor fazer o caminho e sobretudo chegar ao fim do caminho.

A nossa zebra condescendeu, com muita dificuldade, que apenas tinha um problema, segundo ela: Era chegar à água absolutamente necessária para a vida, chamando-lhe até “água que dá vida”, porque perto dos locais onde estava essa água, havia sempre inimigos, leões, leoas e toda a espécie de predadores, que lhe queriam tirar a vida.

A outra zebra abanou a cabeça para cima e para baixo num vigoroso sim de concordância, mas respondeu-lhe: Também nós vivemos esse problema, mas como somos muitas e vamos em manada, os predadores acabam por ter medo de nos atacarem, até porque nos protegemos umas às outras e a nossa cabeça da manada nos ensina a melhor maneira de resistirmos aos ataques dos predadores.
Claro que, infelizmente, há sempre umas zebras que se perdem, porque decidem afastar-se da manada e ir beber onde não devem, e nesses locais os predadores estão sempre à espera e são em maior número.

E a verdade, continua a zebra da manada muito entusiasmada, é que depois de bebermos essa água, parece realmente que temos mais vida, que conseguimos trotar melhor, correr mais rápido e até dar saltos de alegria, sempre umas com as outras!

E é tão bom, minha irmã zebra, trotarmos todas unidas!!!

A nossa zebra desta história, olhou pela primeira vez para a outra zebra e para as outras zebras todas, e teve que reconhecer que todas elas tinham listas muito bem desenhadas, o contraste entre o branco e o preto das suas pelagens também era fantástico, que as suas crinas também eram belíssimas a esvoaçar ao vento, o pescoço de cada uma era também digno de uma rainha, que o andar de cada uma delas também era majestoso, e que afinal o trotar de cada uma delas era de uma grande beleza igual em todas.

Olhou também para a cabeça da manada e reconheceu-lhe uma postura, diria mesmo uma autoridade, que a levou a querer confiar que a sua liderança seria perfeita.

E depois pensou como seria bom poder beber sempre daquela “água que dá vida”, protegida por todas as outras, dos predadores que lhe queriam tirar a vida, e poder partir à desfilada pelas planícies sem fim, relinchando, saltando com alegria, e sentindo-se protegida e podendo também proteger as outras zebras.

Olhou a zebra que lhe tinha falado e perguntou: Posso entrar para a vossa manada?
A outra zebra respondeu com um enorme relincho de alegria: Claro, nós estávamos à tua espera!

E, chamando todas as outras, com a zebra cabeça à sua frente, trotaram alegremente pelas planícies do mundo a caminho do Céu!!!!

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O filho olhou para o pai e disse: Acho que percebi, meu pai.
E o pai respondeu: Pois, meu filho, e calcula tu que a Igreja é ainda muito mais do que isto tudo!!!



Marinha Grande, 13 de Fevereiro de 2022
Joaquim Mexia Alves
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Nota: Suscitado pela homília de hoje do Pe Patrício, que não falou em zebras nem animais, mas tão só em ser Igreja.

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