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Nesta
segunda reflexão, sobre o mesmo tema dos divorciados re-casados, gostaria de
ponderar, (partindo sobretudo da minha experiência pessoal), sobre alguns
aspectos mais práticos, (digamos assim), da necessidade de percebermos quais os
caminhos, quais as dificuldades, quais as “pedras de tropeço” que tantas vezes
se colocam neste acolhimento em Igreja a estes irmãos que vivem estas situações
chamadas “canonicamente irregulares”.
Vivemos
um tempo em que a família é o tema permanente, e estas famílias merecem toda a
nossa atenção, sobretudo porque querem viver a fé em Igreja, porque é em Igreja
que elas sabem que encontram Deus, o amor de Deus, imprescindível à sua união
familiar e ao sentido das suas vidas.
O
facto de nos encontrarmos no Santuário de Fátima, leva-me a pensar quantas
famílias nestas situações aqui vêm, tentando encontrar respostas, tentando
encontrar compreensão, tentando encontrar paz e acolhimento, pelo que, devem
dirigir-se provavelmente aos serviços da Confissão, para além de outros meios
que procurem para se sentir em Igreja, para não se sentirem excluídos.
Conheço
alguns casos destas famílias que, dada a sua formação cristã de base ou de
tradição cristã, os leva a colocar os seus filhos, fruto da nova relação, na
catequese, e chamados por causa desse facto a frequentarem as festas e
celebrações da Igreja, acabam por sentir a necessidade espiritual de procurarem
Deus, e assim procurarem a ajuda da Igreja nesse seu desejo, nessa sua vontade
de viver a fé no seu dia-a-dia.
Isto
para além de tantos outros casos em que essa ligação à Igreja sempre existiu e
continua a existir, mas muitas vezes com incompreensões, dificuldades e algumas
revoltas, sobretudo pelo facto de não poderem aceder à comunhão eucarística.
E
existem alguns lapsos, incorrecções, muitas vezes proferidas nas nossas
conversas com essas pessoas e não só, que sendo muito simples, não deixam de
provocar confusão e apreciações erradas, não só daqueles que vivem essas
situações, mas também daqueles que em Igreja deviam acolher e amar, e acabam
por não conseguirem transmitir o que seria desejável.
Por
exemplo, fala-se muitas vezes em anulação do Matrimónio.
Ora
sabemos nós, (que tirando casos extremamente raros e específicos), a Igreja não
anula Matrimónios.
A
Igreja, pelos Tribunais Eclesiásticos, depois de um processo, pode declarar a
Nulidade, o que significa, como todos sabemos, que aquele Matrimónio nunca
existiu, e se nunca existiu não pode obviamente ser anulado.
Pode
parecer que isto não tem importância nenhuma, mas realmente tem, e muita,
porque se a Igreja anulasse um Matrimónio estaria no fundo a conceder um
divórcio, algo que é impossível acontecer, pois colocaria o Sacramento do Matrimónio
no mesmo nível de um qualquer casamento civil.
E
se os sacerdotes sabem isto, os leigos, ou um grande número de leigos não o
sabem, e ao passarem esta imagem da anulação do matrimónio, acabam por provocar
uma ideia que uns, (por qualquer relação de poder ou riqueza), podem conseguir
essa anulação e os outros não.
Tive
e tenho inúmeras discussões, (no bom sentido, claro), por causa deste assunto e
a maior parte das vezes a indignação daqueles com quem discuto vão nesse
sentido, de haver uma Igreja para uns que tudo conseguem, e uma Igreja para
outros que nada obtêm.
Este tipo de conversas exige de nós uma imensa
paciência, porque temos de explicar esta importantíssima diferença entre
nulidade e anulação, e mesmo assim, muitas vezes é difícil a compreensão
daqueles que vivem essas situações.
(continua)
Joaquim Mexia Alves
Nota:
Texto
da segunda intervenção da recoleção para sacerdotes, no Santuário de Fátima,
que orientei no dia 7 de Abril passado, a convite do Senhor D. António Marto.
O
texto é, obviamente, algo extenso, pelo que o publicarei aqui em diversas
partes.
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