quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A INTERCESSÃO


O episódio da “Cura do paralítico” é narrado nos três Evangelhos sinópticos.
Gostaria no entanto, de realçar as três seguintes passagens em cada um dos Evangelhos:

Mt 9,2 – Apresentaram-lhe um paralítico, deitado num catre. Vendo Jesus a fé deles, disse ao paralítico: «Filho, tem confiança, os teus pecados estão perdoados.»
Mc 2,3-5 – Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.»
Lc 5,18-20 –
Apareceram uns homens que traziam um paralítico num catre e procuravam fazê-lo entrar e colocá-lo diante dele. Não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao tecto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus.
Vendo a fé daqueles homens, disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados.»

Percebemos então que há uns homens, (seriam quatro), que trazem um paralítico a Jesus, para que Ele o toque, para que Ele o cure.
Percebemos também que os homens têm dificuldades em levar o paralítico à presença de Jesus.
Está muita gente, não conseguem passar, há dificuldades várias, mas eles não desistem, sobem ao tecto, abrem caminho e descem o paralítico até Jesus.
É ainda importante repararmos que, (pelo menos os textos não o dizem), os homens nada disseram, nada pediram, “limitando-se” a apresentarem o paralítico a Jesus, na convicção de que Ele sabia muito bem o que o homem precisava, e que faria o que Lhe aprouvesse e fosse melhor para aquele homem.
Perante tudo isto, Jesus sente e confirma a fé daqueles homens, levando-nos no entanto os textos a percebermos, que a fé estará naqueles que apresentam o paralítico a Jesus, e não nele próprio.
Ao “ver a fé daqueles homens”, como nos dizem os textos, Jesus trata primeiro de curar a vida interior daquele homem, perdoando-lhe os pecados, para depois, e perante a murmuração e incredulidade dos outros e muito provavelmente ainda do paralítico, o curar da doença física.
Mais vale entrar no Céu “paralítico”, do que ir para o Inferno a “correr”!
O homem tem agora uma vida nova!
Perdoado dos seus pecados, e curado da paralisia, pode agora caminhar interiormente e exteriormente, dando testemunho da graça que Jesus nele derramou.
Mas esta cura, interior e exterior, foi possível, para além da graça de Deus, porque houve alguém que levou o homem, que intercedeu pelo homem junto de Jesus.
Aqueles homens intercederam pelo “doente”, não desistindo perante as dificuldades!
Foram constantes, perseverantes e não se importaram se o homem tinha ou não fé em Jesus Cristo!
Esse era um problema que Jesus resolveria, bem como a cura da doença física!

E nós intercedemos pelos outros?
E quando intercedemos, somos constantes, perseverantes, ou pelo contrário, desistimos perante as dificuldades, ou perante o “tempo de resposta” de Deus?
E ao pedirmos, colocamos tudo sob a vontade de Deus e louvamo-Lo por tudo, ou só agradecemos quando nos é concedido especificamente o que pedimos?
E pedimos só pelas curas físicas, pelos bens materiais, ou, e sobretudo pela conversão, pela cura interior dos outros e a nossa, claro?
Será que Jesus, perante a nossa intercessão, também constatará a nossa fé?

É sublime a missão que o Senhor nos dá de intercedermos pelos outros!
E a intercessão reveste-se ainda de uma saudável humildade, pois ela pode ser feita em segredo íntimo, e perante a graça recebida, aquele que a recebeu agradecerá a Deus, e não a quem foi intercessor.
E, “curado” que foi, dará testemunho e intercederá também pelos outros, numa comunhão de oração, que se faz Igreja.

6 comentários:

Ver para crer disse...

Costumo às vezes usar esta comparação para com alguns irmãos protestantes que acham que os que estão no Céu - os santos - não podem interceder por nós:
Se nós pecadores, ainda aqui na terra, somos convidados a rezar pelos irmãos de fé e pels outros, por que é que os salvos o não poderiam fazer?
Um abraço.

antonio disse...

Será que as nossas Igrejas não têm os tectos tão altos que nem por aí nos consigam baixar o nosso irmão para que o possamos realmente ver?

Deviamos de deixar sempre uma abertura no tecto... da nossa importância, do nosso egoismo, da nossa vida.

Fá menor disse...

(Estava a ver que não conseguia deixar aqui um comentário, tantas as vezes que já tentei e o blogger sempre a arreliar-me!)

Meu querido amigo,
eu falo por mim...
às vezes falta-me mesmo a constância, a perseverança...
não sou muito de desistir, mas que às vezes me acomodo...!
Tenho muitas vezes o hábito de colocar nas mãos de Deus e pronto, Ele lá saberá melhor do que eu o que convém!
Mas também sei como Ele gosta que lhe peçamos, que intercedamos pelos outros, como uma prova de amor!

Gostei muito, como sempre!

Abrajinho amigo em Cristo

joaquim disse...

Caro padre amigo

E usando uma simbologia, estes até "intercederam do céu", pois vieram pelo tecto!

Obrigado pela tua presença aqui.

Abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

«Deviamos de deixar sempre uma abertura no tecto... da nossa importância, do nosso egoismo, da nossa vida.»


Tens razão António!

Se calhar temos medo da "chuva" de nos darmos aos outros.

Abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

«Mas também sei como Ele gosta que lhe peçamos, que intercedamos pelos outros, como uma prova de amor!»

Sem dúvida Fa amiga!

A verdade é que muitas vezes nos acomodamos na maneira mais fácil e menos "trabalhosa" e que é dizermos para nós próprios:
Deus sabe o que eles precisam, por isso...não preciso de interceder pelos outros.

Abrajinho em Cristo