Há dois ou três meses atrás, numa Sexta Feira na nossa Comunidade Luz e Vida, dia da semana que escolhemos para atendimento espiritual a quem nos procura, sempre depois de uma hora de adoração comunitária ao Santíssimo Sacramento, fui chamado para atender uma Senhora de meia idade.
Entrámos para uma sala, sentámo-nos frente a frente e fizemos uma oração de invocação do Espírito Santo, por intercessão da Virgem Maria, para que nos iluminasse na conversa que íamos ter.
Finda a oração, olhei para a Senhora e perguntei:
- Diga-me então o que veio procurar.
Olhou para mim, com uns olhos tristes e sofridos, e baixando a cabeça começou a falar com uma intensidade tal que as palavras lhe saíam aos borbotões pela boca.
Foi um desfiar de tristezas, sofrimentos, contrariedades, mágoas, ressentimentos, enfim um nunca acabar de uma vida sofrida e sempre só.
Por duas vezes tentei intervir, para ajudar, para aconselhar, mas as palavras como uma torrente de água imparável, às vezes ajudada por algumas lágrimas derramadas, não davam espaço à minha intervenção.
Deixei-me ficar calado, ouvindo atentamente tudo o que me dizia e rezando no coração ao Espírito Santo por aquela irmã, e também para que me ensinasse o que lhe havia de responder, como havia de aconselhar aquela vida, que assim se abria a um estranho e que, com certeza, esperava respostas às suas preocupações, dúvidas e anseios.
Como começou, assim acabou, e parando de falar, olhou para mim com um olhar intenso, mas calmo.
Invoquei mais uma vez interiormente o Espírito Santo, e comecei:
- Sabe, minha irmã, o Senhor serve-Se muitas vezes de caminhos…
Não consegui continuar, porque ela chegando-se para mim, agarrou as minhas mãos e disse-me, num misto de alegria e alivio:
- Obrigado, muito obrigado por tudo quanto fez por mim!!!
Surpreendido, disse-lhe:
- Mas eu não fiz nada, nem sequer lhe respondi, ou aconselhei.
E insisti:
- Não quer que reze por si, que façamos uma oração juntos para que o Senhor aumente em si a Fé, a confiança, a esperança?
Respondeu-me:
- Muito obrigado, mas eu já rezo muito sozinha na minha casa, na Igreja.
Baixando a cabeça, disse então com um jeito humilde, mas seguro:
- Só precisava que me ouvissem!
Esta é uma história verdadeira.
Será que nós, leigos cristãos e católicos, damos algum do “nosso” tempo para ouvir os que nos procuram, na família, nos amigos, no trabalho, na rua, no lazer, etc?
Será que fugimos daqueles que logo à partida apelidamos de “chatos”?
E os Sacerdotes, perdoai-me, que são cada vez menos, e cada vez mais ocupados nos conselhos económicos, lares de terceira idade, obras de assistência social, (o que muitas vezes não é culpa sua), ainda arranjam tempo para ouvir as ovelhas do rebanho?
É que muitas e muitos, irmãs e irmãos, filhos de Deus como nós, apenas têm um pedido no coração:
- Só precisava que me ouvissem!!!
2 comentários:
Obrigada por me ouvires!
Cara andante
Obrigado também por escutares, sobretudo as crianças de quem falas com tanto amor.
Abraço em Cristo
joaquim
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