quarta-feira, 5 de julho de 2006

"PARÁBOLA" DAS DUAS PORTAS


(Pecado e Confissão)

Um homem muito atarefado, que mal tinha tempo para se alimentar, conheceu um Senhor muito bom, que lhe fez a seguinte proposta:

“Se mantiveres a porta da frente de tua casa sempre aberta, todos os dias te virei alimentar, sem nada te pedir em troca, a não ser, que mantenhas fechada a porta das traseiras e não a abras por motivo algum”.

Pareceu àquele homem que era uma boa proposta, e assim, pondo de parte o receio, decidiu entregar-se nas mãos daquele Senhor, passando a deixar a porta da frente de sua casa sempre aberta e confiando inteiramente todos os seus bens e inclusive a sua vida, àquele que lhe tinha feito tal proposta.

Constatou imediatamente que nunca lhe faltava alimento, que todos os seus bens estavam bem utilizados, e que eram para si fonte de alegria e não motivo de preocupação, com receio de os perder.

Constatou também que a vida lhe corria melhor, que as contrariedades continuavam a existir, mas que a presença constante, sem imposição, daquele Senhor, lhe transmitia paz, tranquilidade, confiança, esperança e muito amor.

Um dia, (a curiosidade foi mais forte), quis espreitar a parte de trás de sua casa e distraído deixou aberta a porta das traseiras.

Passado pouco tempo, estando na sala a descansar, viu surgir junto de si, um individuo elegante, bem vestido, confiante, de falas doces e sedutoras.

Em vez de o mandar sair de imediato, (visto que tinha entrado em sua casa sem pedir licença), deu-lhe ouvidos e começou a interessar-se pelo que este lhe dizia.

Disse-lhe então o individuo, que o alimento que ele estava a receber era bom, sim senhor, mas não dava muito prazer ao corpo e que ele reparasse bem, pois afinal os seus bens que tanto lhe custavam a ganhar, eram utilizados por todos, o que no entender do individuo, não era justo, pois se tinha sido ele e só ele, sem a ajuda de ninguém, a adquiri-los com tanto esforço, só ele, então, se deveria servir deles.

Afirmou ainda o individuo, que o homem sozinho e sem nenhum cansaço, poderia preparar um alimento muito melhor todos os dias, e que não se deveria preocupar porque ele o ajudaria em tudo.

Apenas lhe pedia que fechasse a porta da frente da sua casa, para não serem incomodados pelo Senhor e mantivesse sempre aberta a porta das traseiras, para que ele pudesse entrar sempre e a qualquer hora, para assim o poder ajudar.

Levado pela conversa do outro, o homem assim fez.

Ao principio tudo parecia correr bem. O homem andava feliz e contente, e embora a sua cabeça estivesse um pouco perturbada e não conseguisse pensar direito, o corpo andava cheio de prazer e engordava a olhos vistos.

Reparou então, que o individuo, em vez de pedir licença para entrar todos os dias, (como fazia o Senhor anteriormente), já se tinha instalado em sua casa e impondo a sua presença, punha e dispunha de todas as suas coisas, sem nada lhe perguntar.

Começou também a reparar, que embora o prazer corporal fosse bem maior, os seus pensamentos eram mais frios, sombrios, e que a paz, tranquilidade, amor e boa companhia que antes sentia já não existia, e no seu lugar se tinham instalado a dúvida, o nervosismo, a tristeza, a solidão e o medo de perder os seus bens.

Decidiu então expulsar o “novo amigo”, mas isso tornou-se tarefa muito difícil, porque ele não queria sair de sua casa e revelando-se muito insistente, fez novas promessas de felicidade e também algumas ameaças, como se a vida dele já lhe pertencesse.

Assustado, decidiu procurar o Senhor, pedindo-lhe que voltasse para sua casa, e também que o ajudasse a libertar-se daquele “amigo” tão incomodo e que já lhe inspirava tanto medo.

O Senhor e verdadeiramente seu único amigo recebeu-o de braços abertos e disse-lhe:

“Não tenhas medo, que eu também quero voltar à nossa tão antiga amizade, mas para isso tens de fazer duas coisas”:
“A primeira é, (sem medo, porque eu estou contigo), expulsar esse individuo para fora da tua vida e fechar definitivamente a porta das traseiras da tua casa.
A segunda, (imprescindível, pois sem a satisfazeres não poderei regressar), é que procures um dos meus agentes, e eu tenho-os em todos os sítios, converses com ele, contando-lhe toda a história, como se passou e tudo o que fizeste durante todo o tempo em que estiveste com esse individuo, e lhe digas que sabes agora que estavas enganado e que procedeste mal.
Posso afirmar-te, que se o meu agente confirmar que estás verdadeiramente arrependido e decidido a não mais abrir a porta das traseiras, não terá dúvidas, a em meu nome te perdoar, e assim será imediato o meu regresso”.

O homem assim fez, e finda a conversa com o agente daquele Senhor, verificou com alivio, que a alegria, a paz, a tranquilidade, a esperança, o amor tinham voltado à sua vida, à sua casa, que os seus bens já não lhe causavam qualquer preocupação e que, sobretudo, o alimento que de imediato lhe começou a ser dado, tinha muito mais gosto, reparando ainda que esse gosto se mantinha permanente nele e não era causa de tristeza ou solidão, mas sim de alegria, paz e amor.
Grato ao seu Senhor, tomou a decisão de fechar e barricar a porta das traseiras com tudo o que o seu Senhor lhe fornecesse e estivesse ao seu alcance, resolvendo nunca mais dar ouvidos a quem com sedução o quisesse enganar.

Escrito em 11 de Janeiro de 2001

3 comentários:

Leonor disse...

Não tenhamos nós a tentação de abrir a porta que nos parece melhor, mas sim aquela que se mantém sempre aberta. beijinhos tio e muitos parabéns pelos sins.

joaquim disse...

Obrigado Leonor pelo teu comentário e pelos beijinhos.
O que nos vale é que à porta da frente está sempre aquele que diz:
«Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo». Ap 3,20
Beijinhos do tio Joaquim

CristalizArte disse...

Não conhecia a história, vou guardá-la e mostrá-la a amigos, devidamente citada! Um abraço e parabéns pelo blog,

AVC