segunda-feira, 24 de julho de 2006

AS FÉRIAS

Comentário ao Evangelho de Domingo pelo Padre Raniero Cantalamessa - Pregador do Papa.
Retirado de ZENIT

Vinde para um lugar deserto e descansai um pouco
XVI Domingo do tempo comum (B) Jeremias 23, 1-6; Efésios 2, 13-18; Marcos 6, 30-34
Na passagem do Evangelho, Jesus convida seus discípulos a separar-se da multidão, do seu trabalho, e retirar-se com Ele a «um lugar deserto». Ele lhes ensina a fazer o que Ele fazia: equilibrar ação e contemplação, passar do contato com as pessoas ao diálogo secreto e regenerador consigo mesmo e com Deus. O tema é de grande importância e atualidade. O ritmo de vida adquiriu uma velocidade que supera nossa capacidade de adaptação. A cena de Charlot concentrado na linha de montagem em Tempos Modernos é a imagem exata desta situação. Perde-se, desta forma, a capacidade de separação crítica que permite exercer um domínio sobre o fluir, freqüentemente caótico e desordenado, das circunstâncias e das experiências diárias. Jesus, no Evangelho, jamais dá a impressão de estar agitado pela pressa. Às vezes, ele até perde o tempo: todos o buscam e Ele não se deixa encontrar, absorto como está na oração. Às vezes, como em nossa passagem evangélica, Ele inclusive convida seus discípulos a perderem tempo com Ele: «Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco». Ele recomenda freqüentemente que não se agitem. Também o nosso físico, quanto bem recebe através de tais «folgas». Entre essas «pausas», estão precisamente as férias de verão que estamos vivendo [na Europa ndr.]. Elas são, para a maioria das pessoas, a única oportunidade de descansar um pouco, para dialogar de forma distendida com o próprio cônjuge, brincar com os filhos, ler algum bom livro ou contemplar a natureza em silêncio; em resumo, para relaxar. Fazer das férias um tempo mais frenético que o resto do ano significaria arruiná-las. Ao mandamento «Lembrai-vos de santificai as festas», seria preciso acrescentar: «Lembrai-vos de santificar as férias». «Parai (literalmente: vacate, tirai férias!), sabei que eu sou Deus», diz Deus em um salmo (Salmo 46). Um meio simples de fazer isso poderia ser entrar em uma igreja ou em uma capela de montanha, em uma hora onde estiver deserta, e passar um pouco de tempo «solitário» lá, a sós conosco mesmos, a sós frente a Deus. Esta exigência de tempos de solidão e de escuta se apresenta de forma especial aos que anunciam o Evangelho e aos animadores da comunidade cristã, que devem permanecer constantemente em contato com a fonte da Palavra que devem transmitir aos seus irmãos. Os leigos deveriam alegrar-se, não se sentir descuidados, cada vez que o próprio sacerdote se ausenta para um tempo de recarga intelectual e espiritual. É preciso dizer que as férias de Jesus com os apóstolos foram de breve duração, porque as pessoas, vendo-o partir, seguiram-no a pé até o lugar de desembarque. Mas Jesus não se irrita com as pessoas que não lhe dão trégua, senão que «se comove», vendo-as abandonadas a si mesmas, «como ovelhas sem pastor», e começa a «ensinar-lhes muitas coisas». Isso nos mostra que é preciso estar dispostos a interromper até o merecido descanso frente a uma situação de grave necessidade do próximo. Não se pode, por exemplo, abandonar ou estacionar em um hospital, um idoso sobre quem se tem a responsabilidade, para desfrutar de umas férias sem incômodos. Não podemos esquecer das muitas pessoas cuja solidão elas não escolheram, senão que a sofrem, e não por algumas semanas ou um mês, senão por anos, talvez durante a vida toda. Também aqui cabe uma pequena sugestão prática: olhar à nossa volta e ver se existe alguém a quem ajudar a sentir-se menos sozinho na vida, com uma visita, uma ligação, um convite a vê-lo um dia no lugar das férias: aquilo que o coração e as circunstâncias sugiram.

Que nos sirva a todos.
Abraço em Jesus Cristo
Joaquim

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