quinta-feira, 19 de outubro de 2006

ORAÇÃO EM LÍNGUAS 9

"Se chamamos a Deus o Mistério Inefável, queremos dizer com isso que nenhum conteúdo da nossa inteligência pode abarcá-Lo e expressá-Lo. Isto vale também para as palavras “Deus”, “Pai”, “Santo”, etc. A elas associamos determinadas ideias e conteúdos que foram tomados da nossa experiência humana. Mas se o próprio Deus, o “Pai”, é inexperimentável, como diz a Bíblia desde o primeiro ao último livro, então o Seu Mistério só pode expressar-se em palavras que não foram tiradas da nossa experiência humana. Além disso, podemos proteger-nos muito bem contra Deus e falar sobre Ele na nossa língua-mãe e com muitas noções estudadas da nossa inteligência. Pelo contrário, na oração em línguas falamos a Deus (1 Cor 14,2) Por isso nela também não comunicamos alguma coisa aos outros homens, mas edificamo-nos a nós mesmos, apresentando-nos a nós mesmos diante de Deus (1 Cor 14,4).
Por esta razão, Paulo adverte que a oração em línguas passe para segundo plano na assembleia litúrgica. Quando ninguém a pode “interpretar”, também ninguém deve falar assim perante a comunidade. Deve “fazê-la para si mesmo e perante Deus” (1 Cor 14,28). Por isso esta forma de oração permanece privada na medida em que é, em primeiro lugar, um enriquecimento da oração “privada”. Mas o próprio fenómeno em si é uma profunda “desprivatização” perante Deus, pois nele eu não rezo “separado” de Deus a um “Ser Superior” anterior e por cima da criação, mas Deus, o Espírito Santo reza em mim através de Cristo a Deus, o Pai incompreensível e inexperimentável. Outra coisa é, sem dúvida, o “canto no Espírito Santo” (Ef 5,19 seg.; Cl 3,16 seg.) em comum: Alguém entoa uma melodia, todos se reúnem à sua volta, cantam-na em várias vozes, “como o Espírito Santo os inspira”, e então rezam em línguas. Quando este Dom não é concedido, pode então juntar-se a estas melodias orações na língua materna (Aleluia, Jesus é o Senhor, etc). Este “canto no Espírito Santo” na reunião de oração dá muitas vezes uma profundidade incalculável à adoração. Não é por acaso que isso se desenvolve frequentemente na celebração da Eucaristia, após a narração da Instituição, a seguir a exclamação: “Mistério de Fé”.
A interpretação de uma oração em línguas numa assembleia é, segundo S. Paulo, um Dom especial do Espírito Santo (1 Cor 12,10). Quem interpreta uma oração em línguas procura acompanhá-la e, através de uma intuição espiritual, dar-lhe um conteúdo. É evidente que aqui não se pode tratar de uma “tradução”, pois o que ora não associa à sua linguagem conteúdo nenhum. O Dom da interpretação e da exegese é sobretudo dado para que também os outros tenham um proveito da oração em línguas (1 Cor 14,17), permaneça a dimensão social da presença de Deus e também a inteligência não fique sem lucro (1 Cor 14,14). A interpretação é por isso mais um complemento que uma tradução!


(As palavras a negrito são do autor)



“Experiência Fundamental do Cristianismo” – Heribert Mühlen

(A identificação do autor está em "Oração em Línguas 7)


(continua)

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