quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ANO VELHO, ANO NOVO. OBRIGADO SENHOR!

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Hoje, Senhor, quero agradecer-te todo este ano da vida que me deste.

Quero agradecer-te as alegrias e quero agradecer-te as tristezas.

Quero agradecer-te os bons momentos e quero agradecer-te os momentos menos bons.

Quero agradecer-te tudo o que correu bem e tudo o que eu acho que correu menos bem.

Quero agradecer-te a saúde e quero agradecer-te as poucas doenças.

Quero agradecer-te tudo o que me deste quando Te pedi e quero agradecer-te tudo o que não me deste quando Te pedi. Tu sabes melhor, Senhor!

Quero agradecer-te os momentos em que eu estive contigo e quero agradecer-te os momentos em que Tu estiveste comigo, mesmo quando eu não estava contigo.

Quero agradecer-te os amigos e quero agradecer-te os inimigos.

Quero agradecer-te os que me ajudaram e corrigiram e quero agradecer-te os que, por Tua graça, eu pude ajudar e consolar.

Quero agradecer-te a Igreja e a Tua Mãe Santíssima, companhias permanentes deste Teu/meu caminhar.

Quero agradecer-te o Teu perdão e a Tua infinita paciência e misericórdia.

Quero agradecer-te tudo, Senhor, mas mesmo tudo, porque em tudo o que me deste e permitiste na minha vida, (mesmo aquilo que eu não entendi e por vezes nem quis aceitar), me provaste o Teu amor, me fortaleceste na Tua esperança, me edificaste na Tua graça, me vivificaste na Tua vida, me fizeste mais filho de Deus, me tornaste mais comunhão, contigo e com os irmãos, me ensinaste a caminhar o caminho para Te encontrar.
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Por isso, Senhor, que o Novo Ano seja exactamente tudo aquilo que Tu quiseres fazer na e da vida que um dia me deste.
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

NASCES ASSIM SENHOR!

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Nasces assim
Como um qualquer,
Numa gruta,
Numa casa,
Num vão de escada,
Numa qualquer rua,
Ou até mesmo
Em berço rico.
Porque Tu não cuidas de saber
Quem são os filhos de Deus.
Porque para Ti
Senhor Jesus
Todos o são,
Ricos e pobres,
Pobres e ricos,
Filhos de Deus.
Porque se uns são ricos de bens
Talvez sejam pobres de Deus,
E Tu vens para eles.
Porque se uns são pobres de tudo,
Tu vens para eles também,
Para que sejam ricos de Ti.
Não cuidas de saber
De teólogos ou doutores,
De sábios e de instruídos,
De incultos e analfabetos.
Não, Senhor Jesus,
Não te interessa saber
Quem melhor interpreta a Tua Palavra,
Quem melhor conhece a ciência
Que julga entender o que Tu dizes.
Como não te interessa Senhor
Aqueles que julgam que a Tua Palavra
É aquela que serve os seus desígnios
Porque a lêem para seu agrado,
Para “confirmar”
O que julgam estar certo.
O que é que disseste Senhor
Naquele dia e agora?
«Minha mãe e meus irmãos
são aqueles que ouvem
a Palavra de Deus
e a põe em prática».
Senhor Jesus
Revelas-nos a herança de Deus
E nós tratamo-la
Como herança de homens.
A herança de Deus
Que devia ser
Aliança de amor entre os homens,
É tantas vezes
Causa de divisão e discórdia.
Nasces assim
Como um qualquer
Numa gruta,
Numa casa,
Num vão de escada,
Numa qualquer rua,
Ou até mesmo
Em berço rico.
Porque Tu não cuidas de saber
Quem são os filhos de Deus.
Porque para Ti
Senhor Jesus
Todos o são,
Ricos e pobres,
Pobres e ricos
Filhos de Deus.
E olhas-nos
Do teu berço
E meneias a cabeça
Cheio de compaixão,
De misericórdia,
E dizes aos teus Anjos:
«Cantem a paz na terra,
que se faz alegria no Céu,
aos homens de boa vontade.»
E dizes a cada um,
Daqueles para quem nasceste:
«A minha lei é só uma,
que vai muito para além da dor,
é fonte de vida eterna,
é comunhão,
é amor,
que nasce do Meu Coração
para vos guiar à Verdade.»


25 de Dezembro de 2008 - 01h.00m
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domingo, 21 de dezembro de 2008

«PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE.»

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Ali, longe de tudo e de todos, preparava-se para passar aquela noite.

Já nem se lembrava bem como tudo tinha acontecido, para que ficasse sozinho naquela noite de Natal.

Sim, era preciso ficar alguém toda a noite naquele posto, a presença física era imprescindível, e tinha de manter-se acordado para que nada falhasse na fábrica.

Era verdade que o regulamento previa pelo menos duas pessoas, mas ele realmente não tinha ninguém, estava longe do seu país, da sua família, das suas tradições, e apenas lhe restava ir para o dormitório, para junto dos seus compatriotas, que se calhar até aproveitavam a noite para irem aos bares, para irem beber, e isso ele não lhe apetecia.

Os colegas de trabalho tinham-se despedido todos com um abraço, e apesar de não serem da sua nacionalidade ele ficou a pensar como a noite de Natal modificava as pessoas.

Até parece que tinha sentido calor, verdade, naqueles abraços!

De tal modo, que ao olhar para aquele que devia ficar com ele lhe perguntou no seu arremedo da língua do país de acolhimento:
«Tu não tens família, mulher, filhos?»

O outro, de cabeça baixa, entristecido, respondeu:
«Tenho, claro que tenho, e custa-me muito não estar com eles.»

Sem quase se aperceber, tinha sentido a sua boca abrir e saírem estas palavras:
«Vai lá ter com eles, que eu fico aqui a tomar conta de tudo.»

O outro replicou:
«Mas tu não podes ficar aqui sozinho, numa noite destas!»

Mas ele insistiu:
«Vai te embora, antes que me arrependa. Não tenho para onde ir, nem ninguém com quem estar e aqui sempre está mais quente que no dormitório. Vai-te embora, antes que se faça tarde.»

O outro abraçou-o com lágrimas nos olhos e ele sentiu-se bem por ter tido aquele gesto, aquela atitude.

Mas agora, agora que a noite ia passando, a coisa estava a ficar muito difícil.

Não tinha sono, felizmente não tinha, por isso o estar acordado não lhe custava nada.

O que lhe custava era pensar nos outros em suas casas, com as suas famílias e ele ali sem ninguém e ainda por cima tão longe da sua mulher, dos seus filhos.

Que raio de vida que o fizera emigrar para tão longe para poder obter um mínimo de rendimento, para tentar dar algo mais à sua família.

Naquele momento colocava tudo em causa!

Se valia a pena este sacrifício, este afastamento tão doloroso que tanto lhe “mordia” o coração, que tanto lhe custava a viver.

E os pensamentos iam-se sucedendo e em nada ajudavam aquela situação.

Sentia-se sozinho, sem ninguém, perdido num mundo que não era o dele, numa língua e tradições diferentes, sem amigos, sem um abraço, sem o calor de um sorriso, sem sequer um sentimento de que alguém se preocupava com ele.

Duas grossas lágrimas correram pela sua cara e ele não pode deixar de se entristecer ainda mais.

Olhou para o relógio. Não sabia bem para quê, pois tinha a noção que a noite ainda agora tinha começado.

Mas ficou ali a pensar que àquela hora a sua mulher, os seus filhos, os seus pais, caminhavam no meio da neve, do gelo, para a igreja lá da terra, para celebrarem juntos, em comunidade, a noite de Natal.

Parecia-lhe até que conseguia ouvir aqueles cânticos eslavos, tão entranhados no seu coração, tão recordados na sua memória.

Tornava-se tudo tão real que conseguia ouvir crianças a rir, mulheres e homens a falar, o ruído de pessoas que caminhavam, que se juntavam, que festejavam.

Mas nesse instante tudo se esfumou, todos aqueles sons que lhe tinham sido tão agradáveis tinham deixado de se ouvir, e um silêncio pesado e triste tornava a tomar conta de tudo.

De repente deu um salto, pois tinham batido à porta da sala onde estava e que dava para o exterior, para a rua.

Receoso, e pensando quem poderia ser àquelas horas e naquela noite, foi abrir.

Uma explosão de risos, de conversas, de cânticos atingiu-o no coração!

Lá fora, na noite fria de Natal, estavam os seus colegas de trabalho, com as famílias, as crianças rindo e cantando, e todos juntos gritaram ao mesmo tempo:
«Feliz Natal, Yuri!»

As lágrimas, (estas de alegria), “rebentaram” nos seus olhos, a boca abriu-se numa gargalhada, os braços abriram-se num abraço imenso, e o seu coração disse-lhe baixinho:
«Vês Yuri, o Natal encontra sempre os homens de boa vontade!»


29 de Outubro de 2008


Com este conto muito simples, quero desejar a todas amigas e todos os amigos que aqui me visitam um Santo Natal, cheio da paz e amor de Deus, e que vivendo-o assim, sejamos mais irmãos, sejamos “mais” filhos de Deus, amando-nos como Ele nos ama.


Este conto foi enviado para um projecto da Casa do Gil.

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

MARIA, NOSSA/MINHA MÃE 4

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Muitas vezes foi criticada a Igreja, e com Ela os católicos, pela devoção que a mesma presta à Virgem Maria, e a ligação tão íntima e pessoal que os fiéis têm e dedicam à Mãe do Céu.
Às vezes quase pretendem dizer que essa devoção, essa ligação espiritual e afectiva, seria uma “invenção” da Igreja com uns quaisquer propósitos, para os quais não se descortinam razões plausíveis.
Há até algumas seitas que por força de quererem negar essa ligação do Povo de Deus a Maria Santíssima, A desprezam e ofendem com actos inomináveis.

Mas terá sido por vontade da Igreja, ou dos católicos, que essa devoção, essa ligação tão espiritual e filial aconteceu e se desenvolveu?
Claro que não, e mais uma vez a Palavra de Deus nos vem esclarecer a verdade sobre a extraordinária dedicação da Igreja e dos católicos à Mãe de Jesus Cristo.

Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!». Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.
Jo 19, 25-27

Pelo que lemos, (sobretudo com o coração), percebemos sem margem para dúvidas, que foi por vontade de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que Maria Santíssima foi dada como Mãe a João, e João dado como filho a Maria.

Em todas as passagens da Palavra em que Jesus fala com os Apóstolos, sempre foi entendimento que aquilo que Ele lhes diz, ultrapassa o tempo, ou seja, foi para ontem, é para hoje e será para amanhã, bem como, não é apenas dirigido a eles, mas a toda a humanidade, sobretudo àqueles que acreditam e seguem a Cristo.

Porque seria então diferente esta passagem e Jesus apenas se dirigiria ao Apóstolo João?
Verdadeiramente não estava ali mais nenhum Apóstolo, portanto Ele não se poderia dirigir a todos, porque não estavam presentes, mas ao dirigir-se àquele significava, como sempre tinha feito, dirigir-se à universalidade dos Apóstolos.

Assim, quando Jesus por Sua própria vontade dá Maria como Mãe a João e o dá como filho a Maria, está a fazê-lo a e com toda a humanidade, todos os que foram criados à imagem e semelhança de Deus, crentes e não crentes, porque não tenhamos dúvidas que Maria intercede por todos, sobretudo pelos seus filhos que andam longe da Verdade.

Mas reparemos ainda que o evangelista emprega o termo discípulo para afirmar que, «E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.»
O próprio autor do Evangelho mostra-nos quem é o discípulo, os discípulos.

Discípulo é aquele, são aqueles, que acreditam que Jesus vem do Pai e enviado pelo Pai.
«…e reconheceram verdadeiramente que Eu vim de ti, e creram que Tu me enviaste.» Jo 17,8

Discípulo é aquele, são aqueles, que amam a Jesus Cristo e guardam os seus Mandamentos, a sua Palavra.
«Se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos.» Jo 14,15
«Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor; e quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele.» Jo 14,21
«Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada.» Jo 14,23


Ora se o autor utiliza o termo discípulo, até por duas vezes, temos de compreender, temos de aceitar, que com isso ele quer significar que por vontade de Jesus Cristo, Maria é nossa Mãe e passa a fazer parte integrante da caminhada do discípulo, passa a fazer parte integrante das nossas vidas, pois todos nós que acreditamos, queremos ser discípulos de Cristo.

Jesus Cristo quis sem dúvida nenhuma dar-nos Maria como Mãe, como testemunho exemplar de fidelidade ao amor, à Palavra, («Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» Lc 1,38), como intercessora poderosa, como já o tinha desvendado nas Bodas de Caná, («Não têm vinho!» Jo 2,3).

É Jesus Cristo quem nos diz,
«Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.» Lc 8,21

Ora quem melhor que Maria, entre os seres humanos criados por Deus, ouviu a Palavra e a pôs em prática?
Quem melhor que Ela, portanto, para nos guiar, para nos ensinar, a sermos verdadeiros irmãos de Jesus Cristo, filhos de Deus?
Quem melhor que Ela para nos dizer permanentemente, («Fazei o que Ele vos disser!» Jo 2,5), para escutarmos a Palavra, A vivermos e Lhe sermos fiéis?

Jesus Cristo ao dar-nos Maria como Mãe, está a dar-nos a Mulher cuja descendência, Ele próprio, esmagará a cabeça do mal, pelo sim que presta à vontade de Deus.
«Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar.» Gn 3,15

Realmente Maria ao dizer sim à vontade do Pai, gerando Jesus no Seu ventre, colabora de maneira total no plano salvífico de Deus, que enviando o Seu Filho ao mundo, para ser Um como nós, nos vem ensinar que Deus é Pai, que quer a salvação de todos, e que pela Morte e Ressurreição do Seu Filho Jesus Cristo, liberta o homem da lei do pecado, da lei morte, vencendo assim e para sempre todo o mal.

Por isso ao recebermos Maria como Mãe, ao nos unirmos a Ela no amor a Jesus Cristo, na fidelidade à Palavra, somos também protegidos do mal que nada pode contra Ela, como podemos ler, meditar em Ap 12, 1-6; 13-18.

Não sei, francamente, que mais razões serão preciso acrescentar, (para além da Tradição da Igreja no culto à Virgem Maria), que nos levem a abrirmos as portas dos nossos corações à presença de Maria nas nossas vidas, como nossa Mãe Santíssima.
Julgo até que chegava apenas uma razão, e que é a vontade de Deus, pois foi Jesus Cristo quem disse a cada um de nós, «Eis a tua mãe!» Jo 19,27, e foi Ele mesmo quem nos ensinou que, «todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.» Mt 12,50
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

NÃO SOU DIGNO...

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Como poderia eu
Senhor
Desatar as correias das tuas sandálias?
Grande como sou
No meu orgulho,
Como poderia eu abaixar-me
Para te desatar as sandálias?
Importante
Como me julgo ser,
Como poderia eu
Imaginar sequer
Desatar as tuas sandálias?
Pobre de mim,
Que tão cheio
De coisa nenhuma,
Nem sequer percebo
Que não sou digno

De desatar as tuas sandálias...
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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

MARIA, NOSSA/MINHA MÃE 3

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Procuramos muitas vezes e em muitos livros respostas para as nossas inquietações, as nossas dúvidas, quando afinal, todas elas nos são respondidas num só Livro, ou melhor no Livro dos Livros, quando O lemos com os olhos do coração, o sentido do amor e no discernimento do Espírito Santo.

Muitas vezes me perguntei e pergunto, nos perguntamos, (tal como digo nos textos anteriores), sobre o “papel” de Maria na História da Salvação, para além obviamente de ser a Mãe de Jesus Cristo, feito Homem.

E afinal a resposta está ali tão clara, no Evangelho de São João, no episódio das Bodas de Caná.

«Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda. Como viesse a faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: «Não têm vinho!»
Jesus respondeu-lhe: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.» Sua mãe disse aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!»
Ora, havia ali seis vasilhas de pedra preparadas para os ritos de purificação dos judeus, com capacidade de duas ou três medidas cada uma. Disse-lhes Jesus: «Enchei as vasilhas de água.» Eles encheram-nas até cima. Então ordenou-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa.»
E eles assim fizeram. O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era - se bem que o soubessem os serventes que tinham tirado a água; chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!»
Assim, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos, com o qual manifestou a sua glória, e os discípulos creram nele.» Jo 2,1-11


Maria tinha sido convidada e estava numa festa.
Não uma festa qualquer, mas uma festa de vida, umas bodas, um casamento.
Se há festa maior na vida dos homens, (pelo menos dantes assim era), é a festa do casamento.
Costuma até dizer-se, que o dia mais feliz das nossas vidas é o dia do casamento, logicamente para aqueles que contraíram Matrimónio.
É uma festa que celebra a união e essa união celebra a vida, porque a lógica da união do casamento é a consequente procriação, e o nascimento de novos seres é sempre festa de vida.
Por isso Maria, tendo sido convidada, estava numa festa, numa festa de vida.

A nossa vida deve ser uma festa, mesmo apesar das dificuldades e provações, porque temos Jesus Cristo connosco e Ele fez-se igual a nós, homem como nós, para nos «dar a vida e a vida em abundância». Jo 10,10
Primeira razão portanto, para convidarmos Maria para a festa da nossa vida, para que Ela esteja sempre presente na festa da nossa vida.

Maria estando na festa apercebe-se de que algo vai correr mal.
Aqueles olhos, aquele coração de Mãe atenta aos seus filhos, protegendo-os e ajudando-os, percebem que vai faltar o vinho!
E se falta o vinho na festa, falta a alegria, falta a abundância, (que o vinho significa), e a festa vai ser triste, vai deixar de ser festa.
Maria não vai ter com os noivos para lhes perguntar se precisam que Ela faça alguma coisa.
Não, Maria vai imediatamente ter com Jesus para o informar da falta do vinho, da falta de algo que coloca em causa a festa, a vida, uma informação que se revela um pedido de auxilio, pois Ela sabe no Seu coração que a Ele nada Lhe é impossível.

Ao convidarmos Maria para a festa da nossa vida, temos sempre connosco uma Mãe atenta aos pormenores da nossa vida, uma Mãe que mesmo antes de nos apercebermos das tribulações, das provações da nossa vida, já intercede por nós junto do Seu Filho Jesus Cristo Nosso Senhor.
Uma Mãe que ao ser convidada para a festa da nossa vida se sente “autorizada” a desde logo, mesmo sem nos dar conta, pedir ao Seu Filho por nós.

Maria sabe que Jesus atende os seus pedidos, porque Ela só pede o que é da vontade do Seu Filho, por isso confiantemente diz aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser». Jo 2,5
Maria confia que Jesus fará o que Lhe pede, mas sabe também que cada um tem que fazer a parte que lhe toca.
Jesus podia dizer apenas aos serventes para servirem o vinho das vasilhas, porque Ele já teria operado o milagre, mas não o faz, pois é preciso que cada um se disponha a fazer a sua parte.
Foi preciso ir encher as vasilhas de água, e muita água, «duas ou três medidas cada uma» Jo 2,6 , significando a abundância que Cristo queria colocar naquela festa da vida, que quer sempre colocar na festa da vida de cada um.

Maria então, depois de interceder junto do Seu Filho pelas nossas dificuldades, coloca-nos na Sua presença, aponta-nos Jesus Cristo e diz a cada um de nós, «Faz o que Ele te disser».
Maria então, para além de nos fazer encontrar com Jesus, adverte-nos desde logo que é preciso fazer algo mais, que é preciso fazer a vontade do Senhor, porque só assim teremos «vida e vida em abundância».

A partir deste momento Maria deixa de estar na narração, embora obviamente Ela continue na festa, atenta a tudo e alegrando-se com os noivos porque a festa foi salva, porque eles fizeram o que o Senhor lhes pediu.

Maria tem então esta sublime missão de interceder por nós junto de Jesus, e de nos levar ao encontro do e com o Seu Filho, dando-nos um último conselho para esse encontro: «Faz o que Ele te disser».
Maria discretamente, humildemente, fica de lado, com certeza em oração contínua por nós, e deixa acontecer o encontro entre os filhos e o Único Mediador entre os homens e o Pai.

Podemos ir directamente a Jesus?
Podemos com certeza, e Ele acolhe-nos do mesmo modo.
Mas Maria prepara-nos para o encontro.
Começa por interceder por nós junto de Seu Filho, envolve-nos no amor, para que cheios de amor, possamos reconhecer o Amor, e ajuda-nos desde logo a percebermos que temos de fazer o que Ele nos pede, a Sua vontade, ensina-nos desde logo a dizer sim, o mesmo sim que Ela disse e transformou a Sua vida.
Aquilo que poderia ser uma tribulação, uma provação, o ser Mãe solteira naqueles tempos, transformou-se pelo seu sim, numa fonte inesgotável de vida para Si e para os outros.

Deixei para o fim de propósito a resposta de Jesus a Sua Mãe:
Jesus respondeu-lhe: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.» Jo 2,4
Que me perdoem os exegetas da Bíblia, que tantas interpretações fazem sobre esta resposta, e com certeza interpretações certas e correctas, das quais eu não duvido.
Por eles, sabemos ainda de todos os simbolismos da transformação da água em vinho e, logo no início da narração, a menção ao terceiro dia, que somados aos quatro dias anteriores nos apontam o Génesis, e ainda a menção da «minha hora», pois é nessa Hora, (Jo 19,25), que Jesus nos dá Maria como Mãe.

Mas deixem-me então afirmar ou meditar, que foi por intercessão de Maria que Jesus operou o Seu primeiro milagre e logo numa festa de casamento, numa festa de vida, para poder dizer também, que Jesus nos deu um imenso e verdadeiro milagre, contínuo na humanidade, que é Maria Sua Mãe, que por vontade expressa dEle, é também nossa Mãe.
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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A IGREJA CATÓLICA 2

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Por causa de alguns textos que li recentemente, uns positivos, outros negativos em relação à Igreja, decidi interromper momentaneamente os textos que estou a meditar e escrever sobre Maria, nossa Mãe.

Faço-o porque algo me foi suscitado, porque ao longo de uma noite quase sem dormir me foram surgindo palavras alinhadas, num texto que agora tento passar ao papel.

Eu amo a Igreja profundamente, no e do mais intimo do meu ser, e sei, (e aqui sem qualquer dúvida), que se não fosse a Igreja, a minha conversão, (que nunca está acabada), nem sequer tinha começado.

Eu amo a Igreja profundamente e amo-A como Ela é, constituída por homens e mulheres pecadores, iguais a mim.
E porque assim Ela é constituída é que eu a amo total e absolutamente, porque Ela se aproxima de mim, pecador, fraco, e assim me sinto irmanado com os outros pecadores.

E porque Ela é constituída por pecadores, é que é “local” privilegiado de encontro com Jesus Cristo, porque o Senhor da misericórdia está sempre no meio dos pecadores.

Revejo a cena em que Jesus Cristo funda a Sua Igreja em Pedro e nos Apóstolos e vem ao meu coração a profunda certeza, alimentada pela Fé, de que esta é a Igreja de Jesus Cristo.

Na Sua omnisciência, Jesus Cristo sabia bem e em cada momento, tudo o que a Igreja ia fazer, ia passar e no entanto colocou-lhe o Seu selo, o selo do Espírito Santo.

Sabia que Ela havia de passar por fases de crescimento, de envelhecimento de rejuvenescimento, mas que seria sempre santa e imaculada, porque o pecado que toca os homens, não poderia tocar a Igreja.

Jesus Cristo, enquanto Homem, viveu 30 anos de crescimento, de preparação, de oração, para finalmente cumprir na totalidade a vontade do Pai, entregando-Se por nós e alcançando-nos a vida eterna pela Sua vitória sobre a morte.

30 anos de Jesus Cristo como Homem, a quantos milénios corresponderá na vida da Igreja?

Vemos pela sua história como a Igreja se renovou, se construiu, se corrigiu ao longo destes 2000 anos.

Aquilo que eram as criticas no meu tempo de infância, quando as missas eram em latim, já não têm sentido agora, que as celebramos em português.
A Bíblia, a Palavra de Deus, durante tantos anos afastada da vida dos cristãos é hoje anunciada, é hoje aconselhada, é hoje obrigatória na vida do dia a dia do cristão.

Aquele que era o Papa da transição, segundo dizem os “especialistas”, foi o escolhido pelo Espírito Santo, para encetar a mudança, para renovar a Igreja, para dar ao povo cristão a possibilidade de poder entender na sua simplicidade coisas tão importantes como as orações da celebração maior, a Eucaristia.

Costumamos dizer que o tempo de Deus não é o nosso tempo, no sentido “quantificado” logicamente.
Então, sendo a Igreja de Jesus Cristo o Seu próprio Corpo, porque há-de Ela andar segundo a vontade dos homens e não a vontade de Deus?
Se o Espírito Santo interveio na Igreja tantas vezes, vencendo a vontade dos homens, porque não acreditamos agora que Ele continua a intervir e que o Seu tempo, não é o nosso tempo?

Mas o Espírito Santo intervém servindo-se dos homens.
Ora se os homens não estão em Igreja, na Igreja, como há-de Ele intervir?
E intervém verdadeiramente em cada um, que comungando em Igreja se vai dando, vai falando, vai criticando e mesmo que, por muitas vezes pareça que essa entrega, essas palavras, essas críticas não são ouvidas, quando elas são verdadeiras, quando elas são construção, nunca deixam de semear semente, que dará fruto quando for o seu tempo.

E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram, então, um ao outro: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» Lc 24, 30-32

Ao partir do pão, na fracção do pão, reconheceram-no!
Que momento mais perfeito, que celebração mais celebrada, que oração mais profunda existe para O reconhecermos, do que a Eucaristia!

E onde, e como, e quando acontece e se celebra a Eucaristia, se não em Igreja, na Igreja.

Como posso eu querer reconhecê-Lo, quando tendo conhecimento da Igreja, tendo estado em Igreja, me coloco fora dela?

Diz-nos a Doutrina que a Consagração acontece sempre que um sacerdote ordenado no pleno uso e direito do seu ministério a celebra, independentemente do próprio acreditar ou não naquele Mistério, naquele Sacramento da presença viva de Jesus Cristo no meio de nós.

Ou seja, Cristo está sempre presente na Igreja, independentemente dos homens que a constituem, e assiste-lhes sempre independentemente dos seus pecados, dos seus erros, e não deixa de os perdoar, iluminar e conduzir pelo Espírito Santo, como tem feito ao longo destes 2000 anos e continuará a fazer, pois essa é a Sua promessa.

A Igreja é constituída por homens, mas vai muito para além dos homens!
Como posso eu decidir afastar-me da Igreja, se é em Igreja que eu sou verdadeiro discípulo de Cristo?
Não será um pecado contra o Espírito Santo, não acreditar que Ele assiste a Igreja em todos os momentos?
E se eu acredito que o Espírito Santo assiste a Igreja em todos os momentos, como posso eu não acreditar que a Igreja é una, santa, católica e apostólica?
Como posso eu rezar o Credo, fora da Igreja?
E se os homens, ou melhor, alguns homens da Igreja não se deixam conduzir pelo Espírito Santo, isso significa que o Espírito Santo deixa/deixou de assistir a Igreja?

Se assim fosse, há muito que a Igreja tinha acabado!
Mas Ela não acabou, nem acabará porque o Espírito Santo a assiste independentemente dos homens que a constituem.

Eu amo a Igreja, e é em Igreja e na Igreja que eu reconheço Jesus Cristo na celebração dos Sacramentos, presença viva de Cristo, nas irmãs e irmãos que a constituem, presença viva de Cristo eles também, e nas irmãs e irmãos que mesmo afastados são também presença de Cristo vivo para mim, porque é assim que a Igreja me ensina.

E se a prática da Igreja não reflecte sempre isto mesmo, é porque eu e aqueles que a constituem somos fracos, somos pecadores, e muitas vezes nos afastamos do caminho e não deixamos que o Espírito Santo faça em nós a vontade de Deus.

Mas a Igreja permanece viva, una, santa, católica e apostólica, vencendo o pecado porque: «as portas do abismo nada poderão contra ela.» Mt 16, 18
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terça-feira, 4 de novembro de 2008

MARIA, NOSSA/MINHA MÃE 2

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Quando em oração ia pedindo ao Espírito Santo que me inspirasse o que deveria escrever sobre Maria, como havia de colocar no papel a minha vivência da devoção a Maria, veio ao meu coração este simples pensamento: «Maria é caminho para Cristo».

Fiquei a pensar nesta verdade, tantas vezes esquecida, mesmo por aqueles que se dizem tão devotos de Maria: «Maria é caminho para Cristo».

É Maria, Ela mesma que nos diz quando nos aproximamos, que Cristo é o tudo, é o todo, e que tudo deve ser apenas caminho para Ele.

Tenho para mim, no meu coração, que Maria nunca se deve ter referido a Jesus, falando com outros, como:”O meu Filho”.

E nunca o deve ter feito porque para Ela, o seu Filho ia muito para além dessa filiação, dessa sua entrega, o seu Filho era o Filho de Deus, Jesus Cristo Nosso Senhor e assim sendo, seu Senhor também.

Tudo em Maria aponta para Cristo, numa vivência perfeita da frase de João Baptista: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir» (J0 3,30)

E nós seus devotos, devemos ter sempre isto bem presente no nosso coração, nas nossas atitudes, porque é isto que Ela, a Mãe, quer de nós, ou seja, que através dEla vejamos Cristo, vivamos Cristo, que guardemos no coração (Lc 2, 51), o que dEla nos vem, como forma de melhor chegarmos ao conhecimento de Jesus Cristo.

Porque Cristo é o todo, é o tudo e Maria, (tal como nós), é com Ele também o tudo e o todo, mas só porque Ele o quer assim, mas só porque nEle, em comunhão com Ele, partilhamos o tudo e o todo.

E é isto que Maria quer, que com Ela possamos encontrar o todo e o tudo que Jesus Cristo é.

Maria é Mãe de Jesus Cristo, enquanto Homem, enquanto encarnação de Deus dado aos homens por vontade do Pai, mas Maria sabe em si, no seu coração que Jesus Cristo É, ou seja, que o seu Filho sempre existiu, não teve principio nem tem fim, é verdadeiramente eterno e por isso mesmo Ela é a Serva do Senhor, porque sempre existiu no coração de Jesus Cristo antes mesmo de Jesus Cristo existir no seu coração.

Por isso em Maria tudo é Cristocêntrico, tudo aponta para Cristo e só assim se realiza a vontade de Deus, só assim se realiza a missão de Maria.

Mas muito melhor do que tudo aquilo que eu possa escrever, é a clareza da Doutrina da Igreja Católica tão bem expressa no Capítulo VIII da Constituição Dogmática Lumen Gentium.

66. Exaltada por graça do Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é com razão venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a Santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de «Mãe de Deus», e sob a sua protecção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades (191). … Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e recta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e gloria fique o Filho, por quem tudo existe (cfr. Col. 1, 15-16) e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude» (Col. 1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos.

67. Muito de caso pensado ensina o sagrado Concílio esta doutrina católica, e ao mesmo tempo recomenda a todas os filhos da Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima Virgem, sobretudo o culto litúrgico, que tenham em grande estima as práticas e exercícios de piedade para com Ela, aprovados no decorrer dos séculos pelo magistério, e que mantenham fielmente tudo aquilo que no passado foi decretado acerca do culto das imagens de Cristo, da Virgem e dos santos (192). Aos teólogos e pregadores da palavra de Deus, exorta-os instantemente a evitarem com cuidado, tanto um falso exagero como uma demasiada estreiteza na consideração da dignidade singular da Mãe de Deus (193). Estudando, sob a orientação do magistério, a Sagrada Escritura, os santos Padres e Doutores, e as liturgias das Igrejas, expliquem como convém
as funções e os privilégios da Santíssima Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo, origem de toda a verdade, santidade e piedade. Evitem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo o que possa induzir em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os irmãos separados ou quaisquer outros. E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes.

Compreendo eu agora que, antes de continuar este testemunho da minha vivência da devoção à Santíssima Virgem, me/nos devemos colocar na perspectiva certa, correcta, de acordo com a Doutrina da Igreja Católica do modo como devemos honrar, louvar a Mãe do Céu, sem cairmos em exageros que façam dEla aquilo que Ela não é, nem quer ser, mas que também não diminuam aquilo que Ela é, e tem como missão dada por Deus, ser.

Para fazermos a vontade do Seu Filho, que no-la deu como Mãe, (Jo 19, 26-27), para fazermos a sua vontade que apenas pode ser a vontade do Seu Filho.

(continua)
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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

MARIA, NOSSA/MINHA MÃE 1

Quando ao fim de cerca de vinte e cinco anos de afastamento total da fé, senti dentro de mim necessidade de me reaproximar de Deus, da Igreja, foi particularmente difícil a minha compreensão, a minha aceitação da figura, ou melhor do “papel” de Maria na história da salvação, não na sua condição de Mãe de Jesus Cristo, mas de interventora e intercessora constante na vida dos crentes, na vida daqueles que procuram Jesus Cristo, na vida daqueles que Lhe são devotos.

As conversas que fui tendo com diversas pessoas, algumas delas com uma opinião muito negativa, outras sem opinião formada e outras ainda sem conhecimentos para um cabal esclarecimento, tornaram difícil essa minha desejada aproximação à nossa Mãe do Céu.

A acrescer a estas impressões, parecia-me também muitas vezes exagerada a “importância” dada a Maria, em “confronto” com a importância dada a Jesus Cristo, a Deus, por muitos daqueles que frequentavam a Igreja.

Mas eu lia a vida de Santos devotos de Maria e outros livros sobre a Mãe, e ficava triste comigo mesmo por não conseguir perceber, por não conseguir viver, sentir esse amor acrisolado que nesses livros via tão bem descrito.

Tive a consciência também, de que sendo a minha mãe de sangue uma pessoa de oração diária, de uma dedicação total e inteira à família, aos filhos, não deixava de ter inscrito na sua maneira de educar a dureza desses tempos passados, a exigência permanente de uma “perfeição” difícil, um afastamento emocional, sentimental, que eu apesar de tudo sabia ser muito mais exterior, do que interior, mas que não deixava de pesar na minha ideia do que era o amor materno.

Para que não haja dúvidas, tenho a certeza de que se hoje caminho com Cristo, para Cristo e em Cristo, foi porque a minha mãe mO transmitiu desde a mais tenra idade, sempre me deu testemunho dEle na sua vida e nunca deixou de rezar para que eu O reencontrasse. Amava profundamente a minha mãe, como sei que ela me amava, mas nunca tive com ela esses arroubos de amor materno/filial de que eu tanto me apercebia nos livros que lia.

Por tudo isto, Maria não entrava na minha vida, no meu caminho de conversão, de salvação, e no entanto eu sentia, eu sabia no meu íntimo que precisava dEla.

E rezava, e rezava, e pedia ao Seu Filho a graça de poder perceber, mais do que perceber, viver esse amor maternal que Ele mesmo nos tinha querido dar a conhecer e viver no momento da Sua entrega por nós.

Lentamente o Espírito Santo foi-me conduzindo nesse caminho de descoberta da Mãe, que disse sim, e que com o seu sim, aceitou o plano de Deus para os homens e assim nos trouxe Jesus Cristo que nos revelou que Deus é Pai, que Deus é amor, que a todos ama e a todos quer salvar.

E serviu-se primeiramente dos meus defeitos maiores, ou seja, do meu orgulho, da minha vaidade, da minha mania de superioridade, de julgar os outros, de me achar melhor do que eles.

Fez-me perceber que aquela Mulher simples, humilde, tinha sido escolhida para ser a Mãe do Salvador, precisamente por isso, por ser simples, humilde, abandonada nas mãos de Deus e que apesar da sua fragilidade não temia arrostar com os costumes de então, não tinha medo que os seus “pergaminhos”, os seus “parentes caíssem na lama”, não tinha medo de afirmar a sua fé, de aceitar a vontade de Deus por muito difícil que ela fosse, e orgulhosamente, com o orgulho humilde daqueles que são escolhidos por Deus, dissesse: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» Lc 1, 38

E “mostrou-me”, para que eu não tivesse dúvidas do que acima afirmo, que logo a seguir a ter conhecimento de que ia ser a Mãe de Deus, a sua primeira atitude é servir, é humildemente fazer os trabalhos domésticos que sua prima Isabel não podia fazer por causa da sua gravidez, da sua idade.

Sim, não se sentou numa “poltrona” e não chamou ninguém para a servir, para a “bajular”, não saiu para a rua a gritar a toda a gente que era a escolhida, que era a Mãe de Deus e que todos Lhe deviam “vassalagem”.

Não, não foi nada disso que Ela fez, mas sim: «Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia.» Lc 1,39

«Por aqueles dias», os dias em que tinha sabido que ia ser a Mãe de Deus, «dirigiu-se à pressa», sim à pressa porque a sua prima Isabel precisava dela para fazer os trabalhos de casa, os trabalhos mais simples, e por ali ficou a servir «cerca de três meses» Lc 1,56, regressando depois a casa, para continuar a sua vida simples e humilde, como se nada tivesse mudado na sua vida.

Porque quem faz a vontade de Deus, vive consciente de que é Ele que tudo faz com a nossa entrega, com o nosso empenho em servir-Lo, servindo os outros, e por isso nos retribui com a graça do amor e da paz.

E Maria servindo a Deus com o seu sim, estava a servir a humanidade precisada do Salvador.


(continua)
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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

PENSAMENTOS INSPIRADOS NA PROCURA DE DEUS 34

Maria é nossa Mãe,
não por sua vontade,
não por nossa vontade,
mas por graça e vontade de Seu Filho
Jesus Cristo Nosso Senhor.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Jo 3,30

Vejo-me tão grande
Quando me olho
No espelho do mundo!
Quando me miro e “remiro”
Embevecido com o meu ser!
Pobre de mim!
Um cego
De olhos abertos!
Um coração
Ao amor fechado!
Uns braços
Apertados em si próprios!
Mas lá no fundo de todo o meu ser,
No núcleo da minha vida
Estás Tu, Senhor,
Fazendo-Te pequenino,
Muito pequenino em mim.
Porque não queres ferir
A minha liberdade,
A liberdade que Tu me deste,
Quando me criaste.
Mas mesmo assim pequenino
Não deixas de ali estar,
Silencioso,
Presença de amor,
À espera que eu
Te descubra na minha vida.
Ai Senhor,
Tanto tempo já conTigo,
Tanto tempo a seguir-Te,
Tanto tempo a ouvir-Te,
Tanto tempo tentando imitar-Te.
E afinal,
Ainda sou tão cheio de mim!
Tem piedade, Senhor,
Tem piedade.
Ah, Senhor,
E cresce!
Cresce dentro de mim,
Em mim,
Em todo o meu ser,
Para que eu
Possa testemunhar,
Como dizia João,
O Teu mensageiro humilde:
«Ele é que deve crescer,
E eu diminuir». Jo 3,30

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O ENGANO DAS MENSAGENS "PIEDOSAS"...

Chegou às minhas mãos mais uma dessas mensagem com imagens, música e texto, igual a tantas outras que circulam por aí e constantemente invadem as nossas caixas de correio electrónico.

Fiquei a pensar no assunto e percebendo como estas mensagens são um logro, um engano em que às vezes aqueles que estejam menos preparados, ou mais frágeis emocionalmente, podem cair.

E são engano e logro em, pelo menos, dois sentidos:

Primeiro porque não levam a nada em termos práticos, a não ser criar falsas esperanças e ideias “perigosas” na cabeça das pessoas, tais como, que não é preciso trabalhar, esforçar-se, porque com o “poder da mente”, porque deus, (aqui de propósito em letra pequena), tudo faz e nós não temos que fazer nada a não ser pensar.

Segundo porque são um embuste “religioso”, ou seja, falando de Deus e levando a crer que têm a ver com a fé em Deus, (sobretudo a fé cristã, embora não sejam especificas nesse campo), acabam por ser apenas e só portadoras de uma mensagem de espiritualidades baseadas no homem e apenas no homem.

O primeiro engano é claro e porque muito que digam que experimentaram e deu resultado, não deveriam conseguir enganar ninguém, porque se assim fosse, não haveriam, por exemplo, as crises como a que agora estamos a viver.
Bastava pensar, meditar, e tudo passava!!!

Segundo porque falando de Deus, apontam para tudo menos para Deus, que nestas mensagens acaba por ser apenas o “fazedor” daquilo que nós queremos e desejamos.

Claro, que nelas existe uma parte em que se afirma que o que desejamos não pode ser contra outros, que tem que ser para o bem, etc., mas também era o que mais faltava que não dissesse!

Mas a verdade é que toda a mensagem é voltada para as capacidades do homem sozinho e Deus apenas ali aparece como modo de enganar as pessoas que têm fé, mas não têm uma formação cristã enraizada nas suas vidas.

O início desta mensagem que me enviaram, por exemplo, começa assim:

Você acredita no poder da mente?
No poder da vibração?
Da energia que emanamos e que nos conecta com todo o universo?
Com Deus, com os Anjos e Santos?
Com todas as pessoas, coisas e seres?

Se repararmos, Deus vem em quarto lugar, pois nos três primeiros aparece o homem e as suas possíveis capacidades.

Claro que o homem tem capacidades, Deus dotou-o com elas!
Mas estas capacidades atingem a sua plenitude na comunhão com Deus, e é nEle, por Ele e com Ele, que elas transportam o homem ao melhor de si próprio e o levam a vencer as dificuldades que a vida lhe apresenta.

E poderíamos analisar toda a mensagem e reparar que em tudo ela aponta para uma falsa felicidade, a felicidade em que tudo é conseguido apenas com o esforço da mente, e em que Deus é “peça” secundária pois está ali para fazer o que nós desejamos.

E Deus tem ali os tempos marcados! Fica nosso refém!

Tem que nos dar o que pedimos ao fim de 10 minutos, neste caso.
Noutros ao fim de x dias, ou depois de distribuirmos não sei quantas fotocópias!
Sim falo aqui também neste “fenómeno” das orações de intercessão dos Santos, (que são uma prática religiosa da tradição da Igreja em tudo saudável), mas que nada têm a ver com um x número de fotocópias que se distribuem pelas igrejas, como forma de obter o que se pede!
Como se Deus estivesse a contar o número de fotocópias!!!

E depois estas mensagens trazem sempre uma mensagem sub-reptícia de temor, que tem a ver com a possibilidade de, não fazendo o que se pede, poder acontecer algo de mau, ou então se não enviar a mesma para não sei quantas pessoas o pedido, o desejo não acontecer.

E pior ainda, pois se não reenviarmos a mensagem para outros tantos, não somos amigos de Deus, não somos bons cristãos!!!

É também de reparar nos símbolos utilizados, como pirâmides, esferas, e por aí fora, que apontam para “espiritualidades” que nada têm a ver com Deus e com a fé cristã e católica.

Bem, não será preciso alongar muito mais esta reflexão, para se chegar à conclusão de que Deus é tratado nestas mensagens como o “génio da lâmpada”!

A verdade é que estas mensagens são fantasias dos homens, vozes de falsos profetas, que apenas confundem as pessoas, e que mais tarde ou mais cedo as podem levar a um desespero pela não obtenção dos seus desejos e a uma revolta contra Deus, que afinal nada tem a ver com estas práticas dos homens.
É na nossa comunhão com Deus e com os outros, fazendo o trabalho a que somos chamados com empenho e dedicação, aceitando e ultrapassando as dificuldades e provações próprias das nossas vidas, preocupando-nos e ajudando os que mais precisam, orando e celebrando o nosso Deus de misericórdia, louvando-O, glorificando-O, dando-Lhe graças em tudo e pedindo-Lhe a Sua ajuda, sempre segundo a Sua vontade, que encontraremos a felicidade da vida eterna na Sua presença, que começa já aqui e agora, se quisermos ser parte viva do Reino de Deus.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A IGREJA CATÓLICA

Vou lendo diversos blogues cristãos católicos e fico triste, muito triste.

A Igreja Católica é em alguns desses espaços muito mal tratada, é mesmo alvo de muitas criticas e ataques, alguns até de uma certa violência escrita.

E a maior parte das acusações podem resumir-se praticamente apenas numa: “abuso de poder”.

E as razões apresentadas dizem que são porque proibiu este ou aquele teólogo, porque estabeleceu determinada regra, porque não deixa as pessoas serem “livres” para fazerem o que lhes apetece, etc., etc.

Mas a acusação que mais me espanta é a de que a Igreja não interpreta verdadeiramente, não é “fiel depositária” da Doutrina de Jesus Cristo!

Mas aqueles que assim escrevem consideram-se eles próprios os detentores da “verdade” baseados em conhecimentos que não se percebe bem de onde vêm, e em interpretações da Bíblia tantas vezes feitas para darem cobertura às suas reflexões.

Não, não estou a dizer que sejam mal intencionados a maior parte deles, pelo contrário, julgo que buscam a verdade, mas infelizmente, digo eu, a sua própria verdade.

Curiosamente a autoridade doutrinária que eles recusam à Igreja de Cristo, fundada em Pedro, reconhecem-na, ou julgam-se eles detentores da mesma, fazendo afinal o mesmo de que acusam a Igreja.

Muitos deles afirmam peremptoriamente na sua escrita o que a Igreja Católica devia ou deve ser, como que intérpretes indiscutíveis da vontade de Jesus Cristo, negando aos outros, à própria Igreja, as suas interpretações, porque apenas eles não se podem enganar.

Muitas vezes a exclusão que apontam á Igreja, praticam-na eles também ao afirmarem que a Igreja é dos pobres, dos excluídos da sociedade, a maior parte das vezes apenas com uma visão material da pobreza e da exclusão, pondo de lado aqueles que estão “bem na vida”, ou que levam a vida de acordo com os valores morais comummente aceites.

E há tanto rico, que é mais “pobre” que os pobres!

E há tantos que vivem de acordo com os valores morais comummente aceites e no entanto tão afastados de Deus!

A Igreja é de todos e todos têm que nEla caber!

Jesus Cristo andou com pobres e excluídos, mas também comeu com cobradores de impostos e fariseus, que não eram nem pobres, nem excluídos da sociedade, mas pobres de Deus e “auto-excluídos” do caminho da salvação.

Não tenho dúvidas, não por qualquer revelação pessoal, mas por convicção profunda, que Jesus Cristo quando fundou a Sua Igreja em Pedro, sabia que os homens que a constituiriam seriam fracos, pecadores, que haviam de falhar muitas vezes e em muitos momentos, mas Ele também disse que: «as portas do abismo nada poderão contra ela.» Mt 16,18

E os homens falharam e continuam a falhar, mas a Igreja no seu todo, Corpo Místico de Cristo é una, santa, católica e apostólica, e enquanto tal, garante indelével da pureza da Revelação que o Pai deu aos Seus filhos, por Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo.

Quando reflectimos na vida das Santas e Santos reparamos que por todos eles perpassam várias virtudes, uma das quais é sem dúvida a obediência por amor.

Não se venha dizer agora que foi por serem obedientes que foram “declarados” Santos, mas sim verdadeiramente porque sendo Santos tinham a graça da obediência no amor.

E com certeza que tinham a graça da obediência, porque sendo Santos, (que é afinal o que todos devíamos desejar ser), aceitavam a verdade da Palavra de Cristo, que disse: «Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» Mt 16,19, e assim sendo acreditavam e acreditam que a Igreja detêm esse poder que lhe foi dado por Deus, e mais, acreditavam e acreditam também, que se o seu caminho, as suas reflexões, os seus procedimentos estiverem em comunhão com Cristo, então mais tarde ou mais cedo a Igreja lhes dará razão, como já aconteceu tantas vezes na história da Igreja.

Porque a eles não lhes interessava ter razão, só para terem razão, porque não eram eles que eram importantes, mas interessava-lhes sim a unidade da Igreja, (para além dos homens), que não podia, nem devia ser abalada, na convicção profunda de que se fosse da vontade de Deus, aquilo que hoje podia ser causa de divisão, passaria a ser causa de mais união, comunhão e conhecimento de Deus no tempo futuro.

E não se julgue que tanto antigamente como agora nos nossos dias, eles não tinham seguidores que queriam impor as suas reflexões, os seus ensinamentos, os seus modos de viver, mas eram então eles que em obediência de amor, pelo seu testemunho de humildade, ajudavam e exortavam os outros a serem fiéis à Igreja, a serem fiéis à Palavra de Cristo.

Eles tinham feito a parte deles, orando, meditando, reflectindo, e se a Verdade lhes assistia, “competia” agora ao Espírito Santo mostrá-la aos homens da Igreja.

«O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis» Act 15,28

«E nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o Espírito Santo, que Deus tem concedido àqueles que lhe obedecem.» Act 5, 32

Sim, também a mim por vezes me incomodam certas atitudes que a Santa Sé toma em relação a determinadas coisas, mas acredito, quero acreditar, tenho que acreditar, que o Espírito Santo assiste continuamente à Igreja, e se por vezes os homens se sobrepõe à Sua vontade, a Sua vontade acabará por se realizar porque: «as portas do abismo nada poderão contra ela.» Mt 16,18

Assim, descanso na certeza desta verdade, e oro, oro continuamente para que os homens da Igreja estejam de coração aberto, disponíveis, fiéis e perseverantes ao Sopro do Espírito Santo, amor do Pai e do Filho derramado na humanidade.

Sei que alguns dirão que esta é uma maneira simplista de ver as coisas, mas permitam-me que vos diga que não é simplista, mas simples, porque também eu estudo, medito, reflicto, analiso e abro-me ao Espírito Santo pedindo-Lhe, exigindo-Lhe até, que me faça simples, para que o conhecimento que me é dado ter, não coloque em causa a minha Fé, mas que a fortifique, que a enraíze de tal modo que quando oro o Credo, ele seja verdade na minha boca, no meu coração, na minha vida.

Com este texto não quero dizer que a Igreja não pode ser criticada, mas pelo contrário que pode e até deve, mas numa critica construtiva em que sejamos pedras vivas na construção e não “brechas” no edifício.

Que não usemos argumentos estafados como a “opulência”, as vestes, os rituais, a própria liturgia, mas sim que oremos, que peçamos a assistência contínua do Espírito Santo à Igreja, aos homens escolhidos para nos guiarem, e que nunca deixemos de fazer chegar a esses mesmos homens as razões da nossa critica, aceitando humildemente que possamos não ter razão, ou que não tenha chegado o tempo de termos razão.

Deus ama-nos a todos nós, com todos os nossos defeitos, com os nossos pecados, que por Sua graça vamos tentado corrigir, converter, para chegarmos à graça final de vivermos puros eternamente na Sua presença.

Amemos também nós a Igreja, com todos os defeitos e pecados dos homens que a constituem, principalmente daqueles que foram chamados a servi-La no Seu Magistério, na Fé de que o Espírito Santo nunca Lhe faltará e sempre assistirá e conduzirá na correcção do que estiver errado, na procura da pureza que dEla faz «una, santa, católica e apostólica».

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A CONVERSÃO

Há uma semana atrás, num dia que tirei para férias, estava a preguiçar de manhã na cama e como tantas vezes me acontece, comecei a rezar.

A oração levou-me a agradecer ao Senhor pela minha conversão, pela mudança da minha vida, que considero um verdadeiro milagre, maior do que um cego passar a ver ou um paralítico começar a andar.
Lembram-se de Lc 5, 17-26, o paralítico que começou a andar, mas a quem primeiro foram perdoados os pecados?

E nesta conversa íntima com Deus sobre a conversão, sobre como a conversão nunca está acabada até ao momento em que por Sua graça estivermos no gozo da Sua presença, veio ao meu coração uma imagem, uma reflexão, que comparava a conversão com uma casa.

Uma casa pode estar degradada por fora e por dentro, a fachada estragada, sem tinta ou revestimento, o interior com as paredes manchadas, sujo, desconfortável, enfim uma casa desagradável, uma casa que não interessa a ninguém, nem ao próprio dono.
Somos assim, quando vivemos afastados de Deus, numa vida sem sentido, apenas dedicada ao mundo.
Não somos úteis aos outros, nem somos bons para nós. Não somos companhia agradável para ninguém, nem a nós próprios agradamos, exactamente como a casa, que se não é agradável para os outros, também a nós incomoda.
E tal como a casa que não é tratada se vai degradar cada vez mais, também a nossa vida se irá degradar até se perder por completo.

Há também a casa que é arranjada por fora, cuja fachada está bem tratada, limpa e bonita, mas por dentro está degradada, suja e sem conforto.
Esta casa representa uma conversão exterior, apenas de gestos, de atitudes exteriores, mas que não se reflectem verdadeiramente na vida da pessoa.
É a conversão daqueles que vão à Missa por preceito, que se confessam e comungam (ao menos uma vez por ano pela Páscoa da Ressurreição), que oram muito na igreja, fazem talvez muitas novenas a muitos santos, mas na sua vida do dia a dia, nos seus afazeres, em nada reflectem a fé, a comunhão com Cristo, o amor aos irmãos.
Vivem para o exterior e apenas para o exterior, e os outros apenas lhes interessam na medida em que podem fazer juízos sobre as suas pessoas.
São como a casa. Vistos por fora são muito religiosos, (uma casa muito bonita), mas sentidos por dentro percebe-se o coração duro e egoísta, sem fé, (uma casa sem conforto onde não apetece morar).

Depois há a casa degradada por fora, mas bem arranjada por dentro, com as paredes interiores pintadas, confortável, sobretudo para quem nela vive.
É uma casa que ninguém quer visitar, pois o seu aspecto exterior não convida a entrar.
É uma conversão interior e apenas para o próprio. É a conversão daqueles que procuram só e apenas a sua salvação, não se importando com os outros, nem com a comunidade.
Vivem no seu mundo de orações e julgam que a graça de Deus é apenas para eles. Sentem-se até mais “santos” do que os outros.
Mas a verdade é que estando a casa degradada por fora, não tendo as paredes exteriores qualquer revestimento, a chuva, o sol, as intempéries, vão destruindo a fachada, e assim o interior, as paredes interiores, vão-se enchendo de humidade e vão-se deteriorando, tornando a casa a pouco e pouco inabitável.
Se a nossa vida não é em Deus para os outros, a conversão não é verdadeira, pois não vai ao encontro do mandamento do amor: «Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.»

Há ainda a casa conservada por fora e arranjada por dentro, confortável, onde até apetece morar.
Esses são aqueles que não só exteriormente reflectem a presença de Deus nas suas vidas, mas também se entregam à mudança interior, à conversão de vida que se opera naqueles que procuram Deus com o coração e com vontade de fazer a Sua vontade.
Mas nalgumas dessas casas existe aquilo que podemos chamar os “quartos escuros”, os sítios para onde se atiram coisas do passado, recordações, coisas que já não servem no momento, mas poderão servir depois, ficando para ali desarrumadas, esperando nós que ninguém abra aquela porta, porque tudo pode cair e envergonhar-nos.
Entre essas coisas, guardam-se muitas vezes cartas antigas, fotografias, etc., apenas com o desígnio de um dia nos poderem servir para nos “defendermos” de alguém que nos magoou, mas cujo sentido real é uma espécie de vingança, de “desforra” sobre aqueles que nos ofenderam.
Esses “quartos escuros” correspondem às mágoas que tantas vezes estão nos nossos corações, por ofensas passadas e das quais tantas vezes não nos queremos libertar, não queremos perdoar, e por isso mesmo não nos deixam “crescer” na fé, não nos deixam fazer seguro caminho espiritual.
Os outros até podem não ver, como também não sabem o que está dentro dos “quartos escuros”, mas nós sabemos, nós vemos, e ficamos ali amarrados a um passado que não nos deixa viver libertos para Deus e para os outros, que não nos deixa “gozar” inteiramente a casa, pois sempre que passamos por aquele “quarto escuro” temos a consciência de que temos de o arrumar definitivamente.

Por fim há a casa bonita por fora e por dentro, sem “quartos escuros”, onde os convidados podem entrar em todas as divisões que não nos envergonhamos, pois temos a consciência de que podemos abrir as portas de par em par, pois tudo fizemos para que estivesse limpo e arrumado.
É a conversão no verdadeiro caminho, a conversão que nada deixa para trás, que vive o presente, reconciliado com o passado, preparando o futuro segundo a vontade daquEle que opera a mudança de vida.
Mas tal como a casa precisa de ser permanentemente cuidada nas pinturas, na limpeza, na arrumação, também esses sabem que a conversão é diária, em todos os momentos e lugares, em todas as circunstâncias e atitudes.
Porque é preciso vigiar sempre, por causa das inundações, das tempestades, dos tremores de terra, não vá a casa abrir rachas e ficar vulnerável á degradação que a pode levar a cair.
Assim também esses são vigilantes em oração, combatem as tentações e quando por causa de uma fraqueza momentânea caem na tentação, não esmorecem, mas rapidamente vão tratar de alcançar o perdão do Senhor que é o cimento que tapa as brechas abertas pelo pecado na aliança de amor entre o Criador e os Seus filhos, e que reconstruindo-nos, nos torna fortes para perseverarmos na fé.

Senhor faz-nos assim, abertos à graça da conversão diária, que nada deixa para trás, que tudo coloca nas Tuas mãos, para que guiados por Ti, no Teu amor, nos entreguemos à Tua vontade na liberdade de filhos de Deus que procuram a Casa do Pai.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

PRECE SENTIDA

Senhor, tenho amigos, amigas que estão tristes, desolados, preocupados, a atravessar desertos de vida, com provações, com terríveis dificuldades de vida.

Mas Senhor, do que eles mais se queixam é que não Te ouvem, não Te sentem, não se apercebem da Tua presença junto deles.

Querem amar, querem confiar, querem esperar, mas a fraqueza da nossa humanidade leva-os a duvidar, a revoltarem-se, a quase desesperarem.

Mas eu sei Senhor que Tu estás aí, junto deles, que até os carregas ao colo nas suas dificuldades, que seriam bem maiores se Tu não estivesses com eles.

Então Senhor porque não Te mostras, porque não suavizas a sua dor com o Teu ósculo de amor, porque não lhes fazes sentir a Tua presença viva neles e com eles?

Não Te peço Senhor que resolvas os seus problemas, as suas dificuldades, peço-Te que os deixes sentir que não os abandonas, que os amas ainda mais agora, e que não deixas de os guiar no caminho certo.

Só isso lhes chegará Senhor, para que fortalecidos pela graça do Teu amor, se sintam capazes de arrostar com as dificuldades, de vencer as provações.

Não Te escondas Senhor quando precisamos mais de Ti.

Não coloques mais à prova a nossa fé, porque somos fracos.

Dizes que não seremos provados acima das nossas forças.
Mas como saberemos nós Senhor até onde chegam as nossas forças?

Ouve a prece dos teus filhos que angustiados a Ti recorrem e concede-lhes a graça da conversão íntima, num encontro pessoal conTigo, que os leve à coragem dos que nada temem, porque Tu estás com eles.

Assim Senhor, as orações de petição transformar-se-ão em orações de louvor pelas provações, pelas dificuldades, e de mansinho, como sempre fazes, Tu lhes darás o alívio para as suas dores.

Porque nós queremos em Ti, Senhor, mesmo quando parece que Tu não estás connosco.

Porque nós Te amamos, mesmo quando parece que Tu não nos amas.

Porque Tu não podes deixar de nos amar, porque Tu não podes deixar de estar connosco, porque foi assim que nos criaste:
Para que amando-nos, nós amemos também, para que estando connosco sempre, nós estejamos uns com os outros também.

Por isso Senhor, unidos numa só oração, direita ao Teu Coração, nós Te pedimos:
Fala Senhor, que os teus servos escutam!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

COMUNIDADE E TESTEMUNHO

Está aqui nas Termas de Monte Real em tratamento e exercendo a capelania da Capela das Termas, (como aliás todos os anos), o Padre José da Lapa, sacerdote que trouxe o Renovamento Carismático Católico para Portugal.
São sempre quinze dias de caminhada espiritual proporcionada àqueles que nesse tempo frequentam as Termas.
Eucaristia às 9h,30m e oração do Rosário, com exposição e adoração do Santíssimo às 17h e meditação da Palavra de Deus.
Como sempre também, o meu amigo Padre José da Lapa, "culpado" em grande parte pela minha conversão, convidou-me para falar numa das tardes, ajudando, dirigindo a meditação/reflexão sobre a Palavra de Deus.
São meditações/reflexões simples, acessíveis a todos.
Como sempre faço, umas horas antes recolhi-me em oração e pedi ao Espírito Santo que me conduzisse, que me "mostrasse" aquilo que queria dar-nos para nossa meditação.
Normalmente, depois de abrir a Biblia, fico em meditação e vou tomando pequenas notas do que me vem ao coração, e é sobre essas notas que depois desenvolvo oralmente a reflexão.
Mas desta vez, logo desde o início, dei por mim a escrever tudo o que deveria dizer, pelo que esta meditação/reflexão, ficou desde logo escrita e portanto assim foi lida, com algumas poucas intervenções "improvisadas" para explicar melhor certos pontos.
E por que ela ficou escrita, aqui vo-la deixo.
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Quando hoje tentava perceber o que o Senhor queria colocar no meu coração para servir de nossa reflexão, abri a Bíblia e o texto em que coloquei os olhos foi: 2 Cor 13,11-13.
«De resto, irmãos, sede alegres, tendei para a perfeição, confortai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco.
Saudai-vos mutuamente com o ósculo santo. Saúdam-vos todos os santos.
A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!»

Julguei, pobre de mim, que não deveria ser isto que Ele queria que meditássemos e depois de mais uma oração voltei a abrir a Bíblia e então o texto foi: Act 2, 42-47.
«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações.
Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos.
Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.
Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo.
E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.»

Não havia então dúvidas que o Senhor nos chamava a atenção, que o Senhor queria que reflectíssemos para o modo como vivemos a fé, como vivemos o amor, como vivemos como irmãos, como vivemos em sociedade, como vivemos em comunidade.

E é bem verdade que cada vez mais, se os homens não se ajudarem mutuamente, não se ampararem mutuamente, com muita mais facilidade poderão fracassar, sucumbir, desesperar.

E esta ajuda mútua não pode ser apenas material, mas também emocional, humana, espiritual.

Percebemos, vamos percebendo que cada vez menos podemos contar com os estados para suprirem as nossas dificuldades, as nossas provações, os nossos sofrimentos, e mesmo essa ajuda dos estados é sempre muito impessoal, muito específica, limitando-se muito mais ao material do que a todo o resto que envolve o homem.

Reparemos então que o Senhor nos concede agora um campo de excelência para colocarmos em prática a fé que afirmamos professar.

Talvez os outros já não esperem nada de nós, cristãos e católicos, talvez não nos achem diferentes, talvez julguem que não somos capazes de fazer mais do que os outros.

Por isso mesmo é cada vez mais tempo de nos deixarmos envolver verdadeiramente no amor de Deus que nos transforma, que nos dá forças e coragem, para lutarmos não só por nós, mas sobretudo pelos outros.

O nosso testemunho tem de ser cada vez mais um testemunho vivo, que confirme nas atitudes, nas acções, aquilo que afirmamos acreditar e viver, que confirme o nosso compromisso com Jesus Cristo.

E esse testemunho tem de ser dado no concreto da vida, junto dos que sofrem, dos que mais precisam, seja materialmente, seja espiritualmente.
E não são os pobres "materiais" que precisam de nós, pois há muito rico em bens que é muito pobre espiritualmente.

Os jovens olham para nós e por isso mesmo temos de dar um testemunho de que a nossa fé é verdadeira, que acreditamos que o nosso Deus é um Deus vivo que está no meio de nós.

Porque somos tantas vezes tão tristes, tão desesperados, tão pessimistas?

Porque colocamos tantas vezes a nossa esperança em fórmulas de oração repetidas a um qualquer Santo ou Santa, (e não me refiro às novenas), com coisas tão sem sentido como ter de fazer 25 fotocópias disto ou daquilo, como forma de obter uma qualquer graça?

Já parámos para pensar o que é que isso diz aos jovens, o que pensam eles desse tipo de atitudes?

Quando por vezes colocamos as pessoas mais velhas em lares, arranjando desculpas que realmente não são mais do que desculpas recheadas de egoísmo da nossa parte, (embora claro haja casos de necessidade verdadeira), que testemunho damos aos jovens sobre o amor que devem ter aos seus pais, aos mais velhos?

E que esperamos nós que eles nos façam quando chegar o nosso tempo?

É Jesus quem nos diz em Lc 8, 21, quando Lhe falam da Sua família:
«Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põe em prática».

Hoje o mundo não se comove com atitudes “beatas”, mas impressiona-se com um testemunho de vida desprendida, daqueles que pensam nos outros, que ajudam os outros, que se preocupam com os outros, que são enfim missionários da Palavra de Deus na prática do dia a dia, na Igreja, na família, no trabalho, no descanso, em cada momento e em qualquer lado.

Só o amor pode gerar amor, e só o amor pode levar à felicidade, meta que cada mulher, cada homem quer atingir.

Diz-se que o dinheiro ajuda à felicidade, e é verdade se dispusermos dos nossos bens em favor daqueles que mais precisam.

Como queremos nós ter a «simpatia do povo» Act 2, 47, se vivermos fechados em nós próprios, para as nossas vidas, para a vida dos que nos são mais próximos de quem gostamos, para as nossas coisas que apenas nos servem a nós?

Jesus Cristo veio ao mundo, fez-se Homem para todos e deu-nos a missão de O darmos a conhecer a todos, de O levarmos a todos.

E não nos deixou sós, ficou connosco e derramou em nós o Espírito Santo.

E é o Espírito Santo que devemos, que temos de pedir todos os dias, para que nos guie, nos conduza e nos faça cumprir a missão a que fomos chamados e dizemos acreditar.

Conduzidos pelo Espírito Santo e a Ele entregues seremos então verdadeira família de Jesus, filhos de Deus, do Deus de amor que a todos ama por igual.

Não tem sentido vivermos para a nossa salvação, apenas vivendo para a nossa própria salvação!

Tem sentido sim, e é isso a que somos chamados, procurarmos a salvação de todos para também nós nos salvarmos.

O mundo precisa de nós, do nosso testemunho de filhos de Deus, e Cristo quer precisar de nós para ajudarmos na salvação da humanidade, que é dom, que é graça, já o sabemos, mas a que temos de nos abrir, para podermos receber.

Por isso não é só entre nós cristãos empenhados, nas nossas comunidades paroquiais, que assim devemos proceder, mas em todos os momentos e lugares, sobretudo junto daqueles que mais precisam e mais longe estão da verdade do amor de Deus.

Vivamos sempre conforme aquilo que São Paulo nos diz no primeiro texto da 2 Cor 13, 11-12:
«De resto, irmãos, sede alegres, tendei para a perfeição, confortai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco.
Saudai-vos mutuamente com o ósculo santo. Saúdam-vos todos os santos.»

Saudemo-nos também nós agora no fim desta meditação com esse ósculo santo, testemunhado por todos os santos, e que esta saudação que agora aqui vamos dar entre nós, seja repetida no dia a dia das nossas vidas junto dos outros, sempre que o Senhor Jesus Cristo o colocar nos nossos corações.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

ELE ESTÁ À NOSSA ESPERA!

Era um dia férias, faz quatro dias agora, e esperava por uns irmãos da Comunidade que tinha convidado para almoçarem comigo na praia.
Caminhei em direcção ao restaurante apesar de ainda faltar muito tempo para a hora marcada e à medida que caminhava lembrei-me que mesmo ao lado do restaurante ficava a capela da praia, e logo decidi que era o melhor sitio para esperar por eles.
A verdade é que para além do mais, nestes dois curtos dias de férias a minha oração tinha sido pouca, o tempo que tinha dedicado a Quem me tinha dado as férias tinha sido muito pouco.
Assim era tempo de Lhe dizer pessoalmente, que estava um pouco envergonhado, que tinha esmorecido a minha oração, a minha intercessão por aqueles que me confiam as suas preocupações, que tinha enfim gasto tempo em nada, quando Ele era tudo e tudo podia fazer do tempo que eu gastava.
Entrei na capela e logo agradeci a primeira graça que Ele me dava:
Não estava ninguém, por isso podia estar em paz, sem interferências. Era um bocadinho egoísta, é certo, mas a verdade é que precisava daquele tempo que Ele de forma tão simples me proporcionava.
E foi um nunca acabar de orações, de pedir perdão, de pedir pelos outros e por mim também, de desfiar preocupações, dúvidas, planos e projectos, enfim a minha cabeça não me dava descanso, não Lhe dava descanso e sobretudo não permitia sequer que Ele falasse comigo, que Ele me deixasse sentir a Sua presença.
Ao fim de uns trinta minutos esgotei assunto, ou Ele o esgotou em mim e dei por mim de cabeça entre as mãos, sentado com os cotovelos nos joelhos e dizendo-Lhe cheio de vergonha, mas com o coração nas mãos:
Caramba ainda nem sequer me calei desde que aqui entrei, e ainda nem deixei que me dissesses o que queres de mim, o que me queres dizer, o que queres precisar de mim!
De mansinho, muito de mansinho, como aquela brisa, sabem, a calma foi chegando, a paz foi-se instalando, deixei de ter peso, de ter espaço, de ter tempo e Ele foi tomando conta de mim, foi-me envolvendo, foi-me aconchegando, acarinhando, abraçando, até que ficámos ali os dois, apenas os dois e mais nada, nem paredes, nem bancos, nem barulhos da rua, nem nada que perturbasse aquele momento de amor.
Não sou muito dado a momentos místicos, mas aquele momento levou-me a um estado de paz, de alegria interior, de certeza da presença de Deus em mim e comigo e sem dúvida nos outros.
Baixinho, sussurrando, disse-Lhe absolutamente convicto de que me ouvia:
Obrigado Senhor!
Ouvi-O também no meu coração dizer-me:
Vês como também no mundo se vive o Paraíso?
Pois é muito mais do que isto, muito mais, o que prometi e prometo a todos os que Me seguirem.
Ainda Lhe perguntei na minha pequenez:
Que queres de mim, Senhor?
E Ele respondeu amorosamente:
Nada! Agora neste momento não quero nada de ti!
Queria apenas que soubesses que Eu estou sempre, sempre convosco!
Um choro de criança na rua fez-me perceber que aquele momento tinha acabado, mas que era sempre possível quando nos deixamos envolver pelo Mestre, quando nos deixamos tocar pelo Seu amor.
Olhei para o relógio e o telemóvel vibrou!
Eram eles, estavam a chegar, ali mesmo à porta da capela!
O tempo que eu tinha gasto, tinha-O Ele arranjado para Se encontrar comigo e me lembrar do Seu eterno amor por nós!

Isto aconteceu comigo, agora neste tempo!
Não o inventei, mas senti-O, mas vivi-O!
Não hesites, vai à Sua procura.
Entra numa igreja, no silêncio do teu quarto, ou do sítio que escolheres e quando lá chegares reza, fala, pede, intercede, esgota todo o assunto e depois deixa que Ele tome conta de ti e preencha o teu silêncio!
Ele não falha, Ele não falta, Ele está à tua espera!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

DÁ-LHE UMA CANA, NÃO LHE DÊS O PEIXE...

No outro dia, quando estava na Missa e durante a acção de graças, veio ao meu pensamento aquele provérbio ou ditado chinês, (segundo dizem), e que diz mais ou menos o seguinte:
«Não dês ao pobre o peixe, mas dá-lhe uma cana e ensina-o a pescar.»
Fiquei ali a pensar um pouco no que é que o Senhor me queria dizer com aquilo e depois da Missa e já em casa, e até agora, volta e meia o provérbio vem ao meu pensamento.
Nós somos os pobres que tudo pedimos a Deus e muito gostaríamos que Ele tudo nos desse sem termos nenhum trabalho, ou seja, sem conduzirmos as nossas vidas segundo a Sua vontade.
Mas Ele que nos conhece bem melhor do que nós nos conhecemos, nunca nos dá tudo o que queremos, e sobretudo não nos dá sem haver esforço do nosso lado, porque Ele sabe muito bem que se nada nos faltar, também Ele, pensaremos nós, nos deixará de fazer falta, e sem Ele não poderemos salvar-nos, não poderemos encontrar a verdadeira vida a verdadeira felicidade.
Ou seja, Deus não nos dá o peixe, mas dá-nos a cana e ensina-nos a pescar.
‘Disse-lhes Ele: «Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar.»’ Jo 21,6
Mas muitos de nós também, em vez de nos servirmos da cana que Ele nos dá para pescarmos, para encontrarmos o caminho das nossas vidas, deitamos fora a cana e vamos procurar outra ou outras canas, pensando nós que serão melhores e mais rápidas para encontrarmos a felicidade.
A cana que Ele nos dá chama-se amor, as canas que nós procuramos e com as quais pensamos conseguir a vida chamam-se dinheiro, egoísmo, obcecação pelo trabalho, obcecação pelo sexo, etc, etc.
É que com estas canas, parece-nos que alcançamos muito rapidamente aquilo que julgamos ser a felicidade, mas a verdade é que esses momentos são muito efémeros, podem durar mais ou menos tempo, mas acabam sempre e normalmente com grandes frustrações.
Já a cana do amor, usada com os ensinamentos do Mestre leva-nos a encontrar o verdadeiro sentido da vida e assim sendo o caminho da felicidade que encontra a plenitude na comunhão com Cristo.
O “peixe” que pescamos com a cana que Deus nos dá, é sempre um “peixe” que acrescenta algo às nossas vidas, que nos vai fazendo crescer, que se torna vida em nós e que por fim nos leva ao encontro final e eterno com Deus.
O “peixe” que pescamos com as canas que arranjamos no mundo, é sempre um “peixe” que serve no momento, mas depois se esgota, que nada acrescenta às nossas vidas a não ser momentos fugazes de prazer, que acaba por nos conduzir a uma eternidade sem Deus, e portanto a uma eternidade “morta”.
O curioso é que com a cana que Deus nos dá também podemos pescar coisas do mundo, e servirmo-nos delas para nós e para os outros, mas com as canas que o mundo nos dá nunca podemos pescar as coisas de Deus, que nos dão a verdadeira vida.
«Dá-nos Senhor, a cada um, a cana que precisamos em cada momento, para “pescarmos” com o Teu amor e no Teu amor, as nossas vidas.»

sexta-feira, 25 de julho de 2008

SOU NADA, SENHOR!

Estou aqui sentado a olhar para as letras, e pedindo-te Senhor que as organizes, que faças delas palavras, que lhes confiras a força que só Tu podes conferir.
Mas escrever o quê? Escrever sobre o quê? Escrever como?
Se és Tu que inspiras tudo o que aqui escrevo, (ou pelo menos é a isso que me predisponho), como posso eu escrever se Tu nada me inspiras?
Ah Senhor, julgo que compreendo!
Queres que escreva então sobre o meu nada, sobre tudo aquilo que eu não sou, quando me penso sozinho, quando me vivo sozinho.
Queres que eu perceba que quando não penso conTigo, o pensamento é pobre, sem finalidade, sem chama nem alcance.
Queres que eu perceba que quando não vivo conTigo, a vida é estéril, sem sentido, sem calor e sem amor, não me serve a mim e nem serve aos outros.
Queres que eu perceba, Senhor, que sem Ti eu nada sou e o que faço não vale nada.
Como posso eu colocar amor no que faço, se o faço longe do Teu amor?
Como posso eu esperar que as minhas palavras actuem, se elas são minhas e não tuas?
Como posso eu esperar que os meus passos me levem a algum lado, se eles são passos do meu querer e não os passos da Tua vontade?
Como posso eu querer dar vida da minha vida, se me afasto da vida que Tu és, e que assim sendo és vida em mim?
É isso Senhor, sou nada, porque Tu és Tudo!
E para eu ser Senhor, aquilo que queres que eu seja, então tens de ser Tu em mim, porque sem Ti eu nada sou.
Ah Senhor, percebo agora Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».
Mas estou tão longe Senhor, tão longe ainda!
Recorro Senhor Àquela que se fez Sim, para que Tu fosses nEla a vida que não tem fim, a vida para todos os teus, a vida também para mim.
E peço-Lhe, como um dia me ensinaste:
«Mãe, ensina-me a ser nada, para que Cristo seja tudo em mim».

quarta-feira, 16 de julho de 2008

«HONRAR PAI E MÃE»


Senhor, somos tantas vezes egoístas para com aqueles que, colaborando conTigo, nos deram a vida.
Lembrava no outro dia, Senhor, quando meditava neste mandamento do Teu amor, que quando era mais novo, não existiam tantos lares de terceira idade.
Terceira idade, Senhor, que maneira tão fria temos nós de tratar aqueles que nos deram a vida ou aqueles que os ajudaram a fazer de nós mulheres e homens adultos.
Como o mundo se faz cada vez menos humano!
Tantas desculpas arranjamos nós, Senhor, para colocarmos os nossos pais, avós, tios e por aí fora, nesses lares de terceira idade.
Até já arranjamos lares, dos quais dizemos que têm condições muito boas, melhores do que se estivessem em casa.
Tudo serve para afastarmos de nós essa responsabilidade de amor.
É que ali estão acompanhados, é que ali estão protegidos, é que ali têm serviços de saúde, é que ali tratam deles, é que ali…
É que sabes, Senhor, as nossas casas são pequenas não os podemos ter connosco e depois estamos muito tempo fora, a trabalhar...
Tantas desculpas!
O que se diria, se quando nós nascemos os nossos pais nos colocassem num orfanato por causa da falta de espaço lá em casa, ou porque tinham de trabalhar, ou porque … qualquer outra razão daquelas que arranjamos com tanta facilidade.
E a maior e pior desculpa, Senhor!
Eles gostam de lá estar, é bem melhor para eles!
Amam-nos tanto Senhor, que para não nos pesarem, para não nos magoarem, acabam por dizer até aquilo que não sentem!
Sim Senhor, eu sei que com alguns terá mesmo de ser, porque não há outra hipótese Senhor!
Mas quantos, quantos verdadeiramente!
Uma minoria!
Porque não fazemos nós por eles, os sacrifícios que eles fizeram por nós!
E é este o testemunho que damos aos nossos filhos, não é Senhor!
Lá chegará o nosso tempo, não é Senhor!
Lá chegará o tempo em que também seremos colocados nesses lares, Senhor e talvez então percebamos o que fizemos aos nossos pais, aos nossos avós, aos nossos tios, a todos aqueles por quem não nos esforçámos tanto, como eles se esforçaram por nós.
Tão egoístas Senhor, tão egoístas que nós somos Senhor!
Tem piedade de nós e ensina-nos o caminho do amor, ensina-nos que o nosso próximo mais próximo é aquele que está em nossa casa e que nós tantas vezes afastamos.
Ensina-nos Senhor, para que verdadeiramente saibamos «Honrar pai e mãe» e neles, todos aqueles que nos ajudaram a viver, a crescer.
E obrigado Senhor, por estares sempre connosco e não nos colocares em nenhum “lar” longe de Ti!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

"VINDE A MIM, TODOS OS QUE ESTAIS CANSADOS E OPRIMIDOS"...

Como a vida lhe pesava nos ombros!
Como tudo lhe parecia perdido, os anos que tinha vivido, a entrega que tinha feito àquela família, o empenho que nela tinha colocado!
Tudo se desmoronava como um castelo de cartas, agora que, depois de anos e anos de violência doméstica tinha decidido pôr fim àquela união!
O que mais lhe custava ao ter saído de casa por vontade própria era pensar que não se podia aproximar mais daquEle que tinha sido e era a sua força, a sua alegria, no meio de tanta incerteza, de tanta dor, de tanta revolta.
Tinham-lhe dito que se saísse de casa, se abandonasse aquela união, aquele casamento, nunca mais poderia aproximar-se da Comunhão, da Eucaristia, e isso tinha-a levado sempre a dar cada vez mais de si, a perdoar cada vez mais as afrontas, as violências, mas agora já não podia mais porque a sua vida estava em risco e com ela a dos seus filhos.
Não conseguia imaginar a sua vida sem a Comunhão, sem a Eucaristia, sem sentir e viver a presença constante do amor de Deus na sua vida.
Não podia ser assim!
Ela sentia que não podia ser assim!
Diziam-lhe que não, que não havia possibilidades, que era Doutrina da Igreja, que a Igreja não aceitava as pessoas que “abandonavam” os seus casamentos, mas ela, embora por vezes revoltada com aquela Igreja, sentia que algo estava mal, que verdadeiramente não era assim.
Deus não podia querer que ela colocasse a sua vida e a dos seus filhos em risco, perante a violência que aquele que ela tinha escolhido para seu marido e pai dos seus filhos, vinha exercendo diariamente sobre ela e sobre eles.
Ela sabia que tinha feito tudo, tudo o que lhe era humanamente possível, para resolver aquela situação.
Tinha perdoado, tinha esquecido, tinha calado, tinha rezado, (se tinha rezado, todos os dias fervorosamente), tinha pedido ajuda para ele e para ela e nada, nada mudava, a violência continuava e cada vez mais perigosa, (parecia até que a sua maneira de estar, de perdoar, ainda o levava a fazer pior), de tal modo que sentia que a sua vida agora estava verdadeiramente em risco e que portanto tinha de tomar a decisão que acabou por tomar.
Mas não acreditava, apesar de tudo o que lhe diziam, que a Igreja não a acolhesse no seu seio, não acolhesse aqueles que sofrem.
Decidiu ir falar com alguém que realmente lhe dissesse a verdade da Doutrina, a verdade do que a Igreja dizia sobre o problema que ela vivia e sobre o qual tinha tomado aquela decisão tão amarga e difícil.
Procurou um sacerdote, alguém da sua confiança, aquele que tantas vezes a tinha acolhido e com ela tinha vivido esses momentos tão difíceis, e abriu-lhe o coração.
Queria saber, como tantos lhe diziam, se já não podia ir à igreja, se já não podia participar da Eucaristia, se já não podia confessar-se e receber a Comunhão.
Queria saber enfim, se aos olhos da Igreja ela era uma proscrita, uma não desejada, uma que já não era aceite.
O sacerdote, mais uma vez, ouviu-a em silêncio, pesou todas as suas palavras, todas as suas dores, todas as suas razões, todos os seus motivos e por fim disse-lhe:
- Conheço bem o teu caso, o teu problema e a amargura, a dor, com que tomaste a decisão de sair de casa com os teus filhos.
Sei bem que fizeste tudo o que estava ao teu alcance para evitar esta decisão, que chegaste até a humilhar-te, para tentar salvar o teu casamento.
Quero dizer-te em primeiro lugar que a Igreja nunca afastou ninguém do seu seio, pelo contrário tenta sempre acolher aqueles que sofrem, aqueles que se sentem sozinhos, aqueles que procuram em Deus a realização plena das suas vidas.
Muitos membros da Igreja não entendem assim, (não os podemos condenar, porque com certeza não têm o conhecimento suficiente do Mistério que é a Igreja), e por isso julgam o que não deviam julgar e tomam como certas, opiniões que afinal são só suas.
Mas não, a Igreja não condena o teu acto, porque o tomaste depois de esgotadas todas as hipóteses de solução, depois de teres tentado até ao limite das tuas forças salvar o Matrimónio que um dia contraíste livremente perante Deus, e que por razões várias acabou por se transformar numa prisão perigosa para ti e para os teus filhos, deixando de ser a realização plena do amor entre homem e mulher que Deus quis e para o qual os criou.
Podes, digo-te eu, participar da Eucaristia, comungar o Corpo e o Sangue de Cristo, confessar-te sempre que precisares e o desejares, apenas com a condição de te manteres casta, sem te unires a outro homem, a não ser que, por razões ponderosas que eu não posso analisar aqui, o Tribunal Eclesiástico analisando as condições em que foi celebrado e vivido o teu Matrimónio, a teu pedido, possa afirmar que o Sacramento do Matrimónio não aconteceu verdadeiramente, e decretar a sua nulidade.
Mas para que não tenhas dúvidas no que te afirmo aqui te leio os cânones do Código de Direito Canónico que confirmam as minhas palavras:
«Cân 1151 – Os conjugues têm o dever e o direito de manter a convivência conjugal, a não ser que uma causa legitima os escuse.
Cân 1153 - § 1. Se um dos conjugues provocar grave perigo da alma ou do corpo para o outro ou para os filhos, ou de algum modo tornar a vida comum demasiado dura, proporciona ao outro causa legítima de separação, quer por decreto do Ordinário do lugar, quer também, se houver perigo na demora, por autoridade própria.
§ 2. Em todos os casos, cessando a causa da separação, deve ser restaurada a vida conjugal em comum, a não ser que a autoridade eclesiástica determine outra coisa.»

Claro que para teres a certeza da bondade da tua decisão, mesmo depois de tomada, deves recorrer à ajuda no discernimento de um sacerdote, ou até mesmo do teu Bispo, que te ajudará a dares os passos certos para conformares a tua decisão com a Doutrina da Igreja.
Mas para além destas instruções que te informo, há muito mais documentos da Igreja que atestam a possibilidade dos separados, por razões como a tua e outras mais, poderem continuar a receber os Sacramentos da Igreja, e entre os quais te cito, a Exortação Apostólica “Familiares consortio”, de João Paulo II, que no ponto 83 diz:
«Motivos diversos, quais incompreensões recíprocas, incapacidade de abertura a relações interpessoais, etc. podem conduzir dolorosamente o matrimónio válido a uma fractura muitas vezes irreparável. Obviamente que a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis.
A solidão e outras dificuldades são muitas vezes herança para o cônjuge separado, especialmente se inocente. Em tal caso, a comunidade eclesial deve ajudá-lo mais que nunca; demonstrar-lhe estima, solidariedade, compreensão e ajuda concreta de modo que lhe seja possível conservar a fidelidade mesmo na situação difícil em que se encontra; ajudá-lo a cultivar a exigência do perdão própria do amor cristão e a disponibilidade para retomar eventualmente a vida conjugal anterior.
Análogo é o caso do cônjuge que foi vítima de divórcio, mas que - conhecendo bem a indissolubilidade do vínculo matrimonial válido - não se deixa arrastar para uma nova união, empenhando-se, ao contrário, unicamente no cumprimento dos deveres familiares e na responsabilidade da vida cristã. Em tal caso, o seu exemplo de fidelidade e de coerência cristã assume um valor particular de testemunho diante do mundo e da Igreja, tornando mais necessária ainda, da parte desta, uma acção contínua de amor e de ajuda, sem algum obstáculo à admissão aos sacramentos.»

A Igreja não te condena, portanto, mas ao contrário quer acolher-te, quer ajudar-te a viveres a tua situação dolorosa e na comunhão em Igreja, em comunhão com Cristo, encontrares razões de esperança, de paz e até de alegria.
Lembra-te que é Jesus Cristo Quem nos diz:
«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» Mt 11,28-30

Olhou para o sacerdote agradecida e disse-lhe com a voz embargada:
Obrigado Padre, porque me fez sentir acolhida e amada pela Igreja que eu amo.
Sei e percebo que é muito difícil o que a Igreja me pede, mas acredito também que na comunhão e na entreajuda será possível levar a vida digna que sempre quis viver e as circunstâncias não permitiram.
Acredito também que se cair, porque sou pecadora, o perdão de Deus é muito maior que o meu pecado e na Confissão reencontrarei a graça de Deus na minha vida e que ela me dará forças para viver as provações que vou ter de enfrentar.
Mas tenho confiança, tenho esperança, que o amor de Deus me fará sentir que a minha vida tem sentido e é querida por Deus e amada na Igreja e é isso mesmo que quero transmitir aos meus filhos profundamente magoados no seu íntimo.
De pé, o sacerdote abençoou-a, e ela saiu de cabeça erguida da igreja, com a paz no coração, a esperança no olhar, sabendo-se filha de Deus e pedra viva da Igreja.
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Nota:
Esta é uma história inventada, mas que, para além obviamente de uma certa bondade na descrição do problema, sua solução e aceitação, quer chamar a atenção para o facto de que aquilo que se diz e que muitas vezes se toma como certo em relação à Igreja, nem sempre corresponde à realidade.