quinta-feira, 24 de junho de 2021

LER A BÍBLIA

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Recentemente ao ler mais atentamente a passagem do Evangelho de São Lucas sobre a cura do servo do Centurião, dei-me conta de que afinal o Centurião nunca se encontra com Jesus, mas sim, que envia uns amigos ter com Ele para Lhe fazerem o seu pedido.


«Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado.» Lc 7, 6-7

Ou seja, o Centurião afirma mesmo que - «nem me julguei digno de ir ter contigo.»

Fiquei, obviamente, admirado, pois todas as representações deste acontecimento narrado na Bíblia, colocam o Centurião frente a Jesus fazendo o seu pedido.

Falei com alguns amigos sobre o assunto e hoje quando decidi escrever umas linhas sobre o acontecido, decidi ler outra vez e melhor, sobretudo ler a mesma narração em Mateus, que também a faz no “seu” Evangelho.

Pois bem, São Mateus coloca o Centurião frente a Jesus, fazendo o seu pedido!

Fiquei mais descansado, não que o facto em si, ou seja, o Centurião estar ou não estar com Jesus mudasse alguma coisa na essência do milagre da cura do servo e naquilo que essa cura nos quer dizer, sobretudo na humildade e na fé do Centurião, bem representadas naquilo que diz ou manda dizer a Jesus, de tal modo, que ainda hoje em dia na celebração da Missa e no momento que antecede a Comunhão, rezamos essa frase do Centurião.

Mas por outro lado não me deixou nada descansado, porque me chamou a atenção para o facto de, por vezes, (demasiadas vezes), ler a Bíblia, ler a Palavra de Deus, sem a devida atenção, sem o devido tempo e, nas passagens bíblicas que julgo já conhecer muito bem, passar por elas sem uma verdadeira leitura, meditação e discernimento.

E a Palavra de Deus é sempre viva, actuante e diz-nos sempre “coisas novas”, o que, para mim, ficou, mais uma vez, bem demonstrado neste facto que agora aqui escrevi.

Claro que isto devo ser só eu que assim leio a Bíblia por vezes, (?!?), mas de qualquer modo, advertindo-me, advirto quem me ler, para arranjarmos tempo e verdadeira disposição de coração para melhor lermos e conhecermos a Palavra de Deus, para que Ela seja vida em nós.




Marinha Grande, 24 de Junho de 2021
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 21 de junho de 2021

A OUTRA MARGEM

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No Evangelho de ontem Jesus convida-nos a passar à outra margem.

Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos seus discípulos: «Passemos à outra margem do lago». Mc 4, 35

Depois da Missa e da homilia, fiquei a pensar na “passagem para a outra margem”.


Há tantas margens em que estamos e nos sentimos seguros, e há tantas margens a que somos convidados a passar e que nos tiram do nosso conforto, da nossa rotina, dos nossos hábitos.

Entre todas essas margens em que estamos e as outras a que devemos passar, pensei na “margem da oração”.

Estamos habituados à oração das “orações já feitas”, (e ainda bem que estamos), às mesmas orações e esquema de oração que fazemos todos os dias, (e mais uma vez, ainda bem que estamos), estamos até habituados a pedir aos outros para rezarem por nós, (e ainda bem que o pedimos), e tantas outras coisas que poderíamos rever nesta “margem da oração”.

Mas o “passar à outra margem”, não significa que esta margem seja má ou não seja uma boa margem, nem sequer que devemos esquecer esta margem ou que a ela não possamos voltar de quando em vez.

Significa, julgo eu, Jesus a chamar-nos a descobrir as “coisas novas” que Ele sempre nos dá quando O queremos seguir em tudo e em todos os momentos.

E esta outra “margem da oração” quer levar-nos a descobrir a oração que o Espírito Santo faz em nós, se O deixarmos.

A oração espontânea, a oração das palavras soltas dirigidas a Deus, mais do que escolhidas e pensadas para “agradar-Lhe”.

A oração que se extasia com o belo que Deus coloca nas nossas vidas e que até se pode constituir, não em palavras ditas, mas interjeições e exclamações de espanto alegre.

A oração que faz movimentar o nosso todo, o nosso ser, que nos faz levantar as mãos para Deus, que faz erguer o nosso coração ao Céu, que abre na nossa boca o sorriso que brilha nos nossos olhos, quando nos sentimos tocados por Deus, quando vemos os sinais de Deus.

Mas para passar a esta outra “margem da oração”, por vezes, é preciso arrostar com tempestades, ventos contrários, temores e receios, que são muitas vezes a “secura de oração”, o não ter palavras para dizer, o nada sentir, o parecer que estamos sós.

Mas é então que Ele nos responde: «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?».

E, com certeza, acrescenta baixinho ao nosso coração: “Abandona-te ao Espírito Santo. Ele está contigo e colocará no teu coração, na tua boca, as palavras que Me hás-de querer dizer!”

Então acalmam-se as tempestades, cessam os ventos, faz-se a paz dentro de nós e tudo em nós é oração, às vezes mesmo sem dizer palavras.

Não esperemos mais e passemos à “outra margem”, levando connosco tudo o que aprendemos e vivemos de bom na margem em que estamos.




Marinha Grande, 21 de Junho de 2021
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 17 de junho de 2021

SOMBRA NO SACRÁRIO

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Ontem à noite, quando rezávamos o Terço dos Homens na igreja paroquial da Marinha Grande, reparei na sombra projectada na parede junto ao sacrário.

E nessa sombra, (vista pelos olhos de quem reza), vi um homem de barba, segurando o seu chapéu atrás das costas, ajoelhado em cima de uma árvore e rezando à entrada de uma capela.

Coincidências, dirão alguns, não é mais do que uma sombra sem qualquer significado.

E têm razão, pois não é mais do que uma sombra projectada numa parede, mas a circunstância de ser ao lado do sacrário, de acontecer durante a recitação do terço, de estarmos num ambiente de recolhimento e oração, tudo pode transformar quando acreditamos que Deus está presente em tudo e nos dá sinais, por vezes quase imperceptíveis, da Sua presença.

E ao ler o Evangelho de hoje, chamaram-me a atenção estes versículos: «Quando orardes, não digais muitas palavras, como os pagãos, porque pensam que serão atendidos por falarem muito.

Não sejais como eles, porque o vosso Pai bem sabe do que precisais, antes de vós Lho pedirdes.»

Reparei então que a sombra em causa representa também um silêncio, o silêncio de um homem em recolhimento, prostrado de joelhos, levantando a cara ao Céu, numa súplica humilde, (a sua postura de segurar o chapéu atrás das costas), em cima de uma árvore, (como Zaqueu), à procura de Jesus Cristo que ali passa, pois está no sacrário.

É um milagre, uma visão, um acontecimento místico, sequer?

Claro que não!

É apenas e tão só o Deus que nos fala quando estamos atentos e receptivos a crer que Ele está sempre connosco e que se compraz em dizer ao Homem: “Sei bem do que precisas. Acredita, ama, confia e espera, porque Eu estou sempre convosco!”

Obrigado, Senhor, glória a Ti por toda a eternidade.



Marinha Grande, 17 de Junho de 2021
Joaquim Mexia Alves

domingo, 6 de junho de 2021

NU, PARA TI, MEU DEUS!

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Eu «ouvi o rumor dos vossos passos no jardim» (Gen 3, 10),
meu Deus
e não soube o que fazer.

Vinhas ao meu encontro,
como um Deus que ama aquele que criou,
e eu com medo,
ou melhor,
com vergonha da minha nudez,
tapei-me com as “capas” das minhas culpas,
das minhas fraquezas,
tentando evitar,
Aquele que sempre me amou.


E afinal,
meu Deus,
querias que fosse ter contigo,
nu,
completamente nu,
liberto de tudo aquilo que me cobre,
que me enche,
e me afasta de Ti,
porque me reveste,
porque me enche de mundo!

E arranjei desculpas
e mais desculpas,
dizendo-Te que não tinha sido eu,
mas os outros,
todos os outros
que me levaram a pecar,
a afastar-me de Ti,
a deixar de querer
ser Teu!

E Tu
respondeste-me
com o teu abraço de amor,
perguntando-me,
se por acaso,
eu não sabia que me tinhas criado livre,
tão livre que podia escolher o meu caminho,
sabendo que podia,
ou não,
apresentar-me diante de Ti
nu,
como aliás,
Tu me apresentaste ao mundo?

Nu,
meu Deus,
diante de Ti,
sem mais nada a não ser,
o meu ser pecador,
a não ser,
o meu pecado, 
que Tu por teu infinito amor, 
perdoas,
não me deixando ser condenado.

Eu
«ouvi o rumor dos vossos passos no jardim» (Gen 3, 10),
e quedei-me quieto,
prostrei-me diante de Ti,
e disse:
aqui estou,
meu Deus,
que a Tua vontade
se faça em mim!




Marinha Grande, 6 de Junho de 2021
Joaquim Mexia Alves

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Suscitado pela homilia do Pe Rui Ruivo, hoje de manhã, na Missa Dominical na Marinha Grande.