segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TU, ME SEDUZISTE, SENHOR!

.
.




«Seduziste-me, SENHOR,
e eu me deixei seduzir!
Tu me dominaste e venceste.» Jr 20, 7-9





A Tua sedução,
Senhor,
é toda amor!


Por isso mesmo,
Senhor,
só seduzes aqueles
que se deixam seduzir.


Não forças, não enganas,
não Te transformas,
nem apresentas de modo encapotado,
disfarçado,
mas sim e apenas,
como simplesmente és:
amor puro,
totalmente doado!


Como não havias Tu,
Senhor,
de me seduzir?


Embrenhado nos “amores” fáceis do mundo,
confundido nas paixões efémeras da vida,
orientado pelos prazeres rápidos e frustrantes do dia a dia,
que procurava eu,
sem saber,
que não fosse a felicidade de me conhecer,
conhecendo a outros,
para me construir e completar?


Estaria eu aberto ao amor,
ou do amor apenas conhecia
a imperfeita imagem de um “amor” rápido,
mais feito de prazer momentâneo,
do que,
amando,
conhecer-me,
por me dar a conhecer…
ao amor?


Seria neste pobre coração,
assim aberto ao amor,
desiludido por o não encontrar,
que Tu descobriste
a razão da sedução,
com que me seduziste,
Senhor?


«E eu me deixei seduzir!»


Sequioso que estava de amor,
como não reconhecer em Ti,
Senhor,
o amor de Quem “só” ama,
de tal modo e tão totalmente,
que se dá inteiramente
por aquele a quem seduz.


«Seduziste-me, SENHOR,
e eu me deixei seduzir!»


E na Tua sedução,
tão cheio de amor fiquei,
que naqueles que Tu me deste,
para partilhar a vida,
só os posso amar também,
com o amor tão doado,
amor que em Ti encontrei.


«Tu me dominaste e venceste.»


E eu me deixei dominar,
e eu me deixei vencer,
porque o Teu domínio é amor,
e a Tua vitória,
é viver.


Sabes,
Senhor,
descubro na minha obediência,
à Tua sedução,
um tão profundo e terno amor,
que amar-te,
é obedecer-te,
porque obedecendo,
Te amo.


Doce e terna obediência,
que me conduz ao amor!


Deixar-me dominar e vencer,
por Quem “apenas” ama,
é encontrar-me,
completar-me,
porque me encontro com a vida,
aquela que me foi dada,
que vai para além deste tempo,
para ser inteiramente vivida,
na Tua presença,
Senhor!


«Seduziste-me, SENHOR,
e eu me deixei seduzir!
Tu me dominaste e venceste.»


Por isso,
sou feliz,
Senhor!




Monte Real, 29 de Agosto de 2011
.
.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ORAÇÃO DE FÉRIAS

.
.



Senhor,
parto hoje numas curtas férias!

Vens comigo, Senhor?

É que, talvez agora nestes cinco dias, eu possa estar mais contigo, visto que comigo Tu estás sempre, Senhor, pois nunca nos abandonas.

Que eu Te encontre, Senhor, na família, no descanso, no divertimento, na natureza, em todos, em tudo, e em todo o lugar.

Ah, e obrigado, Senhor, por estes dias de férias que me dás!

Como Tu és bom, Senhor!

Amen.
.
.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

SENHOR, EU QUERO VER!

.
.


Da escuridão saiu um grito lancinante:
- Senhor, eu quero ver!

Então uma voz perguntou:
- Para que queres tu ver?

Respondeu o “grito”:
- Quero ver para que tudo tenha sentido.
Olho para a natureza, mas não consigo ver a totalidade da sua beleza. Trabalho exaustivamente, mas não consigo entender para quê. Ganho dinheiro e mais dinheiro, mas não me sinto mais tranquilo e seguro do meu futuro. Dou aos meus tudo o que me pedem, mas não os vejo mais felizes. Tenho amigos e mais amigos, mas não sinto os seus corações. Leio, estudo, informo-me, mas não me sinto mais sábio por isso, nem me sinto conhecedor da vida. Trato da minha saúde, da minha forma física, mas não vejo a finalidade de tanto esforço. Vivo intensamente, mas temo a morte.
Por isso Senhor estou cego, porque não vejo o sentido da vida.

Respondeu-lhe a voz:
- Mas acreditas tu que Eu te posso dar a capacidade de veres?

O “grito” respondeu:
- Falam-me de Ti e dizem-me que Tu tudo podes. Leio-Te, estudo-Te, mas falta-me algo, porque não consigo compreender. Mas sinto que me podes dar essa compreensão. Tudo o mais já experimentei, e nada me faz ver aquilo que eu não consigo ver. Acredito Senhor, quero acreditar, que só Tu me podes fazer ver o que agora ainda não vejo.

A voz ergueu-se firme, terna, cheia de compaixão e disse:
- A tua fé te salvou!
Abre os olhos e vê agora o que para ti estava preparado. Mergulha no Meu coração e sente-te amado. Vês agora que sempre exististe em Mim? Vês agora que a tua vida tem sentido, porque é vida da Minha Vida? Vês agora que só em Mim deves encontrar razão para tudo que fazes? Vês agora que todo o teu esforço deve começar e acabar em Mim? Vês agora que todo o teu trabalho tem sentido se não for apenas para ti, mas para todos que Eu amo e assim sendo tu deves amar também? Vês agora que só em Mim encontras futuro e futuro que não acaba? Vês agora que a natureza é bela porque Eu a criei para ti? Vês agora que mais do que ler e estudar apenas para conhecimento, o deves fazer vivendo-Me no que lês e estudas? Vês agora que só em Mim encontras a plenitude da vida?

Do “grito” saiu um grito de alegria:
- Vejo agora Senhor que já não sou um "grito" informe, porque Tu me deste a ver a minha humanidade que em Ti se faz vida eterna!

Era o sétimo dia, e então Deus descansou e fez festa com os Seus filhos!



Monte Real, 23 de Outubro de 2007
.
. 

terça-feira, 9 de agosto de 2011

ORAÇÃO

.
.



Sabes, Senhor, eu tento!

Eu oro, (é verdade, Senhor, às vezes mais com a boca do que com o coração), eu medito, eu entrego-me nas tuas mãos, mas eu caio!

Sim, Senhor, eu sei que me levanto porque Tu me dás forças para me levantar, mas caio, Senhor, tantas vezes!

Eu sei, Senhor, que sou fraco, mas julgava eu que aproximando-me cada vez mais de Ti, menos cairia, menos fraco seria, mais perfeito seria.

Mas a verdade, Senhor, é que todos os dias descubro “novos” defeitos em mim, todos os dias encontro ocasiões de cair, todos os dias me sinto, apesar da luta, mais fraco, perante a minha fraqueza.

Sim, Senhor, eu quero acreditar que és Tu que vais moldando o barro duro e quebradiço que eu sou, e que por causa do meu modo de ser, tantas vezes não consegues fazer a obra que queres fazer em mim, porque endureço e me quebro nas Tuas mãos.

Quero pensar, acreditar, que quanto mais fraco me sinto, mais deixo que Tu estejas em mim, porque se assim não fosse, já tinha soçobrado.

Mas o orgulho, Senhor!

O orgulho de querer mostrar aos outros que já sou um discípulo “perfeito”!
Não é esse, Senhor, pois não, o testemunho que queres de mim?

Queres-me fraco, humilde, entregue, para que reflicta muito mais o Teu querer, do que o meu ser.

E olhas para mim, com esse Teu olhar tão doce, que me sinto um pobre Pedro, (mas eu, empedernido), que nunca deixo de Te negar em tantos momentos da vida.

Pois, Senhor, eu sei que o Teu amor é infinitamente maior do que as minhas negações, do que a minha dureza, do que a minha fraqueza, mas como encontro eu essa entrega incondicional, de me saber fraco, para que Tu sejas a força em mim?

Encontro-te no degrau que subo, e encontro-te nos degraus que desço, porque quando desço degraus, és Tu que me dás a mão, para voltar a subir.

E no entanto, Senhor, tanto caminho que já fizemos juntos!

Desta rocha dura e seca que eu sou, quanta água já tiraste Tu?

Nem me deixas perceber quanta, para que não me orgulhe, para que não me julgue alguma fonte, quando afinal sou apenas vasilha que leva a água que Tu me dás.

Foi bom falar contigo, Senhor!

Não me sinto mais forte, mas ainda mais fraco do que quando comecei esta conversa.

Mas isso é bom, não é, Senhor?

É que se estou mais fraco no que me julgo, Tu estás mais forte no meu ser, e se Tu assim estás em mim, o que hei-de eu temer, Senhor?

Amen, seja feita a Tua vontade, Senhor.
.
.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O MILAGRE É A NOSSA DISPONIBILIDADE!

.
.
Evangelho segundo S. Mateus 14,13-21.

Naquele tempo, quando Jesus ouviu que João Baptista tinha sido morto, retirou-Se dali sozinho num barco, para um lugar deserto; mas o povo, quando soube, seguiu-O a pé, desde as cidades.
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e, cheio de misericórdia para com ela, curou os seus enfermos.
Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Este sítio é deserto e a hora já vai avançada. Manda embora a multidão, para que possa ir às aldeias comprar alimento.»
Mas Jesus disse-lhes: «Não é preciso que eles vão; dai-lhes vós mesmos de comer.»
Responderam: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.»
«Trazei-mos cá» disse Ele.
E, depois de ordenar à multidão que se sentasse na relva, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu e pronunciou a bênção; partiu, depois, os pães e deu os aos discípulos, e estes distribuíram-nos pela multidão.
Todos comeram e ficaram saciados; e, com o que sobejou, encheram doze cestos.
Ora, os que comeram eram uns cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.



Mais uma vez neste Domingo, escutando a homilia do sacerdote que presidia à celebração, fui-me deixando conduzir e perceber das suas palavras uma nova forma de interpretar este Evangelho, ou melhor, não uma nova forma de interpretar, mas uma reflexão focada noutra abordagem à Palavra proclamada.



A primeira reacção dos discípulos é colocarem-se de fora do problema daquela gente:
«Este sítio é deserto e a hora já vai avançada. Manda embora a multidão, para que possa ir às aldeias comprar alimento.» Mt 14,15

Como quando nós estamos perante alguém que precisa de ajuda, e pensamos, ou até dizemos, que nada podemos fazer, que o problema no fundo é daqueles que o têm, e não é um problema nosso.
Ou até quando passamos muito rapidamente o “assunto” para Deus, enunciando-o apenas numa oração em que apresentamos o problema ao Senhor, mas não nos perguntamos o que podemos fazer, para “ajudarmos” Deus a resolver o problema do outro.



Mas Jesus responde-lhes de imediato, provavelmente da forma que eles não queriam:
«Não é preciso que eles vão; dai-lhes vós mesmos de comer.» Mt 14,16

Ele quer precisar de nós!
Ele quer precisar de nós para que sejamos mais irmãos uns dos outros, para que percebamos que é connosco que Ele quer construir o Reino, que Ele não veio para nos resolver os problemas, mas para nos mostrar o caminho de uma verdadeira vida, uma vida em que também viveremos e ultrapassaremos os nossos problemas, com a Sua ajuda, claro, que nunca nos falta.



Mas perante a resposta de Jesus, (a Quem eles já tinham visto fazer tantos milagres e mesmo assim duvidavam), tentaram ainda outra forma de não se envolverem no problema, afirmando as suas incapacidades:
«Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.» Mt 14,17  

Tantas vezes que nos afirmamos incapazes, dizendo-nos desconhecedores, sem estudos, sem formação, tímidos, envergonhados, fracos, enfim, tudo o que for possível para não fazermos o que nos é pedido, para não fazermos aquilo a que somos chamados ajudar, a servir.



Mas Jesus não desiste e diz-lhes:
«Trazei-mos cá» Mt 14,18

Como diz, a cada um de nós, para Lhe entregarmos, para colocarmos ao seu serviço, nos outros, os talentos que Ele nos deu, e nos quais tantas vezes não acreditamos, porque os colocamos apenas segundo a nossa vontade e as nossas capacidades, ou os queremos guardar apenas para nós, no egoísmo do nosso querer.
Reparemos que aquele que era o dono dos pães e dos peixes, não os quis guardar para si próprio, mas quis sim partilhá-los com quem lhos pedia.
E quem lhos pedia era Jesus, como nos pede a cada um de nós, em cada necessitado.
Como nos diz a cada um de nós, que coloquemos esses talentos, esses bens nas Suas mãos, porque Ele transformará a timidez em destemor, o medo em coragem, a vergonha em afirmação, enfim, Ele transformará o pouco que somos, no muito que os outros precisam.



E não é Ele que os distribui, não é Jesus que leva directamente a cada um o que ele precisa.
«partiu, depois, os pães e deu-os aos discípulos, e estes distribuíram-nos pela multidão.»
Mt 14,19

Não, porque Ele quer servir-se de nós, e depois de colocarmos nas Suas mãos tudo o que Ele nos deu, abençoa-a esses talentos, esses bens, para que dêem fruto e o fruto permaneça.
«Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá.» Jo 15,16



E a abundância é tanta, que entregue tudo nas Suas mãos, nada faltará, porque a bênção de Deus “sobra” sempre para todos.
«Todos comeram e ficaram saciados; e, com o que sobejou, encheram doze cestos.»
Mt 14,20







______________________________________
Nota:
Já neste texto “O trigo e o joio”, fiz referência ao sacerdote que presidia á celebração dominical na minha Paróquia da Marinha Grande, e que era nesse dia o Padre Pedro Viva, Vigário Paroquial.
Desta vez a homília foi proferida pelo Padre Armindo Castelão Ferreira, Pároco da Marinha Grande.
Quero hoje, (aproveitando estes textos), dar graças a Deus pelos dois sacerdotes que colocou ao serviço desta Paróquia da Marinha Grande, que numa alegria e dedicação empenhada, revestida de humildade e serviço permanente, nos têm conduzido nos caminhos de Deus, em Igreja.
.
.