sábado, 31 de dezembro de 2022

BENTO XVI

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“Morreu-me” alguém muito próximo!
Um sentimento de orfandade percorre-me e faz-me vir as lágrimas aos olhos.
Morreu Bento XVI!



Morreu, com certeza, serenamente, como serenamente viveu.

Aquele a quem apelidaram de tanta coisa, acabou por surpreender o mundo com a sua humilde renúncia e até esse gesto quiseram distorcer chamando-lhe fraqueza.
Um homem com uma espiritualidade tão profunda e verdadeira, não podia deixar de tomar essa decisão se ela não fosse a vontade de Deus colocada no seu coração.
Acredito que como Cristo, (sentindo-se um nada em comparação com Ele), deve ter rezado por todos eles, pedindo ao Pai que lhes perdoasse porque não sabiam o que diziam, o que faziam.

Mas nada disso interessa agora, mas sim a certeza de que a Igreja tem mais um Santo no Céu.

Tanto deu à humanidade em Igreja e tão pouco dela recebeu.

A sua vida narrada em livros é um poema de amor a Deus Nosso Senhor.
Um poema de amor carregado de inteligência, de doação, de humildade, de joelhos no chão.

Agarro-me aos seus livros, aos livros que dele falam, e guardo-os no coração para que neles perceba como é verdadeiramente ser discípulo de Cristo.

O Papa, digo-o com toda a sinceridade, que mais marcou a minha vida.
Comecei por, infelizmente, deixar-me levar por uma comunicação social manipulada e doentia, mas cedo me apercebi de como estavam errados e de como este homem era uma bênção para a Igreja e para a cristandade.
Depois tive a graça de o ver a escassos metros de mim em Fátima, (ia jurar que os nossos olhares se cruzaram), com ele rezámos as Vésperas e a sua timidez, a sua humildade, a sua concentrada espiritualidade tocaram-me profundamente.

Direi mesmo que Bento XVI marcou uma etapa da minha vida em que decidi que tinha de fundamentar a minha fé, tinha que aprofundar o meu ser cristão, tinha, sobretudo, que conhecer melhor Deus até ao ponto em que Ele se me desse a conhecer.

Por isso este sentimento de orfandade que agora sinto.
Apenas colmatado pela certeza de que se ele me falasse agora, diria como Maria disse naquele dia - «faz tudo o que Ele te disser» - porque só Ele interessa e só Ele é o Caminho, a Verdade e a vida.

“Morreu-me” Bento XVI!
Aleluia!
Temos mais um Santo no Céu!



Marinha Grande, 31 de Dezembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

ANO VELHO ANO NOVO

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Ano velho – Estás muito esperançado que vai correr tudo bem!!

Ano novo – Nem por isso. Sabes que já desconfio muito das promessas feitas nesta época.



Ano velho – Há um ditado muito antigo que diz, “promessas leva-as o vento”!

Ano novo – Pois é! E parece-me bem que a maioria das promessas feitas neste tempo são mesmo levadas pelo vento passados uns escassos sete dias.



Ano velho – Deixa lá, que ainda me lembro bem das promessas que fizeram há um ano e olhando para trás vejo bem como o vento as levou.

Ano novo – Sabes, querido ano velho, o que me incomoda é que uma grande parte das promessas que fazem, sobretudo aqueles que se dizem cristãos, são promessas de dietas, de bem-estar físico, de procurar mais dinheiro e mais bens, mas poucas são de amar mais e melhor, de seguir verdadeiramente Jesus Cristo, ajudando os outros, por exemplo, de passar de “cristão de nome” a discípulo de Cristo.



Ano velho – Realmente esse tipo de promessas são em muito menor número e infelizmente rapidamente são esquecidas, tirando algumas raras excepções. Eu sei porque tive oportunidade de verificar isso durante o meu “reinado”.

Ano novo – Eu acredito que muitas dessas promessas são feitas com desejo sincero, mas rapidamente são envolvidas pelo mundo e substituídas por consciências que se moldam à sua própria vontade.



Ano velho – Sem dúvida. Acomodam-se, digamos assim.

Ano novo – O problema, quanto a mim que ainda sou novo nestas lides pois só agora vou começar, é que me parece que dão o “estatuto de cristão” como adquirido, cumprindo preceitos pelos preceitos, e não tanto cuidando de perceber que os preceitos só têm sentido vividos no amor e postos em prática no amor.



Ano velho – Ó meu menino ano novo, a verdade é que se deixam levar por ideias mundanas tais como, não é a mim que compete cuidar dos outros, para isso é que há instituições de assistência, etc., etc.

Ano novo – As instituições existem, mas por si só não conseguem resolver todos os problemas permanentes dos necessitados, sobretudo, no amor, na companhia, na alegria do encontro e, sobretudo, no anúncio da Boa Nova.



Ano velho – Que bom seria que todos aqueles que se dizem Igreja tivessem bem presente aquela palavra de São Paulo: «Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria.» (1 Cor, 12, 26)

Ano novo – Essa seria uma promessa bem bonita de todos fazerem, “ser mais Igreja”, com tudo o que ela implica em adoração, em oração, em testemunho, em amor, em doação de si mesmo.



Ano velho – Costuma dizer-se que Deus demorou sete dias para fazer o mundo e o homem, por isso tenhamos esperança que, iluminados pelo Espírito Santo, as promessas cumpridas de uns levem outros a procurar promessas novas, que tragam Deus aos homens, que parecem querer cada vez mais rejeitá-lO, arvorando-se em “pequenos deuses”.

Ano novo – Se tu, querido ano velho, vives essa esperança quando terminas o teu tempo, então eu, que agora começo, tenho que viver ainda mais essa esperança, e por isso me entrego nas mãos de Deus pedindo que durante o meu tempo a humanidade encontre o caminho de Deus, encontre o amor, encontre a paz, encontre a verdadeira vida que só Deus pode e dá a cada um que O procura e a Ele se entrega.



Ano velho – Até logo, ano novo, vemo-nos na eternidade!

Ano novo – Até já ano velho, sem ti não haveria ano novo, e se formos vividos por Cristo, com Cristo e em Cristo, a eternidade em amor será sempre a realidade da grande promessa de Deus.




Marinha Grande, 31 de Dezembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

A todos quantos visitam este espaço um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O NATAL JÁ PASSOU!!?!

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Passou o Natal!
Já lá vai!
Para o ano há mais!

Pois, o problema é esse mesmo, ou seja, colocar nas nossas cabeças e nos nossos corações que o Natal já passou e só para o próximo ano ele volta.

Esquecemo-nos que o Natal «cresce em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (cf Lc 2, 52)

Esquecemo-nos de que o Menino se vai fazer Homem e nos vai olhar olhos nos olhos e dizer-nos como todo o amor, «Segue-me» (cf Mt 9, 9)

Esquecemo-nos que o Menino se vai fazer Homem e vai «orar por nós instantemente, e o suor vai tornar-se como grossas gotas de sangue, que caiem na terra.» (cf Lc 22, 44)

Esquecemo-nos que o Menino se vai fazer Homem e vai dar a vida por nós e mesmo na Cruz há-de pedir por nós dizendo «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.» (cf Lc 23, 34)

Esquecemo-nos que o Menino se vai fazer Homem e na Cruz vai dizer a Sua mãe, «Mulher, eis aí os teus filhos» e a cada um de nós, «Eis aí a vossa mãe» (cf Jo 19, 26-27)

Esquecemo-nos que o Menino se vai fazer Homem e entregar-se totalmente por nós até dizer no derradeiro momento, «Tudo está consumado». (cf Jo, 19, 30)

Esquecemo-nos que o Menino se vai fazer Homem e, depois de ter morrido na Cruz, vai ressuscitar e dizer a cada um de nós, «Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.» (cf Act 1, 8)

Não, o Natal não passou, o Natal não volta apenas para o próximo ano.

O Natal está entre nós e só vivendo-o no dia a dia, sendo testemunhas dEle em todos os momentos e em todos os lugares, o Natal é Natal e, como se diz na gíria popular, o “Natal será sempre que o homem quiser” pela graça de Deus.

Santo Natal a todos na alegria do Deus Menino que se vai fazer Homem para nos salvar.



Marinha Grande, 26 de Dezembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

CONTO DE NATAL 2022

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Aproximava-se o Natal e a inspiração não vinha.

Desde há mais de dez anos que em cada Natal escrevia um Conto que, volta e meia, relia e se espantava como tinha tido tal inspiração.

A verdade é que, normalmente, quando se aproximava o Natal, numa qualquer madrugada acordava às seis ou sete da manhã, (o que tantas vezes lhe acontecia), e, sem perceber como ou porquê, a história para o Conto surgia no seu coração, no seu pensamento.
Depois era só escrever, mais tarde, e ao tempo que escrevia iam surgindo as frases encadeadas.

Mas este ano, nada!
O tempo estava a acabar e nem uma “luzinha” sequer de uma qualquer ideia para o seu Conto de Natal de 2022.

Percorria na memória cenas bíblicas, histórias passadas, episódios natalícios, mas nada, nenhum desses pensamentos lhe transmitia aquela “segurança” que costumava sentir quando lhe vinha ao coração e ao pensamento a trave mestra de cada Conto de Natal.

Bem, pensou ele, chegou ao fim este ciclo de Contos de Natal.

Acabaram-se as ideias, acabaram-se as razões, ou, simplesmente, haverá outro modo de escrever sobre o Natal, porque a escrita para ele, era um contínuo processo em que as palavras iam aparecendo conforme escrevia.

“Arrumou” os pensamentos na “gaveta mental” dos Contos de Natal e decidiu procurar outro modo de escrever o Natal.

Naquela madrugada de 24 de Dezembro, mais uma vez, acordou às seis da manhã.
Seria para rezar, certamente, porque o Conto de Natal já estava “arrumado” na memória.

Foi então que ouviu dentro de si uma voz que lhe dizia.
Queres um Conto de Natal, Joaquim?

Ficou em silêncio com receio que aquele momento acabasse de repente, mas no seu coração apenas dizia sim, mil vezes sim.

Novamente ouviu, ou sentiu, no seu coração aquela voz que lhe disse:
Pois bem o teu Conto de Natal este ano, Joaquim, sou Eu!

És Tu, Senhor? - Perguntou sem perceber.

Sim, Joaquim, sou Eu!
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que sofrem.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que nada têm.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão doentes.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão presos.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão em guerra.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão abandonados.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão desesperados.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão sós.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que são perseguidos.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que são ofendidos.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão traumatizados.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que não têm esperança.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que não têm amor.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que Me afastam.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que não acreditam.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que cantam, apesar de todas as dificuldades, «glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.»

Abriu os olhos, sorriu, e disse numa prece do seu coração:
Que lindo Conto de Natal, Senhor! Só podia ser escrito por Ti!




Marinha Grande, 19 de Novembro de 2022
Joaquim Mexia Alves 


Com este Conto de Natal desejo a todos que visitam este espaço um Santo Natal na alegria de Jesus Cristo Nosso Senhor!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

SOU O ESPÍRITO SANTO!

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No vazio, na escuridão, no nada, procuro afanosamente o Tudo que me dá vida.

Ouço uma voz que me diz: O que procuras tanto e com tanto esmero? Queres ajuda?

Do alto da minha auto-suficiência, respondo com algum desdém: Não vale a pena, obrigado. Eu sei encontrar o que procuro.

Mas a voz insiste e pergunta-me novamente, incisivamente: Olha que uma ajuda nunca se recusa. Se quiseres eu estou aqui para te ajudar, porque sei bem o que procuras.

Já um pouco incomodado respondo, contendo a irritação: Obrigado. Mas, por favor, deixa-me agora para que eu não me distraia na minha procura.

Fixo os olhos ao longe, tento vencer a escuridão do vazio, tento preencher o nada, mas não há uma luz, um sinal, um leve sentir, que me faça encontrar o Tudo que procuro.

Olho para o lado e vejo a voz que me sorri com o sorriso de amor mais belo que um dia vi.

Então escondo o olhar, baixo a cabeça, o mais humildemente que me é possível e também com alguma vergonha de ter desdenhado da ajuda oferecida, e digo muito baixinho: Podes me ajudar, então?

A voz aproxima-se de mim, pede-me que lhe dê a mão, (surpreso reparo que é uma Pessoa), e diz-me ternamente: Deixa-te tocar, abre o teu coração, vê com os olhos do coração, sente com o amor para além do teu, deixa-te envolver e vais ver o que procuras.

Pouco a pouco o vazio vai-se enchendo de algo a que só posso chamar amor, a luz rompe as trevas e deixa-me ver a maravilha da criação, o nada já não é nada porque agora é o Tudo!

Deixo-me ficar ali estasiado, querendo que aquele momento nunca acabe, mas se torne vida em mim para sempre.

Ouço a voz que me diz: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põe em prática.»

Olho para a Pessoa que é a voz, sinto-a viva dentro de mim, e pergunto: Quem és Tu?

Não me reconheceste? Sou o Espírito Santo, Aquele que te faz encontrar o Tudo que procuras.



Monte Real, 15 de Dezembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 10 de dezembro de 2022

«PREPARAI O CAMINHO DO SENHOR»

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«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.» Mt 3, 3

No Advento somos chamados a preparar o caminho do Senhor, a endireitar as veredas desse caminho que devemos percorrer todos os dias.

O que nos ocorre rapidamente é o Sacramento da Penitência, mas a verdade é que muitas vezes ficamos por isso mesmo, ou seja, confessamo-nos e “descansamos” na certeza do perdão de Deus.

Mas um Sacramento nunca acaba na sua celebração, antes pelo contrário, continua porque é vida de Deus em nós e como tal não se finda na absolvição, no caso do Sacramento da Penitência, mas continua no processo do propósito de emenda, que não pode ser apenas um propósito, mas uma realidade vivida no dia a dia.
A Eucaristia, por exemplo, também não acaba no “fim da Missa”, mas sim vive em nós e é vida em nós em cada dia.

E nós temos tantas “curvas” no caminho para o Senhor que precisamos de endireitar!

Pedimos perdão e recebemos o perdão de Deus.
Mas perdoamos nós?
Já perdoámos a quem nos ofendeu ou já pedimos perdão a quem nós ofendemos?
Rezamos, verdadeiramente, o Pai Nosso?

Somos Igreja, afirmamos nós, mas temos sempre em conta que «se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» cf 1Cor 12, 26
É que o caminho do Senhor, as suas veredas, estão cheias de membros que sofrem física, material e espiritualmente, e “endireitar” essas veredas é, sem dúvida, ajudar todos aqueles que necessitam de ajuda, seja ela qual for.

E onde depositamos nós a nossa “segurança” no caminho para o Senhor?
É na Doutrina, na Lei, nos preceitos da Igreja?
Se é, muito bem, mas é por obrigação, por imposição, ou por amor?
É que o Senhor nada impõe, “apenas” ama.
Então a nossa “segurança” tem que ser o amor de Deus em nós e é nesse amor e por esse amor que a Doutrina, a Lei, os preceitos da Igreja se tornam vida em nós, se tornam caminho do Senhor.

«Preparar o caminho do Senhor, endireitar as suas veredas», é caminho de santidade, para a santidade, pela graça de Deus.

Mas ser santo não é ser melhor do que os outros, aos olhos dos homens.
Ser santo é ser cada vez mais para os outros, no amor de Deus, fazendo a vontade de Deus.

E quem em nós prepara o «caminho do Senhor e endireita as suas veredas»?
Apenas o podemos fazer se nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo, porque é Ele que nos mostra tudo o que precisa ser preparado, tudo o que precisa ser endireitado.

Entregues assim ao Espírito Santo deixemos que Ele faça do nosso coração uma “manjedoura de amor», onde nasça todos os dias Jesus Cristo, nosso Salvador, porque Ele «renova todas as coisas». Ap 21, 5



Marinha Grande, 10 de Dezembro de 2022
Joaquim Mexia Alves



domingo, 4 de dezembro de 2022

AS FLORES DO MEU JESUS!

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Era um dos dias de que ela mais gostava.

Era o dia de andar pelo seu pequeno jardim apanhando as flores para colocar na igreja.
Era a missão que lhe tinham dado na sua paróquia e ela gostava muito de a cumprir.
Tratava do jardim com todo o esmero para ter sempre as flores mais bonitas para enfeitar a igreja.
Mesmo quando não tinha flores no jardim, ia à florista e escolhia com toda a minúcia as flores mais belas para colocar nos seus arranjos na igreja.

Era um momento muito bom, porque enquanto apanhava as flores e as colocava no cesto, ia cantando uns cânticos de que se lembrava, sempre com um sorriso na cara, repetindo baixinho para si mesma: São as flores para Ti, meu Jesus!

Pegou no cesto já cheio de flores, de cores da natureza, e abalou para a igreja para repor os arranjos florais que eram a sua mais querida missão.
Um arranjo frente ao altar, outro frente ao ambão e outro, (aquele em que punha mais dedicação), junto ao sacrário, que tinha de ser pequenino, porque ali o espaço não abundava, por isso escolhia sempre as flores mais belas e viçosas para aquele lugar.
Eram as flores de Jesus, como ela dizia com alegria.

Àquela hora ela sabia que não estava ninguém na igreja, pelo que podia fazer o seu trabalho sem ser incomodada.
Assim que chegou dirigiu-se ao sacrário e ali fez uma pequena oração de entrega do seu trabalho a Jesus.

Alegremente deitou “mãos à obra” e, pelas suas mãos, os arranjos de flores iam ganhando beleza e harmonia.
Para Jesus sempre o melhor, pensava ela no seu íntimo.
De vez em quando colocava-se de pé, dava uns passos atrás e apreciava o seu trabalho, para depois voltar e rearranjar aquilo que não lhe parecia tão bem.
Tinha tempo e paciência, porque como ela pensava, era um trabalho para Deus, mas também para que quem visse, se sentisse envolvido na beleza que Deus coloca nas coisas da natureza.

Findo o trabalho e depois de ter aprovado aquilo que os seus olhos viam, foi sentar-se frente ao sacrário para rezar um pouco ao “seu” Jesus das flores.
E ia-Lhe dizendo entre murmúrios: 
Sabes, Jesus, sou assim probrezita, tenho pouco para dar, mas estas flores e este jeito que Tu me deste, coloco-o assim ao Teu serviço.
Não tenho grandes estudos, sou assim simples, mas olha, o que tenho Te dou, apesar das minhas fraquezas e pecados.

Colocou a cabeça entre as mãos e ficou ali a gozar aquele momento, sozinha na igreja.

Ia jurar que alguém se tinha sentado ao seu lado e, sem se voltar para o lado, entreabrindo os olhos viu um vulto acolhedor.
Sentiu um toque no ombro e ouviu uma voz que lhe dizia: 
Minha filha, tu dás-me tudo o que tens e isso a mim me chega vindo de ti. Cada um tem a sua missão e garanto-te com todo o meu amor que isto que fazes por mim e a pensar nos outros também, é tão importante para mim como o teu irmão sacerdote que celebra, como a tua irmã religiosa que ensina, como as tuas irmãs e irmãos catequistas, como qualquer um que serve em Igreja a Deus, servindo os outros.

Rolaram-lhe duas lágrimas pela cara, mas eram lágrimas de paz, de amor, de alegria.

Ousou então abrir os olhos e percebeu que afinal estava sozinha na igreja.
Olhou para o sacrário, abriu os olhos do coração, e disse em voz alta: 
Obrigado meu Jesus. Porque Te incomodaste a falar comigo? Como Tu és bom, meu Jesus!

Ia jurar que, quando ia a sair da igreja, tinha ouvido novamente a mesma voz a dizer-lhe: 
Para Mim tu és a mais bela flor das flores que tu Me deste!





Marinha Grande, 4 de Dezembro de 2022
Joaquim Mexia Alves