sexta-feira, 25 de julho de 2008

SOU NADA, SENHOR!

Estou aqui sentado a olhar para as letras, e pedindo-te Senhor que as organizes, que faças delas palavras, que lhes confiras a força que só Tu podes conferir.
Mas escrever o quê? Escrever sobre o quê? Escrever como?
Se és Tu que inspiras tudo o que aqui escrevo, (ou pelo menos é a isso que me predisponho), como posso eu escrever se Tu nada me inspiras?
Ah Senhor, julgo que compreendo!
Queres que escreva então sobre o meu nada, sobre tudo aquilo que eu não sou, quando me penso sozinho, quando me vivo sozinho.
Queres que eu perceba que quando não penso conTigo, o pensamento é pobre, sem finalidade, sem chama nem alcance.
Queres que eu perceba que quando não vivo conTigo, a vida é estéril, sem sentido, sem calor e sem amor, não me serve a mim e nem serve aos outros.
Queres que eu perceba, Senhor, que sem Ti eu nada sou e o que faço não vale nada.
Como posso eu colocar amor no que faço, se o faço longe do Teu amor?
Como posso eu esperar que as minhas palavras actuem, se elas são minhas e não tuas?
Como posso eu esperar que os meus passos me levem a algum lado, se eles são passos do meu querer e não os passos da Tua vontade?
Como posso eu querer dar vida da minha vida, se me afasto da vida que Tu és, e que assim sendo és vida em mim?
É isso Senhor, sou nada, porque Tu és Tudo!
E para eu ser Senhor, aquilo que queres que eu seja, então tens de ser Tu em mim, porque sem Ti eu nada sou.
Ah Senhor, percebo agora Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».
Mas estou tão longe Senhor, tão longe ainda!
Recorro Senhor Àquela que se fez Sim, para que Tu fosses nEla a vida que não tem fim, a vida para todos os teus, a vida também para mim.
E peço-Lhe, como um dia me ensinaste:
«Mãe, ensina-me a ser nada, para que Cristo seja tudo em mim».

quarta-feira, 16 de julho de 2008

«HONRAR PAI E MÃE»


Senhor, somos tantas vezes egoístas para com aqueles que, colaborando conTigo, nos deram a vida.
Lembrava no outro dia, Senhor, quando meditava neste mandamento do Teu amor, que quando era mais novo, não existiam tantos lares de terceira idade.
Terceira idade, Senhor, que maneira tão fria temos nós de tratar aqueles que nos deram a vida ou aqueles que os ajudaram a fazer de nós mulheres e homens adultos.
Como o mundo se faz cada vez menos humano!
Tantas desculpas arranjamos nós, Senhor, para colocarmos os nossos pais, avós, tios e por aí fora, nesses lares de terceira idade.
Até já arranjamos lares, dos quais dizemos que têm condições muito boas, melhores do que se estivessem em casa.
Tudo serve para afastarmos de nós essa responsabilidade de amor.
É que ali estão acompanhados, é que ali estão protegidos, é que ali têm serviços de saúde, é que ali tratam deles, é que ali…
É que sabes, Senhor, as nossas casas são pequenas não os podemos ter connosco e depois estamos muito tempo fora, a trabalhar...
Tantas desculpas!
O que se diria, se quando nós nascemos os nossos pais nos colocassem num orfanato por causa da falta de espaço lá em casa, ou porque tinham de trabalhar, ou porque … qualquer outra razão daquelas que arranjamos com tanta facilidade.
E a maior e pior desculpa, Senhor!
Eles gostam de lá estar, é bem melhor para eles!
Amam-nos tanto Senhor, que para não nos pesarem, para não nos magoarem, acabam por dizer até aquilo que não sentem!
Sim Senhor, eu sei que com alguns terá mesmo de ser, porque não há outra hipótese Senhor!
Mas quantos, quantos verdadeiramente!
Uma minoria!
Porque não fazemos nós por eles, os sacrifícios que eles fizeram por nós!
E é este o testemunho que damos aos nossos filhos, não é Senhor!
Lá chegará o nosso tempo, não é Senhor!
Lá chegará o tempo em que também seremos colocados nesses lares, Senhor e talvez então percebamos o que fizemos aos nossos pais, aos nossos avós, aos nossos tios, a todos aqueles por quem não nos esforçámos tanto, como eles se esforçaram por nós.
Tão egoístas Senhor, tão egoístas que nós somos Senhor!
Tem piedade de nós e ensina-nos o caminho do amor, ensina-nos que o nosso próximo mais próximo é aquele que está em nossa casa e que nós tantas vezes afastamos.
Ensina-nos Senhor, para que verdadeiramente saibamos «Honrar pai e mãe» e neles, todos aqueles que nos ajudaram a viver, a crescer.
E obrigado Senhor, por estares sempre connosco e não nos colocares em nenhum “lar” longe de Ti!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

"VINDE A MIM, TODOS OS QUE ESTAIS CANSADOS E OPRIMIDOS"...

Como a vida lhe pesava nos ombros!
Como tudo lhe parecia perdido, os anos que tinha vivido, a entrega que tinha feito àquela família, o empenho que nela tinha colocado!
Tudo se desmoronava como um castelo de cartas, agora que, depois de anos e anos de violência doméstica tinha decidido pôr fim àquela união!
O que mais lhe custava ao ter saído de casa por vontade própria era pensar que não se podia aproximar mais daquEle que tinha sido e era a sua força, a sua alegria, no meio de tanta incerteza, de tanta dor, de tanta revolta.
Tinham-lhe dito que se saísse de casa, se abandonasse aquela união, aquele casamento, nunca mais poderia aproximar-se da Comunhão, da Eucaristia, e isso tinha-a levado sempre a dar cada vez mais de si, a perdoar cada vez mais as afrontas, as violências, mas agora já não podia mais porque a sua vida estava em risco e com ela a dos seus filhos.
Não conseguia imaginar a sua vida sem a Comunhão, sem a Eucaristia, sem sentir e viver a presença constante do amor de Deus na sua vida.
Não podia ser assim!
Ela sentia que não podia ser assim!
Diziam-lhe que não, que não havia possibilidades, que era Doutrina da Igreja, que a Igreja não aceitava as pessoas que “abandonavam” os seus casamentos, mas ela, embora por vezes revoltada com aquela Igreja, sentia que algo estava mal, que verdadeiramente não era assim.
Deus não podia querer que ela colocasse a sua vida e a dos seus filhos em risco, perante a violência que aquele que ela tinha escolhido para seu marido e pai dos seus filhos, vinha exercendo diariamente sobre ela e sobre eles.
Ela sabia que tinha feito tudo, tudo o que lhe era humanamente possível, para resolver aquela situação.
Tinha perdoado, tinha esquecido, tinha calado, tinha rezado, (se tinha rezado, todos os dias fervorosamente), tinha pedido ajuda para ele e para ela e nada, nada mudava, a violência continuava e cada vez mais perigosa, (parecia até que a sua maneira de estar, de perdoar, ainda o levava a fazer pior), de tal modo que sentia que a sua vida agora estava verdadeiramente em risco e que portanto tinha de tomar a decisão que acabou por tomar.
Mas não acreditava, apesar de tudo o que lhe diziam, que a Igreja não a acolhesse no seu seio, não acolhesse aqueles que sofrem.
Decidiu ir falar com alguém que realmente lhe dissesse a verdade da Doutrina, a verdade do que a Igreja dizia sobre o problema que ela vivia e sobre o qual tinha tomado aquela decisão tão amarga e difícil.
Procurou um sacerdote, alguém da sua confiança, aquele que tantas vezes a tinha acolhido e com ela tinha vivido esses momentos tão difíceis, e abriu-lhe o coração.
Queria saber, como tantos lhe diziam, se já não podia ir à igreja, se já não podia participar da Eucaristia, se já não podia confessar-se e receber a Comunhão.
Queria saber enfim, se aos olhos da Igreja ela era uma proscrita, uma não desejada, uma que já não era aceite.
O sacerdote, mais uma vez, ouviu-a em silêncio, pesou todas as suas palavras, todas as suas dores, todas as suas razões, todos os seus motivos e por fim disse-lhe:
- Conheço bem o teu caso, o teu problema e a amargura, a dor, com que tomaste a decisão de sair de casa com os teus filhos.
Sei bem que fizeste tudo o que estava ao teu alcance para evitar esta decisão, que chegaste até a humilhar-te, para tentar salvar o teu casamento.
Quero dizer-te em primeiro lugar que a Igreja nunca afastou ninguém do seu seio, pelo contrário tenta sempre acolher aqueles que sofrem, aqueles que se sentem sozinhos, aqueles que procuram em Deus a realização plena das suas vidas.
Muitos membros da Igreja não entendem assim, (não os podemos condenar, porque com certeza não têm o conhecimento suficiente do Mistério que é a Igreja), e por isso julgam o que não deviam julgar e tomam como certas, opiniões que afinal são só suas.
Mas não, a Igreja não condena o teu acto, porque o tomaste depois de esgotadas todas as hipóteses de solução, depois de teres tentado até ao limite das tuas forças salvar o Matrimónio que um dia contraíste livremente perante Deus, e que por razões várias acabou por se transformar numa prisão perigosa para ti e para os teus filhos, deixando de ser a realização plena do amor entre homem e mulher que Deus quis e para o qual os criou.
Podes, digo-te eu, participar da Eucaristia, comungar o Corpo e o Sangue de Cristo, confessar-te sempre que precisares e o desejares, apenas com a condição de te manteres casta, sem te unires a outro homem, a não ser que, por razões ponderosas que eu não posso analisar aqui, o Tribunal Eclesiástico analisando as condições em que foi celebrado e vivido o teu Matrimónio, a teu pedido, possa afirmar que o Sacramento do Matrimónio não aconteceu verdadeiramente, e decretar a sua nulidade.
Mas para que não tenhas dúvidas no que te afirmo aqui te leio os cânones do Código de Direito Canónico que confirmam as minhas palavras:
«Cân 1151 – Os conjugues têm o dever e o direito de manter a convivência conjugal, a não ser que uma causa legitima os escuse.
Cân 1153 - § 1. Se um dos conjugues provocar grave perigo da alma ou do corpo para o outro ou para os filhos, ou de algum modo tornar a vida comum demasiado dura, proporciona ao outro causa legítima de separação, quer por decreto do Ordinário do lugar, quer também, se houver perigo na demora, por autoridade própria.
§ 2. Em todos os casos, cessando a causa da separação, deve ser restaurada a vida conjugal em comum, a não ser que a autoridade eclesiástica determine outra coisa.»

Claro que para teres a certeza da bondade da tua decisão, mesmo depois de tomada, deves recorrer à ajuda no discernimento de um sacerdote, ou até mesmo do teu Bispo, que te ajudará a dares os passos certos para conformares a tua decisão com a Doutrina da Igreja.
Mas para além destas instruções que te informo, há muito mais documentos da Igreja que atestam a possibilidade dos separados, por razões como a tua e outras mais, poderem continuar a receber os Sacramentos da Igreja, e entre os quais te cito, a Exortação Apostólica “Familiares consortio”, de João Paulo II, que no ponto 83 diz:
«Motivos diversos, quais incompreensões recíprocas, incapacidade de abertura a relações interpessoais, etc. podem conduzir dolorosamente o matrimónio válido a uma fractura muitas vezes irreparável. Obviamente que a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis.
A solidão e outras dificuldades são muitas vezes herança para o cônjuge separado, especialmente se inocente. Em tal caso, a comunidade eclesial deve ajudá-lo mais que nunca; demonstrar-lhe estima, solidariedade, compreensão e ajuda concreta de modo que lhe seja possível conservar a fidelidade mesmo na situação difícil em que se encontra; ajudá-lo a cultivar a exigência do perdão própria do amor cristão e a disponibilidade para retomar eventualmente a vida conjugal anterior.
Análogo é o caso do cônjuge que foi vítima de divórcio, mas que - conhecendo bem a indissolubilidade do vínculo matrimonial válido - não se deixa arrastar para uma nova união, empenhando-se, ao contrário, unicamente no cumprimento dos deveres familiares e na responsabilidade da vida cristã. Em tal caso, o seu exemplo de fidelidade e de coerência cristã assume um valor particular de testemunho diante do mundo e da Igreja, tornando mais necessária ainda, da parte desta, uma acção contínua de amor e de ajuda, sem algum obstáculo à admissão aos sacramentos.»

A Igreja não te condena, portanto, mas ao contrário quer acolher-te, quer ajudar-te a viveres a tua situação dolorosa e na comunhão em Igreja, em comunhão com Cristo, encontrares razões de esperança, de paz e até de alegria.
Lembra-te que é Jesus Cristo Quem nos diz:
«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» Mt 11,28-30

Olhou para o sacerdote agradecida e disse-lhe com a voz embargada:
Obrigado Padre, porque me fez sentir acolhida e amada pela Igreja que eu amo.
Sei e percebo que é muito difícil o que a Igreja me pede, mas acredito também que na comunhão e na entreajuda será possível levar a vida digna que sempre quis viver e as circunstâncias não permitiram.
Acredito também que se cair, porque sou pecadora, o perdão de Deus é muito maior que o meu pecado e na Confissão reencontrarei a graça de Deus na minha vida e que ela me dará forças para viver as provações que vou ter de enfrentar.
Mas tenho confiança, tenho esperança, que o amor de Deus me fará sentir que a minha vida tem sentido e é querida por Deus e amada na Igreja e é isso mesmo que quero transmitir aos meus filhos profundamente magoados no seu íntimo.
De pé, o sacerdote abençoou-a, e ela saiu de cabeça erguida da igreja, com a paz no coração, a esperança no olhar, sabendo-se filha de Deus e pedra viva da Igreja.
.
Nota:
Esta é uma história inventada, mas que, para além obviamente de uma certa bondade na descrição do problema, sua solução e aceitação, quer chamar a atenção para o facto de que aquilo que se diz e que muitas vezes se toma como certo em relação à Igreja, nem sempre corresponde à realidade.

terça-feira, 1 de julho de 2008

CREIO EM TI

Creio em Ti,
Deus Criador,
E que assim sendo
És Pai.
Creio em Ti,
Deus que és Pai,
E assim sendo,
És Criador.
Creio em Ti,
Deus de todas as coisas,
Que tudo crias,
Em amor.
Creio em Ti,
Deus de amor,
Que tudo crias,
Para o amor.
Creio em Ti,
Deus que Te dás,
E recebes,
Quem se Te entrega.
Creio em Ti,
Deus que és Três,
E ao mesmo tempo,
Apenas Um.
Creio em Ti,
Deus que nos chamas
A sermos assim nós,
Um contigo também.
Creio em Ti,
Deus que não vejo,
E no entanto me habita.
Creio em Ti,
Deus que não toco,
E no entanto,
Te fazes sentir.
Creio em Ti,
Deus a quem falo,
E me responde
Sem palavras.
Creio em Ti
Deus vida eterna,
Minha esperança,
Minha lanterna.
Creio em Ti,
E no Teu querer,
Ó Deus de amor
E de bondade.
Creio em Ti,
Na Tua vontade
Porque a verdade
Ó meu Deus,
Ó meu Senhor,
É que só em Ti
Posso crer.