domingo, 31 de março de 2024

DOMINGO DE PÁSCOA 2024

.
.









Também eu corro, (no meu coração), atrás de Pedro e João em direção ao túmulo.

Fico ainda mais atrás de Pedro, pois não ouso sequer aproximar-se deles, para ver o que se passa.

Vejo Pedro que entra no túmulo seguido depois por João e consigo perceber nos seus rostos a perplexidade perante aquilo que viam.

No entanto as faces de Pedro e João mostram agora um sorriso como quem acreditou em algo grandioso, mas ainda não percebeu tudo o que tal queria significar.

No meu coração nasce forte então essa certeza: Jesus Cristo ressuscitou!

Sigo-os muito atrás para que não me vejam, e entro com eles num lugar onde todas as portas estão fechadas com medo das autoridades judaicas.

Ao anoitecer vejo Jesus que aparece no meio deles e lhes diz: «A paz esteja convosco!»

Mostra-lhes as mãos e o peito e os discípulos ficam cheios de alegria por verem o Senhor.

Também eu, (muito quieto como sempre no meu canto), vejo Jesus Ressuscitado e quase me parece impossível conter a alegria dentro de mim e gritar para todos ouvirem: Jesus Cristo ressuscitou! Aleluia!

Saio dali, sem ninguém se aperceber, a não ser Jesus Cristo Ressuscitado, que me sorri cheio de amor como que dizendo-me: Eu sabia que estavas aí!

Julgo então que é um tudo um sonho, mas não, afinal estou bem acordado, o acontecimento é real, e foi a minha imaginação que me levou àquele lugar.

Acredito então com todo o meu ser, dou graças pelo dom da Fé, e tomo a firme decisão de anunciar a toda gente que Cristo ressuscitou, não morre mais, e só n’Ele, com Ele e por Ele encontramos a vida verdadeira que nos leva à eternidade junto de Deus.

Glória a Ti, Jesus Cristo, Luz fulgurante sobre as trevas!
Glória a Ti, Deus da Esperança, ó Luz do homem novo!






Tendo no coração o Evangelho de São João
Marinha Grande, 31 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 29 de março de 2024

SEXTA FEIRA SANTA 2024

.
.









Suas sangue, de joelhos prostrado em oração.

Porque suas sangue, Senhor?

Por causa dos tormentos que sabes Te vão ser infligidos?

Acredito que não, Senhor, que suas sangue por saberes e perceberes os nossos corações duros que, mesmo perante o Teu sacrifício, teimam em não se converter.

Basta um coração que não se converta para que a Tua «alma esteja numa tristeza de morte» Mt 26, 38

Pelo Teu coração passam as vidas de todos nós e Tu anseias que todos, mas mesmo todos, possam ouvir a Tua voz, reconhecer o Teu amor, e assim se deixem converter e encontrar o caminho da salvação.

Sabes que vais sofrer e talvez o Teu ser Homem, (quem sou eu para o perceber), anseie por se livrar de tamanhos tormentos que Te esperam, mas o Teu amor por nós é muito maior do que essa ânsia, e assim, sabendo que tudo Te é pedido, com a face por terra, oras ao Pai, cheio de amor: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.» Mt 26, 39

Depois tudo se precipita!

Os algozes que Te vêm prender aproximam-se e nós fugimos deixando-Te só perante eles.

Talvez Te sigamos de longe, disfarçados, tentando perceber o que se vai passar, mas não somos capazes de partilhar contigo os terríveis vexames e dores que Te vão ser infligidos.

Mesmo ao longe e disfarçados para não nos reconhecerem, perante a pergunta que nos fazem se Te pertencemos, cobardemente dizemos que não, muito mais do que três vezes, e muitos mais do que três vezes, perante o Teu olhar de amor, nos arrependemos e choramos as nossas negações.

Depois, nenhum de nós que Te segue, se aproxima para Te ajudar a levar a cruz, e têm de chamar outro, que ainda não Te conhecia, para Te ajudar a levar a cruz dos nossos pecados.

E, no entanto, no nosso dia a dia, és Tu que sempre nos ajudas a levar a nossa cruz.

Talvez tapemos os nossos olhos com as mãos quando perfuram a Tua carne com os cravos que Te pregam à cruz, mas nada fazemos, para impedir que tal aconteça.

Ao longe, para que ninguém nos veja, desejávamos estar junto de Tua Mãe e de João, aos pés da Tua cruz.

Então talvez acolhamos Tua Mãe como nossa Mãe, sabendo que, sem dúvida, Ela já nos aceitou e ama como filhos seus.

Ouvimos a Tua voz repassada de amor, «Tudo está consumado» (Jo 19, 30), e num último suspiro entregas-Te nas mãos do Pai.

Choramos então amargamente e batemos com a mão no peito, porque finalmente reconhecemos que «verdadeiramente este homem era Filho de Deus» (Mc 15, 39).







Marinha Grande, 29 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 27 de março de 2024

QUINTA FEIRA SANTA 2024

.
.









Vejo-me num canto da sala de cima, onde celebras a Páscoa com os Teus Apóstolos, a Tua Última Ceia.

Estou ali em silêncio, agachado, de joelhos, como se fosse para não me veres, como se fosse possível Tu não saberes que eu ali estou.

A refeição prossegue e as conversas cruzam-se na mesa, mas em todas elas há uma pergunta no ar: E agora, o que vai Ele fazer?

Tinhas-lhes dito que ias morrer, que ias partir e eles começavam a sentir-se amedrontados.

Olhas a cada um com esse Teu olhar de amor, de compaixão, querendo incutir-lhes a confiança, a esperança, a força, para acreditarem e viverem tudo aquilo que vai acontecer e que Tu sabes bem o que é, e como isso os vai afectar.

Sabes que vais dar a vida por todos, sabes que todos eles vão fugir e até negar, mas o Teu amor por eles, por todos nós, (que tantas vezes fugimos de Ti e Te negamos), contínua a derramar-se em nós sem medida.

Já sabes como lhes hás-de dizer, mostrar, como vais ficar com eles, connosco, até ao fim dos tempos.

Sabes também que eles não vão perceber para já o alcance do que vais fazer, como tantos de nós continuamos tantas vezes sem perceber.

Depois de olhares cada um intensamente, mais uma vez, tomas o pão nas Tuas mãos, abençoa-lo, parte-lo e dás a cada um dizendo: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». 1 Cor 11, 24

Não Te importas com o espanto que lhes causas, com a surpresa nos seus rostos, e, amorosamente, tomas o cálice nas Tuas mãos, novamente dás graças, abençoas e dás a cada um deles, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes em memória de mim». 1 Cor 11, 25

Eles, como nós, não conseguem abarcar a imensidão do mistério divino que ali realizas e continuas a realizar todos os dias na Eucaristia.

Sabes bem que um dia, guiados pelo Espírito Santo, Te havemos de reconhecer ao «partir do pão». Lc 24, 35

Agora o Teu olhar projecta-se para além deles, e atinge cada um de nós que, na Missa de Quinta Feira Santa, e em todas as Missas, abre o seu coração à Tua presença viva na Eucaristia.

E nós, tal como eles, então, sentimo-nos tocados pelo Teu infinito amor.

Levanto a minha cabeça e percebo que a sala de cima onde julgo estar, é afinal a assembleia daqueles que em Ti acreditam e Te querem seguir em Igreja.

E, ao olhar com os olhos do coração, com o olhar da fé, vejo-Te na Hóstia e no Cálice consagrados e exclamo dentro de mim: «Meu Senhor e meu Deus». Jo 20, 28






Marinha Grande, 27 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 25 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XVI

.
.
















Começa a semana maior, a Semana Santa.

A minha alma e o meu coração alternam entre a alegria contida e a tristeza comedida.

Mas quer a alegria, quer a tristeza, estão cheias de confiança, de esperança, de fé, enfim.

Jesus Cristo, meu Senhor e meu Deus, entrega-se por mim, e sim, é verdade, por todos, até por aqueles que ainda não acreditam ou O rejeitam.

E ao meu coração vêm as palavras infames que Lhe são dirigidas: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!» Mt 27, 40

E eu olho para dentro de mim e penso quantas vezes neste caminho de fé, que é hoje a minha vida, eu penso na minha salvação sem pensar na dos outros.

Jesus Cristo não precisava de salvação porque Ele próprio é a salvação

Mas quis fazer a vontade do Pai e dar a Sua vida pela minha salvação, pela salvação de todos.

Estarei eu disposto a dar a minha vida pela salvação dos outros?

Estarei eu disposto a entregar a minha vida ao Pai, se for de Sua vontade que eu a dê pelos outros?

Mesmo acreditando que Ele não me pediria tal sacrifício, seria eu capaz de o fazer por amor a Deus, por amor aos outros?

Ainda mais sabendo, acreditando, que se o fizesse também me salvaria por vontade d’Ele!

Nas Tuas mãos Pai coloco a vida que me deste, e entrego-a para que nela seja feita apenas e só a tua vontade, e se ela for necessária para a salvação de outros, toma-a nas Tuas mãos, porque ela é Te pertence.

Mas sou fraco, Pai, por isso Te peço, por Jesus Cristo, no Espírito Santo, dá-me tudo o que eu necessitar para que consiga conformar-me com a Tua vontade, e assim a vida que me deste ser útil à salvação de outros.

Será orgulho, meu Pai, este meu oferecimento?

Se é Pai, não o leves em conta, mas apenas o meu firme e sincero desejo de que todos, mesmo todos, se deixam tocar pelo Teu amor e que, em cada um como em mim, se faça a festa do regresso de cada filho à casa do Pai.

Para glória, hoje e sempre, do Pai, do Filho e do Espírito Santo.





Marinha Grande, 25 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 22 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XV

.
.











O caminho quaresmal é também um caminho de esperança.

Abrimo-nos ao Espírito Santo para que Ele faça o caminho connosco, ou melhor, para que Ele nos guie no caminho.

E com Ele esperamos perceber melhor as nossas fraquezas, as nossas faltas, para nos podermos emendar, confiando e esperando sempre o perdão de Deus.

A esperança não é passiva mas activa.

Não é ficar sentado à espera do prometido, mas fazer caminho de esperança para viver na esperança do que já nos foi alcançado em Jesus Cristo.

A esperança não afasta de nós as tribulações e contrariedades, mas faz-nos enfrentá-las e vencê-las, aumentado a própria esperança de alcançarmos a vida em Cristo.

A esperança não é isenta de fundamento.

É alicerçada na fé, que nos leva à confiança em Cristo que assim nos enche de esperança.

A esperança não é para depois, é já e agora, e torna-se presente à medida que o bem que esperamos, vai acontecendo em nós e nos outros.

A esperança é vida.

Quem pode viver sem esperança?

A esperança constrói, une, exorta, alegra, dá vida para além da vida.

A esperança cristã é uma esperança presente, que se realiza agora já e se completa depois na vida eterna.

A esperança é a seiva da vida cristã!


Senhor
sabes como tantas vezes não me entrego, não confio, não me deixo conduzir por Ti.
Por isso mesmo, tantas vezes, a minha esperança é fraca, é apenas um momento e não a Tua vida em mim.
Aumenta em mim, Senhor, a fé, que leva à confiança que nos enche de esperança.
Amen.







Marinha Grande, 22 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 20 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XIV

.
.









De que temos medo?

De que tenho eu medo, Senhor?

Olho-Te no Sacramento da Eucaristia e deixo-me tocar pelo Teu olhar.

Há uma paz, uma serenidade, uma bonança, que sinto vir de Ti e cada vez mais me deixo envolver no Teu amor.

Mas ainda tenho medo, Senhor!

Medo de quê?

Só Tu és o amor, a paz, a alegria, de que hei-de então ter medo, Senhor?

Não é um medo físico, mas qualquer coisa inexplicável que não me deixa abandonar-me inteiramente a Ti.

Mas o Teu amor, Senhor, reconheço que é o amor perfeito, o amor que tudo vence, o amor que se deu por mim, que se deu por todos nós.

Então porque tenho medo, Senhor?

Porque tenho ainda esta reserva dentro de mim, como seu fosse eu que soubesse o caminho, ou se como soubesse como caminhar, como encontrar o amor, a liberdade, o tudo que, afinal, só Tu podes dar.

Abate, Senhor, as minhas muralhas, as muralhas que construí com o meu medo, com a minha fraca vontade, com as minhas dúvidas ou certeza erradas.

Deita abaixo, Senhor, todos esses muros, tudo aquilo em que sou apenas eu, um eu que não se deixa tomar inteiramente por Ti.

Quero ser Teu, Senhor, inteira e totalmente Teu, e por isso Te lanço este grito de alma!

Vence-me, Senhor, derrota-me, Senhor, quero ser vencido pelo Teu amor, faz com que eu Te pertença por inteiro, porque essa é a minha vontade, assumida na liberdade que Tu me dás, porque eu sozinho não sou capaz de me vencer.

Recebe, Senhor, este meu pobre amor, nele vai a minha vontade de Te amar cada vez mais, por toda a vida que me quiseres ainda dar.





Marinha Grande, 18 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 18 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XIII

.
.











Olho para a minha cruz e sinto-a tão pesada.

Quero, então, arranjar desculpas para todo esse peso.

Penso que são coisas da vida, são coisas do mundo, foram os outros que lhe deram peso, ou até o demónio que a faz pesar, e tudo serve para me desculpar do peso da minha cruz.

Mas tenho que reconhecer que a verdade é que muito desse peso da minha cruz, foram as minhas más escolhas, as minhas más atitudes, os meus erros, os meus vícios, as minhas fraquezas, o meu feitio que não quis corrigir, e tantas coisas erradas que fui fazendo ao longo da minha vida.

Olho para a minha cruz e, resignado, coloco-a sobre os meus ombros para a levar.

Outros à minha volta pedem-me ajuda para levarem as suas cruzes, mas eu não lhes dou atenção, porque acho que a minha cruz me basta.

Ouço então a voz d’Aquele que carregou as nossas cruzes feitas Sua Cruz, que me diz:
Não carregues a tua cruz com resignação, mas sim com aceitação, percebendo que à medida que a carregas, a podes ir aliviando do seu peso com a tua conversão, com o teu propósito de emenda, com a tua reconciliação Comigo e com os outros, e lembra-te sempre que Eu carreguei a tua cruz e a de todos na Minha Cruz, por isso ajuda o teu irmão, como Eu te ajudo a ti a levares a tua cruz.

Percebo então o que dizes e já com mais alento, sabendo que Tu a carregas comigo, faço-me à estrada da vida para ir ao Teu encontro.

Pelo caminho vou tentando ajudar outros a levarem as suas cruzes, como também a mim eles me ajudam.

Não sei se é alegria, se é paz, se é amor, mas desde que aceitei a minha cruz e a coloquei aos ombros, parece que já não me pesa tanto.

És Tu Senhor sem dúvida, que me ajudas a levá-la aliviando o seu peso.


Senhor
perdoa-me por tantas vezes recusar a minha cruz, fruto das minhas fraquezas e falta de perseverança.
Faz-me forte, Senhor, não só para carregar a minha cruz, mas também para ajudar os outros com as suas cruzes.
E obrigado, Senhor, porque na maior parte do tempo és Tu que carregas a minha cruz sozinho, quando eu me afasto de Ti.
Tem compaixão, Senhor, que eu sou pecador.
Amen.







Marinha Grande, 18 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 15 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XII

.
.












Neste caminho quaresmal que queremos percorrer, também nos pedes, Senhor, que passemos à outra margem (Mc 4, 35).

Pedes-nos que abandonemos a falsa segurança da margem em que vivemos, do nosso conforto, da nossa rotina, dos nossos saberes e sentires, das nossas “coisinhas”, e que, confiando inteiramente em Ti, passemos à outra margem, aquela margem onde Tu nos esperas.

Mas nós temos muitas vezes medo de abandonar o que damos por adquirido, mesmo que não seja o ideal.

Temos medo de arrostar com o mar que nos separa da outra margem, porque não sabemos navegar e a barca da nossa vida é muito insegura e fraca, e mais vale estar nesta margem parado sem nada fazer, do que fazer caminho para Te encontrar verdadeiramente nas nossas vidas.

Mas Tu, Senhor, dizes-nos cheio de amor e compaixão que, apesar de nos esperares na outra margem, também atravessas connosco os mares das nossas vidas.

E repetes-nos aos ouvidos, “homens de pouca fé”, e depois acalmas as tempestades dos nossos mares, mandas calar o vento que sopra ameaçador, vens ter connosco sobre as águas e, quando por fraqueza nos afundamos, dás-nos a Tua mão e salvas-nos dos abismos.

E tantas vezes que nós, mesmo assim, deixamos a nossa barca da nossa vida em terra, julgando-nos seguros, e não a queremos colocar na água, para passarmos à outra margem.

Empurra, Senhor, nós Te pedimos, a barca da nossa vida para o mar, faz-nos desfraldar as velas deixando que o vento do Espírito Santo sopre sobre elas e nos leve mar fora ao Teu encontro.



Senhor
mostra-me o mar que devo atravessar para chegar à outra margem.
Vem comigo a navegar e faz soprar o vento do Espírito Santo na barca da minha vida.
Aumenta a minha fé, a minha confiança, a minha esperança.
E abraça-me, Senhor, na outra margem a que me queres levar.
Amen.







Marinha Grande, 15 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 13 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA XI

.
.











E o perdão, Senhor?
É tão difícil, por vezes perdoar.

Eu sei, meu filho, mas lembra-te do que dizes quando rezas o Pai Nosso que Eu te ensinei.

É verdade, Senhor, por vezes é tão “mecânica” a forma como o rezo, que nem me detenho a pensar se realmente já perdoei as ofensas que me fizeram.
Mas, Senhor, há certas ofensas muito difíceis de perdoar.

Sim meu filho, com certeza que há. Mas são precisamente essas mais difíceis de perdoar que mais necessitam da tua atenção e da tua vontade de perdoar, porque são essas que te retiram a paz e a tranquilidade e, por vezes, até te provocam mau estar, mesmo físico.

Eu tento, Senhor, mas por vezes até me parece que não estou a ser verdadeiramente sincero nesse meu desejo de perdoar.

O que interessa, meu filho, é a recta intenção do teu coração, a tua vontade firme de querer perdoar, e depois, abre-te ao Meu amor em oração por quem te ofendeu ou tu ofendeste, e deixa que no Meu amor, deixa que o Espírito Santo, vá fazendo do perdão vida em ti.

Porque é tão importante, Senhor, o perdão?

Meu filho, como queres tu amar-Me se o teu coração rejeita alguém?
Como queres tu amar-Me, se não vives no amor?
Como queres tu ser comunhão Comigo, se estás dividido em ti?
Como queres tu viver a paz que Eu te dou, se não tens paz em ti?
Como queres tu sentir a minha alegria, se o teu coração está triste, porque ainda não perdoaste?

É verdade, Senhor, reconheço tudo isso, mas sou tão fraco!

Meu filho, já nem te lembro do que Eu fiz quando morri por ti e por todos, e perdoei aos meus algozes, mas lembro-te de Estevão, que apedrejado, pedia por aqueles que o matavam.

Oh, Senhor, mas Estevão era Estevão e eu sou nada comparado com ele.

Isso não é verdade, meu filho. Tu és como Estevão, um homem exactamente como ele a quem Eu amo com amor idêntico.
Dentro de ti está a mesma centelha divina que estava em Estevão, como está em todos.
Só tens que te agarrar a ela, deixar que ela seja vida em ti e encontrarás então toda a força que necessitas para perdoar e amar os outros com o Meu amor.

Obrigado, Senhor! 
Como sempre estas conversas Contigo trazem-me sempre a paz e o amor que necessito para viver.


Senhor
atrevo-me a pedir-Te o que sabes ser necessário para eu viver o perdão, para viver em amor.
Que o Espírito Santo me recorde continuamente que se estou dividido, se não estou em paz, se não amo, se não perdoo, também não posso estar em comunhão Contigo, porque estou a excluir alguém dessa comunhão.
Creio, Senhor, firmemente que no Teu amor posso perdoar sempre e sempre ser amor para os outros.
Obrigado, Senhor.






Marinha Grande, 13 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 11 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA X

.
.



















Não queres viver na escuridão, mas por vezes parece que também não queres a luz.

Viver na escuridão é viver sem horizonte, é viver sem esperança, é viver fechado em si mesmo, é viver sem caminho, é viver sem alegria, é viver sem viver.

Ah, mas na luz, tudo é diferente!

O horizonte está à nossa frente, vivemos a esperança de o alcançar, vivemos vendo os outros que se cruzam nas nossas vidas, vemos o caminho, vemos as cores da vida e alegramo-nos com elas.

Para vencer verdadeiramente a escuridão, as trevas, só uma luz o consegue fazer, e essa Luz é Jesus.

E Ele é sempre a Luz que nos quer guiar, que nos quer mostrar o caminho, que nos quer libertar de toda a escuridão que sempre nos rodeia.

Por vezes queremos seguir caminhos sem luz, e, então, a Luz de Jesus apaga-se em nós, (embora fique sempre a brilhar no fundo do nosso coração), e nós perdemo-nos no caminho, tropeçamos, caímos, talvez nos levantemos, mas voltamos sempre a cair, porque a escuridão nos rodeia, nos aprisiona e não nos deixa ver a vida que se esvai sem sentido.

Mas porque a Luz de Jesus fica sempre a brilhar, mesmo no fundo do nosso coração, basta-nos abrir o coração e deixar que a Luz de Jesus tome conta de nós, e ilumine o caminho que Ele mesmo é, e se nos oferece constantemente.

«Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Jo 14, 25-26

“Acendamos” o Espírito Santo em nós, ou melhor, deixemos que Ele se faça vida em nós, que nos faça sentir o amor do Pai, que nos revele verdadeiramente Jesus, porque como diz o salmista «é na Tua luz que vemos a luz» Sl 36, 10







Marinha Grande, 11 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 8 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA IX

.
.










Entras na igreja, ajoelhaste, rezas, pedes a Deus que te ajude na confissão que queres fazer de todos os teus pecados.

Já fizeste o teu exame de consciência, mas ainda tens aquele receio de te esqueceres de qualquer coisa que tenhas feito mais segundo a tua vontade do que segundo a vontade de Deus.

Lembras-te, no entanto, que a Igreja te ensina que aqueles pecados que não confessares por verdadeiramente não te lembrares deles no momento do Sacramento da Reconciliação, te são também perdoados, pois a tua recta intenção era confessá-los também.

Colocas a cabeça entre as mãos e deixas-te ficar ali, frente ao sacrário, aguardando o momento de te confessares, pensando que Deus extraordinário é este que se coloca assim de braços abertos para acolher e perdoar os Seus filhos.

No teu coração e na tua mente arrependes-te sinceramente de teres cometido tais faltas e ali, frente a Jesus sacramentado, tomas o compromisso sério e firme de não voltar a cometer tais faltas.

Aproximas-te do sacerdote que te espera no confessionário.

Vem ao teu coração que a Igreja também ensina que o sacerdote ali presente para o Sacramento da Reconciliação, está “in persona Christi”, ou seja, é Jesus Cristo que ali está, por meio do sacerdote, para te ouvir e abraçar no perdão.

Fazes o sinal da cruz e interiormente dás graças desde já a Deus por te ter trazido até ali e por estar ali naquele sacerdote para te ouvir e perdoar.

Desfias os teus pecados, começando por aqueles que te parecem mais “pesados”, para depois, baixando a cabeça envergonhado, contares aqueles que te atormentam todos os dias e ainda não conseguiste vencer totalmente, por isso os vais repetindo tantas vezes.

O sacerdote olha para ti, sorri, e começa por te dizer que essas faltas que repetes, são uma constante das nossas vidas, mas que, se tomamos consciência delas e as combatemos, só podemos esperar que, com a ajuda do Espírito santo, um dia venceremos essas nossas fraquezas.

Reconheces, num instante, no teu coração que já deixaste para trás muitas dessas fraquezas que te assaltavam todos os dias, embora ainda tenhas outras para combater diariamente.

Ouves atentamente o sacerdote e vais sentindo a leveza do perdão entrando em ti.

Rezas convictamente o acto de contrição e recebes humildemente a absolvição que te é dada pelo Senhor Jesus Cristo, que age por meio do sacerdote ali presente, e que Se entregou por ti, que Se fez homem como tu, que concedeu aos Apóstolos e seus sucessores essa graça imensa de em Seu Nome, perdoarem os pecados dos homens arrependidos.

Sais do confessionário com um sorriso no rosto, sentes-te aliviado, sentes-te renovado, sentes-te reconciliado com Deus e contigo próprio.

Ajoelhas-te mais uma vez frente ao sacrário para rezares a penitência que te foi dada.

Mas deixas-te ficar ali mais um pouco a gozar aquele momento de paz interior e até exterior que sentes agora.

No teu coração, na tua mente, na tua boca, sai apenas um agradecimento profundo ao Deus que te abraça e acolhe como um filho querido e amado, e vais repetindo:
Obrigado, meu Senhor e meu Deus, obrigado!






Marinha Grande, 8 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 6 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA VIII

.
.








Como é a minha oração?

Rezo para cumprir uma espécie de obrigação, ou rezo para estar na relação de amor com Deus?

Rezo, se calhar, até quase como uma “superstição”, como que com medo do que possa acontecer se não rezar, ou rezo porque me quero unir no meu dia a dia a Deus?

Tantas perguntas que poderíamos fazer sobre a nossa oração.

Neste tempo de Quaresma demos mais tempo à nossa oração, sobretudo tentemos perceber como é a nossa oração.

Que diria qualquer amigo nosso se em cada encontro que tivéssemos apenas lhe pedíssemos coisas?

Ainda mal o encontrávamos, quase nem lhe perguntávamos como estava, e já estávamos a pedir tudo e mais alguma coisa.
Talvez que esse amigo um dia se cansasse de nós.

Felizmente com Deus tal nunca se passará, porque Ele nunca se cansa de nós, mesmo que as nossas conversas, ou seja, as nossas orações, sejam apenas só para pedir.

Mas realmente não fica bem melhor começar sempre uma conversa seja com quem for, cumprimentando primeiro, perguntado pela pessoa e até, por vezes, fazendo algum elogio à sua figura, à sua vida.

E Deus, precisa que façamos isso com Ele?

Claro que não, mas, com certeza, humanamente falando, ficará bem mais agradado se começarmos a nossa conversa, a nossa oração, portanto, louvando e dando graças a Deus por Ele se fazer sempre presente para nós.

Às vezes é tão mais simples percebermos a nossa relação com Deus, quando percebemos as nossas relações com os que nos rodeiam.

Quando somos crianças e queremos qualquer coisa dos nossos pais, começamos sempre a conversa dizendo do nosso amor por eles, para depois então pedirmos o que queremos.

E com Deus, não será assim também?

Comecemos as nossas conversas com Deus, as nossas orações, louvando-O, bendizendo-O, agradecendo desde logo porque nos ouve e nos atende sempre segundo a Sua vontade e no Seu tempo, que é sempre, (embora por vezes não o percebamos), o melhor para nós e para as nossas vidas.

E depois peçamos, com humildade e, sobretudo, reconhecendo Deus como o Todo Poderoso, Aquele que tudo pode, entregando-nos à Sua vontade.

Aliás, tomemos como exemplo a oração do leproso e, com certeza, estaremos a rezar como convém pelos outros e por nós:

«Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» Mt 8, 2







Marinha Grande, 6 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 4 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA VII

.
.










Porque não Me ouves e fazes a Minha vontade Meu filho?

Julgas por acaso que quero a tua obediência para mandar em ti?

Não sabes tu que te criei livre e é em liberdade que Eu quero que vivas?

O Meu amor por ti é tão grande que nunca te tiraria a liberdade que te dei.

Se te peço, ouve bem, peço, não obrigo, que ouças a Minha voz e faças a Minha vontade para ti, é porque sei bem o que é melhor para a vida que te dei.

É porque sei que só fazendo a minha vontade és realmente livre, porque Eu sou o único que não te aprisiono, nem exijo por obrigação nada de ti.

Eu não exijo, Meu filho, Eu mostro-te, Eu faço-te sentir, que só em Mim podes encontrar a verdadeira vida.

Sabes bem que Eu sou o caminho, a verdade e a vida.

E sabes também que o pecado, qualquer que ele seja, te aprisiona e condiciona, vicia-te, porque já viveste essas situações.

Eu não sou um vício, sou a liberdade, porque sou só amor, e o amor verdadeiro não vicia, antes liberta, porque o que ama nunca quer condicionar o que é amado.

E porque sou só amor, também sou verdade, porque Aquele que ama verdadeiramente é sempre verdade para o amado.

E, sendo Eu, amor, e por isso mesmo, sendo liberdade e verdade, sou então caminho seguro para ti e para todos.

Porque só um caminho de amor, de liberdade e de verdade é que te pode levar à felicidade, à salvação, que te alcancei pela minha entrega total por ti, em amor.

Ouve a minha voz, entrega-te em amor, para no Meu amor, seres amor em Mim e para os outros.


Senhor
aqui estou!
Muitas vezes os ouvidos do meu coração, da minha vida, estão surdos e não querem ouvir a Tua voz.
Por isso Te peço que os abras para que, ouvindo a Tua voz na minha vida, me entregue e viva no Teu amor, para Ti, e em Ti para os outros.
Amen.




Marinha Grande, 4 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 1 de março de 2024

CAMINHO DE QUARESMA VI

.
.









Pergunto-me, neste caminho interior que vou fazendo na Quaresma, se a minha entrega a Ti é real, verdadeira, ou se não passa de uma intenção em que eu deixo sempre de fora o que eu quero e o que acho que devo viver.

Se quiser ser verdadeiramente honesto comigo próprio, preciso de perceber que nesta entrega que Te faço de mim deixo muitas coisas fora, como se as guardasse para me servir da minha própria vontade, consoante o que eu penso ser melhor para mim.

Mas então isso significa que a minha confiança em Ti, ou seja, a minha confiança de que Tu só queres o meu bem e o meu melhor, é uma confiança fraca, cheia de “buracos”, porque me guardo afinal de me entregar por completo.

Pobre de mim quando constato isto mesmo.
Saberei eu por acaso o que é melhor para mim?
Saberei eu por mim mesmo, que caminho devo seguir?
Poderei eu salvar-me a mim próprio?

E, no entanto, guardo-me, escondo-me, (como se me pudesse esconder de Ti), e dou-Te aquilo que eu penso que queres, mas não me dou por inteiro, não me entrego cheio de confiança nas Tuas mãos, não me entrego decididamente ao Teu amor.

Sim, eu sei, Senhor, que este entregar por inteiro a Ti, não significa ficar quieto à espera de qualquer coisa que me queiras dar, que queiras fazer em mim.

Tu não me queres passivo, mas activo.
Sim queres que eu não faça o mal, mas queres, sobretudo, que eu faça o bem.

E o que guardo eu para mim, que não Te entrego confiadamente?
Tantas coisas, Senhor!

Muitas delas coisas materiais, a segurança do dinheiro, por exemplo, sabendo eu, tendo eu consciência perfeita de que Tu nunca me faltaste, mesmo em momentos terríveis que passei quase sem esperança de encontrar sustento para viver.

Acredito, Senhor, que Tu não queres que me despoje de tudo, mas apenas que não me apoquente tanto com o futuro, porque se viver entregue a Ti, com certeza me guiarás em tudo o que devo fazer e nunca me faltarás.


Senhor
que nesta Quaresma eu me entregue um pouco mais a Ti.
Que deixe as minhas reservas mentais de lado e me abandone decididamente em Teus braços.
Eu confio, Senhor, mas aumenta a minha confiança.
Amen.




Marinha Grande, 1 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves