quarta-feira, 31 de outubro de 2007

10 ANOS...

Neste mês de Novembro que agora vai começar, passarão 10 anos que participei pela primeira vez numa Assembleia do Renovamento Carismático Católico, em Fátima, facto que mudou totalmente a minha vida, ou melhor, que confirmou e deu rumo à mudança, muito tímida então, que estava a acontecer em mim.
Depois de muito pensar e colocar nas mãos de Deus o que pretendia fazer, já não tive mais dúvidas em concretizar o que vinha ao meu coração: Dar testemunho do que nestes 10 anos se passou, bem como o que me levou ao inicio destes anos de conversão, nunca acabada.
Sei que vou expor-me, que vou expor partes da minha vida, mas sei também que o testemunho das maravilhas que o Senhor opera em nós, é uma das missões das nossas vidas de cristãos.
Para que ninguém diga que é tarde e já não vale a pena a conversão, para que ninguém pense que foram tantos os erros que já não têm perdão.
Deus é infinitamente maior que o tempo, (pois para Ele é sempre hoje), e o Seu perdão não tem limites!
Acredito que junto dEle, na glória eterna, estarão muitos que na nossa concepção humana pensaríamos condenados, mas que na última hora, tocados pelo infinito amor de Deus se arrependeram e alcançaram a graça da salvação.
Não contarei, obviamente, pormenores, até porque envolvem terceiros, aos quais me sinto obrigado a proteger a sua intimidade.
Darei sim uma ideia geral do que foi, era e é a minha vida, para que possam comigo e sobretudo com Ele alegrar-se, pela ovelha perdida que foi encontrada e regressou ao redil.
Assim, e durante este mês de Novembro, darei a conhecer o que aqui me proponho, bem como, cartas e “escritos” que nestes anos marcaram a minha vida.

«Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.» Lc 15, 32

terça-feira, 23 de outubro de 2007

SENHOR, EU QUERO VER!

Da escuridão saiu um grito lancinante:
- Senhor, eu quero ver!
Então uma voz perguntou:
- Para que queres tu ver?
Respondeu o “grito”:
- Quero ver para que tudo tenha sentido.
Olho para a natureza, mas não consigo ver a totalidade da sua beleza. Trabalho exaustivamente, mas não consigo entender para quê. Ganho dinheiro e mais dinheiro, mas não me sinto mais tranquilo e seguro do meu futuro. Dou aos meus tudo o que me pedem, mas não os vejo mais felizes. Tenho amigos e mais amigos, mas não sinto os seus corações. Leio, estudo, informo-me, mas não me sinto mais conhecedor por isso, nem me sinto conhecedor da vida. Trato da minha saúde, da minha forma física, mas não vejo a finalidade de tanto esforço. Vivo intensamente, mas temo a morte.
Por isso Senhor estou cego, porque não vejo o sentido da vida.
Respondeu-lhe a voz:
- Mas acreditas tu que Eu te posso dar a capacidade de veres?
O “grito” respondeu:
- Falam-me de Ti e dizem-me que Tu tudo podes. Leio-Te, estudo-Te, mas falta-me algo, porque não consigo compreender. Mas sinto que me podes dar essa compreensão. Tudo o mais já experimentei, e nada me faz ver aquilo que eu não consigo ver. Acredito Senhor, quero acreditar, que só Tu me podes fazer ver o que agora ainda não vejo.
A Voz ergueu-se firme, terna, cheia de compaixão e disse:
- A tua fé te salvou! Abre os olhos e vê agora o que para ti estava preparado. Mergulha no Meu coração e sente-te amado. Vês agora que sempre exististe em Mim? Vês agora que a tua vida tem sentido, porque é vida da Minha Vida? Vês agora que só em Mim deves encontrar razão para tudo que fazes? Vês agora que todo o teu esforço deve começar e acabar em Mim? Vês agora que todo o teu trabalho tem sentido se não for apenas para ti, mas para todos que Eu amo e assim sendo tu deves amar também? Vês agora que só em Mim encontras futuro e futuro que não acaba? Vês agora que a natureza é bela porque Eu a criei para ti? Vês agora que mais do que ler e estudar apenas para conhecimento, o deves fazer vivendo-Me no que lês e estudas? Vês agora que só em Mim encontras a plenitude da vida?
Do “grito” saiu um grito de alegria:
- Vejo agora Senhor que já não sou um "grito" informe, porque Tu me deste a ver a minha humanidade que em Ti se faz vida eterna!
Era o sétimo dia, e então Deus descansou e fez festa com os Seus filhos!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

OS "DEFEITOS" DE DEUS

Neste momento e depois de lerem este titulo, aqueles que me visitam e conhecem o que escrevo, devem estar a pensar:
O que é que lhe deu? Será que enlouqueceu?
Mas não, fiquem descansados, que estou no meu perfeito juízo, acho eu!
Realmente depois de muito pensar e meditar, descobri pelo menos três “defeitos” em Deus que vos vou dar a conhecer.

1º “Defeito” de Deus

Deus é incapaz de não amar!
Por muito que tente, que Se esforce, que coloque todas as Suas forças nesse desiderato, Deus não consegue não amar.
É-Lhe impossível!
Ele é todo amor e não consegue descobrir em Si nada que possa modificar isso: Deus não consegue não amar.

Já nós temos essa capacidade e sem fazermos esforço nenhum.
É aliás das coisas mais fáceis que fazemos nas nossas vidas: não amar!
Basta que não nos interesse, e com toda a facilidade conseguimos não amar.
Nós somos perfeitamente capazes de não amar!

2º “Defeito” de Deus

Deus é incapaz de não perdoar!
Pronto é assim, não há nada a fazer, não consegue não perdoar!
Está ali à porta, e mal vê um que se aproxima para pedir perdão, não aguenta, larga a correr para ele, abraça-o, dá-lhe as melhores roupas e faz uma festa!
Ele é todo perdão e não consegue descobrir em Si nada que possa modificar isso: Deus não consegue não perdoar!

Já para nós isso é uma coisa do dia a dia!
Não nos custa nada e fazemo-lo com a maior das facilidades.
E afinal é fácil, estamos ali à porta, e quando vemos alguém que nos vem pedir perdão é muito simples: Fechamos a porta!
Que aliás para nós, a maior parte das vezes, isso de perdoar é uma “fraqueza”!
Nós somos perfeitamente capazes de não perdoar!

3º “Defeito” de Deus

Deus é incapaz de não ser fiel!
Já Paulo o afirmava, sem margem para dúvidas:
«Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.» 2 Tm 2, 13
Ele é assim, mesmo que nós O afastemos, Lhe voltemos a cara, O insultemos, Ele fica ali, junto de nós, sem nunca nos abandonar, sempre pronto para nos ajudar quando for preciso, o que, convenhamos, é em todos os momentos das nossas vidas.
Ele é todo fidelidade e não consegue descobrir em Si nada que possa modificar isso: Deus não consegue não ser fiel!

Já connosco é muito fácil!
Basta por vezes oferecerem-nos qualquer coisa que nos agrade, para com toda a facilidade rompermos os compromissos.
Basta que alguém ou algo nos agrade mais, e rapidamente pomos de lado quem ou aquilo que era objecto da nossa fidelidade.
Basta que não nos concedam aquilo que queremos, (tenhamos razão ou não), para nesse mesmo momento voltarmos costas e irmos procurar noutro lado aquilo que desejamos.
Nós somos perfeitamente capazes de não ser fiéis!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ORDENAÇÃO SACERDOTAL

O Marcelo sendo instituido Acólito
na igreja de Albergaria dos Doze

O Céu está em festa, a Igreja está em festa, a Diocese de Leiria-Fátima está em festa, a Comunidade Luz e Vida está em festa, todos nós crentes que vivemos a fé em Jesus Cristo, Senhor e Salvador, estamos em festa.
No dia 21 de Outubro, na Sé de Leiria, pela imposição das mãos do Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, o Diácono Marcelo Cavalcante de Moraes, receberá o segundo grau do Sacramento da Ordem.
O Marcelo pertence à Comunidade Luz e Vida desde a primeira hora, sendo parte muito importante no discernimento e fundação da Comunidade.
Deixou o Brasil para vir para Portugal em missão, na altura com a Comunidade Canção Nova, e aqui permaneceu entre nós, fazendo-se um de nós, comungando connosco, e fazendo de Portugal o seu país de adopção.
Deixou-se conduzir pela Palavra do Senhor:
Ele disse-lhes:
«Em verdade vos digo: Não há ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou filhos, por causa do Reino de Deus, que não receba muito mais no tempo presente e, no tempo que há-de vir, a vida eterna.» Lc 18, 29-30
E assim tem em nós todos a sua casa, a sua familia, a sua comunidade.
Pedimos ao Senhor da Messe, que o escolheu e chamou, que abençoe o seu sacerdócio com todas as graças e bençãos necessárias à sua missão, onde for chamado a servir Deus, servindo os homens.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

UMA CURA A "DOIS TEMPOS"...

Cura do cego de Betsaida - Mc 8, 22-26
Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse.
Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia.
Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?»
Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.»
Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez.
Jesus mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»

Uma cura a “dois tempos”!
É um milagre inédito nos Evangelhos, feito a “dois tempos”.
Há alguém que traz este cego a Jesus, há alguém que intercede junto de Jesus por este homem, o que nos leva de imediato a percebermos a importância da nossa intercessão pelos outros, independentemente da sua fé.
Porque realmente não é o cego que pede a cura a Jesus, ele simplesmente deixa-se levar.
Não é uma fé como a de Bartimeu, («Jesus, filho de David, tem piedade de mim» Mc 11, 46-52), ou de tantos outros exemplos nos Evangelhos, como Jairo Lc 8, 40-56, ou o Centurião Lc 7, 1-10.
Assim, Jesus como que o prepara para receber a graça, primeiro da fé, (cura interior), e depois da cura física.
Jesus tem esse primeiro encontro com ele, impõe-lhe as mãos, (dá-lhe algo de Seu, a saliva), faz que o cego perceba que Ele, Jesus, é o Senhor, Aquele para quem nada é impossível.
E quando se tem este primeiro encontro pessoal com Jesus, deixando-nos tocar pelo Seu amor, (a “saliva” da Sua bondade), tudo muda nas nossas vidas.
Aquilo que não víamos antes, porque tínhamos os olhos do coração fechados à beleza de Deus, ao Seu amor, passamos a ver, e começamos então a perceber que a nossa vida só tem sentido vivida nEle, por Ele e com Ele, numa abertura e entrega aos outros em que Ele se faz presença.
O cego ergue os olhos, mas verdadeiramente não vê “fisicamente”.
Vê sim, a humanidade criada por Deus, que caminha para Ele, como árvores, as árvores que cresceram da semente por Deus plantada e que hão-de dar fruto, muito fruto.
O seu interior fica então curado, e Jesus, cheio de amor e compaixão, confirma com a cura física, « ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez», o caminho de salvação deste homem.
Já na cura do paralítico Lc 5, 17-26, (que também é levado por outros ao encontro do Senhor), Jesus começa pela cura interior: «Homem, os teus pecados estão perdoados», para depois, perante a incredulidade de uns tantos, “confirmar” o Seu poder salvífico com a cura física: «Levanta-te, pega na enxerga e vai para casa».
No fim de tudo, Jesus manda o homem curado para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»
Já no início, Jesus o tinha tomado pela mão e conduzido para fora da aldeia.
Aquela aldeia era a vida, era o ambiente, eram as certezas que aquele homem vivia, e só saindo dela, podia sair de si próprio a abrir-se à graça de Deus, alcançando assim a cura interior e física, que é a vida completa que Deus sempre quis para os Seus filhos, por Ele criados.
Aquela última frase de Jesus, soa como: «Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Jo 8, 11

Quantos de nós não precisamos sair das nossas “aldeias”, das nossas “seguranças”, dos nossos “medos”, das nossas “vergonhas”, e abrir-nos confiantemente à graça de Deus, ao Seu amor, à Sua misericórdia, para alcançarmos a “cura”, a cura da vida plena, a cura da vida em abundância, a cura da Salvação.
Nós cremos Senhor, mas aumenta a nossa
Fé.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A CAPA...

«Chegaram a Jericó. Quando ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho.
E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!»
Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!»
Jesus parou e disse: «Chamai-o.»
Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.»
E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus.
Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?»
«Mestre, que eu veja!» - respondeu o cego.
Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!»
E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.»
Mc 10, 46-52


Detenhamo-nos num pormenor desta Palavra, desta descrição do milagre da recuperação da vista, para quem andava nas trevas.
Porquê os pormenores?
Se acreditamos que a Palavra escrita é inspirada no e pelo espírito Santo, então os pormenores têm de ter algum significado e esse significado será conforme o mesmo Espírito nos leva a discernir em cada momento.
«E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus»
O cego Bartimeu, atirou fora a capa…
Quantas vezes a capa que “usamos” nas nossas vidas, não nos deixa ver o caminho, não nos deixa ver a verdade, não nos deixa viver o amor.
É a capa do orgulho, a capa do respeito humano, a capa do dinheiro, a capa do prazer, a capa do egoísmo, a capa da auto-suficiência, a capa do sofrimento, a capa da comiseração, a capa do queixume, a capa da critica, a capa da má-lingua, a capa das “minhas certezas”, a capa da “minha fé”…
Cada um pode escolher, ou melhor, descobrir a sua capa, ou capas…
E por isso muitas vezes não “vemos”, não temos luz para o caminho das nossas vidas.
Vemos tudo com os olhos do corpo, mas os “olhos” do nosso coração estão fechados, estão cegos, não vêem a luz da paz, da alegria, da vida nova com e em Cristo.
Por vezes tiramos a capa, mas não a atiramos fora, guardamo-la e tornamos a usá-la…
O cego Bartimeu «atirou fora a capa», não quis mais saber dela, só lhe interessava Jesus Cristo que lhe podia fazer recuperar a vista, a vista que lhe trazia uma vida nova…
Nada mais lhe interessava! Ele queria aquela vida nova, porque sabia no seu intimo que era uma vida abundante, em que podia “ver”…
E a fé de Bartimeu?!
Ele não se levantou e caminhou!
Não, ele «deu um salto», como quem mergulha em algo que não sabe o que é, mas tem a certeza de que é bom, a certeza de quem confia, de quem espera, a certeza de quem tem Fé…


Ah, Senhor dá-nos a força para também atirarmos fora as nossas capas, para bem longe de nós.
Melhor Senhor, toma Tu conta delas, para que não caiamos na tentação de as querermos reaver…
Ah Senhor, dá-nos a coragem para darmos o salto para Ti, de olhos fechados, sem medo do “que lá vem”, mas na certeza da Fé de que Tu nos abrirás os olhos e nos darás a luz para caminharmos no Teu amor.