domingo, 18 de outubro de 2020

OLHAR E OLHARES

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Hoje, na homilia da Missa Dominical, o Pe Rui Ruivo, Vigário da nossa paróquia, falou-nos do olhar e dos olhares, para além, obviamente, de todo o significado das Leituras e Evangelho de hoje e como elas nos chamam a perceber o que é de Deus, e como tal, o que deve ser prioritário para cada cristão.

Realmente, nunca como hoje, o olhar, os olhares, foram tão importantes nas relações entre os homens.

Usamos máscaras, (e aqui não no significado metafórico, mas real), e como tal, do nosso rosto, das nossas expressões, apenas se vê o nosso olhar, os nossos olhares.

«Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes.» E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» E, vindo para fora, chorou amargamente.» Lc 22, 60-62

O olhar de Jesus fez Pedro perceber o seu pecado, a sua negação e levou-o ao arrependimento, ao caminho que era vontade de Deus para ele.

Percebemos então que o olhar, os olhares, são importantes para aqueles com quem nos cruzamos na vida, no dia a dia.

E são tantas as expressões que o demonstram: “os olhos são o espelho da alma ou o olhar é o espelho da alma”, “olha-me nos olhos e diz a verdade”, “tens um olhar triste”, “tens um olhar calmo”, “a sinceridade do teu olhar”, etc., etc.

Então, por maioria de razão, neste tempo de uso de máscaras o nosso olhar, os nossos olhares falam por nós.

Não tenhamos dúvidas que se quisermos, o nosso olhar, os nossos olhares, “contam” aos outros as nossas tristezas e alegrias, a nossa sinceridade e a nossa mentira, o nosso ser e nosso parecer, o nosso acreditar e o nosso rejeitar.

Mais do que nunca o nosso olhar nos olhos de cada um que com que connosco se cruzam, é o testemunho vivo daquilo que somos.

É que é muito difícil olhar com bondade os outros, ao mesmo tempo que, por detrás da máscara, lhe fazemos uma careta de desprezo.

Até se costuma dizer que a tua boca diz uma coisa, mas os teus olhos dizem outra diferente, ou seja, dizem a verdade.

Hoje, nessa mesma Missa Dominical, quando distribuía Jesus Cristo na Hóstia consagrada, (o que normalmente faço com um sorriso franco), pretendia que os meus olhos fizessem passar esse mesmo sorriso, mesmo que a minha boca estivesse tapada pela máscara que obrigatoriamente tinha de usar.

Não sei se consegui, mas acredito que o Espírito Santo, a quem nada é impossível, transmitiu essa mensagem de alegria, de paz e de amor, que é e leva consigo a Comunhão Eucarística.

Daí ficar a reflectir como é importante neste tempo o nosso olhar, os nossos olhares, para que os outros percebam que vivendo em Cristo, o “medo da máscara”, é superado pelo amor de Deus, que nos traz paz, serenidade e certeza de salvação, se a Ele nos entregamos.

Peçamos então a Deus que o nosso olhar, os nossos olhares, reflictam a presença de Deus em nós, o Seu amor em nós, para os outros, como testemunho vivo da nossa fé e do nosso viver com Cristo, por Cristo e em Cristo, no caminho da salvação, que é para todos, em Igreja.

 

Marinha Grande, 18 de Outubro de 2020

Joaquim Mexia Alves 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

DIÁLOGOS COM O DIABO (14)

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Diz ele: Essas tuas críticas aos outros são muito importantes para mudar as coisas e até para os mudar a eles.

Digo eu: Ainda bem que falas nisso, porque se me elogias é porque essas críticas que faço da “boca para fora” devem estar erradas, com certeza, na minha forma de proceder.

Diz ele: Não, não. São importantes para fazer mudança, tais como aquelas que pensas na tua cabeça sobre os outros.

Digo eu: Agora não tenho dúvidas! Essas críticas são más, da maneira que as faço, principalmente as que faço na minha cabeça. E nada mudam, nem transformam, nem constroem! Só podem vir de ti!

Diz ele: Eu só quero ajudar, para que percebas onde os outros estão errados e assim os poderes ajudar.

Digo eu: Podes enganar-me em muitas coisas, mas nesta já estou a perceber o que faço quando critico publicamente os outros sem discernimento e sem razão. É apenas má língua! Antes de falar tenho que pedir conselho a quem me possa ajudar a ver mais claro.

Diz ele: Não, não. Não precisas de conselhos. Tu já sabes tantas coisas. Por isso és capaz de aferir o que podes criticar e como criticar os outros.

Digo eu: Com elogios desses já te entendo bem! Assim não me enganas! Sozinho não sou nada. Aliás sozinho não te consigo combater, por isso vai-te que desta vez não me enganas e até me ajudaste a perceber que tantas críticas que faço são um péssimo testemunho para os outros.

Diz ele: Tu é que sabes. Mas eu estou aqui se precisares de mim.

Digo eu: Não sei não! Sozinho nada sei, mas Deus ajuda-me a discernir cada momento se a Ele me entregar. Ah, e eu sei bem que estás aí e que eu tenho de estar atento às tuas investidas. Vai-te que eu sou de Cristo e só a Ele pertenço.

 

 

Marinha Grande, 15 de Outubro de 2020

Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 13 de outubro de 2020

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (19)

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Noto em ti alguma tristeza, meu filho. O que se passa?

 Ó Senhor, então não sabes o que se passa?

 Eu sei, meu filho, mas gostava que me dissesses.

 Sabes, Senhor, é tão difícil às vezes lidar com certas situações que envolvem outros e querer manter o sorriso, a boa vontade, a concórdia.

 Eu sei, meu filho, lembra-te do que passei nas mãos daqueles que Me ofendiam e batiam e no entanto guardei no coração tudo isso e transformei-o em perdão.

 Pois é, Senhor, mas Tu tinhas a certeza de que nada tinhas feito para que tal acontecesse e eu tenho sempre a sensação que nalgum tempo concorri para aquilo que se passa comigo nestas situações.

Mas, meu filho, tu não és perfeito, sabes bem. E os outros também não o são. Aos teus olhos parece-te injustiça, pior, sentes como injustiça, mas para os outros talvez não seja esse o seu sentimento, porque não conseguem perceber as razões que te moveram.

Mas dói, Senhor, apetece desistir, não me preocupar mais com essas situações e viver a vida que me deste em paz, contigo.

E julgas, meu filho, que poderás viver em paz comigo se não estiveres em paz com os outros?

Pois, Senhor, por isso Te digo que é tão difícil!

Olha, meu filho, faz primeiro as pazes contigo, depois tenta colocar-te na pele dos outros, a seguir perdoa as más interpretações dos outros, (afere também se foste claro e transparente), e depois … depois enquanto tentas resolver tudo, coloca nas minhas mãos, reza, confia e espera, sabendo que Eu estou contigo e com os outros também.Hoje é dia da Minha Mãe em Fátima, por isso coloca no seu regaço todas as tuas intenções e situações e não te esqueças que Eu disse: «Mulher, eis o teu filho!» Jo 19, 26

 Obrigado, Senhor, abriste um sorriso no meu coração e na minha boca!

 

 Monte Real, 13 de Outubro de 2020

Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

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Nas tuas mãos desfias o Rosário

e em cada conta

colocas o operário,

o patrão,

o empregado,

o carpinteiro,

a dona de casa,

todos enfim,

até o desempregado.

 

Nos teus braços o Menino,

olha para todos e sorri,

para o mais velho,

para o mais pequenino.

Aquele a quem todos se deu

encosta-se ainda mais a Ti,

no regaço da Sua Mãe,

Mãe que Ele próprio escolheu.

 

As contas do teu Rosário,

que desfias sem cessar,

são gotas do teu amor,

são pérolas da tua ternura,

que consegues derramar,

em cada um de nós,

que se aproxima de Ti,

para conhecer melhor,

o teu Filho muito amado,

Jesus Cristo,

Nosso Senhor.

 

 

Marinha Grande, 7 de Outubro de 2010

Joaquim Mexia Alves

domingo, 4 de outubro de 2020

PASSEIO PELA MEMÓRIA

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E de repente um passeio pela memória!

Tenho 71 anos e não sei se na sociedade em que vivo sou um velho, um idoso, ou alguém já descartável, como quem já não tem nada para dar.

Não me sinto assim, antes pelo contrário, mas esta sociedade quase me obriga a sentir assim.

 

Nunca se falou tanto em liberdade como agora e nunca me pareceu haver tanta falta de liberdade como agora!

A liberdade de pensamento é coertada pelo “politicamente correcto”, a liberdade do que trabalha é-lhe negada pela pressão do trabalho, a liberdade do ser é abstraída pela “necessidade” do parecer.

 

Ah, no meu tempo!!!

Não, porque o tempo é o tempo, e já não volta, por isso é preciso aproveitar o tempo.

 

Tive uma infância feliz, cheia de amor, de pais fantásticos e de nove irmãos, todos diferentes, mas todos iguais no amor.

E deles foram nascendo sobrinhas e sobrinhos e deles, sobrinhas e sobrinhos netos e qualquer dia sobrinhos trinetos, que francamente já não sei se já tenho.

Quatro filhos, quatro netos, para já, e uma vida cheia.

 

Erros, asneiras, comportamentos indevidos, provocando a vida, provocando Deus e no fim, (deste período, claro), um Deus que me diz estou aqui e sempre aqui estive.

Uma guerra, (que me marcou sem dúvida), e um regressar que ainda talvez não se tenha feito completo, pois ainda percorro muitas vezes, pela noite, as picadas da Guiné.

Claro que a família que me rodeava e rodeia afastam de mim os maiores fantasmas, mas ficam aqueles em que me sinto incapaz ou inútil de ajudar, que tendo sido meus camaradas de armas continuam a sofrer na pele quase todos os dias o abandono a que foram e são votados.

 

Não vás ao hospital, porque lá se estão borrifando para ti.

Já não idade para ser curado, tens apenas idade para morrer!

Drástico, não é, mas tão real!

 

Se julgam que estou deprimido, estão muito enganados, porque a minha esperança está em Deus, e Deus não abandona ninguém!

Aliás, para o coração de Deus, eu sou uma criança, sem idade, sem passado e sem futuro, porque tudo isso a Ele pertence, porque lho entrego nas Suas mãos.

E Ele perdoa o que é para perdoar, e ama incondicionalmente o meu ser e o meu fraco amor.

 

Esquerda, direita, um, dois, parece que estamos na tropa, mas o que verdadeiramente interessa é querer o bem dos outros e hoje em dia a política parece querer apenas o “bem” dos que a utilizam para os seus fins.

 

De derrotismo em mim não há nada, mas sim determinação de não me calar, sobretudo para testemunhar que só em Deus encontrei e todos encontraremos a verdadeira liberdade, o verdadeiro amor.

 

E apetece-me terminar como José Régio no seu “Cântico Negro”: «E o mais que faço não vale nada.»

 

Porque se testemunhar Jesus em mim, como Ele próprio afirmou, também Ele testemunhará junto do Pai, com o Espírito Santo, que eu Lhe pertenço, pela inteira liberdade que Deus me deu.

 

 

Marinha Grande, 4 de Outubro de 2020

Joaquim Mexia Alves