quarta-feira, 29 de agosto de 2007

MEU DEUS E MEU SENHOR

Tão perto Senhor,
estás Tu de mim,
e eu ainda tão longe,
de Ti…
Vens junto a mim,
e mostras-me as mãos e o lado,
e eu não consigo ver,
porque os meus olhos
ainda estão cheios de dúvidas…
Chamas-me meigamente,
e dizes-me cheio de amor:
«Coloca a tua mão no Meu lado,
olha-me nos olhos…»
Mas eu baixo a cabeça,
cruzo as mãos atrás das costas…
Tenho medo, Senhor!
Tenho medo de não ver,
tenho medo de não acreditar,
tenho medo de que a minha vida,
não Te sirva Senhor…
Tantos sinais,
tantas palavras,
tantos momentos de amor,
tantos milagres,
(ah Senhor,
a minha vida agora
é um milagre Teu!),
e eu assim,
nestes momentos de nada,
como se eu não soubesse,
que és Tu Senhor,
a Vida da minha vida…
Que paciência tens Tu, Senhor,
para este coração de pedra,
para este olhar tão cego,
para este acreditar tão frágil…
Tomas-me pela mão,
deitas a minha cabeça no Teu colo,
afagas o meu cabelo,
recolhes as minhas lágrimas,
e bebe-las cheio de amor…
E eu vou acalmando,
a paz vem como um rio,
e banha-me no Teu amor…
O coração abre-se,
torna-se mole,
porque és Tu que o moldas Senhor…
Vão-se as dúvidas,
fica a certeza, a fé,
na Tua presença Senhor…
Retira-se a nuvem dos meus olhos,
a luz irrompe,
já Te posso ver, Senhor…
Abrem-se os meus lábios,
e de dentro do meu peito,
surgem as palavras,
num louvor:
Meu Deus e meu Senhor!…

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

"PARÁBOLA" DAS DUAS PORTAS

(Pecado e Confissão)
Um homem muito atarefado, que mal tinha tempo para se alimentar, conheceu um Senhor muito bom, que lhe fez a seguinte proposta:
“Se mantiveres a porta da frente da tua casa sempre aberta, todos os dias te virei alimentar, sem nada te pedir em troca, a não ser, que mantenhas fechada a porta das traseiras e não a abras por motivo algum”.
Pareceu àquele homem que era uma boa proposta, e assim, pondo de parte o receio, decidiu entregar-se nas mãos daquele Senhor, passando a deixar a porta da frente de sua casa sempre aberta e confiando inteiramente todos os seus bens e inclusive a sua vida, àquele que lhe tinha feito tal proposta.
Constatou imediatamente que nunca lhe faltava alimento, que todos os seus bens estavam bem utilizados, e que eram para si fonte de alegria e não motivo de preocupação, com receio de os perder.
Constatou também que a vida lhe corria melhor, que as contrariedades continuavam a existir, mas que a presença constante, sem imposição, daquele Senhor, lhe transmitia paz, tranquilidade, confiança, esperança e muito amor.
Um dia, (a curiosidade foi mais forte), quis espreitar a parte de trás de sua casa e distraído deixou aberta a porta das traseiras.
Passado pouco tempo, estando na sala a descansar, viu surgir junto de si, um individuo elegante, bem vestido, confiante, de falas doces e sedutoras.
Em vez de o mandar sair de imediato, (visto que tinha entrado em sua casa sem pedir licença), deu-lhe ouvidos e começou a interessar-se pelo que este lhe dizia.
Disse-lhe então o individuo que o alimento que ele estava a receber era bom, sim senhor, mas não dava muito prazer ao corpo e que ele reparasse bem, pois afinal os seus bens que tanto lhe custavam a ganhar, eram utilizados por todos, o que no entender do individuo, não era justo, pois se tinha sido ele e só ele, sem a ajuda de ninguém, a adquiri-los com tanto esforço, só ele então, se deveria servir deles.
Afirmou ainda o individuo, que o homem sozinho e sem nenhum cansaço, poderia preparar um alimento muito melhor todos os dias, e que não se deveria preocupar porque ele o ajudaria em tudo.
Apenas lhe pedia que fechasse a porta da frente da sua casa, para não serem incomodados pelo Senhor e mantivesse sempre aberta a porta das traseiras, para que ele pudesse entrar sempre e a qualquer hora, para assim o poder ajudar.
Levado pela conversa do outro, o homem assim fez.
Ao principio tudo parecia correr bem. O homem andava feliz e contente, e embora a sua cabeça estivesse um pouco perturbada e não conseguisse pensar direito, o corpo andava cheio de prazer e engordava a olhos vistos.
Reparou então, que o individuo, em vez de pedir licença para entrar todos os dias, (como fazia o Senhor anteriormente), já se tinha instalado em sua casa e impondo a sua presença, punha e dispunha de todas as suas coisas, sem nada lhe perguntar.
Começou também a reparar, que embora o prazer corporal fosse bem maior, os seus pensamentos eram mais frios, sombrios, e que a paz, tranquilidade, amor e boa companhia que antes sentia já não existia, e no seu lugar se tinham instalado a dúvida, o nervosismo, a tristeza, a solidão e o medo de perder os seus bens.
Decidiu então expulsar o “novo amigo”, mas isso tornou-se tarefa muito difícil, porque ele não queria sair de sua casa e revelando-se muito insistente, fez novas promessas de felicidade e também algumas ameaças, como se a vida dele já lhe pertencesse.
Assustado, decidiu procurar o Senhor, pedindo-lhe que voltasse para sua casa, e também que o ajudasse a libertar-se daquele “amigo” tão incómodo e que já lhe inspirava tanto medo.
O Senhor e verdadeiramente seu único amigo recebeu-o de braços abertos e disse-lhe:
“Não tenhas medo, que eu também quero voltar à nossa tão antiga amizade, mas para isso tens de fazer duas coisas:
A primeira é, (sem medo, porque eu estou contigo), expulsar esse individuo para fora da tua vida e fechar definitivamente a porta das traseiras da tua casa.
A segunda, (imprescindível, pois sem a satisfazeres não poderei regressar), é que procures um dos meus "agentes", e eu tenho-os em todos os sítios, converses com ele, contando-lhe toda a história, como se passou e tudo o que fizeste durante todo o tempo em que estiveste com esse individuo, e lhe digas que sabes agora que estavas enganado, que procedeste mal, e que queres emendar tudo o que fizeste de errado.
Posso afirmar-te, que se o meu "agente" confirmar que estás verdadeiramente arrependido e decidido a não mais abrir a porta das traseiras, não terá dúvidas, a em meu nome te perdoar, e assim será imediato o meu regresso”.
O homem assim fez, e finda a conversa com o "agente" daquele Senhor, verificou com alivio, que a alegria, a paz, a tranquilidade, a esperança, o amor tinham voltado à sua vida, à sua casa, que os seus bens já não lhe causavam qualquer preocupação e que, sobretudo, o alimento que de imediato lhe começou a ser dado, tinha muito mais gosto, reparando ainda que esse gosto se mantinha permanente nele e não era causa de tristeza ou solidão, mas sim de alegria, paz e amor.
Grato ao seu Senhor, tomou a decisão de fechar e barricar a porta das traseiras com tudo o que o seu Senhor lhe fornecesse e estivesse ao seu alcance, resolvendo nunca mais dar ouvidos a quem com sedução o quisesse enganar.
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Escrito em 11 de Janeiro de 2001

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

OH MEU JESUS AMADO!

Oh meu Jesus amado,
queria tanto sofrer conTigo,
viver a Tua Paixão.
Queria tanto orar conTigo
no Horto das Oliveiras,
e afinal era eu quem estava
com os que Te vieram prender.
Queria ser Tua testemunha,
junto de Caifás e Pilatos,
e afinal fui eu quem fugiu,
e também Te condenava,
no meio da multidão.
Queria proteger a Tua Face,
e o Teu Corpo amoroso,
e afinal era eu quem Te batia
e colocava a coroa de espinhos.
Queria dizer que Te amava,
que eras o meu Senhor e Guia,
e afinal era eu quem Te insultava
e gritando escarnecia.
Queria caminhar conTigo
levando a Tua Cruz,
e afinal era eu quem mais pesava,
e Te fazia cair.
Queria aliviar Tuas dores,
pôr bálsamo nas Tuas feridas,
e afinal era eu quem martelava
os cravos nas Tuas mãos.
Queria prostrar-me em adoração,
perante o Teu sofrimento,
e afinal era eu quem trespassava
o Teu peito com a lança.
Queria tanto estar conTigo
na hora da Tua morte,
e afinal fui eu quem fugiu,
quando o dia se fez noite.
Queria ter sido testemunha,
da Tua Ressurreição,
e afinal andava perdido,
na minha vida de dúvidas.
E Tu mesmo assim
olhaste-me.
E Tu mesmo assim
chamaste-me.
E Tu mesmo assim
escolheste-me.
E Tu mesmo assim
perdoaste-me.
E Tu mesmo assim
deste-me amor,
para encher a minha vida.
Que hei-de fazer e dizer,
que seja minha conversão,
a não ser para sempre amar-Te
com todo o meu coração,
para sempre cantar louvores,
com a voz que Tu me deste,
com a minha alma adorar-Te,
prostrado sempre a Teus pés,
viver em Ti o caminho
da vida que em mim criaste,
esperando quando partir,
desta vida tão efémera,
ver o Teu Coração aberto,
os teus braços á minha espera,
para viver no Teu amor,
o tempo que não tem fim.


Escrito em 29 de Agosto de 2000

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

HINO AO NOSSO DEUS E SENHOR

SENHOR,
Que bom e grande Tu és !
Sem Ti, SENHOR,
eu não sou nada.
Sou um peixe que não nada,
uma ave que não voa,
uma ovelha perdida,
à mercê do predador,
um ponto sem referência,
uma curva que acaba em circulo,
( fechado sobre si próprio ),
um ser vivo,
sem ter vida,
uma morte anunciada.
Mas, SENHOR,
quando a Ti me entrego,
cruzo as águas como seta,
nascem-me asas nos pés,
o predador parte os dentes,
no escudo que Tu me dás,
a curva é uma recta,
a indicar a eternidade,
a vida pulsa tão forte,
que se estende aos que estão perto,
a morte é uma passagem,
para ir ao Teu encontro.
Porque Tu, SENHOR,
és tudo para mim,
a razão do meu viver,
a razão de eu caminhar,
a razão de eu amar,
a razão de eu falar,
a razão do testemunho,
que pretendo sempre dar,
a razão do coração,
a arder em Teu louvor.
Em Ti me refugio,
em Ti, me fortaleço,
em Ti,
quanto mais fraco sou,
mais forte eu me pareço,
quanto mais pobre sou,
mais rico em Ti eu cresço.
Em mim abates barreiras,
da vergonha à timidez,
tornas-me clara a palavra,
tornas fácil o falar.
E meu SENHOR,
mais ainda,
pois transformas os problemas,
em oração de louvor,
transformas alguma amargura,
num simples acto de amor,
transformas a breve tristeza,
na Tua mais linda alegria,
transformas o ingrato desânimo,
na vontade de lutar,
transformas a terrível dúvida,
na mais bonita certeza,
transformas o meu passado,
num presente a caminhar,
transformas o gaguejar,
na mais bonita oração,
transformas o meu pensar,
num canto do coração,
feito p’ra Te louvar.
Assim, meu DEUS, e SENHOR,
só por Ti posso amar,
só em Ti posso viver,
só conTigo caminhar.
Vem depressa, não demores,
e mesmo que estejam fechados,
os portões da minha vida,
arromba-os, SENHOR meu DEUS,
abre todos os cadeados,
enche-me de Ti e sorri-me,
pega-me na mão e conduz-me,
para que não me possa perder,
mas antes testemunhar,
que a vida deve ser sempre,
um canto de puro louvor,
a Ti,
meu DEUS e SENHOR.

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Escrito há uns anos.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

"CÂNTICO BRANCO"

«"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...» José Régio

Se eu vim ao mundo,
Foi para Te seguir, Senhor,
E rasgar com os passos que Tu me dás
A indiferença e o abandono
A que são votados os desprezados
Da sociedade.
A minha glória é esta:
Seguir-te sempre
Ser todo entregue a Ti...
Tudo o mais que eu faça,
Não vale nada,
Se não for feito conTigo
Se não for Tua vontade...
Nada me pode dar o mundo,
A não ser aquilo que Tu,

Senhor,
Queres que ele me dê...
A minha força vem de Ti,
E se por vezes fico fraco,
É porque me afasto do Teu amor...
No mundo corre o sangue que morre,
Só do Teu Lado corre o Sangue da Vida...
E quando me abro ao Teu Espírito,
E deixo que Ele faça em mim,
Sinto alegria, paz e tranquilidade e amor
E sinto cânticos de louvor
Que do coração
vêm aos meus lábios...
E louvo-Te Senhor
Porque me deste pai e me deste mãe,
E neles Tu me criaste Senhor,
Para que no Teu Coração
No Teu amor,
Sem principio nem fim,
Eu possa viver por Tua graça,
Para a eternidade em Ti...
Que o mundo não me diga para onde ir,
Porque eu não vou...
O meu caminho é o Teu,
Que a Tua Igreja me aponta...
A minha vida “alevanta-se”
Porque és Tu que a despertas...
Já não quero ser eu a viver,
Mas sim que Tu vivas em mim...
Sei bem para onde ir,
Porque és Tu o meu guia,
E mesmo que eu me perca
E por vezes erre o caminho
Eu sei bem que ali estás,

Senhor,
Que não me deixas cair
E me dizes com voz de amor:
Vem por aqui,
Meu filho,
Só em Mim encontras a Vida

Que Eu tenho para ti...

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Considero José Régio um dos maiores poetas portugueses.