quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A POLÉMICA DOS CRUCIFIXOS

.
.
Recentemente em Espanha, (como cá também e por essa Europa fora), veio outra vez “à baila” na comunicação social, a obrigatoriedade que querem impor da retirada dos crucifixos das escolas, e, porque não, de todos os lugares públicos, o que será sem dúvida a próxima imposição.

Verdadeiramente e no fundo, no fundo, não querem retirar os crucifixos de lado nenhum, querem é retirar Jesus Cristo do crucifixo, eu seja, querem é retirar Jesus Cristo … da Cruz!

É que esta imagem da realidade vivida por Jesus Cristo, Nosso Senhor e nosso Deus, feito Homem, é insuportável aos desígnios, aos anseios, aos desejos daqueles que querem afirmar ao homem de hoje, que a vida é para ser vivida no ter e não no ser, é para ser vivida em todos os prazeres momentâneos, é para ser vivida sem grande esforço, no dinheiro e para o dinheiro.

Mas a realidade, o dia-a-dia, desmente-os em cada momento, em cada situação, em cada vida vivida.

Porque o homem que apenas tem, quer ter sempre mais, e por isso mesmo nada o satisfaz, pelo que nunca chega a ser, e não sendo nunca, nunca se encontra a si mesmo, mas apenas a uma imagem distorcida de si, o que o leva à infelicidade.

Aquele que procura apenas os prazeres, os prazeres mundanos, e deles faz a sua vida, acaba sempre por ser confrontado mais tarde ou mais cedo pelas terríveis consequências desses prazeres, desde as doenças transmitidas, às adquiridas por esses hábitos, de tal modo que esses prazeres acabam por se transformar em dor e infelicidade.

Aquele que vive para o dinheiro e pelo dinheiro, fecha-se em si próprio, e julgando que tudo pode, descobre mais tarde ou mais cedo que o dinheiro não lhe compra a paz, o amor, a felicidade, que esse dinheiro é coisa efémera que pode perder de um momento para o outro, e mais ainda, que o dinheiro não lhe compra nada depois da morte.
Lembra-me de alguém que dizia como epitáfio dum “homem rico”: “Era tão pobre, tão pobre, que apenas tinha dinheiro”.

E afinal quem foi o Único que revelou ao homem o seu caminho e lho mostrou com realidade, passando pela Cruz?

Foi Jesus Cristo, sem dúvida, que nunca escondeu ao homem que a vida tinha dificuldades, tinha dores, tinha tristezas, mas que era apenas passageira aqui neste mundo, pois que vivida no amor, levava pela graça de Deus à vida eterna, ao gozo eterno da perfeita felicidade.

Assim, Ele próprio, o Filho de Deus feito Homem, quis-se fazer igual a nós em tudo, excepto no pecado, passando pelas dores e anseios próprios do homem, (comeu e bebeu, teve fome e sede, descansou e também se cansou, alegrou-se, mas também se entristeceu e chorou), tendo sido desprezado e mal tratado pelos seus até um limite insuportável, para nos mostrar a força do amor, a força do perdão, que todos nós devemos viver quando somos ofendidos, desprezados, mal tratados, e quando também assim procedemos para com os outros.

Oh, como Ele seria muito mais bem aceite se naqueles momentos tivesse descido da Cruz e com o Seu poder tivesse destruído os seus algozes tomando conta do poder de então!

Assim seria reconhecido, sem dúvida, como um Deus poderoso, vitorioso, apenas pelo domínio exercido sobre os “pobres” mortais!

Mas se assim procedesse, rapidamente viriam reclamar a liberdade, pois este Deus nada permitiria, e o homem não seria livre de escolher o seu caminho.

Pois, mas assim Ele não seria o Deus de todos, pois aqueles que Ele destruía, também condenava, e sabemos que o nosso Deus é um Deus de comunhão e amor a todos e com todos.

Assim, Ele não seria o Deus de amor e perdão, o Deus que se faz pequeno na sua grandeza, o Deus que veio para servir e não para ser servido!

E isso é insuportável ao mundo!

É insuportável ao mundo que Aquele que criou, não domine sobre as criaturas, e lhes dê a liberdade de acreditarem e seguirem Aquele que as criou, podendo até renegá-Lo!

Isso é inadmissível num mundo que quer viver o individualismo, o egoísmo, o “passar por cima” dos outros para obter o que deseja, um mundo que vive da vingança, e em que o pedir perdão e o perdoar é visto como uma fraqueza.

É, sem dúvida, assim insuportável a figura d’Aquele Deus, pregado na Cruz, um Deus Todo Poderoso, que no momento da Sua Morte apenas diz: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.» Lc, 23, 34

Por isso eu digo e repito, não é o crucifixo que os incomoda, mas sim Jesus Cristo pregado na Cruz, proclamando que o Amor, («aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor.»1 Jo 4,8), é que é a vitória do homem sobre si mesmo, para se dar aos outros, encontrando e encontrando-se neles em Cristo, para Cristo e por Cristo, a razão da sua existência, a sua imagem e semelhança ao Deus que o criou.

Verdadeiramente e no fundo, no fundo, não querem retirar os crucifixos de lado nenhum, querem é retirar Jesus Cristo do crucifixo, querem é retirar Jesus Cristo … da Cruz!


Monte Real, 25 de Novembro de 2010
.
.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

BAIXO A CABEÇA, ENVERGONHADO!

.
.
Paquistão: mulher cristã é condenada à morte por blasfémia

ISLAMABAD, quinta-feira, 11 de Novembro de 2010 (ZENIT.org) - Asia Bibi, operária agrícola de 37 anos e mãe de duas crianças, é a primeira mulher condenada à morte no Paquistão sob a acusação de blasfémia.
A mulher foi acusada de ter ofendido o islão durante uma discussão no trabalho, na qual algumas mulheres haviam tentado convertê-la, segundo informou a agência AsiaNews.
A sentença, emitida por um tribunal de Punjab no último domingo, refere-se a uma discussão que ocorreu em 2009, na localidade de Ittanwali.
Durante a discussão, frente à insistência das colegas a que renunciasse ao cristianismo, Asia Bibi falou como Jesus morreu na cruz pelos pecados da humanidade e perguntou às demais mulheres o que Maomé havia feito por elas.
A norma do código penal paquistanês castiga com a prisão quem ofende o Alcorão e com a morte a quem insulta o profeta Maomé.
As colegas muçulmanas bateram em Asia Bibi e trancaram-na num quarto. Segundo explica a organização caritativa Release International, uma multidão reuniu-se no local e começou a insultar, tanto a ela como aos seus filhos.
A Asia Bibi também foi imposta uma multa equiparável a dois anos e meio do seu salário.
Com relação a esta sentença, o secretário executivo da Comissão Nacional Justiça e Paz, da Conferência Episcopal do Paquistão, Peter Jacob, declarou à agência Fides que "os cristãos estão sob ataque pelo uso instrumental da lei anti-blasfémia".
"Os casos de falsas acusações são vários e estamos muito preocupados: já foram pelo menos 5 nos dois últimos meses", explicou.
"Infelizmente, não há mudanças à vista: o governo não considera em absoluto uma revisão ou uma abolição da lei - lamentou. E isso é muito grave."

Excertos da notícia da ZENIT



E nós, cristãos portugueses, lamentando-nos que no nosso país a Igreja está a ser atacada, que a nossa vida de cristãos católicos não está fácil e, às vezes, até mesmo chegamos a afirmar que somos perseguidos!

Quantos de nós seriamos capazes de responder como esta cristã paquistanesa quando colocados naquela situação?

Ou responder como este cristão iraquiano:
“Não temos medo da morte, porque Jesus morreu por nós. Claro que choramos, mas são lágrimas de alegria, porque morremos por Deus”. As palavras são de um professor cristão de 32 anos que ficou ferido no ataque à Igreja Siro-Católica de Nossa Senhora da Salvação e ali voltou para a uma celebração, em memória das vítimas.

Poucos com certeza, pois perante a realidade de sermos chamados a votar, (em liberdade e segurança), num referendo sobre o aborto, ou a “lutar”, (em manifestações autorizadas e seguras), pela dignidade da Família e dos valores, optamos por ficar em casa, ou então adaptamos a Doutrina às nossas conveniências, votando em conformidade.

Que testemunho damos nós, cristãos, aos nossos filhos, aos nossos netos, aos jovens deste país?

Poucos ou nenhuns, e para lhes darmos testemunhos de fé, temos de ir buscar exemplos como estes, de mulheres e homens perseguidos por causa do Nome de Jesus Cristo, em países longínquos!

E não lhes cabe a eles, jovens, filhos, netos, perguntar-nos onde estávamos nós quando foi da votação do referendo sobre o aborto, ou que outras “actividades” nos impediram de nos manifestarmos e afirmarmos contra a destruição persistente da Família e dos valores cristãos?

Provavelmente é bem preciso que sejamos perseguidos e condenados em Portugal por sermos cristãos, para ver se saímos da letargia, do “sono dos justos” em que nos deixámos adormecer, e afirmarmos a nossa fé sem medo, sem vergonha, com a convicção daqueles que, como baptizados, são o Povo de Deus.

E não precisamos de nos preocupar com o que havemos de dizer para nos defendermos, porque é o próprio Deus que vem em nosso auxílio:
«Assim, tereis ocasião de dar testemunho. Gravai, pois, no vosso coração, que não vos deveis preocupar com a vossa defesa, porque Eu próprio vos darei palavras de sabedoria, a que não poderão resistir ou contradizer os vossos adversários.» Lc 21, 13-15

E nada perderemos do que somos como filhos de Deus, tendo apenas como condição a nossa constância na fé:
«Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. Pela vossa constância é que sereis salvos.» Lc 21, 18-19

Bem nos alertava o Evangelho deste Domingo, e, provavelmente, muitos de nós, (nos quais me incluo), acenámos com a cabeça em concordância, mas foi apenas um gesto, porque a prática e a atitude mantiveram-se iguais ao que até então tinham sido e continuaram a ser.

E por isso mesmo surgem de quando em vez frases como estas, («ao olhar para o passado do PR (Cavaco Silva), vejo que desempenhou a sua missão dentro daquilo que a Constituição lhe permite e também numa linha de defesa dos valores e interesses de todos» - D. Jorge Ortiga), que em vez de nos despertarem para o testemunho, nos adormecem na rotina de uma prática morna e amorfa da fé.

Mas o Senhor diz muito claramente a todos os cristãos do mundo inteiro, bem como a nós, cristãos portugueses:
«Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno - e não és frio nem quente - vou vomitar-te da minha boca.» Ap 3, 15-16


Monte Real, 16 de Novembro de 2010
.
. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

OS "PORMENORES"

.
.
À medida que fui conduzido a cada vez mais ler e meditar a Palavra de Deus, foi-me dado ir descobrindo os tesouros que a Palavra contém em todos os seus “pormenores”.

Com efeito, confesso que aqueles textos que melhor conhecia da Bíblia, tantas vezes os lia por ler e sem neles me deter.

Mas a Palavra de Deus é viva e o Espírito Santo mostra-nos, (se realmente quisermos escutar), toda a verdade e beleza que Ela contém.

Provavelmente nada direi de novo àqueles que me lêem, mas acompanhem-me, na leitura deste texto dos Actos dos Apóstolos, por exemplo, e atentemos aos “pormenores” que São Lucas, inspirado pelo Espírito Santo, nos dá a conhecer.


Cerca da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os presos escutavam-nos. De repente, sentiu-se um violento tremor de terra que abalou os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e as cadeias de todos se desprenderam.
Acordando em sobressalto, o carcereiro viu as portas da prisão abertas e puxou da espada para se matar, pensando que os presos se tinham evadido. Paulo, então, bradou com voz forte: «Não faças nenhum mal a ti mesmo, porque nós estamos todos aqui.» O carcereiro pediu luz, correu para dentro da masmorra e lançou-se a tremer, aos pés de Paulo e de Silas.
Depois, trouxe-os para fora e perguntou: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» Eles responderam: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo tu e os teus.» E anunciaram-lhe a palavra do Senhor, assim como aos que estavam na sua casa.
O carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas e imediatamente se baptizou, ele e todos os seus. Depois, levando-os para cima, para a sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus.
Act 16, 25-34


«Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os presos escutavam-nos.»

Paulo e Silas, lemos nos versículos anteriores, tinham sido despidos, vergastados e atirados para o calabouço, onde ficaram com os pés presos no cepo.
E louvavam a Deus!
Ora, muito provavelmente, cada um de nós nas mesmas circunstâncias lamentar-se-ia, revoltar-se-ia protestando a sua inocência, reclamaria justiça e com certeza vociferaria contra aqueles que nos tinham prendido.
Com este nosso procedimento, os outros presos juntar-se-iam a nós, protestando igualmente a sua inocência, revoltando-se e fazendo barulho, ou seja, o nosso testemunho para nada serviria.
Mas Paulo e Silas louvam o Senhor na adversidade, e assim procedendo, os outros presos escutam-nos, com certeza perplexos, perante o testemunho de confiança daqueles dois homens no seu Deus e Senhor.
E na oração de louvor, o Senhor responde àqueles que O procuram e n’Ele confiam, e «todas as portas se abriram e as cadeias de todos se desprenderam», dando assim a conhecer àqueles outros presos o poder de Deus e o Seu amor por aqueles que O amam.


«…puxou da espada para se matar»

Aquele homem queria pôr fim à sua vida e acabou por encontrar uma vida nova!
Não só manteve a vida que já tinha, mas descobriu agora uma vida nova, aquela vida que tem sentido, a vida em Deus e para Deus, que leva sempre à esperança e nunca ao desespero, porque não depende das coisas do mundo, mas sim das coisas do Alto.
Queria matar-se porque tinha medo do que lhe podia acontecer no mundo, e acaba por viver porque lhe é dado a conhecer a confiança e a esperança que estão sempre presentes na vida para o Alto.


«…porque nós estamos todos aqui»

Curiosamente a reacção daqueles outros presos, que deveria ser a fuga do calabouço em que estavam presos, é afinal, ficarem junto de Paulo e Silas, no mesmo lugar onde lhes tinham tirado a liberdade.
Porque, com certeza estupefactos, queriam perceber que Deus era aquele que tais prodígios fazia, não só dando confiança e esperança a Paulo e Silas em tão grande adversidade, mas também libertando os que estavam cativos.
Podemos afirmar, acredito eu, que naquele lugar de prisão, eles tinham encontrado a liberdade dos filhos de Deus, que mesmo vivendo no mundo, já vivem a liberdade da salvação prometida.


«O carcereiro pediu luz…»

Sim, com certeza, pediu luz para alumiar, para ver o que se passava na prisão.
Mas também, com certeza, perante aquilo que estava diante dos seus olhos, no seu íntimo deve ter dirigido uma palavra àquele Deus, nem que fosse um simples: «O que é isto? O que se passa? Quem és Tu que fazes tais coisas?»
E o Senhor iluminou-o com a Sua luz, de tal modo que a sua primeira pergunta àqueles homens, Paulo e Silas, é: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?»
E, «quem procura, encontra» Lc 11, 10


«O carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas…»

Aquele que os tinha presos, aquele que os tinha acorrentado, é aquele que agora os serve, lavando-lhes as feridas!
O que mandava, o que tinha a autoridade, é agora servo para os seus irmãos que dele necessitam.
O carcereiro é agora o Bom Samaritano!
Pois claro, porque quem é iluminado pela luz de Deus não permanece igual, é convertido, converte-se, e assim deve tornar-se irmão de todos e servo de todos, sobretudo daqueles que dele necessitam.
Não foi isso que Jesus Cristo nos ensinou quando lavou os pés aos Seus Apóstolos e também quando nos disse: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos» Mc 9, 35


«Depois, levando-os para cima, para a sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus.»

Levou-os para cima, e pôs-lhes a mesa!
«Mostrar-vos-á uma grande sala mobilada, no andar de cima. Fazei aí os preparativos.» Lc 22,12
A Última Ceia! A Eucaristia! A presença do Deus vivo!
À volta da mesa, partilhando o pão!
Com certeza que Paulo e Silas celebraram a «fracção do Pão», como era uso nas primeiras comunidades cristãs.
E na «fracção do Pão», aquele homem com a sua família vivem a «alegria de ter acreditado em Deus»!
Na «fracção do Pão», a alegria de reconhecer e acreditar no Senhor, como os discípulos de Emaús, (Lc 24, 31), que cheios de alegria e coragem, regressaram a Jerusalém para anunciarem a Ressurreição de Jesus Cristo!



Assim, no Grupo de Oração ontem, na leitura deste texto dos Actos dos Apóstolos, (que já tantas vezes tinha lido), foi-me dado descobrir estes “pormenores”, que para além de me exortarem à verdadeira conversão, me confirmam como a Palavra de Deus é viva e actuante.

Não sou exegeta da Bíblia, nem pretendo sê-lo.
Haverá algo com certeza a dizer sobre as traduções das Bíblias.
Mas o que importa verdadeiramente é deixarmo-nos tocar pela Palavra de Deus, deixarmo-nos conduzir por Ela, sempre em comunhão de Igreja, e atendendo sempre à Verdade revelada, à Doutrina da Igreja, na certeza de que a Palavra apenas pode edificar, unir e levar à comunhão, e tudo o que a isso for contrário, é interpretação apenas nossa, que como tal devemos colocar de lado.
E o Espírito Santo prometido por Jesus Cristo está em todos, e ilumina todos aqueles que a Ele se entregam e por Ele se deixam conduzir.


Monte Real, 9 de Novembro de 2010
.
. 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

OH POBRE CORAÇÃO

.
.
Oh pobre coração,
o meu,
que se atém a tantas coisas,
e afinal só Uma interessa.
Oh pobre coração,
o meu,
que sonha com tantas riquezas,
que afinal são só pobrezas.
Oh pobre coração,
o meu,
que se enche de orgulho e vaidade,
e afinal só se encontra,
na humilde simplicidade.
Oh pobre coração,
o meu,
que dos outros faz julgamentos
quando deveria arrepender-se,
apenas dos seus lamentos.
Oh pobre coração,
o meu,
que se quer já tão adulto,
e deveria ser tão criança.
Oh pobre coração,
o meu,
que se atormenta em desesperos,
quando deveria viver na fé,
confortar-se na esperança.
Oh pobre coração,
o meu,
tão cheio de mágoas e dores,
quando deveria viver no perdão,
e estar cheio de louvores.
Oh pobre coração,
o meu,
que fala sem nada dizer,
quando deveria prostrar-se
entregue em oração.
Oh pobre coração,
o meu,
que caminha cego o caminho,
quando deveria ver
que Ele nunca o deixa sozinho.
Oh pobre coração,
o meu,
encerrado na fatalidade,
quando deveria viver,
apenas e só na verdade.
Oh pobre coração,
o meu,
que bate neste meu peito,
que se pensa tão correcto,
e apenas é imperfeito.


Oh rico coração,
o meu,
que apesar do seu horror,
foi chamado a ser morada,
de Jesus Cristo,
o Senhor.



Monte Real, 3 de Novembro de 2010
.
.