segunda-feira, 27 de agosto de 2012

PORQUÊ A CRUZ, SENHOR?


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Porquê a Cruz,
Senhor?
 
Então não teria sido melhor
seres rico e poderoso,
chefe temido,
governante amado,
libertador reconhecido,
em tudo vitorioso?
 
Porquê a Cruz,
Senhor?
 
Então não fazia mais sentido
que todos Te reconhecessem,
como um Rei de imensos reinos,
com tesouros incalculáveis,
palácios que todos vissem,
e títulos acumuláveis?
 
Porquê a Cruz,
Senhor?
 
Então não seria bem melhor,
rodeares-Te de um exército,
fazeres leis muito importantes,
que todos obedecessem,
impondo com todo o poder
o mundo que Tu sonhavas?
 
Porquê  a Cruz,
Senhor?
 
Então não seria mais digno,
vires montado num belo corcel,
de ouro e prata ajaezado,
mostrando à populaça,
o teu real poder,
nunca por alguém alcançado?
 
Porquê  a Cruz,
Senhor?
 
Para quê sofreres a humilhação,
dos pobres e condenados,
daqueles que nada têm,
da sociedade escorraçados?
 
Se fosses rei poderoso,
mundano no teu viver,
estarias inscrito na história,
para quem a quisesse ler,
mas tarde ou cedo esquecido,
por outro com mais poder.
 
Mas tendo morrido na Cruz,
proscrito e humilhado,
dando a vida por todos,
a todos tendo salvado,
moras para além da história,
na eternidade de Ser,
moras nos corações,
e fazes-Te vida presente,
para todos os que Te querem viver.
 
 
 
Monte Real, 27 de Agosto de 2012
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terça-feira, 21 de agosto de 2012

O NEVOEIRO


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Hoje de manhã, quando saí de casa, estava nevoeiro e tive de ligar as luzes do carro para que os outros condutores me vissem, mas também para alumiar um pouco o meu caminho.

Dei comigo a pensar que por vezes o nevoeiro é tão intenso, que precisamos adiar a viagem, e decidimos que mal o nevoeiro passe a continuaremos em segurança.
Realmente, na vida do dia-a-dia da natureza, o nevoeiro não é coisa de muito tempo e passado uns minutos, umas horas, com a luz do Sol, acaba por levantar e permitir-nos uma visão mais nítida, a fim de podermos prosseguir a viagem

É curioso, também, que às vezes nas nossas vidas se instala um “nevoeiro” que não nos deixa ver mais ao longe e às vezes até nos quer impedir de fazer a viagem da vida.
Preferimos assim ficar sentados, prometendo que iniciaremos a viagem assim que o “nevoeiro” passar.

Só que este “nevoeiro” da vida não desaparece com a luz do Sol, nem desaparece se nada fizermos para o combater.

É preciso então, não esperar pela luz, mas sim procurar a Luz que possa iluminar o caminho das nossas vidas.

E procurar essa Luz, é procurar a oração, é procurar a Confissão, é procurar a Comunhão, é procurar viver a vida de fé, com confiança e esperança, afastando então o “nevoeiro” das dúvidas e das dificuldades.

Então, Aquele que é a Luz que nos ilumina, dá-nos a mão, “acende” os nossos “faróis” da fé, e assim podemos conduzir as nossas vidas com uma visão mais nítida do caminho a viver.

E essa luz que Ele coloca em nós, (e que nos compete manter acesa com a Sua permanente presença em nós), serve também para avisar os outros do caminho que percorremos, iluminando também um pouco o caminho daqueles que quiserem ver e viver o Caminho que Ele, Jesus Cristo, é para todos nós.


Monte Real, 21 de Agosto de 2012
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terça-feira, 14 de agosto de 2012

DÁS-ME A MÃO, MÃE?




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Dás-me a mão,
Mãe?

Sabes que sou grande de estatura,
mas sinto-me tão fraco e pobre,
para fazer a vontade
do teu Filho muito amado!


Dás-me a mão,
Mãe?

Tenho medo de cair,
de me arrastar pelo chão,
fraco no meu querer,
seguir em tudo Jesus,
e de nunca conseguir,
dizer o sim
que Tu disseste!


Dás-me a mão,
Mãe?

Tenho um rio pela frente,
de águas fundas e caudalosas,
inundadas de pecado,
que não me deixa seguir,
que não me deixa viver,
o caminho do crucificado!


Dás-me a mão,
Mãe?

Tu tens os braços compridos,
que chegam aqui à terra.
Puxa-me então para o Céu,
mesmo eu vivendo aqui,
puxa-me para junto de Ti,
porque onde Tu estás,
está Ele!


Dás-me a mão,
Mãe?

De tão indigno que sou,
nem levanto os olhos para Ele.
Diz-lhe Tu, Mãe,
que eu O amo,
que Lhe quero pertencer,
que apenas Lhe quero dizer:
Senhor, meu Deus,
aqui estou!


Monte Real, 14 de Agosto de 2012
Meditando na Festa da Assunção da Virgem Santa Maria
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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

CAMINHO DE CRESCIMENTO

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Alguém amigo, comentava há uns dias comigo que não percebia porque é que no inicio da caminhada de fé, a oração era fácil, a alegria era sempre presente, as consolações eram muitas, o mundo, a vida, tudo lhe parecia tudo bom, e agora, passado um tempo, tornava-se difícil a oração, muitas vezes a tristeza atacava, em tantas coisas se deparava com o mal.
Às vezes quase apetecia desistir, porque a luta era muita, e se deixasse a vida prosseguir sem se preocupar com a comunhão com Deus e com os outros, tudo seria muito mais fácil.
Não entendia porque é que por causa de tudo isto, às vezes até se revoltava “contra” Deus!

Ao tentar responder a estas inquietações, foi-me inspirada a seguinte resposta que aqui deixo para reflexão.

O caminho de Deus é uma aprendizagem, com tudo o que implica aprender, desde a consolação, ao desânimo, passando muitas vezes por uma falta de acreditar em nós próprios, nos outros e até em Deus.

Quando uma criança nasce, é rodeada de carinho, de ternura, e tudo o que ela faz é objecto de compreensão, até de alegria, (até mesmo coisas que parecem “más”), ou seja, quantas vezes as mães não se alegram porque o bebé sujou as fraldas, o que é sinal que tudo está bem...
Assim o bebé é só consolações, tudo o que faz é bem aceite e fonte de alegria, está totalmente protegido para que nada de mal lhe aconteça. Tudo quanto sejam agressões ao seu bem-estar são imediatamente afastadas porque a sua ligação/comunhão com os pais é total e permanente.

Mas depois começa a crescer e já se aventura a decidir algumas coisas por si só, sem atender àquilo que os pais lhe dizem, e começam as "dores", (porque mexeu no lume e se queimou), porque fez isto ou aquilo e lá chegam também as primeiras reprimendas.
Continua a crescer e cada vez mais acha que já sabe tudo, há até um momento em que se quer afastar dos pais, por achar que aquilo que lhe dizem não serve a sua vida.
Agora muitas vezes os erros são maiores e as suas consequências mais pesadas.
Por vezes sente um desejo enorme de se recolher nos braços dos pais, mas o orgulho e muitas vezes uma sensação de culpa, de vergonha, impede-o de o fazer, ou de ser inteiramente verdadeiro com eles, acatando aquilo que eles lhe dizem para o seu bem.

E a vida vai continuando e as coisas boas vão alternando com as menos boas e vai descobrindo que afinal as coisas que os pais lhe diziam eram coisas boas, e até as vai ensinando aos seus filhos.
À medida que se vai aproximando da idade mais avançada vai-se dando conta de que tem de confiar naqueles que o amam e assim vai-se deixando conduzir, ajudar, e vai redescobrindo as alegrias e consolos de esperar e confiar em alguém que o ama verdadeiramente e o ajuda a viver a sua vida.

Claro que esta descrição é a de uma vida em termos gerais, que acontece, mais parecida ou menos parecida, com muitas pessoas.

Com certeza já reparaste na similitude daquilo que te quero dizer.

Nesta vida voltada para Deus, ao princípio tudo são consolações, alegrias, descobertas, sentimo-nos protegidos, parece que nenhum mal nos pode acontecer e isso porque a nossa vida é então uma descoberta e é sobretudo uma oração constante, uma constante comunhão com Deus, na Eucaristia, na Confissão, na entrega, enfim, não queremos viver mais nada.
Em tudo O queremos encontrar, em tudo seguimos a Sua Palavra, o mal nada pode contra nós, e espantamo-nos como é possível que os outros não percebam esta maravilha, não queiram viver esta descoberta, esta vida cheia e plena.
Mas depois há que descer do Tabor!

É Ele mesmo que quer que comecemos a enfrentar a vida do dia a dia, que enfrentemos o mal que corre o mundo, e então começamos a reparar em tanta coisa má que acontece e questionamo-nos, perguntamos-Lhe até: Como é possível, porque deixas isto acontecer!!!
E Ele na Sua bondade infinita vai-nos mostrando às vezes dolorosamente que não interfere na nossa liberdade e por isso aquilo que fazemos sem pensarmos tem as suas consequências.

É o tempo de crescimento, de percebermos que temos também a nossa parte para fazer, a nossa vida a construir.
Então por vezes o nosso arrebatamento já não é tão intenso, o nosso acreditar tão real, e assim isso reflecte-se na nossa entrega, na nossa oração, na nossa comunhão.

Ai as dores de crescimento!
Estou a ver os meus filhos a barafustarem quando mais pequenos começaram a comer a sopa com "coisinhas" como eles diziam, ou seja, com bocados de batata ou legumes...
Não queriam a sopa assim! Queriam-na sempre moída, mais fácil de comer, sem dar trabalho!

E nós também somos assim!
Antes a oração fluía, a alegria era constante, tudo era fácil e nós nem conseguíamos descortinar as coisas más, pois passavam-nos ao lado.
Mas agora, Santo Deus, parece que o mal nos entra pelos olhos adentro, parece que envolve a nossa vida, e temos dores e dificuldades e não conseguimos rezar, não queremos comer a sopa com "coisinhas"...

Mas Ele sabe que nós precisamos desse crescimento, para nos fortalecermos, para podermos enfrentar todas as dificuldades, contrariedades, provações que vão chegando conforme o mundo se torna mais egoísta e a nossa idade vai avançando e tornando mais penoso o nosso viver.

A Fé está lá, mas parece não querer dar sinais de vida, parece que o alimento que lhe damos não chega...
É o tempo de lutar, lutar contra nós próprios, lutar contar tudo aquilo que dentro de nós grita: Desiste, não vale a pena!
Lutar sempre! Se não consigo rezar o terço, digo apenas: Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim pecador!
E repito e volto a repetir sempre em todo o momento porque Ele me ouve, e sente a minha angústia, porque Ele não deixa de me responder!
Lembramo-nos então daquilo que Ele nos dizia quando começámos nesta vida e percebemos que já nessa altura Ele nos avisava dos perigos que estavam para vir, das dificuldades que havíamos de viver...
E procuramos mais comunhão, mais entrega, com mais perseverança, na confiança e na esperança de que Ele nos está a provar, porque nos ama com amor infinito e nos quer preparar para o que há-de vir: «Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa.» Mt 24, 42-43

E então louvamos!
Louvamos por estas dificuldades, por estas provações e acabamos por não as entender como um mal, mas sim como um bem que nos ajuda a crescer.
E Ele responde-nos e exorta-nos à luta constante, exorta-nos a darmos testemunho dessa luta para que aqueles que a estão a viver saibam e percebam que é na perseverança, na comunhão de oração que Ele responde, mesmo que pareça escondido de nós...

Então passada a luta, (quanto tempo demorará?), Ele vem, toma-nos ao Seu colo e diz-nos cheio de amor: Descansa agora nos meus braços de eternidade e goza o louvor e a alegria para sempre!


Monte Real, 4 de Fevereiro de 2008
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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"DEUS RI"

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Acabei recentemente de ler o livro com o título deste texto: “Deus Ri”.

Quem me conhece, sabe que fui sempre um “arauto” do testemunho de alegria que deve estar sempre presente na vida de um cristão.

Não a alegria da gargalhada fácil, ruidosa e tantas vezes desproporcionada, mas a alegria calma, do humor construtivo, da paz vivida.

Não advogo que o cristão não tem tristezas, amarguras, fraquezas, momentos de dor, e que tendo-os, não os deve viver.
Obviamente que a vida é também composta desses momentos, e, como tal, devem ser sentidos e vividos.
Seria totalmente despropositado, (para não dizer mais), que um cristão chegasse a um funeral* de um amigo que vela alguém querido, e a rir o tentasse fazer rir também!

Não, o que distingue a alegria vivida pelo cristão, é a paz, a tranquilidade, a confiança e a esperança, que ele vive para além dos momentos bons e menos bons da sua vida, porque vive em comunhão com o Deus sempre presente.

Escreve o Papa Bento XVI, no primeiro volume do seu livro “Jesus de Nazaré”:
«As Bem-aventuranças são promessas, em que resplandece a nova imagem do mundo e do homem que Jesus inaugura, a «inversão dos valores». São promessas escatológicas; mas esta expressão não deve ser entendida como se a alegria que anunciam se encontre transferida para um futuro infinitamente distante ou exclusivamente para o além. Quando o homem começa a olhar e a viver a partir de Deus, quando caminha em companhia de Jesus, passa a viver segundo novos critérios e então um pouco de escathon, daquilo que há-de vir, está presente já agora. A partir de Jesus, entra a alegria na tribulação.»

Reflicto muitas vezes no que devem pensar aquelas pessoas que só vão à Missa em determinadas ocasiões, (como casamentos e funerais), quando na altura da Comunhão vêem os cristãos aproximar-se para comungar com um ar compungido, prostrado, a “mostrar” quase uma tristeza, e, até mesmo, quando regressam ao lugar de cabeça baixa, como se a comunhão que acabaram de fazer lhes pesasse demasiado “nos ombros”.

Pode haver algum exagero naquilo que escrevo, mas reparem se a minha descrição não corresponde um pouco à verdade dos factos.
É que me parece que nós confundimos muitas vezes seriedade e dignidade, com tristeza e prostração.

E isso conduz-nos a outro ponto, quanto a mim muito bem focado neste livro, e que é o humor são e construtivo, que também nos serve de caminho de conversão, quando o mesmo até nos leva a rirmo-nos de nós próprios, das nossas importâncias, das nossas vaidades, colocando-nos assim na procura de uma maior humildade em todo o nosso proceder.
«Ele é que deve crescer, e eu diminuir.» Jo 3,30

Nada mais revelo pois a leitura do livro perderia o interesse da descoberta desta alegria, deste humor, em que o autor nos envolve, e torna difícil parar de ler, uma vez aberta a primeira página.

Apenas mais duas palavras, para afirmar que para mim, para além de tantas passagens bíblicas que me levam ao encontro da alegria, as duas que cito abaixo, enformam decididamente esta minha vontade de sempre testemunhar a alegria de viver em comunhão com o “Deus connosco”.

«Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça.» Lc 21, 18

«Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa.» Jo 15,11



Monte Real, 3 de Agosto de 2012


*Uma pequena nota sobre este aspecto dos funerais.
Às vezes, quanto a mim, julgamos haver necessidade de proferir palavras para aqueles que sofrem a morte de alguém que lhes é querido, acabando por dizer frases rotineiras, e que muitas vezes até, provocam momentos de incómodo àqueles que nesse momento não estão preparados para as ouvir. Porque não, então, um simples beijo mais sentido, um abraço mais chegado, um aperto de mão mais apertado, ou até uma festa, uma carícia, (conforme o grau de amizade), que sem palavras, acabam por significar tudo o que queremos dizer.
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