quarta-feira, 30 de abril de 2014

OS "RE-CASADOS" SÃO IGREJA (4)

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Nesta segunda reflexão, sobre o mesmo tema dos divorciados re-casados, gostaria de ponderar, (partindo sobretudo da minha experiência pessoal), sobre alguns aspectos mais práticos, (digamos assim), da necessidade de percebermos quais os caminhos, quais as dificuldades, quais as “pedras de tropeço” que tantas vezes se colocam neste acolhimento em Igreja a estes irmãos que vivem estas situações chamadas “canonicamente irregulares”.

Vivemos um tempo em que a família é o tema permanente, e estas famílias merecem toda a nossa atenção, sobretudo porque querem viver a fé em Igreja, porque é em Igreja que elas sabem que encontram Deus, o amor de Deus, imprescindível à sua união familiar e ao sentido das suas vidas.

O facto de nos encontrarmos no Santuário de Fátima, leva-me a pensar quantas famílias nestas situações aqui vêm, tentando encontrar respostas, tentando encontrar compreensão, tentando encontrar paz e acolhimento, pelo que, devem dirigir-se provavelmente aos serviços da Confissão, para além de outros meios que procurem para se sentir em Igreja, para não se sentirem excluídos.

Conheço alguns casos destas famílias que, dada a sua formação cristã de base ou de tradição cristã, os leva a colocar os seus filhos, fruto da nova relação, na catequese, e chamados por causa desse facto a frequentarem as festas e celebrações da Igreja, acabam por sentir a necessidade espiritual de procurarem Deus, e assim procurarem a ajuda da Igreja nesse seu desejo, nessa sua vontade de viver a fé no seu dia-a-dia.

Isto para além de tantos outros casos em que essa ligação à Igreja sempre existiu e continua a existir, mas muitas vezes com incompreensões, dificuldades e algumas revoltas, sobretudo pelo facto de não poderem aceder à comunhão eucarística.

E existem alguns lapsos, incorrecções, muitas vezes proferidas nas nossas conversas com essas pessoas e não só, que sendo muito simples, não deixam de provocar confusão e apreciações erradas, não só daqueles que vivem essas situações, mas também daqueles que em Igreja deviam acolher e amar, e acabam por não conseguirem transmitir o que seria desejável.

Por exemplo, fala-se muitas vezes em anulação do Matrimónio.
Ora sabemos nós, (que tirando casos extremamente raros e específicos), a Igreja não anula Matrimónios.
A Igreja, pelos Tribunais Eclesiásticos, depois de um processo, pode declarar a Nulidade, o que significa, como todos sabemos, que aquele Matrimónio nunca existiu, e se nunca existiu não pode obviamente ser anulado.
Pode parecer que isto não tem importância nenhuma, mas realmente tem, e muita, porque se a Igreja anulasse um Matrimónio estaria no fundo a conceder um divórcio, algo que é impossível acontecer, pois colocaria o Sacramento do Matrimónio no mesmo nível de um qualquer casamento civil.
E se os sacerdotes sabem isto, os leigos, ou um grande número de leigos não o sabem, e ao passarem esta imagem da anulação do matrimónio, acabam por provocar uma ideia que uns, (por qualquer relação de poder ou riqueza), podem conseguir essa anulação e os outros não.
Tive e tenho inúmeras discussões, (no bom sentido, claro), por causa deste assunto e a maior parte das vezes a indignação daqueles com quem discuto vão nesse sentido, de haver uma Igreja para uns que tudo conseguem, e uma Igreja para outros que nada obtêm.

Este tipo de conversas exige de nós uma imensa paciência, porque temos de explicar esta importantíssima diferença entre nulidade e anulação, e mesmo assim, muitas vezes é difícil a compreensão daqueles que vivem essas situações. 

(continua)
Joaquim Mexia Alves

Nota:
Texto da segunda intervenção da recoleção para sacerdotes, no Santuário de Fátima, que orientei no dia 7 de Abril passado, a convite do Senhor D. António Marto.
O texto é, obviamente, algo extenso, pelo que o publicarei aqui em diversas partes.
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quarta-feira, 23 de abril de 2014

NUNCA ESTIVEMOS TÃO PERTO DA SANTIDADE

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Hoje de manhã, quando estava naquele estado de sonolência, em que muitas vezes eu julgo que Deus “fala” comigo, veio ao meu pensamento esta frase: “Nunca estivemos tão perto da santidade.”

Não me demorei muito a pensar no que tal significava, mas, ao chegar ao escritório, uma das primeiras imagens que vi no computador foi a de um sacerdote que conheço a cumprimentar João Paulo II.

Percebi então o que a frase me queria dizer e percebi que realmente, em termos muitos simples, “nunca estivemos tão perto da santidade” como agora!

Eu vi, com estes olhos que Deus me deu, João XXIII na “minha” televisão.
Eu vi, com estes olhos que Deus me deu, João Paulo II no meu país.
Eu li, com estes olhos que Deus me deu, coisas escritas pelo Padre Pio, por Josemaria Escrivá, e por tantos outros, já depois de eu ter nascido e ser gente.
Eu estive presente, com este corpo que Deus me deu, na celebração da Beatificação da Madre Maria Clara do Menino Jesus, que era prima da minha mãe.

Num tempo em que o cristianismo é tão atacado, em que a Igreja é tão vilipendiada, em que os cristãos são tão perseguidos, o Espírito Santo responde-nos, dando-nos testemunhos de extraordinária virtude, de fé inquebrantável, de uma fortaleza que vai para além da força humana, ou seja, uma fortaleza que só pode vir de Deus, para mostrar aos homens que Ele está com eles e que nunca os abandona.

E mostra-nos tantas coisas!

Toma um homem já de idade avançada, a quem os homens vaticinaram um pontificado curto e intermédio, e fá-lo suscitar a maior “revolução” que a Igreja teve em toda a sua existência, como que a dizer-nos que ninguém é demasiado velho para fazer coisas novas.
«Eu renovo todas as coisas.» Ap 21,5

Toma um homem novo forte, atlético e leva-o por um caminho de degradação física, resistindo, não deixando de servir nunca, com um esforço e sofrimento visível a todos, como que a dizer-nos que o homem é sempre homem, filho de Deus, amado por Deus, independentemente de toda a sua condição física ou mental, porque é vida de Deus, vida que pertence a Deus e que, por isso mesmo, só Deus pode iniciá-la e terminá-la no tempo próprio de Deus.
«Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia.» 2 Cor 4,16

Pega nalguns homens e mulheres, deixa-os viver provações sobre provações, incompreensões, tantas vezes provocadas pelos seus próprios pares em Igreja, reveste-os de humildade, fá-los resistir, enche-os de disponibilidade, para mostrar-nos que quem permanece em Deus, apesar dos homens, é sempre testemunha do amor de Deus.
«Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. … Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer.» Jo 15, 4-5

E queixamo-nos, nós!
E pedimos nós sinais!
E procuramos nós outros “deuses”!
E deixamo-nos levar por relativismos, por “politicamente correctos”, por supostas consciências que nós próprios “fabricamos”.

Nunca, arrisco-me a dizer, desde o tempo em que Jesus Cristo esteve connosco, nascido da Virgem Maria, Deus nos falou de tantos modos, tão claramente e com tanta intensidade.
Somos uma geração abençoada!

«Quem tem ouvidos, ouça!»
«Quem tem olhos, veja!»
«Quem tem boca, fale!»
«Quem tem coração, ame!»

Deus está aqui, no meio de nós, em nós, e quer suscitar santos em cada um daqueles que n’Ele acredita e n’Ele quer permanecer.

Ele está disponível para nós. Estamos nós disponíveis para Ele?

Realmente, “nunca estivemos tão perto da santidade.”


Marinha Grande, 23 de Abril de 2014
Joaquim Mexia Alves
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sábado, 19 de abril de 2014

sexta-feira, 11 de abril de 2014

OS "RE-CASADOS" SÃO IGREJA (3)

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Quando ia reflectindo, meditando em todas estas situações, a maior parte das vezes tão dolorosas, surgiu-me no coração este versículo: «eram como ovelhas sem pastor» Mt 9, 35

Realmente muitos daqueles que vivem estas situações são como «ovelhas sem pastor».
Procuram acolhimento, ajuda, amor na Igreja e muitas vezes não encontram nada disso, mas apenas evasivas, julgamentos, afastamento.

E no entanto o pastor quer todas as ovelhas no seu rebanho, não quer nenhuma perdida, porque ele é o pastor de todas as ovelhas.                        

O pastor conduz o rebanho, une o rebanho, mas não o faz sozinho.

O pastor do rebanho tem normalmente a ajuda dos cães do rebanho.

Perdoem-me a comparação, mas os cães do rebanho, são a Igreja, são o Papa, os bispos, os sacerdotes, os leigos.

Há ovelhas que se desviam do caminho, que começam a caminhar outros caminhos, que não o caminho do rebanho.
Há ovelhas que ficam enredadas, presas, nos espinhos de alguma silva, de onde não se conseguem libertar sozinhas.

Algumas dessas ovelhas, são sem dúvida os divorciados re-casados.

A missão dos cães, para além de manterem o rebanho unido para ser conduzido pelo pastor, é ir procurar e levar as ovelhas perdidas para o caminho certo, é ir ajudar as ovelhas presas nos espinhos a libertarem-se deles, para poderem juntar-se ao rebanho e prosseguir o caminho guiadas pelo pastor.

Mas que fazemos nós tantas vezes, perdoem-me mais uma vez a expressão, os cães que são Igreja?

Acenamos de longe, de dentro do rebanho, e gritamos: Estás enganado no caminho! Vem para aqui! Vem para o rebanho!

Este acenar de longe, este gritar de chamamento, são os documentos da Igreja que tratam destas situações dos divorciados re-casados, mas que nada fazem, que nada concretizam, arrisco-me até a dizer, para nada servem, se não os colocarmos em prática, se não os concretizarmos com palavras ditas, com gestos realizados, com actos concretos, e com muita oração, muita oração.

Então precisamos, por vezes, de sair do rebanho, (ou mesmo dentro dele), para procurar essas ovelhas, esses irmãos, mostrar-lhes o caminho, e ajudarmo-los a libertarem-se dos espinhos que não os deixam caminhar unidos ao rebanho.

E esses caminhos desviados são tantas vezes outras igrejas, outras espiritualidades, outras ofertas onde irão procurar o que nunca lá conseguirão encontrar: Deus, o amor de Deus, a Verdade que é o próprio Deus.
E esses espinhos são tantas vezes a incompreensão, a indignação perante palavras duras e mal dirigidas vindas de dentro do rebanho, são revoltas, que apesar de serem um tanto culpa própria, não deixam também de ser culpa muitas vezes da parte do rebanho que não soube, ou não quer, (pior ainda), acolher, ajudar, amar.

A imagem dos espinhos é muito interessante.

Os espinhos magoam, ferem, e as ovelhas que estão presas nos espinhos debatem-se para se libertar, mas esse debater acaba por magoar mais, acaba por aumentar as feridas, aumentando o sofrimento.
Mesmo quando libertados dos espinhos, verificamos que nesses mesmos espinhos ficou agarrada alguma lã, ficou agarrado algo que pertence à ovelha que esteve presa.
As feridas abertas, acabam por sarar quando a ovelha volta ao rebanho, e acabam por ganhar a crosta, para que a pele sare por baixo.
Mas caídas as crostas, ficam as cicatrizes, que acabam por recordar os maus momentos.

Realmente, aqueles que vivem estas situações, estão muitas vezes feridos por tantos espinhos.
O espinho do divórcio, o espinho da dificuldade de perdoar ou ser perdoado, (pelo outro ou pelos filhos), o espinho de não ser bem aceite na Igreja onde afinal quer procurar o amor que um dia Deus semeou no seu coração.

E o amor de Deus é imprescindível para que possam perdoar, pedir perdão e serem perdoados.

Essa capacidade, se assim podemos chamar-lhe, de perdoar, pedir perdão e ser perdoado, parte muito da vontade do homem, mas com a fraqueza do homem, se não for iluminada pelo amor de Deus, nunca será um perdão completo, mas sim algo que a memória sempre recordará com mágoa, tristeza e às vezes até ressentimento.

Só amor de Deus pode trazer a paz a esse recordar traumático de um divórcio, e trazer o amor a uma nova relação.

O amor de Deus encontra-se, ou melhor, faz-se encontrado na relação íntima e pessoal com Jesus Cristo, na oração e entrega de cada um, mas também, e sempre, em Igreja, na oração e celebração comunitária, primordialmente na comunhão do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas a estes nossos irmãos está vedada a admissão à Comunhão Eucarística, alimento divino para esse encontro tão pessoal e íntimo com Jesus Cristo.
E isso dói-lhes, magoa-os, porque sentem a necessidade imperativa de receber Jesus Cristo.

Mas não é a comunhão eucarística a única forma de comungar Cristo, ou seja, de permanecer n’Ele, de estar em comunhão com Ele, de sentir a sua presença viva nas nossas vidas, pois como muito bem sabemos, também nos alimentamos do Senhor na Palavra de Deus, como nos afirma a Constituição Dogmática Dei Verbum no seu número 21, «A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo.», bem como na oração pessoal e comunitária e nas boas obras que fazemos pela graça de Deus.

No rebanho, nem todas as ovelhas caminham da mesma forma, nem todas as ovelhas se alimentam do mesmo modo, e no entanto o pastor ama todas as suas ovelhas e com todas se preocupa e por todas se entrega.

Temos que ser então nós, Igreja, a mostrar, a testemunhar, a envolver, estes re-casados no amor de Deus, para que mais do que verem a Igreja como uma instituição, com regras e normas, vejam e sobretudo sintam a Igreja como amor de Deus aos homens, a todos os homens, e pela sua própria participação em Igreja acabem por perceber e viver a necessidade da obediência em amor, e parta deles próprios a decisão de não se aproximarem da Comunhão Eucarística, mas vivam a comunhão espiritual, como o alimento divino que o próprio Jesus Cristo lhes dá, porque os ama com amor infinito, como ama todos os homens.

Precisamos então, tantas vezes, de amaciar o nosso coração, de colocar as nossas certezas mundanas de lado, de colocar o amor de Deus no nosso entendimento da Doutrina, das regras e das normas da Igreja, para assim podermos acolher, ajudar e amar estes irmãos que procuram Deus, e se sentem tantas vezes como «ovelhas sem pastor».

Como diz São Paulo na Carta aos Colossenses no capítulo 3 versiculos 12 e 14:
«Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência» e ainda «acima de tudo isto, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição.»

Só Deus, só o Espírito Santo nos pode conduzir a encontrar esses caminhos de acolhimento e amor, que esses irmãos tanto procuram e querem encontrar na Igreja.

Só o Espírito Santo nos pode ensinar a sabedoria, sabedoria de Deus, para dizermos as palavras certas, para termos as atitudes certas, que transmitam o amor de Deus, e assim sendo, já não serem palavras nossas, mas palavras inspiradas pela sabedoria divina e assim tocarem os corações daqueles que as ouvem.

Então só na oração pessoal e íntima, na oração em Igreja, na celebração em Igreja, na comunhão eucarística e adoração ao Santíssimo Sacramento, presença viva e real de Jesus Cristo, encontraremos caminho, discernimento, palavras e amor, que o Espírito Santo derramará em nós, para podermos cumprir a missão de acolher e amar essas «ovelhas sem pastor», de tal modo, que se sintam e se vivam como Igreja que são.

Que neste momento de adoração a Jesus Sacramentado, coloquemos nas suas santas mãos todos aqueles que vivendo estas difíceis situações O procuram de coração aberto, para que, abrindo Ele também os nossos corações, possamos ser Igreja que acolhe, que conduz, que ama, Igreja testemunha do amor de Deus derramado em todos os homens.


Joaquim Mexia Alves



Nota:
Por convite do “meu” Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, orientei no dia 7 de Abril, uma recoleção para sacerdotes, no Santuário de Fátima.
As coisas que Deus faz na minha vida!
Os textos são, obviamente, algo extensos, pelo que os publicarei aqui em diversas partes.
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quarta-feira, 9 de abril de 2014

OS "RE-CASADOS" SÃO IGREJA (2)

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E um divórcio envolve sempre perdão, perdoar e ser perdoado se se pretende viver a fé cristã em Igreja.

Percebemos assim que, mesmo numa nova relação em que tudo pode correr bem, a marca do divórcio não deixa de existir e como tal pode transportar sofrimento, revolta e falta de compreensão, sobretudo para a vivência de uma fé alicerçada no Deus que é amor, numa Igreja que deve transmitir continuamente esse amor de Deus.

Obviamente, reflectimos aqui sobre aqueles que divorciados são re-casados, querendo viver a fé cristã em Igreja e como tal são confrontados com a Doutrina da Igreja que os impede, sobretudo de aceder à Confissão e Comunhão Eucarística.

«Deus é amor», escreve São João na sua Primeira Carta no capítulo 4, versículo 8
Foi Ele quem nos amou primeiro, pois sem o seu amor não poderia o homem amar, como nos diz S. João na mesma carta 4, 19 «Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro.»

O amor de Deus é o amor de inteira doação, de entrega total, pelo seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Sem este amor doação, não há relação verdadeira, pois quem ama dá-se.
O amor perfeito é então o amor de Deus, o amor de Cristo, que se dá inteiramente por todos e por cada um de nós.
O nosso amor é imperfeito, porque é humanamente fraco, mas também por causa da nossa relação com Deus, é um amor que procura a doação, a entrega, porque vindo de Deus e por Ele abençoado.

Assim, para o homem procurar esse amor que é todo doação, amor imprescindível ao Matrimónio, é necessário que também o primeiro e central mandamento do Matrimónio, seja amar a Deus sobre todas as coisas, amar a Deus mais do que à sua mulher, ao seu marido, aos seus filhos, para que no amar primeiro a Deus, o homem receba do amor de Deus a capacidade de se dar no amor.

Por isso Deus tem que ser a presença constante no Matrimónio.
Tem que ser Aquele que não só abençoa o Matrimónio, mas que o faz acontecer, servindo-se do homem e da mulher para serem sinais visíveis da sua presença no sacramento, melhor dizendo, serem sacramento, serem sinal da presença de Deus na família e na sociedade.

Então e numa nova relação daqueles que mesmo divorciados procuram Deus, daqueles que procuram viver a fé no seu dia-a-dia em Igreja, também Deus está presente?
Claro que Deus não pode deixar de estar presente, porque Deus ama todos os homens, independentemente da condição de cada um, em todo e qualquer momento.
Mas mais ainda, (se assim podemos dizer), numa relação, (mesmo que canonicamente irregular), em que homem e mulher procuram viver o amor de Deus em família.

E essa nova relação em que homem e mulher procuram Deus, e por isso Deus está presente, não significa, obviamente, também, que o amor está presente?
E se está presente o amor, que leva a procurar Deus, então não é esse amor, o amor vindo de Deus?

E se o amor que os une nesta nova relação é também o amor vindo de Deus, então é o amor doação, é o amor que leva à entrega de si mesmo, de cada um ao outro, mas que não fica confinado a eles, pois sendo amor de Deus em cada um, abre-se também aos outros, («aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê» 1 Jo 4, 20), abre-se à comunidade, ou seja, é o amor que ama e une a Igreja, mãe e mestra.

Mas se homem e mulher, nessa nova relação, amam com esse amor de Deus, esse amor de Cristo, amam com doação, com entrega, então amam também com obediência, porque a obediência faz parte do amor a Deus, a obediência em amor, de que Cristo é testemunha perfeita, e assim amam também a Igreja e, por isso mesmo, devem amar tudo o que a Igreja lhes diz, porque é nessa obediência que fazem a vontade de Deus, como Cristo fez a vontade do Pai.

«Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.» Fl 2, 5-8

Assim, se nós Igreja, (citando mais uma vez o Papa Emérito Bento XVI na Sacramentum Caritatis, «Os pastores, por amor da verdade, são obrigados a discernir bem as diferentes situações, para ajudar espiritualmente e de modo adequado os fiéis implicados.»), soubermos colocar todo o nosso empenho, toda a nossa entrega ao Espírito Santo, saberemos ajudar aqueles que nessas novas relações como casais, sofrem pelo afastamento da Comunhão Eucarística.

E eles saberão, mais do que saberem, sentirão que esse amor que vivem, vindo de Deus, é amor de doação e de entrega, sem dúvida, mas é também amor que leva à obediência, porque só assim ele é verdadeiro amor de Deus.

Então o acto de não comungarem eucaristicamente, é afinal um acto de imenso amor, amor a Deus, amor ao outro, amor aos filhos, amor aos outros, amor à Igreja, testemunha de amor verdadeiro, e afinal e ainda, um sacrifício agradável a Deus, que não deixará de derramar as suas bênçãos e as suas graças sobre essa família.

Compete-nos então a nós, Igreja, saber acolher, saber compreender, saber aceitar sem condenar, saber ajudar aqueles que vivem esse «problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira praga do ambiente social contemporâneo que vai progressivamente corroendo os próprios ambientes católicos» como afirma, mais uma vez, Bento XVI na Sacramentum Caritatis.


(continua)
Joaquim Mexia Alves


Nota:
Por convite do “meu” Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, orientei no dia 7 de Abril, uma recoleção para sacerdotes, no Santuário de Fátima.
As coisas que Deus faz na minha vida!
Os textos são, obviamente, algo extensos, pelo que os publicarei aqui em diversas partes.
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terça-feira, 8 de abril de 2014

OS "RE-CASADOS" SÃO IGREJA (1)

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Esperamos, com alguma ansiedade, o Sínodo sobre a Família que o Papa Francisco convocou para este ano e o próximo.
Há uma enorme expectativa sobre tudo o que o Sínodo poderá dizer sobre a Doutrina da Igreja acerca da Família, e muito particularmente sobre o Sacramento do Matrimónio e as situações chamadas “canonicamente irregulares”.

Desde João Paulo II, mais especificamente com a Exortação Apostólica Familiaris Consortio, que essas situações entraram na ordem do dia-a-dia da Igreja, não só reafirmando a Doutrina da Igreja sobre o Sacramento do Matrimónio, mas chamando a atenção para o cuidado, a dedicação, que a Igreja, pelos seus sacerdotes e leigos, devem prestar aos leigos que vivem essas situações.
Bento XVI é ainda mais veemente nessa chamada de atenção, particularmente na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, afirmando:

«29. Se a Eucaristia exprime a irreversibilidade do amor de Deus em Cristo pela sua Igreja, compreende-se por que motivo a mesma implique, relativamente ao sacramento do Matrimónio, aquela indissolubilidade a que todo o amor verdadeiro não pode deixar de anelar. Por isso, é mais que justificada a atenção pastoral que o Sínodo reservou às dolorosas situações em que se encontram não poucos fiéis que, depois de ter celebrado o sacramento do Matrimónio, se divorciaram e contraíram novas núpcias. Trata-se dum problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira praga do ambiente social contemporâneo que vai progressivamente corroendo os próprios ambientes católicos. Os pastores, por amor da verdade, são obrigados a discernir bem as diferentes situações, para ajudar espiritualmente e de modo adequado os fiéis implicados. O Sínodo dos Bispos confirmou a prática da Igreja, fundada na Sagrada Escritura (Mc 10, 2-12), de não admitir aos sacramentos os divorciados re-casados, porque o seu estado e condição de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, que é significada e realizada na Eucaristia. Todavia os divorciados re-casados, não obstante a sua situação, continuam a pertencer à Igreja, que os acompanha com especial solicitude na esperança de que cultivem, quanto possível, um estilo cristão de vida, através da participação na Santa Missa ainda que sem receber a comunhão, da escuta da palavra de Deus, da adoração eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos.»

Estas pessoas sofrem, sofrem realmente, mais ainda quando nos debruçamos sobre aqueles que querendo viver a Fé em Igreja, se sentem de algum modo colocados de lado, ou, no mínimo, (talvez porque não devidamente esclarecidos), afastados de viver essa fé na sua totalidade.

É difícil a essas pessoas muitas vezes entenderem essa situação, essa posição doutrinal da Igreja.
E é difícil porque são pessoas que vivem normalmente já uma situação de dor interior, uma situação até de indignação porque alguns foram vitimas do divórcio, e como tal, a revolta dentro delas “impede-as” de alguma forma, de terem a paz necessária e suficiente para compreender o que a Igreja lhes diz sobre a sua situação.

O divórcio é algo que marca profundamente aqueles que o sofrem.
É em primeiro lugar uma falha num projecto de vida a dois, (a maior parte das vezes acompanhados de um ou mais filhos), e os projectos que falham na vida de cada um, sobretudo projectos que envolvem sentimento, emoção, a própria vida, marcam indelevelmente essas vidas.
E ao marcar essas vidas, o divórcio torna-se presença constante no dia-a-dia daqueles que o vivem, mesmo até, naqueles que reconstituem uma família, ou seja, aqueles a quem se convencionou chamar re-casados.


Numa nova relação, (sobretudo se houver filhos da relação anterior), o divórcio anterior está sempre presente, porque há a necessidade de manter a relação anterior numa certa concórdia, especialmente por causa dos filhos existentes.
Ora essa necessidade de concórdia, essa “presença” da relação anterior, é real e muito assídua, e de alguma forma faz aqueles que a vivem, reviverem algo que não lhes é de modo algum agradável, mas antes pelo contrário, magoa e fere, porque constantemente lembra o que falhou.
Lembremo-nos ainda, que a parte da nova relação que não teve um divórcio, tem sempre, (somos humanos e a vida entre um homem e uma mulher tem sempre esta parte), sentimentos episódicos em que tende a comparar a vida da relação de agora, com a relação que o outro viveu, com tudo o que isso arrasta de possíveis incómodos, inseguranças, e até ciúmes, o que também se torna real para a parte que viveu o divórcio.

Todas estas situações envolvem uma enorme carga emocional, sentimental, em que os encontros e desencontros estão muito presentes, e em que há uma necessidade absoluta do amor, verdadeiramente amor vindo de Deus, pois só nesse amor de Deus o homem consegue alcançar a capacidade de perdoar, pedir perdão e ser perdoado. 


(continua)
Joaquim Mexia Alves

Nota:
Por convite do “meu” Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, orientei ontem, 7 de Abril, uma recoleção a sacerdotes, no Santuário de Fátima.
As coisas que Deus faz na minha vida!
Os textos são, obviamente, algo extensos, pelo que os publicarei aqui em diversas partes.
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quarta-feira, 2 de abril de 2014

DÁ-ME DE BEBER, SENHOR

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Dá-me de beber,
peço-te eu,
Senhor,
dessa água viva que Tu tens,
água que nos dá vida,
água que nos faz viver.


Dá-me de beber,
peço-te eu,
Senhor,
que tenho sede de Ti,
tenho sede do teu amor.

Dá-me de beber,
peço-te eu,
Senhor,
quero a água que me dás,
a água da alegria,
que nos leva à tua paz

Dá-me de beber,
peço-te eu,
Senhor,
que não quero mais ter sede,
que não quero ter mais fome,
mas apenas ser só teu,
sempre teu,
no teu amor.


Marinha Grande, 02 de Abril de 2014
Joaquim Mexia Alves
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