segunda-feira, 26 de junho de 2023

DIÁLOGOS COM O SENHOR 26

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«Não julgueis e não sereis julgados.» Mt 7, 1



- Pois, Senhor, mas é muito raro alguém ouvir-me a dizer mal ou a julgar o outro em público.
- Talvez seja um pouco verdade, meu filho, mas achas tu que só aquilo que sai da tua boca é que é julgamento e dizer mal dos outros?
E no teu pensamento?
E naquilo que interiormente pensas do outro, embora o possas não dizer de viva voz?
Não fazes tu um julgamento do outro?
Não “dizes” tu mal do outro para ti mesmo?

- É verdade, Senhor, realmente e afinal julgo e penso muitas vezes mal do outro no meu pensamento! Perdoa-me, Senhor!
- Sabes que quando o fazes assim nem sequer dás ao outro a possibilidade de responder ao teu julgamento, à tua maledicência em pensamento? Fica irremediavelmente manchado pelo teu pensamento.

- Reconheço, Senhor, que assim sou, que assim faço.
- Calcula tu que podias escutar os pensamentos dos outros em relação a ti? Não te revoltarias com a maior parte deles porque achavas para ti que não eram justos? Mas já percebeste que não lhes podias responder porque estavam apenas no pensamento dos outros?

- Mais uma vez, Senhor, perdoa-me e ajuda-me a não julgar nem dizer mal de ninguém, nem em público nem de viva voz. Purifica, Senhor, o meu pensamento e o meu falar.
- Sabes bem meu filho que tens sempre o meu perdão, por isso não te esqueças de confessar esses pecados da próxima vez que te abeirares da Confissão.
«Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Jo 8, 11




Marinha Grande, 26 de Junho de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 22 de junho de 2023

DIÁLOGOS COM O DIABO (17)

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Diz ele: Porque estás para aí preocupado com o que hás-de rezar?
Digo eu: Porque às vezes não sei o que dizer-Lhe, como hei-de estar com Ele.

Diz ele: E julgas que Ele se importa? Julgas que Ele tem necessidade das tuas orações?
Digo eu: Não é uma questão de Ele se importar ou não, nem sequer uma questão de Ele ter necessidade das minhas orações. Eu é que tenho necessidade d’Ele, eu é que necessito absolutamente de estar com Ele e Lhe dizer da vida que Ele me deu.

Diz ele: Então e julgas que Ele não sabe do que necessitas?
Digo eu: Eu sei muito bem que Ele sabe do que eu necessito, mas também sei que quando a Ele me dirijo agradecendo e pedindo, estou a reconhecer que Ele é Deus e tudo pode e que me ama com amor eterno.

Diz ele: Se Ele te amasse com esse amor eterno, não precisava que te dirigisses a Ele pois dava-te de imediato o que precisasses.
Digo eu: Lá estás tu a querer confundir-me. Já te disse que Ele não precisa de nada de mim, a não ser que faça a Sua vontade, mas até isso que Ele muito deseja que eu faça, é para minha salvação e nada acrescenta ao Seu amor por mim.

Diz ele: Mas porque é que tens de fazer a vontade d’Ele e não a tua? Então tu não sabes bem o que é melhor para ti?
Digo eu: Às vezes dás-me vontade de rir, embora tu não tenhas graça nenhuma. Claro que a vontade d’Ele é o melhor para mim, porque só Ele sabe do que necessito para ser feliz e viver no amor. A minha vontade é fraca, e muitas vezes até és tu que a queres comandar, por isso te incomoda que eu procure fazer a Sua vontade.

Diz ele: E julgas que tu me interessas para alguma coisa? Só falo contigo para ta ajudar a encontrares o teu caminho.
Digo eu: Dizes bem, que eu não te interesso para nada. Eu não te interesso, mas enquanto filho de Deus queres a minha perdição porque julgas que será uma vitória na tua luta contra o bem. Desengana-te porque Ele já te venceu e por isso mesmo O procuro para permanecendo n’Ele também eu vença as insidias com que me provocas.

Diz ele: És um chato! Não se pode falar contigo que estás sempre de “pé atrás”.
Digo eu: Não tenhas dúvidas de que assim estou sempre que te insinuas para falares comigo. Mas pensando bem até te agradeço esta conversa.

Diz ele: Agradeces-me???
Digo eu: Sim agradeço porque no início desta nossa conversa disseste que Ele não tem necessidade das minhas orações, e realmente não tem, por isso mesmo agora cala-te, porque eu quero estar com Ele em silêncio, porque é muitas vezes no silêncio que eu sinto o Seu amor e Ele “fala” comigo.



Monte Real, 22 de Junho de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 19 de junho de 2023

DIÁLOGOS COM O SENHOR 25

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- Quem achas tu que és?
- Oh, Senhor, essa pergunta, perdoa-me, deveria ser respondida por Ti, pois Tu é que me conheces total e perfeitamente, como nem eu me conheço.

- Mas Eu não te perguntei quem és, mas sim quem achas tu que és?
- Oh, Senhor, quem acho eu que sou? Perante Ti apenas posso responder que sou um homem fraco e pecador que Te procura insistentemente para saber verdadeiramente quem sou.

- Mas que dizes tu de ti próprio?
- Digo que quando me confronto percebo que sou orgulhoso, vaidoso, muitas vezes convencido de ser melhor do que outros e que isso é, infelizmente, uma constante na minha vida.

- Não lutas tu contra tudo isso que agora me dizes?
- Sim, Senhor, Tu sabes bem, todos os dias, mas é tantas vezes uma luta que me parece não conseguir ganhar, embora tenha consciência de que, apesar de tudo, vou tendo pequenas vitórias.

- E travas essa luta sozinho?
- Eu julgo que não, Senhor, porque Te sei a meu lado, comigo, mas muitas vezes parece que me deixas, permitindo que eu caia, para depois me levantares e eu perceber que é em Ti e Contigo que estas lutas se travam.

- Então tu achas que só tens defeitos?
- Não, Senhor, verdadeiramente tenho de reconhecer, espero que humildemente, que também tenho qualidades, dons ou talentos, porque me vêm da Tua graça.

- E o que fazes com essas qualidades, com esses dons ou talentos que Eu te dou?
- Tento, Senhor, tento sempre colocá-los ao Teu serviço, servindo outros, mas infelizmente muitas vezes me ufano deles.

- Mas reconheces que não são teus, mas sim fruto da minha graça?
- Sim, Senhor, acredito, quero acreditar, que são Teus e apenas fruto da Tua graça.

- Achas então que não os mereces, ou melhor, que Eu não tos deveria conceder?
- Oh, Senhor, quem sou eu para saber o que mereço ou não e o que Tu deves conceder e a quem. Acredito que Tu não concedes essas graças por qualquer merecimento, que nunca teremos, mas por Tua livre vontade, que não conseguimos abarcar totalmente.

- Não fazes então nada para receber esses dons ou talentos que a minha graça te concede?
- Se alguma coisa faço, Senhor, é porque Tu me conduzes e ajudas a fazê-lo pelo Espírito Santo. Talvez, Senhor, eu esteja disponível, ou melhor, me entregue a Ti e assim podes actuar em mim e servires-te de mim para Te servir, servindo outros.

- E achas que isso é pouco? Achas que essa disponibilidade e entrega tentando fazer a minha vontade é pouco?
- Que sei eu, Senhor, pobre de mim da verdade das minhas razões? Só Tu, Senhor, sabes verdadeiramente da sinceridade dessa minha disponibilidade e entrega. Abandono-me, ou desejo abandonar-me a Ti e que seja verdade em mim também o Sim de Tua Mãe.

- Olha, meu filho, quem mede o teu orgulho, a tua vaidade, o teu convencimento, sou Eu e não tu, por isso descansa porque enquanto reconheceres essa luta dentro de ti, Eu estarei sempre aqui para te ajudar a lutar, e sempre te abençoarei com o meu perdão, cada vez que me procurares com arrependimento, confessando as tuas fraquezas.

Baixo os olhos e digo cheio de alegria serena, de confiança reforçada, de esperança concretizada:
- Obrigado, Senhor, porque me amas apesar de mim!



Monte Real, 19 de Junho de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 15 de junho de 2023

CONVERSAS NO CAMINHAR II

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Provocação - O que é a Verdade?
Reflexão - Já me fiz essa pergunta muitas vezes e ao relembrar Jesus perante Pôncio Pilatos é claro que só posso responder que a Verdade é Jesus Cristo, é Deus.
Ele próprio nos disse: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida»

P - Mas se a Verdade é Jesus Cristo, é Deus, como podemos nós chegar ao conhecimento da Verdade?
R - Bem, parece-me que chegando ao conhecimento de Deus chegaremos ao conhecimento da Verdade.

P - Mas Deus, embora o possamos conhecer, nunca O conheceremos plenamente enquanto vivemos na terra, porque Deus é também Mistério, não é?
R - Realmente teríamos de considerar que se assim é nunca poderemos chegar, durante a nossa vida terrena, ao conhecimento da Verdade em toda a sua plenitude.

P - Mas que Verdade é esta de que falamos?
R - Bem, falamos da Verdade perfeita, ou seja, não falamos de uma verdade que apenas se poderia considerar a “não mentira”, o “não verdadeiro”, o “engano”, a “manipulação”, mas sim uma Verdade que transforma, que nos enche, que é justiça, que nos faz encontrar com Deus, com o nosso verdadeiro eu.

P - Mas uma Verdade assim vai para além da nossa compreensão. Quer dizer, de um modo geral em tudo o que fazemos, tudo o que dizemos, tudo o que pensamos, há sempre muita coisa que não é verdade, ou seja, que não é perfeita, que não é pura.
R - Sim, isso é verdade, mas não é a Verdade. O nosso conhecimento de Deus é imperfeito enquanto aqui vivemos, assim como o nosso conhecimento da Verdade, julgo eu, também será imperfeito.

P - Então para o conhecimento da Verdade temos também que considerar a Fé? Quer dizer, a certa altura o nosso caminho para a Verdade tem que ter a Razão iluminada pela Fé?
R - Talvez uma analogia com o amor nos possa fazer perceber melhor tudo o que estamos a falar.
Nós conhecemos o amor, mas não o conhecemos plenamente. Para conhecermos o amor pleno teremos, julgo eu, que estar na presença de Deus. Mas isso não impede que tentemos conhecer o amor, que tentemos viver o amor, que tentemos ser amor.

P - Mas nós temos tantos defeitos, tantas fraquezas, como poderemos nós almejar viver agora o amor plenamente?
R - Parece-me perceber nas palavras de Nicodemos quase uma resposta a isso.
«Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura poderá entrar no ventre de sua mãe outra vez, e nascer?» Jo 3, 4
Se pudéssemos entrar novamente no ventre da nossa mãe e viver ali como vivemos então no tempo de gestação, nada haveria em nós que pudesse macular o amor, pois ainda nada tínhamos aprendido, ainda nada tínhamos analisado, ainda nada tínhamos “corrompido” com a nossa humanidade.
No entanto, até aí, até nesse momento eramos captivos do pecado original, pelo que o nosso amor estaria ferido na sua relação com Deus, e por isso o amor não seria perfeito, por isso a Verdade não era plena e total.

P - Mas então nesta vida nunca poderemos conhecer a Verdade como atrás dizíamos?
R - Julgo que não. Por isso Jesus Cristo responde a Nicodemos que «aquilo que nasce do Espírito é espírito.» Jo3, 6. Só no Espírito Santo podemos caminhar se queremos almejar conhecer a Verdade.
E disse ainda «Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz» Jo 3, 21 o que para mim, significa que quando procuramos Deus, quando praticamos a Sua Palavra, quando procuramos viver segundo a Sua vontade, aproximamo-nos de Deus, aproximamo-nos da Verdade, aproximamo-nos do Amor.

P - Mas tu queres conhecer a Verdade?
R - Com todas as minhas forças, com toda a minha alma, com todo o meu ser, porque a Verdade para mim é Deus, é o Amor e eu quero, pela graça de Deus, viver na Verdade, no Amor em Deus.

P - Mas na tua vida aqui não o conseguirás!
R - Pois não, mas tenho a confiança na promessa de Jesus Cristo «que todo o que nEle crê tem a vida eterna.» Jo 3, 15 e, por isso, posso já viver na Verdade, no Amor, em Deus, se procurar em tudo fazer e viver segundo a Sua vontade, porque assim, em mim, já está inscrita, pela graça de Deus, a vida eterna, que eu “já, mas ainda não”, vivo!

P - Então quando poderemos acreditar que conheceremos a Verdade plenamente?
R - Julgo perceber que tal só será possível perante Deus, na vida eterna plena. Só então pela graça de Deus, O conheceremos plenamente, (porque estaremos livres desta “tenda humana” que nos “aprisiona” na imperfeição), e então poderemos conhecer a Verdade e o Amor plenamente.





Marinha Grande, 15 de Junho de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 11 de junho de 2023

VER COM AMOR

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«Naquele tempo, Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus …»

Realmente percebemos a diferença entre o olhar, o acolher, o chamar de Jesus e o nosso modo de olhar os outros, até mesmo aqueles que nos são próximos.

Jesus viu um homem chamado Mateus, não viu um cobrador de impostos, um homem que trabalhava para o opressor daquele tempo.
Jesus quis ver quem era aquele homem Mateus, não quis ver o que era aquele homem, como ele se portava ou o que ele fazia.
Jesus quis amar e acolher aquele homem e assim poder, pelo amor, libertar aquele homem de tudo o que nele era errado.

Nós veríamos, em primeiro lugar, o tal odiado cobrador de impostos, o tal traidor que colaborava com o opressor, veríamos um pecador, sem cuidarmos de nos lembrarmos que também nós somos pecadores.
E por o vermos assim e assim tantas vezes vermos os outros nos seus defeitos, é que em vez de acolhermos e amarmos, ou melhor, de amarmos e acolhermos, é que não ajudamos ou somos ocasião para também os outros encontrarem o Jesus que amamos e queremos nas nossas vidas, porque só Ele nos dá a vida em abundância.

Mais à frente, na narração do Evangelho, e perante a forma como os fariseus vêem Mateus, (ou como nós vemos os outros, às vezes até mesmo em Igreja), Jesus diz-lhes que percebam bem o que quer dizer «prefiro a misericórdia ao sacrifício».

Realmente quantas vezes fazemos o que fazemos em Igreja por preceito apenas, e não o fazemos em primeiro lugar por amor a Deus e aos outros?

Interpretando literalmente a frase «prefiro a misericórdia ao sacrifício», pergunto-me o que me é mais difícil: Fazer um sacrifício de jejum, (que posso e devo fazer, sem dúvida), ou perdoar a quem me ofendeu?

Claro que uma não invalida a outra, mas de que vale o sacrifício se não faço a paz com o meu irmão, se não amo o meu irmão vivendo o mandamento de amor que Cristo nos deixou: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.»?

Uma coisa Te peço, Senhor, que me faças sempre ver no meu próximo, um irmão, que quero amar em vez de julgar.




Marinha Grande, 11 de Novembro de 2023
Joaquim Mexia Alves


Nota: Texto suscitado pela homilia do Padre Patrício Oliveira, pároco da Marinha Grande, na Missa das onze horas deste Domingo.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

CORPO DE DEUS PÃO DE DEUS

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Que Pão é este
que vindo dos Céus
alimenta o homem
e o faz eternidade em Deus.

Não é Pão de um momento
nem de existência efémera
é Pão de divino alimento
que leva à vida eterna.

Este é um Pão consagrado,
no sacrifício da Cruz,
é um Pão que nos é dado
prometido por Jesus.

Não é um qualquer maná
que perece brevemente
é Pão que Deus nos dá
por amor tão simplesmente.

Este Pão mata a fome
afasta a tristeza e a dor
é um Pão que se consome
como puro e eterno amor.

Dá-nos sempre deste Pão
nosso Deus, nosso Senhor
para que em cada coração
viva sempre o Teu amor.




Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
Marinha Grande, 8 de Junho de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 6 de junho de 2023

FAZER ANOS DEPOIS DOS SETENTA

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É curioso isto de ir fazendo anos a partir dos setenta, não digo de propósito envelhecendo, porque ficar velho é uma coisa e fazer anos é outra.

Podemos ir fazendo anos e, claro, as dores aparecem, as articulações não ajudam, uma série infindável de achaques fazem-se presentes, mas não temos que ficar velhos, isto é, não temos que ficar como aqueles que de quem se diz está um chato, está um velho!

O cérebro envelhece?
Não sei, não faço ideia, (tirando obviamente as doenças que o possam atacar), mas tenho para mim que continua a “trabalhar” perfeitamente e mais ainda, que nos guarda surpresas fantásticas.

É que faz-nos lembrar de coisas passadas a que não ligávamos nada, e agora são motivo para um sorriso que nos aparece na boca, para uma conversa, não só com os mais novos, mas também com os da nossa idade, conversas que a maior parte das vezes arrancam gargalhadas aos intervenientes e fazem as delícias dos mais novos que as ouvem.

Alguns desses mais novos até nos olham com aquele olhar de quem se espanta como o pai, o irmão, o amigo, fizeram aquelas coisas que estão a contar e, afinal, se divertiram tanto com coisas tão simples.

E quando avançamos para os acontecimentos mais arriscados, mas temerários, mais aventureiros, quase nos digladiamos amigavelmente a ver quem fez “pior”, mais arriscado, enquanto os mais novos ficam espantados com as loucuras que aquela gente de mais idade fez durante a vida.

Às vezes até ficamos todos orgulhosos quando os ouvimos contar aos amigos das suas idades, as aventuras do pai, do irmão ou do amigo!!!

E é curioso que não se cansam de ouvir repetidas essas histórias de um passado que não conheceram, e às vezes até são eles que no-las recordam, para que as repitamos, fazendo-o nós sempre com todo o gosto e acrescentando sempre um qualquer pormenor para dar mais sumo à história tantas vezes recontada.

A gente até pensa, às vezes, que devia escrever aquelas histórias, mas o que é verdade é que lidas perdem bastante do seu encanto e, claro, não lhes podemos acrescentar mais uma coisa ou outra que mesmo não sendo totalmente verdade, não são, com certeza, mentira e dão mais brilho à narrativa.

E o que é engraçado é que a gente só se vai lembrando destas coisas à medida que vamos fazendo anos, talvez assim a partir dos setenta, e por isso mesmo não vamos ficando mais velhos, vamos é acrescentado anos às histórias dos nossos anos!





Monte Real, 6 de Junho de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 1 de junho de 2023

EM ADORAÇÃO

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Ajoelhas-te no chão duro, baixas a cabeça, despes-te de ti, fazes silêncio em ti e entregas-te ao Espírito Santo, insistindo ternamente que Ele venha, te ilumine e guie.

Docemente deixas-te envolver no momento, abres os teus olhos e fixas longamente a Hóstia Consagrada, deixando que o Espírito Santo te mostre o Cristo vivo que ali está.

Não sabes o que dizer, o que orar, mas ao teu coração vem a certeza de que Ele te está a ouvir e a abraçar.

Percebes então que as tuas palavras têm pouca importância, porque o que importa verdadeiramente é o teu coração aberto a Cristo, é o teu ser todo inteiro desejar ardentemente estar totalmente na Sua presença, como naquela Última Ceia.

Deixas-te levar pelo Espírito Santo e vais até ao Monte das Oliveiras onde adormeces enquanto Ele ora ao Pai.

Ouves a sua voz e levantas-te apressado, mas depressa te afastas porque O vês ser preso e tens medo.

À distância segue-lO e juntas-te a outros que ali estão também, enquanto o interrogam, a Ele que é inocente.

Quando os que te rodeiam te perguntam se O segues, negas, porque tens medo, mas o olhar de compaixão com que Ele te olha faz-te arrepender e chorar amargamente.

Vê-lO carregar a cruz, mas mais uma vez o medo tolhe-te e não te aproximas para O ajudar.

Crucificam-nO à tua frente e quando Ele baixa a cabeça e num murmúrio diz que tudo está consumado, percebes então, porque o Espírito Santo to mostra, que Ele morreu por ti, que Ele morreu por todos nós.

Um silêncio maior toma conta de ti e agora nem sequer ousas olhar para o Jesus Sacramentado e murmurando baixinho vais dizendo: Perdão, Senhor, perdão!

Mas o Espírito Santo vem mais uma vez em teu auxílio e levanta-te a cabeça para que vejas no Sacramento da Eucaristia o Cristo glorioso que se faz ali presente, abrindo os braços para ti, chamando-te pelo teu nome, e dizendo-te que te ama com amor eterno.

Então surge em ti um grito abafado que te enche por completo e apenas podes dizer, repetindo sem cessar:

Obrigado, Senhor, obrigado!
Glória a Ti por todo o sempre!
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo pelos séculos sem fim!

Levantas-te e partes entusiasmado, com essa vontade dentro de ti de testemunhar a todos a alegria, a paz e o amor que vivem em ti porque Ele te ama e te faz amor para os outros.




Monte Real, 30 de Maio de 2023
Joaquim Mexia Alves


Nota: Na terça feira recebi a comunicação do grupo dos Irmãos Nómadas a que pertenço, à distância, visto que reúnem todas as quarta feira em Lisboa.
Nesta quarta feira fizeram adoração ao Santíssimo e, quando recebi a comunicação na terça feira, escrevi este texto que lhes enviei, como participação/união minha em oração.