quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

REFLEXÃO PARA UM NOVO ANO, OU PARA UM COMEÇAR DE NOVO!

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Por vezes subo à minha cruz e nela me deixo pregar pelas provações, pelas tristezas, pelos sofrimentos da minha vida.
Mas não resisto muito tempo e, perante a imediata falta de alívio, arranco eu mesmo os cravos, guardo a minha cruz no armário das coisas do passado e tento caminhar como se ela não existisse.
Mas de nada vale, porque ela me acompanha, pesa-me sobre os ombros e não me deixa esquecer.

É então que Ele vem, com aquele imenso olhar de ternura e amor, e me diz:
Porque não confiaste em Mim? Porque não esperaste em Mim? Porque preferiste ouvir o mundo que te disse: «Se és homem desce da tua cruz, porque tu és capaz sozinho.»

E eu respondo, envergonhado:
Mas, Senhor, Tu demoraste tanto!

Olha-me então nos olhos e fala-me cheio de amor:
Não vês, meu filho, que tu queres sempre começar pelo fim? Estás à espera que Eu chegue ao pé de ti e te diga - «Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.» Lc 5, 24 – quando é preciso que Eu comece por - «Homem, os teus pecados estão perdoados.» Lc 5, 20

Mas, Senhor, eu quero crer, eu quero confiar, eu quero esperar, mas é tão difícil, quando me deixo pregar na minha cruz!

Ele responde na sua amorosa e eterna paciência:
Sabes bem, meu filho, que se não for Eu a arrancar os cravos das tuas provações, das tuas tristezas, dos teus sofrimentos, eles ficarão sempre em ti, a ferir-te, magoar-te, a condicionar-te. Só Eu te posso libertar, porque só Eu te amo com amor eterno e só Eu me dei inteiramente por ti.

Olho-O nos olhos e digo com o coração transbordando:
Eu sei, Senhor, eu sei. Ajuda-me a crer mais, a confiar totalmente, a esperar sem desistir.

Toma-me então pela mão, aperta-me junto a Si e diz-me:
Sobe para a tua cruz. Crê que Eu estou sempre contigo. Espera e confia, porque vai chegar a hora em que Eu mesmo arrancarei das tuas mãos e dos teus pés os cravos que te prendem a vida. Depois subirás para a minha Cruz, feita Vida Nova para ti, e nela viverás comigo, «pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»


Marinha Grande, 30 de Dezembro de 2015
Joaquim Mexia Alves


Nota: 
Desejo a todas as pessoas amigas que lêem este espaço, um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.
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domingo, 20 de dezembro de 2015

CONTO DE NATAL 2015

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No frio da sua cela, só e sem alento, sentado na enxerga com a cabeça entre as mãos, pela milionésima vez pensava em tudo o que o tinha trazido até ali, àquela prisão que lhe retirava os anos jovens da sua vida.
Algumas más companhias, o álcool, os “charros”, a falta de encontrar interesses na vida que não fossem os imediatos, os prazeres rápidos e fortuitos, e aquela noite, aquela terrível noite que o tinha mandado directamente para a prisão.

E mais uma vez lhe veio a ideia, uma quase obsessão de fazer para o tempo, de recuar aos primeiros minutos daquela noite e fazer tudo diferente. Sobretudo parar o tempo antes daquele encontrão, que levou aos insultos e que num ápice lhe colocou aquela navalha na mão, que sem qualquer verdadeira razão, tinha espetado violentamente na barriga do outro jovem.
Ah, pudesse parar ali e ter oportunidade de dizer qualquer coisa como, desculpa, foi sem querer, e seguir caminho na noite.

Agora pensava assim, mas nos tempos que se seguiram a essa noite, durante o julgamento, e nos primeiros anos preso, uma raiva surda, um rancor, um quase ódio, tinham tomado conta dele. Afinal o culpado era o outro, que em vez de se afastar, em vez de ter percebido que o encontrão tinha sido sem querer, se “pôs a mandar vir” com ele, e por isso mesmo ele lhe tinha espetado a navalha na barriga. Morreu, mas a culpa era dele!

Mas os anos de prisão tinham-no amaciado. O sentir a vida tão jovem ainda, correr-lhe por entre os dedos, ali aprisionada, vivendo sem qualquer sentido, colocavam-no perante a realidade de perceber que afinal a culpa tinha sido dele e que o outro apenas tinha reagido como os jovens normalmente reagem. Era um arrependimento que pouco a pouco ia tomando conta do seu coração e curiosamente isso dava-lhe uma sensação de paz e de alívio.

Tinha havido uma audiência, (ou lá o que era), para analisar a sua possível libertação condicional, mas ele nada esperava, porque o seu comportamento anterior no julgamento, e durante os primeiros tempos na cadeia, não augurava nada de bom.

Era dia de Natal, (o que a ele dizia muito pouco ou nada), mas lembrava-se de uma ou duas conversas que tinha tido com o padre da prisão, que lhe tinha explicado de modo muito simples a história de Jesus Cristo, que tinha nascido no Natal e era Filho de Deus, segundo o padre, claro, e que tinha vindo para nos salvar com o seu sacrifício de amor.
Mal não fazia, pensou ele, e, ajoelhando-se no chão da cela, olhou para o Céu e disse: Não sei quem és e se estás aí, ou aqui, mas se me amas e se podes, ajuda-me como quiseres para que não perca totalmente a minha vida.

Levantou-se sem qualquer esperança de ser atendido no seu pedido e nesse momento um guarda chamou-o dizendo que tinha uma visita. Ficou admirado pois não esperava ninguém, mas seguiu o guarda até à sala de visitas dos presos.
Ficou ainda mais admirado e receoso quando viu que a visita afinal eram uma mulher e um homem, nos quais ele reconheceu os pais do rapaz que ele tinha morto naquela fatídica noite.
Não sabia o que fazer, mas o olhar que lhe lançaram e o aceno das mãos pedindo que fosse ter com eles, deram-lhe a necessária segurança para se aproximar, de cabeça baixa, envergonhado.
Não tinha sido nada fácil no julgamento senti-los a olhar para ele com um olhar duro que o trespassava. Mas não era esse o olhar que agora lhe devolviam.

Estás com certeza admirado de nos ver aqui? Ouviu ele dizer àqueles pais magoados e tristes.
Com uma voz quase inaudível respondeu: Sim!
Eles falaram novamente: Sabes, temos sabido da tua vida na prisão e sabemos que ultimamente te tens comportado muito bem e que até tens falado com o capelão da prisão.
É verdade, respondeu ele timidamente. Quero acreditar, mas é muito complicado, depois daquilo que fiz.
Eles disseram-lhe: Sabes, nós somos católicos acreditamos em Deus e no seu amor infinito e acreditamos também no seu perdão.
Olhou para eles admirado e eles continuaram: Sabes também que houve uma reunião para decidir a tua liberdade condicional. Nós quisemos estar presente e como nos ensinou Jesus Cristo, quisemos dizer ao juiz e às pessoas que lá estavam que te perdoávamos sinceramente e mais ainda, que tendo sabido do que se passava na prisão contigo, pedimos que te fosse concedida a liberdade condicional.

Levantou a cabeça, olhou para eles, os olhos encheram-se de lágrimas e não soube o que dizer.

Mas eles acrescentaram: Nós pedimos e foi-nos concedido que fossemos nós a trazer-te a notícia. Sais hoje em liberdade condicional e esse é o melhor perdão que te podemos dar. Quando saíres daqui do pé de nós, podes ir fazer o teu saco, pois hoje mesmo vais passar o Natal a tua casa.

Ia dizer qualquer coisa, como obrigado, (sabia lá ele bem o que dizer naquela altura), mas eles interromperam-no e disseram-lhe: Teremos depois tempo para falar, mas para já agora o que deves fazer é acreditar, verdadeiramente acreditar, que neste Natal, Jesus Cristo nasceu para te salvar.


Joaquim Mexia Alves
Marinha Grande, Dezembro de 2015


NOTA: Com este Conto de Natal desejo a todas as amigas e amigos que visitam este espaço, um Santo Natal e um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.
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sábado, 5 de dezembro de 2015

UM CRISTÃO NUNCA MORRE!

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Com enorme reverência à inspiração única de Fernando Pessoa.
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«No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto, e arrefece.»

E ali,
Onde a terra se faz Céu,
Por causa da oração,
Daqueles,
Dos filhos Seus,
O morto ressuscita,
E a vida se acalenta,
Porque é vida verdadeira,
A vida querida de Deus.

«Tão jovem! que jovem era!»
O seu nome era conhecido
Por todos e pelos seus,
Era menino e vida,
Era um filho de Deus.

Bem perto, em Igreja, há prece,
Que o Céu o receba também,
(mistérios que só Deus tece),
Ressuscita e faz-se vida.
O menino filho de Deus.


«Aos mártires, jovens cristãos, mortos apenas por serem filhos de Deus»


Marinha Grande, 5 de Dezembro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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sábado, 28 de novembro de 2015

ADVENTO (II)

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Começa agora o tempo da esperança,
no Céu já brilha a luz gloriosa
da estrela auspiciosa
que aponta o caminho
do Nascimento em Belém.

Abre-se o coração
vai nascer o Salvador
Aquele que um dia na Cruz,
vai transformar a dor
na eterna salvação.

Ao longe
e dentro de nós,
já se ouve dos anjos,
a doce e amorosa voz,
que nos enche de felicidade:
«Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens,
de boa vontade!»


Marinha Grande, 28 de Novembro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

PERANTE O ÓDIO APENAS O AMOR VENCERÁ!

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Ao vermos e ouvirmos as notícias sobre os atentados em Paris, na Nigéria, no Quénia, pelo mundo fora, baseados, segundo os seus autores, numa qualquer missão dada por um deus que não existe, os nossos sentimentos humanos, cristãos, católicos, são colocados à prova, ou seja, se cedemos ao mais fácil que é a raiva, o rancor, que leva rapidamente ao ódio e à vingança, não ficaremos muito diferentes do que aqueles que os perpetraram
Afirmo que é uma “missão dada por um deus que não existe”, porque o Deus Criador que dá tal total liberdade à criatura, só pode ser um Deus de infinito amor e como tal, um Deus que apenas ama, que é vida e não pode odiar, pelo que, nunca pedirá àqueles que O seguem missões de ódio e de morte.

Mas perante o horror, perante a barbárie, os nossos sentimentos “baralham-se” e damos connosco a desejar que tal gente sofra na pele aquilo que fez sofrer aos outros, desejamos secreta ou mais abertamente uma forte retaliação, que os coloque perante o sofrimento, e também e assim, julgamos nós, os faça mudar de vida.

Mas este mudar de vida, para quem vive no ódio e para o ódio, só pode acontecer se encontrarem o Amor, amor com maiúscula, sim, ou seja o próprio Deus, e não um qualquer ser demoníaco que eles seguem como se fosse Deus.

E como se levam as pessoas ao amor?
Só se pode levar alguém ao amor, com amor! Não há outra forma!

E sim, é verdade, o amor exige muitas vezes ou sempre, o ensinar, o corrigir, até o castigar para ensinar e corrigir, mas tudo na proporção certa, ou seja, que não transforme a “correcção fraterna”, numa atitude que possa ser confundida com raiva, com ressentimento e até com vingança.

Obviamente, e infelizmente, julgo que neste caso específico dos terroristas ditos islâmicos, (por favor não lhes chamemos estado islâmico porque é dar-lhes o que eles não têm), terão que acontecer intervenções armadas com o fim de os conter, sobretudo para proteger os inocentes, sejam eles quais forem, cristãos, muçulmanos, ateus, enfim pessoas como nós.

Mas tenho para mim que essas acções militares de nada valerão, se não houver da nossa parte uma entrega profunda e intensa à oração, intercedendo continuamente por esta gente que anda perdida no ódio e na morte.
Só Deus no e com o seu amor, pode mudar estes corações, e a nós compete-nos como missão, interceder por eles em oração, dar testemunho do Amor, não odiando, e sendo “mansos e humildes de coração” como é Nosso Senhor.

«Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.» Mt  5, 48

E, claro, a mesma intercessão de oração e testemunho de amor, pelas vitimas, para que Deus as console na sua dor e para que retire do seu coração sentimentos de rancor e ressentimento, ou desejos de vingança, que apenas lhes provocarão ainda mais dor.

Difícil, muito difícil, mas não impossível pela graça de Deus!


Marinha Grande, 16 de Novembro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A “CARIDADE” QUE EU PRATICO!

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Ao ouvir a homilia do Pe Patrício, (Vigário paroquial da Marinha Grande), dei comigo a reflectir sobre o modo como pratico a caridade, sobretudo, quando se trata de valores em dinheiro.

E fiquei envergonhado comigo próprio!
É que constatei de imediato que quando pretendo dar algum valor à Igreja, a alguma obra de assistência, etc., a primeira coisa que faço é contas ao futuro, ao que poderei ou não precisar, (considerando sempre uma “almofada de segurança”), e então disponibilizar o que julgo me poderá sobrar, ou melhor, poderei “dispensar” sem “perigo” para o meu futuro, ou seja, para aquilo que considero a minha comodidade.

E porque me envergonha tal prática?
Primeiro porque penso primeiro em mim, nas minhas comodidades, não pensando nos outros, e sobretudo no facto de que aqueles que são necessitados, nem têm comodidades com que se preocupar, mas apenas falta das necessidades básicas para viver.
Segundo, porque esta prática revela também, para mim, uma enorme falta de confiança em Deus e na Sua providência, que como aprendi e tantas vezes testemunho, (afinal apenas da “boca para fora”), nunca falta àqueles que n’Ele confiam e a Ele se entregam.

E então, devo dar tudo o que tenho?
Julgo que não, que não é essa a vontade de Deus, mas sim que eu seja capaz de ir mais além, quer dizer, que eu seja capaz de dar não apenas o que me sobra, mas também um pouco daquilo que me possa faltar.

Pois é, isto de querer ser santo é muito difícil!!!

A parte do rezar, do servir, do arrepender-se, do pedir perdão, de levar uma vida correcta cheia de bons pensamentos, etc., até nem é muito difícil, na maior parte das vezes.
Agora quando toca ao dar, quando toca a dar indo mais longe do que aquilo que sobra, para dar o que possa fazer falta, aí torna-se muito complicado e muito mais difícil.
E ainda mais se quisermos dar com verdadeira caridade, ou seja, sem os outros saberem e sem esperar recompensa!

És mesmo exigente, Senhor, mas Tu também nunca disseste que era fácil!

Sê-lo-á apenas quando nos despojarmos inteiramente de nós e decididamente nos entregarmos a Ti, deixando que sejas Tu a fazer o que for de Tua vontade, nas vidas que nos deste, Senhor.


Joaquim Mexia Alves
Marinha Grande, 9 de Novembro de 2015 
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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

“FELIZ DIA DE FIÉIS DEFUNTOS!”

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Hoje, (como em todos os dias nas minhas orações), lembro-me deles!

Os meus pais, as minhas irmãs e irmãos, as cunhadas e cunhados, o meu sobrinho, os meus sogros, os meus amigos, os meus camaradas de armas, os meus amigos sacerdotes e todos os que já passaram na minha vida.

Há uma saudade agradecida, porque me puseram no mundo, porque me ensinaram, porque me aconselharam, porque me castigaram no tempo certo, porque me rodearam de amor, porque me protegeram, porque me apoiaram, porque riram comigo e comigo choraram, porque me defenderam, (como se a minha vida fosse a deles), porque em mim confiaram e de mim duvidaram, (quando era importante duvidar de mim para o meu próprio bem), porque até o mais novinho de todos que já nos deixou, me ensinou, (sem nada dizer), que o mais importante de tudo é o amor!

E não há tristeza em mim quando os recordo, mas uma imensa calma e serenidade, uma alegria discreta por terem feito parte da minha vida, um agradecimento total e fervoroso a Deus Nosso Senhor, por me ter feito cruzar as suas vidas e as suas vidas cruzarem a minha vida.

E assim a minha vida foi mais abundante, e sê-lo-á ainda mais, porque junto de Deus velam por mim.

Por favor entendam, porque me apetece quase dizer: Feliz dia de Fiéis Defuntos!


Marinha Grande, 2 de Novembro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (10)

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Quantas vezes já experimentaste abandonares-te a Mim, sem ligares à tua vontade e aos teus interesses?
Algumas vezes, Snhor, algumas vezes.

E qual foi o resultado desse abandono a Mim?
Uma paz imensa e o encontrar caminho para as situações que vivia e que nem sempre era o caminho da minha vontade.

E depois?
Ah, Senhor, depois, logo a seguir, a certeza inabalável de que estás sempre comigo.

Então porque teimas tantas vezes em quereres estar sozinho, afastando a minha presença da tua vida?
Porque sou fraco, Senhor, porque sou pecador, porque tenho medo, nem eu sei bem de quê.

Então não temas, refugia-te mais na oração. Ela te levará ao abandono de ti, e nesse abandono encontrar-me-ás, porque Eu estou sempre contigo.
Obrigado, Senhor, nas Tuas mãos me entrego!


Monte Real, 28 de Outubro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

AMAR O AMOR!

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Amar o Amor
é amar maior
é amar o Senhor!

Amar o Senhor
é amar a alegria
que ultrapassa a dor,
que se pode amar,
quando se ama o Amor.

Amar a dor,
amando o Senhor,
é amar o eu,
e o outro,
que se faz amor,
por causa do meu Senhor.

E quem se faz amor,
por causa de Nosso Senhor,
é amor que tudo ama,
na alegria e na dor.

Amar o Senhor,
encarnado Redentor,
eterno Salvador,
Jesus Cristo, Nosso Senhor,
é amar maior,
é amar o Amor.


Joaquim Mexia Alves
Marinha Grande, 16 de Outubro de 2015 
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terça-feira, 13 de outubro de 2015

DIÁLOGOS COM O DIABO (11)

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Diz ele: Vês, precisavas agora de ajuda para escreveres os tópicos para o que deves falar naquele tema na Igreja, e Ele nada te diz? Vês, como Ele não está sempre contigo?

Digo eu: Estás enganado e queres-me enganar. Claro que Ele está sempre comigo, eu é que nem sempre estou com Ele, ou melhor, nem sempre estou aberto para O ouvir.

Diz ele: Podes dizer o que quiseres, mas a verdade é que ainda não escreveste nada e nem uma ideia te veio à cabeça!

Digo eu: Pois, o problema deve estar aí! Estou a pensar demasiado com a cabeça e muito pouco com o coração.

Diz ele: O que queres tu dizer com isso?

Digo eu: Quero dizer que estou a querer fazer apenas por mim, aquilo que Ele quer que eu faça com Ele, segundo a sua vontade.

Diz ele: E como sabes tu isso?

Digo eu: Já sabia antes, mas agora tenho a certeza!

Diz ele: Essa é boa, porquê?

Digo eu: Porque tu me vieste “atazanar” a paciência, o que significa que te deixei entrar um pouco na minha cabeça e assim me distraíres do que é realmente importante.

Diz ele: Vou-me embora, és um ignorante!

Digo eu: Vai, vai, que vou invocar o Espírito Santo e onde Ele está, tu não podes estar. E como vês, Ele está sempre comigo e com todos que a Ele se abrem, de tal modo que até me deu para escrever este texto.


Joaquim Mexia Alves
Monte Real, 13 de Outubro de 2015
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domingo, 4 de outubro de 2015

AH, E SOBRETUDO AMO OS OUTROS!

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Como tantas vezes me acontece, lá acordei às 6 horas da manhã, (nunca consigo perceber se sou eu que acordo ou é Ele que me acorda), e lá veio mais uma história ao meu coração.
Aqui a deixo.




Chegou à esplanada do café, sentou-se e abrindo o jornal começou a ler as notícias.

Percebeu que o empregado se aproximava, mas não deixou de ler o jornal. Ouviu então uma voz alegre e jovem perguntar:
O que deseja?
Respondeu secamente:
Um café!
A voz, ainda sem rosto, retorquiu-lhe:
Com sorriso ou sem sorriso?

Admirado levantou os olhos do jornal, e olhando viu a cara de um jovem, indelevelmente marcada pelo Síndrome de Down, que lhe sorria esperando a resposta.
Não pode deixar de sorrir e disse:
Com um sorriso, claro!

Viu o rapaz partir “saltitando” ligeiro entre as mesas, dirigindo-se ao balcão para ir buscar o seu café.

Quando ele regressou à sua mesa com o café, disse-lhe:
Vê-se que gostas do que fazes!
O rapaz respondeu, sem deixar de sorrir:
Pois, deram-me este emprego, assim sirvo às mesas, sinto-me útil e posso falar com as pessoas, sorrir-lhes, e elas gostam.
Arriscou e perguntou-lhe:
E fazes mais alguma coisa, para além disto?
A cara iluminou-se, espelhando uma muito sincera e incontida gargalhada e ouvi-o dizer:
Ah, e sobretudo amo os outros.
E lá foi ele deslizando por entre as mesas distribuindo e arrancando sorrisos de cada cliente do café.

Colocou o jornal na cadeira ao lado e decidiu saborear aquele café com um verdadeiro sorriso.
Um pensamento lhe veio ao coração e à cabeça:
Oh meu Deus, afinal é tão simples e nós complicamos tanto! "Fazei-vos pequeninos e de vós será o Reino dos Céus, a começar já", pensou ele, numa frase que com certeza Jesus diria também com o Seu rosto a sorrir.

Levantou-se, pagou deixando uma generosa gorjeta, procurou o olhar do jovem empregado e acenou-lhe um adeus a sorrir, imediatamente retorquido com um sorriso ainda maior.
Ao caminhar pela rua apenas uma frase tomava conta de si:
Ah, e sobretudo amo os outros; ah, e sobretudo amo os outros; ah, e sobretudo amo os outros….


Marinha Grande, 4 de Outubro de 2015
Joaquim Mexia Alves


Dedico esta história à minha sobrinha Rita, ao Zé Alberto, seu marido, e aos seus filhos, o Lourenço, meu afilhado, e o João.
Dedico-a também à nossa família, a todas as famílias.
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terça-feira, 29 de setembro de 2015

EM FRENTE DO SACRÁRIO

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Como rezar?
Como falar contigo, Senhor?
Como fazer-Te companhia?

Ajoelho-me em frente do sacrário, ou melhor, em frente de Ti.
Quero passar uns momentos contigo, falar contigo, estar contigo, fazer-Te companhia, dizer-Te que não me esqueço de Ti e que estou aqui para Ti, para o que de mim precisares.
Quero estar aqui apenas para estar contigo, nem Te quero pedir nada neste momento. Aliás Tu sabes tudo o que preciso!

Sento-me no banco, coloco a cabeça entre as mãos, e penso comigo próprio: Anda, Joaquim, fala agora com Ele, diz-Lhe o que te vai no coração, faz-Lhe companhia, que tantas vezes Ele está aqui sozinho.

E estará mesmo sozinho?
Então e aquelas e aqueles que vão pensando n’Ele, rezando com Ele e a Ele, durante o dia e em tantos lugares, não lhe fazem companhia também?
Pois, porque Ele não se “confina” a este sacrário, “apenas” se faz aqui presença mais visível, mais sensível, mais tocável, mas no fundo e realmente, está em todos e em todos os lugares, por isso de alguma forma sempre alguém O acompanha e fala com Ele.

Bem, mas estou a distrair-me da missão a que me comprometi: Vir aqui, estar com Ele, fazer-Lhe companhia, enfim, rezar e falar com Ele.

Mas porquê?
Porque Ele precisa da minha companhia, da minha conversa ou das minhas orações?
Claro que não, que não precisa para Ele de nada disso.
Apenas precisa na medida em que me ama com amor infinito e sabe que se eu estiver com Ele, falar com Ele, rezar com Ele e para Ele, encontrarei a verdadeira vida, encontrarei caminho, serei mais feliz, e disso Ele precisa muito, porque me ama com amor infinito e quem ama, quer ver o outro feliz.
E precisa porque todo Ele é amor, vive para o amor e do amor, vive para dar amor, ensinar amor, até o amor ser tudo em todos.

Afinal o tempo passa e passou e nada conversei com Ele, nada rezei, nem Lhe fiz companhia, porque estive ocupado a pensar em como o fazer, e acabei por nada fazer.
Desculpa, Senhor, amanhã eu volto, e se Tu me ajudares encontrarei palavras, encontrarei orações, encontrarei maneira de Te fazer companhia.

Um sussurro chega aos meus ouvidos: Obrigado, Joaquim! Mais do que a companhia que Me fizeste, aprendeste de Mim, e essa conversa que julgaste não ter, fui Eu a falar em ti e para ti.

Olho-Te no amor, prostro-me e digo: Obrigado, Senhor, porque como sempre me surpreendes, me levas a Ti e Te fazes presença na minha vida! Pobre de mim pecador, que não mereço o teu amor!


Marinha Grande, 29 de Setembro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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terça-feira, 8 de setembro de 2015

HOJE FOI BAPTIZADA A RITA!

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Hoje foi baptizada a Rita.

Claro que podem perguntar: E quem é a Rita?
E eu respondo que a Rita é filha de uma amiga minha e de seu marido, claro, pessoas que me habituei a ver na minha paróquia da Marinha Grande e que vou guardando no meu coração, primeiro por afinidades várias e depois também por algumas “coisas de/em Igreja” que já fizemos juntos.

E a Rita?
A Rita é um “doce” que se tornou mais doce como filha de Deus!

Confesso que não sei se mais alguém foi batizado hoje na minha paróquia, mas bastava a Rita, para que a comunidade paroquial se dever encher de alegria e gozo, porque a família de Deus foi aumentada em número e graça.

E isso leva-me a pensar que tinha prometido a mim próprio estar à porta da Igreja, para bater palmas e saudar a minha irmã Rita, e afinal outras coisas aconteceram, bem menos importantes, e eu não fui fazer a festa da família de Deus!

Vamo-nos acomodando, vamos descobrindo razões para um certo número de atitudes, e até temos um provérbio que afirma que “a boda e baptizado não vás se não fores convidado”.

E se é percebível que não se deve ir a casa de ninguém, (mesmo amigo), se não se fores convidado, coisa bem diferente é a festa da família de Deus, celebrada em Igreja e na igreja, onde toda a comunidade se devia juntar, para festejar, ou melhor ainda, celebrar a chegada de um novo “amor de Deus”, consubstanciado numa “qualquer” Rita, obra dos homens, pela graça de Deus.

Por isso hoje, perdoa-me Senhor, porque não saí do meu comodismo, para festejar a chegada da tua nova filha à nossa família, à tua família.

Penitencio-me, rezando pela Rita, pelos seus pais, pelos seus padrinhos, pela comunidade paroquial da Marinha Grande, pela tua e nossa família, meu Deus.

E à Rita, aos seus pais, aos seus padrinhos, que Deus vos abençoe, guarde, proteja e ilumine para que mostrais o caminho à Rita e com o vosso testemunho lhe deis forças para o caminhar.


Marinha Grande, 6 de Setembro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A VIAGEM DA ESPERANÇA

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Senhor,
morres na praia,
na indiferença dos homens,
que têm o amor na boca,
mas não lhes chega,
ao coração.

Senhor,
morres ali,
naquelas ondas do mar,
onde nos enviaste a pescar,
o próximo,
nosso irmão.

Senhor,
morres na cruz,
do egoísmo da humanidade,
a cruz de cada pessoa,
quer Te conheça,
ou não,
como o Cristo,
Jesus.

Senhor,
abres o teu Coração,
a cada um,
dos que morrem sem sentido,
na viagem da mudança,
que se faz eterna esperança
na tua Ressurreição.


Marinha Grande, 3 de Setembro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

DISTRAÍDOS NA FÉ!

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Entrou na igreja e ficou contente. Não estava ninguém, exactamente como ele desejava.
Em frente ao sacrário, ajoelhou-se, rezou algumas orações e depois sentou-se, olhando fixamente para a porta do sacrário, talvez esperando que ela se abrisse e de dentro saísse Jesus para falar com ele.

Riu-se interiormente da sua imaginação, mas rapidamente a sua cara tomou um ar grave e preocupado.
O assunto que ali o levava era uma situação séria, muito séria, que ele já não sabia como resolver e por isso ali se tinha dirigido para ter uma conversa mais séria e intima com Aquele que ele acreditava lhe poderia mostrar caminho e solução para o seu grave problema.
Numa voz inaudível para outros, ia repetindo: «Senhor, ajuda-me! Mostra-me o que fazer! Eu creio em Ti, mas ajuda-me! Fala, Senhor, que o teu servo escuta!»

Apesar de absorto na oração e na escuta, não pode deixar de perceber que alguém tinha entrado na igreja e se dirigia para o lugar onde ele estava.
Interiormente pediu: «Oh Senhor, eu queria tanto estar um pouco sozinho aqui contigo!»
Pelo “canto do olho”, olhou e percebeu que era aquela senhora, sempre muito problemática, com muitas histórias para contar, para a qual era precisa uma paciência sem limites. Deu um suspiro profundo e pensou se não seria melhor sair e voltar noutra altura em que pudesse ficar só.

Já não teve tempo, porque a dita senhora, rezadas umas apressadas orações de joelhos, sentava-se ao seu lado e já lhe dirigia a palavra, cumprimentando-o. Tentou ser o mais delicado possível, retribuindo o cumprimento numa vaga esperança de que ela se calasse e se fosse embora. Mas não, infelizmente não foi isso que aconteceu, pois ela percebendo na sua cara a preocupação, logo lhe perguntou se estava bem, se precisava de alguma coisa, se ela podia fazer alguma coisa por ele.
Balbuciou qualquer coisa entre dentes, para responder às insistentes perguntas, mas não houve nada a fazer, porque ela continuou numa lengalenga, sem se calar. Ele foi ouvindo as palavras que saíam da boca dela e que iam dizendo coisas do tipo: “pois todos temos problemas”, “a vida não é nada fácil”, “temos que aguentar e pedir a Deus que nos ajude”, etc., etc.
A certa altura começou a contar-lhe uma história complicada que se tinha passado com ela, (curiosamente parecida com o problema que estava a viver), mas com tantos pormenores, que era difícil e fastidioso prestar alguma atenção.

Entretanto a história lá chegou ao fim, com uma solução pelos vistos muito satisfatória, e quando ele se preparava para se levantar e sair, foi ela que o fez, agradecendo-lhe aquele bocadinho em que a tinha estado a ouvir.
Sorriu aliviado, despediu-se, e voltou à sua litania, da qual sobressaía, com um forte sentimento no coração, a oração: “Fala, Senhor, que o teu servo escuta!”

E insistia na oração, sem prestar atenção a mais nada, até que num momento de silêncio lhe pareceu ouvir uma voz que dizia ao seu coração: «Mas Eu já falei contigo! Já te disse o que precisavas saber!»
Admirado, olhou para o sacrário e então ouviu distintamente, (parecia-lhe a ele), a voz que repetidamente lhe dizia que tudo o que tinha de saber já lhe tinha sido dito.
Com algum receio que alguém o estivesse a ouvir, disse: «Mas quando, Senhor?»
Ouviu novamente a voz que lhe dizia: «Lembras-te da história que a senhora, (que consideraste maçadora e incómoda), te contou e tu nem querias ouvir?»
Respondeu: «Sim, Senhor, acho que me lembro!»
E novamente a voz: «E lembras-te como foi resolvida essa situação?»
Respondeu mais uma vez: «Ah, sim, Senhor, lembro-me perfeitamente!»
Uma só palavra interrogativa lhe respondeu: «Então?»

De joelhos, disse em oração: «Oh Senhor, estava tão concentrado em mim, no meu problema, sem dar atenção a quem dela precisava, que nem me apercebi que afinal a história era semelhante à minha situação e que a solução possível é aquela que me foi dita!»
Agradeceu profundamente ao Senhor tudo aquilo que lhe tinha sido dado, e não se esqueceu de rezar um Pai Nosso por aquela senhora que ele tão mal tinha julgado.

Antes de sair da igreja, olhou novamente para o sacrário e disse interiormente: «E dizemos nós tantas vezes que Tu não falas connosco, nem nos dás sinais! Distraídos na fé, é o que nós tantas vezes somos. Perdoa, Senhor!»


Monte Real, 26 de Agosto de 2014
Joaquim Mexia Alves
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