quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

REFLEXÃO PARA UM NOVO ANO, OU PARA UM COMEÇAR DE NOVO!

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Por vezes subo à minha cruz e nela me deixo pregar pelas provações, pelas tristezas, pelos sofrimentos da minha vida.
Mas não resisto muito tempo e, perante a imediata falta de alívio, arranco eu mesmo os cravos, guardo a minha cruz no armário das coisas do passado e tento caminhar como se ela não existisse.
Mas de nada vale, porque ela me acompanha, pesa-me sobre os ombros e não me deixa esquecer.

É então que Ele vem, com aquele imenso olhar de ternura e amor, e me diz:
Porque não confiaste em Mim? Porque não esperaste em Mim? Porque preferiste ouvir o mundo que te disse: «Se és homem desce da tua cruz, porque tu és capaz sozinho.»

E eu respondo, envergonhado:
Mas, Senhor, Tu demoraste tanto!

Olha-me então nos olhos e fala-me cheio de amor:
Não vês, meu filho, que tu queres sempre começar pelo fim? Estás à espera que Eu chegue ao pé de ti e te diga - «Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.» Lc 5, 24 – quando é preciso que Eu comece por - «Homem, os teus pecados estão perdoados.» Lc 5, 20

Mas, Senhor, eu quero crer, eu quero confiar, eu quero esperar, mas é tão difícil, quando me deixo pregar na minha cruz!

Ele responde na sua amorosa e eterna paciência:
Sabes bem, meu filho, que se não for Eu a arrancar os cravos das tuas provações, das tuas tristezas, dos teus sofrimentos, eles ficarão sempre em ti, a ferir-te, magoar-te, a condicionar-te. Só Eu te posso libertar, porque só Eu te amo com amor eterno e só Eu me dei inteiramente por ti.

Olho-O nos olhos e digo com o coração transbordando:
Eu sei, Senhor, eu sei. Ajuda-me a crer mais, a confiar totalmente, a esperar sem desistir.

Toma-me então pela mão, aperta-me junto a Si e diz-me:
Sobe para a tua cruz. Crê que Eu estou sempre contigo. Espera e confia, porque vai chegar a hora em que Eu mesmo arrancarei das tuas mãos e dos teus pés os cravos que te prendem a vida. Depois subirás para a minha Cruz, feita Vida Nova para ti, e nela viverás comigo, «pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»


Marinha Grande, 30 de Dezembro de 2015
Joaquim Mexia Alves


Nota: 
Desejo a todas as pessoas amigas que lêem este espaço, um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.
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domingo, 20 de dezembro de 2015

CONTO DE NATAL 2015

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No frio da sua cela, só e sem alento, sentado na enxerga com a cabeça entre as mãos, pela milionésima vez pensava em tudo o que o tinha trazido até ali, àquela prisão que lhe retirava os anos jovens da sua vida.
Algumas más companhias, o álcool, os “charros”, a falta de encontrar interesses na vida que não fossem os imediatos, os prazeres rápidos e fortuitos, e aquela noite, aquela terrível noite que o tinha mandado directamente para a prisão.

E mais uma vez lhe veio a ideia, uma quase obsessão de fazer para o tempo, de recuar aos primeiros minutos daquela noite e fazer tudo diferente. Sobretudo parar o tempo antes daquele encontrão, que levou aos insultos e que num ápice lhe colocou aquela navalha na mão, que sem qualquer verdadeira razão, tinha espetado violentamente na barriga do outro jovem.
Ah, pudesse parar ali e ter oportunidade de dizer qualquer coisa como, desculpa, foi sem querer, e seguir caminho na noite.

Agora pensava assim, mas nos tempos que se seguiram a essa noite, durante o julgamento, e nos primeiros anos preso, uma raiva surda, um rancor, um quase ódio, tinham tomado conta dele. Afinal o culpado era o outro, que em vez de se afastar, em vez de ter percebido que o encontrão tinha sido sem querer, se “pôs a mandar vir” com ele, e por isso mesmo ele lhe tinha espetado a navalha na barriga. Morreu, mas a culpa era dele!

Mas os anos de prisão tinham-no amaciado. O sentir a vida tão jovem ainda, correr-lhe por entre os dedos, ali aprisionada, vivendo sem qualquer sentido, colocavam-no perante a realidade de perceber que afinal a culpa tinha sido dele e que o outro apenas tinha reagido como os jovens normalmente reagem. Era um arrependimento que pouco a pouco ia tomando conta do seu coração e curiosamente isso dava-lhe uma sensação de paz e de alívio.

Tinha havido uma audiência, (ou lá o que era), para analisar a sua possível libertação condicional, mas ele nada esperava, porque o seu comportamento anterior no julgamento, e durante os primeiros tempos na cadeia, não augurava nada de bom.

Era dia de Natal, (o que a ele dizia muito pouco ou nada), mas lembrava-se de uma ou duas conversas que tinha tido com o padre da prisão, que lhe tinha explicado de modo muito simples a história de Jesus Cristo, que tinha nascido no Natal e era Filho de Deus, segundo o padre, claro, e que tinha vindo para nos salvar com o seu sacrifício de amor.
Mal não fazia, pensou ele, e, ajoelhando-se no chão da cela, olhou para o Céu e disse: Não sei quem és e se estás aí, ou aqui, mas se me amas e se podes, ajuda-me como quiseres para que não perca totalmente a minha vida.

Levantou-se sem qualquer esperança de ser atendido no seu pedido e nesse momento um guarda chamou-o dizendo que tinha uma visita. Ficou admirado pois não esperava ninguém, mas seguiu o guarda até à sala de visitas dos presos.
Ficou ainda mais admirado e receoso quando viu que a visita afinal eram uma mulher e um homem, nos quais ele reconheceu os pais do rapaz que ele tinha morto naquela fatídica noite.
Não sabia o que fazer, mas o olhar que lhe lançaram e o aceno das mãos pedindo que fosse ter com eles, deram-lhe a necessária segurança para se aproximar, de cabeça baixa, envergonhado.
Não tinha sido nada fácil no julgamento senti-los a olhar para ele com um olhar duro que o trespassava. Mas não era esse o olhar que agora lhe devolviam.

Estás com certeza admirado de nos ver aqui? Ouviu ele dizer àqueles pais magoados e tristes.
Com uma voz quase inaudível respondeu: Sim!
Eles falaram novamente: Sabes, temos sabido da tua vida na prisão e sabemos que ultimamente te tens comportado muito bem e que até tens falado com o capelão da prisão.
É verdade, respondeu ele timidamente. Quero acreditar, mas é muito complicado, depois daquilo que fiz.
Eles disseram-lhe: Sabes, nós somos católicos acreditamos em Deus e no seu amor infinito e acreditamos também no seu perdão.
Olhou para eles admirado e eles continuaram: Sabes também que houve uma reunião para decidir a tua liberdade condicional. Nós quisemos estar presente e como nos ensinou Jesus Cristo, quisemos dizer ao juiz e às pessoas que lá estavam que te perdoávamos sinceramente e mais ainda, que tendo sabido do que se passava na prisão contigo, pedimos que te fosse concedida a liberdade condicional.

Levantou a cabeça, olhou para eles, os olhos encheram-se de lágrimas e não soube o que dizer.

Mas eles acrescentaram: Nós pedimos e foi-nos concedido que fossemos nós a trazer-te a notícia. Sais hoje em liberdade condicional e esse é o melhor perdão que te podemos dar. Quando saíres daqui do pé de nós, podes ir fazer o teu saco, pois hoje mesmo vais passar o Natal a tua casa.

Ia dizer qualquer coisa, como obrigado, (sabia lá ele bem o que dizer naquela altura), mas eles interromperam-no e disseram-lhe: Teremos depois tempo para falar, mas para já agora o que deves fazer é acreditar, verdadeiramente acreditar, que neste Natal, Jesus Cristo nasceu para te salvar.


Joaquim Mexia Alves
Marinha Grande, Dezembro de 2015


NOTA: Com este Conto de Natal desejo a todas as amigas e amigos que visitam este espaço, um Santo Natal e um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.
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sábado, 5 de dezembro de 2015

UM CRISTÃO NUNCA MORRE!

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Com enorme reverência à inspiração única de Fernando Pessoa.
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«No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto, e arrefece.»

E ali,
Onde a terra se faz Céu,
Por causa da oração,
Daqueles,
Dos filhos Seus,
O morto ressuscita,
E a vida se acalenta,
Porque é vida verdadeira,
A vida querida de Deus.

«Tão jovem! que jovem era!»
O seu nome era conhecido
Por todos e pelos seus,
Era menino e vida,
Era um filho de Deus.

Bem perto, em Igreja, há prece,
Que o Céu o receba também,
(mistérios que só Deus tece),
Ressuscita e faz-se vida.
O menino filho de Deus.


«Aos mártires, jovens cristãos, mortos apenas por serem filhos de Deus»


Marinha Grande, 5 de Dezembro de 2015
Joaquim Mexia Alves
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