quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ANO VELHO, ANO NOVO

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Será que é mesmo um ano velho que se desapega de nós, para dar lugar a um novo ano, ou será que os dias continuam iguais e a coisa nova só acontece quando nós nos abrimos ao Novo?
Que interessa verdadeiramente que um ano acabe e outro comece, se em nós tudo continua igual e os momentos se sucedem numa continuidade de noites e dias, em que tudo permanece igual e a rotina se instala?
E podemos nós fazer diferente, sentir diferente, viver diferente?
E podemos nós fazer de cada momento um tempo novo, cheio de novidade, de confiança, de esperança?
Não, nunca o poderemos fazer, sentir ou viver se continuarmos a confiar apenas em nós, nas nossas capacidades, no nosso querer!
Não nunca o poderemos fazer, sentir ou viver, porque somos seres diminutos, num mundo enorme que não nos olha, não nos conhece, que nos toma a todos como coisa igual e sempre efémera!
Onde está então o golpe de asa que faz de nós mais além, que faz de nós coisa nova sempre diferente, que faz de nós iguais nessas diferenças, que faz de nós senhores do mundo e da nossa liberdade?
Está ali, está aqui, está em todo o lugar e em todo o momento, está em cada um, e em todos ao mesmo tempo!
Não se agarra, não se possui, mas sente-se e vive-se em cada um!
Se retido no egoísmo perde-se e não se encontra, se dado no amor, transforma-se e faz-se encontrado na vida!
Se vivido, comungado, partilhado, faz-se Um em todos e todos no Um, e vive-se na alegria da paz serena, porque é confiança e esperança sem fim!
Por isso, o ano velho não acaba em Dezembro, tal como o ano novo não começa em Janeiro!
O ano velho acaba quando saímos de nós, e o ano novo começa quando O deixamos viver em nós!
Porque então é tudo novo!
A tristeza que era só triste, veste-se agora de esperança, a alegria que era só ruído, torna-se agora paz e serenidade!
A saúde que era estar bem, agradece-se e faz-se graça, a doença que era dor, entrega-se agora, e faz-se amor!
A adversidade que era triste companheira, faz-se agora apenas coisa passageira, e a felicidade que era efémera, faz-se agora coisa eterna!
Até a vida que parecia acabar na morte, percebe agora a morte como passagem para a vida!
Ah sim, acaba então o ano velho, do passado sem vida, da igualdade dos dias à espera do esperado fim, para começar o ano novo, vivido na esperança de cada novo e diferente dia, na confiança do prometido amanhã!
E tudo isto porque o Jesus que nasceu, para todos e cada um, se faz assim Deus entregue, dado por simples amor, para ser vida em nós todos, por ser vida em cada um.
E então não há mais ano velho, porque tudo n’Ele é sempre novo!
Podemos mudar os dias, fazê-los sempre diferentes, podemos viver o mundo, vivendo em liberdade, podemos ser todos diferentes, fazendo-nos mais iguais, e podemos tudo isto, tudo isto e muito mais, porque nós nada fazemos, a não ser darmos o que somos, para que Ele tudo faça em nós, e nos demais.
Já não tenho ano velho, nem dele me posso desapegar, porque em mim é ano novo, ano novo permanente, porque é assim que Ele me transforma, a mim e a toda a gente, que a Ele se quer entregar!


Monte Real, 30 de Dezembro de 2009
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

NATAL - AMOR DE DEUS

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Quem já esteve com um recém-nascido ao colo apercebe-se bem da pequenez, da fragilidade, da simplicidade desse pequenino ser que, envolvido nas nossas mãos, ali se deixa estar, muito mais confiante, do que se estiver no berço, mesmo que seja o mais rico e confortável.

Lembro-me que, tendo eu umas mãos grandes, a minha mulher sorria ao ver os nossos filhos deitados na palma de uma das minhas mãos.

Tão frágeis, tão à mercê do mundo, tão sensíveis a tudo quanto à sua volta acontece, e no entanto tão confiantes naqueles que os rodeiam.

Penso então neste Menino que é Natal para cada um de nós e fico extasiado perante o amor de Deus.

O Deus Pai que nos criou e nos conhece bem melhor do que nós nos conhecemos, que conhece as nossas qualidades e os nossos defeitos, que percebe as nossas infidelidades e inconstâncias, ama-nos de tal modo que confia absolutamente em nós.

Se assim não fosse, como daria Ele o Seu Filho ao mundo, não para nascer como um rei de poder imenso, mas com a fragilidade de um recém-nascido que em tudo depende dos seus pais, daqueles que o rodeiam, que se deixa tocar e se sente confiante nas mãos dos homens que O tocam.

Este Filho que tem logo, desde o inicio da Sua vida no mundo, de fugir para não perecer pela maldade dos homens.

Este Filho que, tendo nascido como nós, é também um recém-nascido frágil e à mercê de tudo aquilo que qualquer homem queira fazer d’Ele.

Que amor, que humildade, que simplicidade, que entrega, é este nosso Deus em tudo o que se revela.

Podemos imaginar Aquele Menino nos braços de Sua mãe, na palma da mão de Seu pai na terra, e percebemos toda a fragilidade e simplicidade com que se entrega.

Transportemo-nos para o aqui e agora.
Outro tanto não é a Eucaristia?
Não se faz Ele pedaço de Pão, que colocado nas nossas mãos fica ao sabor da nossa vontade?
Não é Aquele pedaço de Pão nas nossas mãos, tão frágil como aquele Menino nos braços de Sua mãe?

Queria tanto conseguir explicar o que sinto, o que me vai na alma, o que me vai no coração, mas não encontro palavras, talvez porque não haja palavras, ou talvez porque qualquer palavra já seja demais para transmitir o que é o amor, a humildade, a simplicidade de Deus.

Perdemo-nos às vezes em discussões intermináveis sobre as coisas de Deus, tentamos fazer vingar os nossos pontos de vista, queremos mudar os outros com as nossas palavras e não entendemos que enquanto não alcançarmos a humildade, enquanto não nos deixarmos atingir pela simplicidade, enquanto não formos feitos de amor, nada do que dissermos fará sentido, nada do que dissermos transmitirá Deus aos outros, nada do que vivermos será testemunho de Deus em nós.

Se Jesus Cristo não fosse assim, Homem de pé no chão, feito de oração, amor transmitido em palavras simples, mais humilde do que os humildes, vergando-se à vontade dos homens, alguma vez as Suas Palavras teriam chegado tão longe?

Não, com certeza que não, porque o Pai nos conhece tão bem, que sabe muito bem que só na fragilidade os homens são tocados, só na simplicidade os homens melhor entendem, só na humildade os homens se tornam Homens.

Saberemos nós, verdadeiramente, alguma coisa de Deus, para além de sabermos que Ele nos ama e quer a nossa Salvação, a nossa felicidade?

Provavelmente não, mas afadigamo-nos em construir tantas vezes um deus à nossa medida, um deus que sirva a nossa vontade, que nem nos apercebemos que se a nossa vontade for o amor, for a humildade, for a simplicidade, Ele fará sempre a nossa vontade.

Então façamos nós ao contrário agora:
Façamo-nos nós recém-nascidos nos braços de Deus, deixemos que Ele nos coloque na palma das Suas mãos, façamo-nos frágeis, humildes, simples, e assim confiadamente abandonemo-nos n’Aquele que tudo pode e nada de mal nos acontecerá, e as nossas vidas serão testemunho, e os nossos gestos serão amor, e o nosso viver será humildade, e as nossas palavras serão simplicidade, porque serão d’Ele que fala por nós, tal como a mãe e o pai falam pelo seu filho que ainda não sabe falar.

Então poderemos dizer em Igreja e com a Igreja:
Vem Senhor Jesus, que eu quero renascer em Ti, por Ti e para Ti.


Monte Real, 24 de Dezembro de 2009
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CONTO DE NATAL 2009

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Curvado, mais pelo frio do que pelo peso da idade, caminhava apressado, arrastando os pés pela rua molhada, nem sequer sentindo que a água entrava pelos buracos dos sapatos já velhos e rotos.

Fosse esse o seu pior mal!

Tinha perdido a noção das horas e dos dias já há muito tempo, mas esta noite ele sabia qual era, e uma profunda tristeza juntava-se ao desespero da sua vida.

Era noite Natal, não tinha dúvidas, pois bastava olhar para as pessoas que por ele passavam, para perceber isso mesmo.

Enquanto caminhava naquela noite fria e chuvosa, a memória transportou-o para uma sala, onde uma lareira grande aquecia a casa e os corações à sua volta.
Mesmo ao lado da lareira o presépio, feito com todo o esmero, com musgo como deve ser, e com as figuras tradicionais que representavam aquilo que deviam representar.
No canto esquerdo da sala, a árvore de Natal, simples e discreta, porque devia ser o presépio a ocupar o lugar de destaque.
Por baixo da árvore, embrulhos de todas as cores e feitios, os presentes de Natal.

Não tinha a certeza, mas pareceu-lhe que, por debaixo da barba por fazer há tanto tempo, um sorriso se tinha aproximado dos seus lábios.

Pieguices, pensou ele, coisas do passado que já não voltam!

Mas isso obrigou-o a recordar a sua infância no Natal em casa dos seus pais, à volta do presépio, e a voz profunda do seu pai repetindo todos os anos:
Se deixarmos Jesus nascer nos nossos corações e se com Ele vivermos, nada nem ninguém nos pode tirar a paz e a alegria, e Ele nunca nos deixará sozinhos.

Tretas, disse ele entre dentes, tretas, basta bem olhar para mim!

Lembrou-se então que tinha seguido o conselho do seu pai durante uns anos.
O curso acabado, o primeiro trabalho, a primeira empresa, o seu casamento, a filha e o filho, a casa boa e a boa vida, uma aparente felicidade e a certeza de que nada lhe faltaria.
Algures durante esses anos afastou-se do conselho do pai e Jesus deixou de fazer parte da sua vida, embora, claro, comemorasse o Natal, tentando dar sempre os melhores presentes, até para mostrar como estava bem na vida.

E depois veio aquele ano terrível!
As finanças entraram em colapso, as encomendas deixaram de existir, deixou de haver dinheiro para os ordenados e finalmente os bancos exigiram o pagamento dos valores que tinha pedido para investir na empresa.
Num instante viu-se na rua, sem empresa, sem casa, sem nada e com uma vergonha impossível de suportar.
O mundo tinha-se abatido sobre ele e nada nem ninguém o podia ajudar!
Achava-se um nada, um ninguém, uma vida sem sentido e só a falta de “coragem” é que o impedia de pôr fim à vida.

Um dia não podendo suportar mais a vergonha, afastou-se definitivamente da família, dos filhos, e embrenhou-se na rua, onde passou a viver da esmola, da caridade, dos expedientes de momento, sem qualquer rumo, sem qualquer sentido, esperando apenas que a morte o levasse.

Tinha desistido de si próprio!

Tinha reparado como esta vida de rua, onde andrajoso e sujo agora vivia, podia transformar um homem em coisa nenhuma.
Havia pessoas que ele conhecia e passavam por ele na rua e, se ao princípio lhe parecia que o evitavam, rapidamente começou a perceber que agora nem o reconheciam, aliás, era um sentimento como se não existisse, ou seja, viam-no, mas era como se ele fosse transparente.

Já não havia nada a fazer, já não era ninguém, já não tinha sequer existência!

Lembrou-se então, nem percebia porquê, do conselho do seu pai, e pensou na sua miséria:
Será que se eu tivesse continuado a deixar nascer Jesus no meu coração, e a viver com Ele todos os dias, agora estaria melhor? Seria verdade que Ele estaria sempre comigo, até aqui na rua onde estou?

Voltou-lhe ao pensamento a frase que há um pouco tinha sussurrado entre dentes:
Tretas, basta bem olhar para mim!

Mas levado não sabia bem porquê, num murmúrio para si, quase desafiou Jesus dizendo:
Olha Jesus, hoje é noite de Natal. Por aqueles tempos em que Te segui arranja lá qualquer coisa que me faça sentir melhor!

Riu-se de si próprio, pensando que agora já não estava apenas só e sem nada, agora também estava louco!

Continuou a caminhar apressado, pois sabia bem que a carrinha daqueles jovens que lhes levavam à noite, comida e bebida quentes, devia estar a chegar ao sítio do costume, e ele queria ser dos primeiros, para ainda ter de beber e de comer.

Chegou enfim ao local quase ao mesmo tempo em que a carrinha aparecia, e reparou que felizmente ainda estavam poucos colegas de infortúnio à espera da distribuição da comida e da bebida.

Olhou para a carrinha e reparou que eram dois rapazes e duas raparigas que faziam a distribuição, mas logo desviou o olhar, porque se tinha vergonha de tudo, dos jovens ainda pior, talvez porque apesar de tudo, sentisse que lhes estava a dar um mau testemunho de vida, a eles que afinal ainda tinham a vida toda pela frente.

Aproximou-se de cabeça baixa e recebeu das mãos de uma das jovens uma caneca fumegante e um pedaço de pão com carne.
A jovem disse-lhe então com uma voz suave:
Ao menos olhe para mim!

Num momento fugaz levantou a cabeça de olhos fechados, com vergonha, e baixou-a imediatamente, afastando-se rapidamente do local.

Não tinha dado três passos sentiu uma mão no ombro e ouviu uma voz que lhe dizia agora mais insistentemente, quase numa súplica:
Olhe para mim!

Havia naquela voz algo familiar que o levou a levantar a cabeça e olhar nos olhos da jovem que lhe tocava.

Nesse momento ouviu outra vez aquela voz que lhe atingiu o coração, e dizia agora repassada de tristeza e alegria ao mesmo tempo:
Pai, ó pai, és tu?!

Deixou cair tudo no chão, pois aqueles braços apertavam-no de tal maneira que ele não podia quase respirar.

Abraçou-se a ela também, tremendo, a garganta seca, não o deixava proferir palavra.

Ouviu então novamente a voz da sua filha que lhe dizia:
Anda pai, vamos para casa. Temos estado todos os dias à tua espera!

Aquelas e aqueles que ali estavam à volta daquela cena, podiam jurar que naquele momento tinham ouvido um coro celestial que cantava:
Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados!


Monte Real, 3 de Dezembro de 2009
Com este Conto de Natal, quero desejar um SANTO NATAL a todas e todos os que visitam este espaço, comentando ou não.
Que o Nosso Salvador, Jesus Cristo Senhor, vos cubra e às vossas famílias, de bençãos, de paz, de alegria.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

SÃO JOSÉ

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Fico assim a olhar para as figuras do Presépio e os meus olhos detêm-se na figura de São José.

Quantas vezes meditamos na vida de São José?

Claro que o nascimento de Jesus Cristo prevalece sobre todos, sobre tudo e sobre todas as coisas.
Claro que a Virgem Maria é figura incontornável, porque disse sim, porque é a Mãe de Jesus Cristo, o Salvador.

E São José?

Podemos não compreender o Mistério da Encarnação de Cristo, a Sua concepção por obra e graça do Espírito Santo, pelo sim de Maria, mas compreendemos que nos planos de Deus estava o Nascimento do Seu Filho, como Homem igual em tudo e a todos, excepto no pecado.

Ora esse plano teria que incluir uma família, humanamente simbolizada num pai e numa mãe.

Temos então que nos deter também na grandeza de alma, na humildade e na entrega de José, que também ele disse sim à vontade de Deus, que também ele se entregou para que fosse feita na sua vida a vontade do Pai.

E não era fácil naquele tempo, como não é agora, saber que a sua noiva está grávida e que eles ainda não se «conheceram». Lc 1,34; Mt 1,25

Calculemos nós o que terá vivido José naquele tempo?
As suas dúvidas, as suas angústias, o seu receio de magoar Maria com uma lei que mandava apedrejar as mulheres adulteras.
E no entanto, muito provavelmente no seu coração vivia o sentimento de que tudo aquilo ultrapassava a sua compreensão, e que devia vir de Deus.

Homem justo, de oração e temente a Deus, tinha com certeza o seu coração aberto à vontade de Deus, pelo que a aparição do anjo em sonhos, Lc 2,20-24, o leva, do mesmo modo que Maria, a dizer sim à vontade do Pai.

E se José tivesse dito não?
Como seria possível a vinda do Salvador no seio de uma família?

Comparável à humildade de Maria, só a humildade de José, que em tudo se entrega para fazer a vontade de Deus.

E não era despicienda a figura de José, porque Deus o encarrega efectivamente de velar por aquela família, pois é a José que são mostrados os caminhos que devem percorrer para proteger Jesus Cristo, para proteger Maria, como na fuga para o Egipto, Lc 2, 13-15 e no regresso a casa, Lc 3, 19-21 e até e ainda onde a família devia morar Lc 3, 22-23.

E José era efectivamente na terra o pai de Jesus, pois Ele lhe era submisso. Lc 3, 51

E depois, nada mais os Evangelhos nos dizem sobre José, que tendo assistido ao Nascimento de Jesus, que tendo visto as maravilhas operadas no Seu Nascimento, já não tinha dúvidas no seu coração, e no entanto permaneceu na sombra, na humildade, na doação total da sua vida.

Como temos nós tanto a aprender com São José, que de tão humilde e entregue a Deus, ainda hoje passa tantas vezes despercebido em toda a vivência do Natal!
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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ONDE ESTÁ, Ó MORTE, A TUA VITÓRIA?

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Durante este ano fui por várias vezes confrontado com a morte de pessoas muito queridas e de algumas que conheci desde sempre.

Estes factos levaram-me a reflectir na minha própria morte, não como qualquer drama ou medo que hoje em dia não sinto, mas como análise da minha vida, do que fiz, do que faço e do que posso fazer ainda.

Isso levou-me também, (depois de ter participado em tantos funerais), a pensar o que desejaria eu que fosse o meu próprio funeral.

E cheguei á conclusão de que desejo muito pouco!

Aliás o meu único verdadeiro desejo é que seja uma festa, porque se o for, então é porque vivi a missão que o Senhor me deu, é porque vivi o mais possível segundo a Sua vontade.

Explico:

A minha família, os meus amigos e até os meus inimigos são convidados por este escrito, a acompanharem de perto a minha vida e exorto-os a que, sempre que me afastar do caminho de Deus, sempre que me deixar levar pelas minhas fraquezas, sempre que não perdoar prontamente as ofensas, sempre que não pedir perdão imediato pelas ofensas que cometo, sempre que discriminar alguém, sempre que fizer juízos de alguém, sempre que não amar alguém, pelo menos com o amor que Deus me dá, sempre que não tiver tempo para os mais velhos e compreensão e paciência para os mais novos, sempre que não corrigir o que sei estar errado em mim, sempre que tiver medo ou vergonha de testemunhar a fé na Santíssima Trindade, sempre que criticar a Igreja apenas para fazer coro com outros, enfim, sempre que não seja um verdadeiro filho de Deus, me avisarem, me corrigirem, me chamarem a atenção.

E se eu persistir no erro peço-vos que não desistam e que não me larguem até eu reconhecer o meu erro e consequentemente emendar a minha vida.

É que eu não quero que o meu funeral seja triste e dramático, e a verdade é que se eu me afastar do caminho que Deus sonhou para mim, sou eu que deliberadamente me afasto de Deus e me expulso a mim próprio do Paraíso que é o gozo eterno de Deus.

E então sim, tendes razão para chorar e vos lamentardes, porque aquele de quem vós gostáveis, se perdeu de Deus e se condenou irremediavelmente por sua própria vontade.

Mas se eu vos ouvir e passo a passo for procurando a vontade de Deus para a minha vida, se em todos os momentos for ramo da Videira nela permanecendo, se em cada dia e em cada hora for um verdadeiro testemunho do amor de Deus, se souber em cada momento sair de mim, para ser de Deus para os outros, então alegrai-vos e fazei a festa, uma grande festa, porque eu alcancei a maior e mais perfeita meta, que é a vida eterna na presença de Deus.

Nada em toda a vida que eu vivi, vivo ou ainda hei-de viver será comparável a esse momento em que me encontrarei com a felicidade perfeita e eterna.

Podereis alguma vez desejar coisa melhor para mim?

É que então o dia da minha morte, será o dia mais feliz da minha vida!

Então nesse dia peço-vos que abandoneis o preto, que as vossas vestes sejam cores e movimento, que os vossos cânticos sejam expressão de alegre louvor ao Nosso Deus, e que nas vossas caras esteja estampado o sorriso dos pais perante o recém-nascido.

É que se assim for, minha família, meus amigos, meus inimigos, eu alcancei a felicidade e quero apenas que a partilhem comigo na certeza de que junto de Deus, por Sua graça, não vos esqueço, e por vós esperando, intercedo continuamente, na comunhão de Todos os Santos, num canto de puro louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.




E depois de escrever este texto, fiquei a pensar no início do Advento e no sentido que para mim faz, a morte ser um novo nascimento para um encontro total e definitivo com o Deus de amor que me criou, se na liberdade que me concedeu, eu souber viver segundo a Sua vontade.
Como tal, só pode ser um momento de real e inimaginável felicidade!
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terça-feira, 24 de novembro de 2009

O TEU ABRAÇO, SENHOR

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O Teu abraço, Senhor,
é muito maior do que mundo.
Estendem-se os Teus braços de tal modo
que tudo,
mas mesmo tudo, e todos,
eles contêm e podem conter.
Contêm aqueles que Te amam,
e os que Te não têm amor;
Cabem neles os que riem,
e neles são aconchegados os que choram;
Recebes neles os que têm saúde,
e neles envolves os que padecem;
Neles estão os que batem com a mão no peito
e neles apertas os que Te repudiam;
Com eles guias os que aqui vivem,
neles recebes os que contigo já moram.
Por isso me sinto assim,
tão dentro do Teu abraço.
Porque quase sempre Te amo,
mas há momentos em que Te esqueço;
Porque há horas em que contigo rio,
e há tempos em que choras comigo;
Porque Te agradeço a saúde,
e Te louvo na doença;
Porque recebo o Teu perdão,
mas por vezes me escondo de Ti;
Porque por Ti me deixo guiar,
na esperança de contigo,
eternamente morar.
Os Teus braços, Senhor,
assim abertos na Cruz,
foste Tu que os abriste,
apenas para me abraçar,
e apertado a Ti,
junto ao Teu coração,
todo repleto de amor,
a Ti todo me entregar.

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terça-feira, 17 de novembro de 2009

SÓ POR ELE, SÓ COM ELE, SÓ N' ELE

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O que leva cerca de duas mil pessoas a saírem de suas casas e passarem um fim-de-semana em oração, ouvindo ensinamentos sobre a Palavra de Deus e a vivência diária da fé?

O que leva um sacerdote a viajar desde a longínqua África, deixando os seus muitos afazeres, para vir pregar a essas pessoas o amor de Deus?

O que leva essas mesmas duas mil pessoas a acreditarem que algo pode mudar as suas vidas, lhes pode trazer paz e alegria e até mesmo a cura dos seus males, psíquicos e físicos?

O que leva esse mesmo sacerdote, franzino e frágil fisicamente por algumas doenças, a disponibilizar-se inteiramente para ouvir, falar e rezar, por todos aqueles que dele se aproximam, apesar de cansado pelas pregações, numa total disponibilidade da sua vida?

O que leva essas pessoas a abrirem-se à misericórdia de Deus de tal modo, que as suas vidas mudam, que de uma vida conflituosa, renasce uma vida de conciliação e amor, e que algumas delas testemunham curas físicas mesmo diante dos nossos olhos?

O que leva essas pessoas a levantarem os seus braços para louvar, para cantar, para rezar, sem respeitos nem vergonhas humanas, como a lembrar-nos: «Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração.»Act 2,46?

O que leva um homem de 44 anos, (como eu tinha então), com vinte e cinco anos de vida sem sentido, perdida nos prazeres do mundo, a mudar radicalmente todas as prioridades da sua vida e a encontrar a paz, a esperança e a confiança no meio de imensas tribulações, que longe de desesperarem ensinam a caminhar?

E a resposta é simples, muito simples, e está ao alcance de todos com muito mais facilidade que a compra de livros de uns quaisquer gurus, ou meditações profundas, ou cursos complicados de auto satisfação!
A resposta é tão só e simplesmente:

Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se fez Homem como nós, nascido de Mulher como nós, que se alegrou e entristeceu, que riu e chorou, que comeu e teve sede, que se cansou e descansou, que falou e orou, e que no fim, por amor a todos e cada um de nós, padeceu, foi crucificado, morreu e ressuscitou, apenas e tão só por amor, para nos salvar, já, aqui e agora, porque «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos.» Jo 15,13
E também porque dentro do coração daqueles que acreditam há muito mais do que a esperança, há a certeza de que Ele está vivo, se entrega todos os dias nos altares em cada canto do mundo, e por isso mesmo, está sempre presente no meio de nós e em nós.
E essa certeza, essa Verdade, nada nem ninguém no-la pode tirar!

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Passei este fim-de-semana em Fátima, numa Assembleia do Renovamento Carismático Católico, Comunidade Pneumavita, orientada pelo Padre Alfredo Neres, Comboniano.
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

AMAR A DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS

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Seguiam com ele grandes multidões; e Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes:
«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo.
Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo. Lc 14, 26-27

Palavras duras, quase incompreensíveis, quase inaceitáveis para a nossa humanidade, para o nosso modo de pensar no dia-a-dia.

Como pode Jesus Cristo dizer-nos que O devemos amar acima daqueles que Ele mesmo nos deu, acima da vida que Ele mesmo criou em nós?

Parece quase um acto possessivo, ciumento, impossível de aceitação por nós, homens!

E no entanto são palavras de amor e revestidas de amor!

Poderíamos dizer tanto, meditar tanto sobre estas palavras, mas detenhamo-nos apenas naquilo que é mais directo às nossas vidas, ao nosso viver, aos nossos anseios e esperanças.

Se construímos as nossas vidas tendo em primeiro lugar o amor àqueles que nos rodeiam, sejam eles nossos pais, nossos filhos, nossa família, nossos amigos, estamos a construir a vida sobre algo que acaba, sobre algo que tem fim aqui neste mundo, e então quando esses nos faltam a nossa vida desmorona-se, torna-se quase impossível de viver, porque lhe falta tudo aquilo sobre que foi construída e vivida.
Sabemos bem que alguns até se desesperam, não conseguem reagir e assim sendo nunca mais têm alegria na vida, depois da morte de um ente querido.

Se construímos as nossas vidas colocando em primeiro lugar a nossa vida, ou seja, se é na nossa vida que colocamos toda a nossa esperança, todos os nossos anseios, toda a nossa confiança, estamos a construir a vida sobre algo muito frágil, e quando a doença acontece, quando o insucesso bate à porta, tudo se desmorona e não temos mais em que acreditar, em que confiar, em que esperar, por isso não aceitamos o que nos acontece, e são tantos os que põe termo à vida nessas circunstâncias.

É por isso que Jesus nos diz que Lhe devemos ter mais amor e acima de tudo o resto.

Porque é o Seu amor por nós e o nosso amor por Ele que devem iluminar e dar sentido a todos os nossos “outros amores”.
Com efeito, se amarmos os outros, a nossa vida, com o amor que nos vem de e com Cristo, impregnados do Seu amor, então tudo pode acabar, mas o amor não acaba, porque o amor de Deus é eterno.
E os outros, e a nossa vida, tudo se reveste de esperança, porque tudo está envolvido no amor comunhão com Deus e como sabemos e acreditamos quem morrer com Cristo, com Ele viverá.
«Mas, se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos.» Rm 6,8

Então vivendo em primeiro lugar esse amor a Deus, tudo tem sentido, até mesmo a partida daqueles que nos são queridos e que envolvidos por nós no amor de Deus, continuam por nós a serem amados na esperança sempre viva de que não morreram, vivos no amor e na paz de Deus.

E a nossa vida pode sofrer doenças, dificuldades, problemas, insucessos, porque muito mais do que a própria vida, vive em nós o amor de Deus e a Deus, e assim tudo isso que possa acontecer nos serve de caminho, nos serve de ensinamento, nos serve para percebermos que mesmo na adversidade, Deus nos ama, e que se O amarmos também com todas as nossas forças, tudo é vida, tudo é confiança, tudo é esperança.

Todos e tudo aquilo que nós possamos amar, os nossos pais, os nossos esposos, os nossos filhos, a nossa família, os nossos amigos, até o nosso trabalho e aquilo que temos, é fruto do amor de Deus, por isso só tem sentido se amarmos primeiro…o Amor que os criou.


Senhor,
ensina-nos a amar-Te acima de todas as coisas.
A amar-Te com o Teu amor,
a tudo amarmos com o Teu amor,
para que no Teu amor, tudo o que amamos,
seja vida e presença Tua
connosco e em nós.
Amen.
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

OS CRUCIFIXOS, AS ESCOLAS E O QUE ESTÁ POR DETRÁS

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Será muito importante para os cristãos, para os católicos, para a Igreja, a retirada dos crucifixos das escolas?
Correndo o risco de estar em desacordo com a maioria dos que lêem este espaço, acho que não, acho que até nem me incomoda muito esse facto, a concretizar-se.
É importante, isso sim, que esse crucifixo, ou melhor, que tudo aquilo que o crucifixo representa esteja bem vivo no coração, na vida de cada um, e não só no seu olhar.

Outra coisa bem diferente é a atitude subjacente à exigência dessa decisão do Estado, por imposição de uns quantos.
É que não nos enganemos, essa atitude é a continuação de todo o ataque que tem vindo a ser feito contra a religião cristã e particularmente a Igreja Católica, e aos seus valores, ao longo destes últimos anos.

Se olharmos para trás vamos vendo toda uma série de tomadas de posição com o intuito de afastar as pessoas da religião, (sobretudo cristã e católica), ao princípio tomadas “encapotadamente”, mas, perante a passividade dos cristãos, dos católicos, da própria Igreja, (por vezes preocupada com o politicamente correcto de “César”), exigidas agora com uma força e uma violência que vem do facto de se sentirem a desbravar terreno sem oposição.

E são muitos os que o fazem, ou exigem estas decisões?
Estou em crer que são bem poucos, (perante a "enorme" maioria daqueles que se afirmam cristãos e católicos), mas com uma força e uma perseverança que, ó ironia, Jesus Cristo pede aos seus discípulos.

Mas reparemos que estas tomadas de posição não são isoladas, não são momentâneas, mas sim fazem parte de toda uma acção, mais ou menos concertada e consciente, de afastar “de vez” os homens de Deus, porque sabem bem que nunca conseguirão afastar de vez ... Deus dos homens.

Ou julgamos nós que episódios como os de Saramago, ou de um qualquer político que se diz cristão e católico, mas a favor do aborto, etc., não fazem parte dessa mesma orquestração?

Vão-nos querendo impor restrições ao pensamento e à acção, com teorias de liberdade ditas democráticas, para que temerosos de sermos considerados fundamentalistas, ou qualquer outro palavrão parecido, nos fiquemos por uma “revolta” de silêncio, apenas com os mais chegados, e demos de barato tudo aquilo em que dizemos acreditar.

A Igreja, (que eu amo com todas as minhas forças e que eu sou também), tem a obrigação, o dever, de ser forte guia, clara no pensamento e na Doutrina, sem ambiguidades, que longe de ajudarem, apenas baralham os fiéis, (os verdadeiramente fiéis), na sua acção e no seu testemunho.

Nem por um momento podemos pensar que ao cedermos em determinadas coisas nos podemos manter em “exercício”, porque se cedermos no que parece “acessório”, muito rapidamente seremos obrigados a ceder no essencial.

Porque ao não mostrarmos a nossa forte indignação pela decisão de retirar os crucifixos das escolas, (que até pode ser uma decisão que em nada afecta a vivência da fé), estamos a caminhar muito rapidamente para as decisões que proibirão as procissões nas ruas publicas, e até, porque não, a retirada dos crucifixos e símbolos religiosos das frontarias das igrejas de culto, a proibição do uso de símbolos religiosos por parte dos cristãos, quem sabe até a proibição de um Bispo poder sair à rua nas suas vestes episcopais!

Ah pois, estou a exagerar!
Pois é precisamente com essa atitude que eles contam, a atitude do “não exageremos”, a atitude do politicamente correcto, a atitude de querermos viver a fé como se de coisa mundana e só mundana se tratasse.

Não, não sou adepto de guerras religiosas, nem de confrontos físicos, (já estive numa guerra, chegou-me bem), mas sou adepto, isso sim, de um testemunho forte e coeso dos cristãos, dos católicos reunidos em Igreja e por Ela acarinhados e defendidos.

Ou talvez não, (perdoem-me a “ironia”), talvez seja melhor deixar tudo andar até à proibição total, para que depois a Igreja sofredora e perseguida se erga na força do Espírito Santo, na força dos que derramam o seu sangue pacificamente pelo Deus de amor em que acreditam.
E hoje há muitas maneiras de derramar o “sangue”, mesmo sem ser o propriamente dito!

Volto ao princípio para dizer que não me incomoda particularmente a retirada dos crucifixos das escolas, mas sim que me incomoda e muito o que está por detrás dessa exigência, que me incomoda e muito a passividade dos cristãos e católicos, (nos quais me incluo), que me incomoda e muito a falta de uma tomada de posição firme e clara, da hierarquia da Igreja, que nos ajude e conduza no testemunho de vivência da Fé em Jesus Cristo, que dá sentido à vida humana, à vida que foi criada pelo Pai, no Espírito Santo, à Sua imagem e semelhança.


Dia de São Nuno de Santa Maria
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TODOS OS SANTOS OU TODOS SANTOS

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Lemos muitas vezes e detemo-nos nas vidas dos Santos.

Empolgam-nos essas vidas e sempre sentimos um sentimento de amor por eles e sobretudo pelo Nosso Deus que constrói e se faz presente nessas vidas.

Só que muitas vezes também, ligamos mais ao “acessório” que ao essencial. Quedamo-nos maravilhados com os milagres operados pela sua intercessão, (e não nos esqueçamos que os milagres são de Deus e que os Santos “apenas” intercedem), que passam a fazer parte da nossa memória, e repetimo-los vezes sem conta àqueles com quem conversamos, para tentarmos mostrar o amor e o poder de Deus vivo e presente no meio de nós e em nós.

E não tem mal nenhum fazê-lo, antes pelo contrário, são sinais da presença e do amor de Deus, mas temos de ir muito para além disso.

Com efeito, ao lermos e meditarmos na vida dos Santos, temos de ter sempre presente em nós, que o maior milagre que Deus faz, é a vida de cada um, e que as vidas dos Santos nos devem servir de testemunho, de exemplo, de guia.

Como se comportam os Santos perante as contrariedades?
Como vivem os Santos as alegrias?
Como enfrentam os Santos as tristezas?
Como aceitam e vivem os Santos o sofrimento?
Como vivem os Santos as suas vidas de oração?
Como vivem os Santos no seu dia a dia, (sobretudo estes Santos nossos contemporâneos), a sua entrega a Jesus Cristo e O reflectem para os outros?
Quais as atitudes dos Santos perante as questões da vida, na família, na sociedade e até na política?

A lista seria interminável, mas cada um de nós deve na especificidade da sua vida, de família, de trabalho, de sociedade, encontrar na vida dos Santos a resposta que deram e viveram cada situação, iluminados pela graça de Deus.

E que diferença fazem os Santos de cada um de nós?
Não nasceram como nós de um pai e de uma mãe?
Não passaram pelas mesmas fases de crescimento?
Não tiveram que aprender tudo como cada um de nós?
Foi-lhes dada por Deus alguma coisa mais que a cada um de nós não tenha sido dado?

Sabemos bem a resposta a estas perguntas e que nos leva, quer queiramos quer não, a sabermos que os Santos foram em tudo iguais a nós, mulheres e homens frágeis e pecadores como cada um de nós, mas que viveram tendo como Mestre e Senhor das suas vidas Jesus Cristo, e que em cada momento das suas vidas tudo Lhe entregaram e confiaram, desde o momento mais importante, à decisão mais simples e comezinha.

Então, se permaneciam na Videira, se eram verdadeiramente os ramos da Videira, recebiam da sua seiva e deixavam-se podar de tudo aquilo que precisava ser podado.
Nesta comunhão diária, feita de amor, de entrega e oração, é então Deus que se revela neles, que se revela nos sinais que opera através deles, pois estão-Lhe tão próximos que não os pode deixar de ouvir e atender e porque essa proximidade, essa intimidade, os leva sempre a pedir aquilo que é da vontade de Deus.

E nós não o podemos fazer? Não podemos viver assim também?
Claro que sim, que podemos, mas para isso temos de sair de nós próprios, dos nossos medos, dos nossos confortos, (sejam eles quais forem), das nossas certezas e sobretudo percebermos que cada um de nós é santo por vontade de Deus e que por isso mesmo basta aceitá-la e vivê-la, amando-O acima de todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos.

Em cada momento das nossas vidas “fazer” Cristo presente, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na família e no trabalho, nas decisões mais importantes e nas decisões mais simples, sermos Igreja em cada momento, porque em Igreja, Deus está sempre presente e o Seu Espírito Santo ilumina, fortifica e conduz.

Ser santo é ser filho de Deus e fazer a Sua vontade em tudo.
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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

«Em que deis muito fruto...» Jo15,8

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Hoje nas minhas orações da manhã li um pensamento do Santo Padre Pio.

Diz ele o seguinte:
«Já viste uma grande seara em tempo de colheita? Poderás observar que certos caules são altos e exuberantes; outros, ao contrário curvam-se até tocar o chão. Se experimentares colher esses caules mais altos, mais vaidosos, verás que estão vazios, enquanto os mais baixos, mais humildes, estão carregados de grãos.»

Reparemos no fariseu que entra no templo, alto e direito no seu orgulho e vaidade de se considerar justo, tão digno que se permite olhar Deus “olhos nos olhos”, e no entanto a sua oração de nada serve, é vazia de frutos.
Mas o publicano, curvado, envergonhado, humilde, que nem sequer se considera digno de ali estar, oferece a Deus uma oração que dá frutos, não só para ele mas também para nós que agora meditamos nessa atitude.

Quantas vezes em Igreja não estamos frente a alguém que se considera muito sabedor, muito bom orador, que do alto da sua importância dirige palavras aos fiéis e que no entanto no fim nada fica, nada constrói, nada frutifica?
Mas quantas vezes também não estamos frente a alguém, que reconhecendo-se no seu nada, entrega o seu saber Ao que tudo pode, e hesitando nas palavras, não tendo um discurso “perfeito”, toca os nossos corações e semeia sementes que dão muito fruto?

Curiosamente os bens materiais não pesam nas nossas vidas, não nos curvam pelo seu peso, antes pelo contrário, (quando mal aproveitados), fazem-nos mais altos, mais direitos, mais importantes, e no entanto vazios, vazios de amor, vazios de caridade, vazios de ternura e não dão paz nem fruto, mas apenas preocupação e solidão.
“Era tão pobre, tão pobre, que só tinha dinheiro!”
No entanto, aqueles que os não têm, (ou que tendo-os, os sabem aproveitar), andam mais curvados para estarem mais atentos às necessidades dos outros, e dão-se, e têm e recebem amor, e o pouco que têm e que dão, frutifica e dá muito fruto.

Senhor,
ensina-nos a humildade de sabermos que só unidos a Ti podemos dar fruto e fruto abundante.
Ensina-nos a sermos nada, para em Ti sermos tudo.
Amen.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

QUEM DIZES TU QUE EU SOU?

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«Quem dizes tu que Eu sou?»,
perguntas-me Tu Senhor,
com os Teus olhos fixos nos meus
com esse Teu jeito de amor.
Eu olho-Te então também
e receoso da resposta,
pouco forte e convicta,
respondo-Te muito baixinho:
«Tu és o Filho de Deus,
o meu Deus e meu Senhor.»
Mas Tu olhas-me outra vez,
e com redobrado amor,
perguntas-me novamente:
«Mas quem foi que to revelou?
Foi Meu Pai que está no Céu,
ou foi o teu coração,
que procura a Verdade?»
E eu pequenino respondo-Te,
a voz como num fio,
não fosses Tu ouvir-me:
«Ó Senhor,
eu sou tão fraco!
Como querias Tu meu Senhor
que eu sozinho pudesse,
saber assim toda a Verdade?
Que Tu és o Filho de Deus,
o Messias enviado,
o meu Deus e meu Senhor
que na Cruz crucificado,
se entregou por mim,
por todos nós,
só por simples e puro amor.»
Abre-se o Teu sorriso,
aliás nunca fechado,
e é um sol,
uma luz resplandecente,
que me atinge em todo o ser.
Aclara-se-me então a voz,
torna-se mais forte a fé,
perco o medo, o temor,
e grito mais alto que o mundo,
por cima da criação,
com esta voz que Tu enches:
«Jesus Cristo é o Senhor,
o Filho de Deus vivo,
nascido e feito Homem,
em tudo igual a nós,
excepto no pecado.
Que se entregou por amor,
numa Cruz crucificado,
trespassado o coração,
pela maldade dos homens.
E que tendo sido morto
por fim foi sepultado,
para ressuscitar glorioso,
vencida que foi a morte,
vencido que foi o pecado.
Mas que ficou entre nós,
na humildade do Pão,
para ser alimento e vida,
dos que buscam salvação.»
E nada nem ninguém,
mesmo culto e inteligente,
pode negar e mudar,
esta verdade tão simples,
que nos fala ao coração,
por Ele em todos criado:
«Jesus Cristo é o Senhor,
o Filho de Deus vivo,
Palavra de eternidade
que nos conduz ao amor
e encerra toda a Verdade.»

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Texto que me foi suscitado pelas inauditas e insultuosas palavras de José Saramago.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

CAMINHAR EM IGREJA

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No Domingo dia 7 fui incumbido pela minha Comunidade Luz e Vida, de fazer o ensinamento da “Tarde de Louvor”, que celebramos em Albergaria dos Doze, todos os primeiros Domingos de cada mês.

Porque à última hora não foi possível a quem o ia fazer estar presente, foi-me pedido pouco tempo antes, que me preparasse para falar às irmãs e irmãos presentes, vindos de vários pontos do país.

Coloquei-me nas mãos de Deus e pedi ao Espírito Santo que me iluminasse, pois se não fosse Ele a falar em mim, de nada serviriam as palavras que eu dissesse.

Recentemente o nosso Bispo, D. António Marto, escreveu uma lindíssima e sobretudo profunda Carta Pastoral, que intitulou “Ir ao coração da Igreja”, pelo que fui levado a falar sobre a Igreja.

À medida que ia falando sobre a Igreja, sobretudo no sentido de que todos somos Igreja, e que a Igreja não dever ser entendida de forma redutora como sendo só a hierarquia, e muito menos ainda como se de uma instituição humana pura e simples se tratasse, ia vivendo no meu coração o episódio bíblico da cura do paralítico narrada em Lc 5, 17-26.

Deixei-me levar por essa imagem daqueles quatro homens que levavam o paralítico a Jesus e encontrei aí as similitudes com a Igreja.

No fundo a Igreja é, ou melhor, somos todos nós representados naqueles quatro homens e naquele paralítico, embora não se esgote nesta imagem.

Com efeito, movidos pela fé caminhamos para Jesus e com Jesus, levando connosco aqueles que mais precisam, levando connosco aqueles que precisam ter um encontro pessoal com Cristo, para que nesse encontro a sua vida seja tocada e renovada por Ele.

E nessa caminhada enfrentamos obstáculos, muitos e variados, não só para nos chegarmos a Ele, mas também para levar os outros a Ele.

Mas aqueles homens ensinam-nos, porque não desistiram mesmo perante a multidão “de dificuldades”, e abrindo caminhos novos, subindo ao alto, rompendo as barreiras, (tecto), colocaram aquele por quem pediam frente a Jesus.
E ali ficaram, pedindo com certeza, sem desfalecer, porque Lucas nos diz que Jesus «viu a fé daqueles homens», e perante essa fé, perante essa perseverança, tocou a vida daquele que eles traziam.

Quantas vezes nós pedimos e perante as dificuldades logo desistimos!? Quantas vezes os nossos pedidos, as nossas orações são apenas por nós e pelas nossas necessidades!? Quantas vezes nos entregamos à rotina e não descobrimos caminhos novos para viver a fé todos os dias!? Quantas vezes não nos pomos nós de lado, como se nada fosse connosco, como se não fossemos também nós Igreja!?

É que ser Igreja é isto também: ir ao encontro de Cristo, mas não ir sozinho.
É ir em comunidade e levar connosco aqueles que precisam, aqueles que O não conhecem e precisam de O conhecer para que as suas vidas tenham sentido como as nossas têm, de tal modo que não desistimos de acreditar que Ele tudo pode.

É levar connosco aqueles que não conseguem perdoar, aqueles que julgam não poderem ser perdoados, aqueles que estão oprimidos e injustiçados, aqueles que se sentem escorraçados, desprezados, aqueles que estão doentes e precisam de viver a esperança que dá sentido ao próprio sofrimento.

Claro que há aqueles que criticam, que tentam impedir, que dizem que Jesus Cristo não é o Filho de Deus, que dizem que não vale a pena, que afirmam que a Confissão não existe e que nos devemos confessar directamente a Deus e tantas, tantas coisas que são entraves ao caminho.

Mas a esses, unidos em Igreja, com Jesus Cristo no meio de nós, («onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» Mt 18,20), nós respondemos em e com a Igreja que Deus é perdão e que não há nada que o homem faça que Deus não perdoe perante o seu arrependimento, e que Deus faz muito mais do que isso, porque o Seu perdão é sempre acompanhado da paz que leva muitas vezes à cura, para que os homens tenham «vida e a tenham em abundância.» Jo 10,10

Sim aqueles cinco homens representam muito bem a Igreja e o que Ela faz!

Umas vezes somos os quatro que intercedem, outras vezes somos o paralítico que precisa de ajuda, mas sempre, sempre a Igreja em Nome de Jesus Cristo nos administra o perdão, nos leva ao encontro de Cristo, nos leva ao encontro da vida nova que nos é dada na Mesa da Eucaristia, nos transporta á vivência do Deus vivo que se revela nos Sacramentos.

Então aí, perante a evidência da presença de Deus e das graças que derrama em nós, também nós «ficamos estupefactos e glorificamos a Deus dizendo cheios de temor: Hoje vimos maravilhas!» Lc 5,26


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Não foi só isto com certeza que disse, ou melhor que o Espírito Santo disse pela minha voz, nem a Igreja é só isto, mas estas palavras escritas já nos dão sem dúvida muito caminho para reflectir, muito coisa para corrigir, muita oração para orar, muita vida verdadeira para viver, ao encontro de Deus que é e se faz Igreja connosco.
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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O ORGULHO

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Pois é, Senhor, por muito que nos chames a atenção, que nós entendamos e reflictamos no que nos dizes ao coração, acabamos por cair tantas vezes nos mesmos defeitos.

O orgulho, Senhor!

O orgulho obnubila-nos o pensamento, a razão, e somos então presas fáceis do inimigo que nos quer enganar.

É que o orgulho afasta-nos de Ti, da Tua Palavra, do Teu conselho, pois leva-nos a acreditar que somos capazes sozinhos, que somos melhores do que os outros, que fomos escolhidos por nós próprios, pelas nossas capacidades, para uma determinada missão, como se aquilo que somos, ou temos, não fosse dom de Ti.

Tu, Senhor, não Te afastas de nós, (não o podes fazer porque nos amas e és sempre fiel), mas nós é que fechamos os ouvidos do coração, do pensamento, a Ti, porque eles estão cheios dos nossos ouvidos que só se ouvem a si próprios.

Tu estás ali, sempre, e vais-nos avisando com pequenos pormenores, mas nós, cheios de nós próprios, das nossas certezas, não queremos ouvir, não queremos ver, não queremos perceber, e vamo-nos afundando e mergulhando no nosso orgulho, que se vai rindo de nós e arrastando-nos para o erro e a mentira.

Mas Tu não desistes dos Teus, e vais insistindo, até que num determinado momento uma luz desponta e se faz ver por cima do orgulho, a razão prevalece, e envergonhados percebemos como o orgulho nos cegou.

E voltamos à luta, e aceitamos a lição, e conscientemente sabemos que a luta é diária e que ainda vamos cair mais vezes.

Mas a maior, a mais importante e definitiva certeza, Senhor, é que Tu nos amas com amor eterno, que o Teu perdão é infinitamente maior que o nosso pecado, e que Tu nunca, nunca nos abandonas porque és sempre fiel e não podes deixar de o ser.
«Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.» 2 Tm 2,13

Senhor, falo-te no plural, mas a confissão é minha!

Ajuda-me Senhor, para que o orgulho não esmoreça a Fé que me concedeste, não abafe a razão com que me criaste.
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terça-feira, 22 de setembro de 2009

OS CRISTÃOS E AS ELEIÇÕES

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Falta menos de uma semana para irmos a votos no nosso Portugal.

Escrevo então, o mais humildemente que me é possível, para os cristãos deste nosso país que porventura me leiam.

Por vezes esquecemo-nos que ser cristão representa não só a adesão a Cristo, mas também por força disso mesmo, a missão de levarmos Cristo aos outros e os outros a Cristo, de lutarmos por um mundo mais fraterno, que viva do amor e no amor que Jesus Cristo nos veio revelar e que é e tem de ser sempre a matriz do nosso viver, do nosso pensar, do nosso agir cristão.

E um dos direitos de que todos os homens são detentores, (ou deveriam ser), é o de concorrerem pelo exercício da sua liberdade, na escolha daquelas e daqueles que devem governar as nações.

Mas para nós cristãos este não é só um direito, mas também um dever, porque se o somos verdadeiramente, devemos viver neste mundo e ajudar a transformá-lo, a conformá-lo à vontade de Deus, porque acreditamos que só a vontade de Deus é o melhor para o Homem, qualquer Homem.

Esquecemo-nos muitas vezes dos pecados por omissão e omissão é com certeza não nos empenharmos na construção de um mundo mais fraterno e harmonioso, que como nós sabemos e acreditamos, tem de ser edificado segundo a Palavra de Deus, que é Deus de todos e não só de alguns.

E devemos exercer esse direito e dever livremente, sem impor nada a ninguém, mas não deixando de dar testemunho daquilo em que acreditamos, para que outros possam tomar conhecimento e acreditar no Deus que nos criou.

Poderemos pensar e até dizer que o temos feito, mas isso não é verdade, pois basta ver o resultado do referendo ao aborto para percebermos que muitos cristãos pensaram que não era nada com eles, ou então ingenuamente julgaram que Deus faria aquilo que eles não se predispuseram a fazer.

Ou então, ainda, eram cristãos só de “apelido” e não conheciam verdadeiramente a Palavra de Jesus Cristo, pelo que, em vez de se conformarem com a Palavra, quiseram conformar a Palavra com aquilo que era sua vontade, quiseram que a Palavra fosse para servir os seus interesses.

E temos muito em que pensar, ou até talvez não!

Com efeito andam para aí uns partidos que arrogando-se de defenderem os “fracos e oprimidos” pareceria que defendiam aquilo que Jesus Cristo nos veio ensinar, mas nada mais falso, porque a coberto dessa capa têm escondido o ataque mais insidioso à célula mais importante da sociedade que é a família, para além de muitas outras coisas.

E não se coíbem de citar pessoas da Igreja com um despudor inadmissível, para servir os seus propósitos, interpretando a seu belo prazer aquilo que homens da Igreja disseram.

Chegam ao cúmulo de afirmar que têm padres nas suas fileiras, padres esses que tendo-se separado da Igreja continuam no entanto a usar esse “título”, porque se assim não fizessem, ninguém os ouviria.

E quando dizemos que a Igreja deveria ser bem mais clara, aconselhando os cristãos e chamando-lhes a atenção para a falta de valores cristãos da maior parte desses programas de “governo”, ainda pretendem citar Jesus Cristo dizendo: «A César o que é de César e a Deus o que é de Deus».

Mas então interpretemos literalmente como eles pretendem a Palavra, e logo reparamos que a Deus não interessam as “moedas de César” e que são de César, a Deus interessa a vida que é de Deus e que eles desde logo negam a partir da sua concepção.

Não nos deixemos enganar, porque esta suposta defesa dos direitos do homem, não passa de uma arrogância sem limites que afinal atenta contra o próprio homem, atenta contra a dignidade do homem, atenta contra a vida do homem.

Hoje, já bastante às claras, o ataque à Igreja e aos cristãos é visível em todo o lado, mas ainda é pouco, pois a sua vontade é destruir tudo o que vem de Deus, para que alguns homens possam dominar o homem.

Então pergunto eu, seremos nós cristãos que lhes daremos o poder, para que eles nos possam destruir?

Temos dúvidas?

Não sabemos se este ou aquele partido serve aquilo em que acreditamos, se é conforme ao que de mais profundo queremos viver nas nossas vidas, se é um partido que quer servir o homem enquanto filhos de Deus?

É muito simples a solução:
A Bíblia numa mão, o Catecismo na outra, para lermos e vivermos no Espírito Santo e não no nosso fraco espírito, no coração a fé, a confiança que nos anima, juntamente com a coragem que nos vem pela graça de Deus, e vamos lá colocar a cruzinha naqueles que defendem os valores da vida e do amor, para que não venha depois uma cruz bem maior sobre os nossos ombros e sobre as nossas consciências.
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

OLHO PARA DENTRO DE MIM

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Olho para dentro de mim,
tomo o peso do meu coração,
meço a paz que está no meu ser,
verifico se a vida que vivo,
é vida em abundância,
e descanso no Senhor.
Se o coração está pesado,
faço um exame profundo,
pois fico preocupado.
É que o amor não pesa,
e se o peso é demasiado,
então é porque me pesa o mundo,
muito mais que o meu Senhor,
que é no tudo e no todo,
“apenas” e só amor.
É que o amor dá-nos asas,
para voarmos com os pés no chão,
mas o mundo, só pelo mundo,
prende-nos, amarra-nos,
pesa-nos no coração,
e não nos deixa voar,
ao encontro do amor.
Por isso,
meu Deus e Senhor,
entrego-me todo a Ti,
para que o mundo que vivo,
seja leve como o vento,
tão leve que a minha vida,
nas tristezas e alegrias,
seja vida em abundância,
vivida no Teu amor.

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sábado, 5 de setembro de 2009

EFFATHÁ!

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Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos calados,
sem falarmos do Teu amor a toda a gente.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos surdos,
sem queremos ouvir a Tua voz.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de coração fechado,
sem deixarmos que habites em nós.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de mente fechada,
tentando controlar a fé,
com a razão.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos ausentes,
longe da Tua Palavra,
longe da oração.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de braços fechados,
sem acolher o nosso irmão.
Mas Tu Senhor não desistas,
de abrir as nossas bocas,
de abrir os nossos ouvidos,
de abrir os nossos corações,
de abrir as nossas mentes,
de abrir os nossos braços.
Que em cada hora e minuto,
Do tempo que a Tua vida nos dá,
nós possamos sempre ouvir,
a voz do teu amor,
que nos diz permanentemente,
Effathá!
Effathá!
Effathá!

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terça-feira, 1 de setembro de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 17

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Terça feira, 30 de Dezembro de 2003

Obrigado Senhor por mais este dia e por tudo quanto nele me deste.

Obrigado Senhor por todos estes dias, por todo este ano que agora finda.
Obrigado Senhor por tudo quanto neste ano me deste: as alegrias e as tristezas que permitiste em mim, tudo o que correu bem e tudo quanto foram provações, contrariedades, adversidades, dores e sofrimentos.
Obrigado Senhor!

Obrigado Senhor porque me quiseste ensinar aquilo que verdadeiramente sou: nada, sem Ti, não sou nada!

Permitiste que eu ficasse sem tantas coisas de que eu tanto gostava, para me dizeres que só Tu me bastas.

Permitiste que fosse humilhado, sobretudo perante aqueles de quem eu pensava ser superior, para me mostrares que todos somos iguais e que eu sou tão fraco e pobre como os mais fracos e pobres, pois só em Ti posso encontrar força e riqueza.

Permitiste que me angustiasse, que quase me revoltasse, para me dizeres que só em Ti devo depositar a minha confiança, a minha esperança.

Permitiste que tivesse de depender de outros, para me mostrares que sozinho nada sou, e que aquilo que são certezas do mundo, são coisas frágeis e perecíveis, pois só as coisas do Céu são eternas.

Permitiste que tivesse de sair da minha casa, da minha terra, para me mostrares que aquilo que eu achava meu por direito próprio, nada mais era que graça da Tua bondade, pois tudo Te pertence e só por graça o colocas nas nossas mãos.

Permitiste momentos de aridez, de secura, e permitiste momentos de oração íntima, de paz interior, de elevação da alma.

Permitiste as minhas fraquezas, mas deste-me sempre forças para as superar.

Permitiste dores e sofrimentos, mas deste-me sempre meios para os enfrentar.

Permitiste que por vezes me afastasse de Ti, mas correste sempre ao meu encontro e abriste-me sempre os Teus braços.

Permitiste o orgulho e a vaidade em mim, mas mostraste-me sempre o caminho da humildade.

Obrigado Senhor pelo Teu amor, pelo Teu carinho, pela Tua ternura, pela Tua paz, pelo Teu perdão, pela Tua misericórdia, pela Tua piedade, pela Tua compaixão, pela Tua fidelidade, pelos Teus braços abertos para mim.

Obrigado pela fé, pela perseverança, pela fortaleza. Pela oração, pelo louvor, pela adoração, pela Palavra, pela exortação, pela Comunhão, pela Confissão, pela libertação.

Obrigado Senhor, porque apesar de fraco, pobre e por vezes desiludido e angustiado, nunca deixaste de querer confiar em mim.

Obrigado Senhor, porque apesar de nada valer, quiseste precisar de mim, quiseste servir-te de mim.

Obrigado Senhor, porque apesar de casmurro e teimoso, quiseste fazer de mim um homem mais cordato e conciliador.

Obrigado Senhor, porque apesar de eu nada Te ter dado, Tu a mim me deste tudo.

Obrigado Senhor, porque apesar do meu coração duro, fizeste mais forte em mim o amor por Tua Mãe.

Obrigado Senhor, porque eu sou Teu, porque eu Te pertenço, porque tudo o que tenho e sou, é Teu para sempre.

Ajuda-me e ensina-me Senhor, a viver sempre e cada vez mais para Ti, por Ti e em Ti.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 16

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Sábado, 20 de Dezembro de 2003

Obrigado Senhor por este dia e por tudo quanto nele me deste.
Cada vez mais Senhor, percebo que sozinho nada sou, que só contigo posso esperar ser alguma coisa útil aos outros e a mim próprio.

Aproxima-se o Natal e parece que cada vez tenho menos tempo para falar contigo, escrevendo estas coisas que me vêm ao coração.

Queria um Natal diferente, um Natal Teu, verdadeiramente Teu.

Queria pertencer ao teu Presépio, estar com os pastores em adoração, estar assim nu de todo o mundo, nu de todas as coisas que me preocupam, vazio de todos os orgulhos, vaidades, ciúmes, liberto dos maus pensamentos.
Queria Senhor estar limpo, nu de tudo, para Te receber no meu coração, para Te receber na minha vida.

Receber-Te a Ti, Menino Jesus, fazendo-me menino também, puro e simples, num amor sem acessórios, numa entrega sem reticências.

Queria Jesus, que nascesses no meu coração, verdadeiramente fizesses morada no meu coração, na minha vida, e que me ajudasses e ensinasses a receber-Te, a viver-Te, a comungar-Te, a seguir-Te, a agradar-Te, a servir-Te, a sofrer contigo, a encontrar em Ti toda a razão da minha existência, fazendo do Teu anúncio a primeira razão do meu viver.

Queria estar ali, naquele momento, como o mais humilde pastor, prostrado, sem ousar levantar os olhos para Ti, mas sentindo a Tua presença no mundo, na minha vida, e nunca, nunca mais me apartar de Ti.

Queria olhar para Ti Jesus, para Tua Mãe e para José e cantar de alegria:
«Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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terça-feira, 18 de agosto de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 15

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Quarta feira, 17 de Dezembro de 2003

Obrigado Senhor por este dia, por todas as graças que me deste, pela oração da noite e pelo amor e paz que me fizeste sentir.

Perdoa-me Senhor, porque mais uma vez me deixei levar pela inveja e pelo ciúme.
Deixei que o meu coração, a minha mente se perturbasse e fizesse criticas e julgamentos aos meus irmãos em Ti, Senhor.
Eu não quero ser assim, Senhor, mas tantas vezes não consigo!
Ajuda-me Senhor, porque só Tu podes vencer em mim estes terríveis defeitos, que me envenenam o coração, que me envenenam a mente, que me envenenam a vida.

Senhor, quero ser humilde, tudo suportar e tudo calar, deixar que sejas Tu, pela voz dos outros a solicitar-me para o que de mim precisares e não deixar que o meu coração se inquiete por ver outros fazerem coisas que eu gostaria de fazer, de julgar que dão mais atenção a outros do que a mim, ou de fazer juízos em que me julgo superior aos outros.
Quero calar-me e tudo aceitar, se for essa a Tua vontade.

Assim, Senhor, a partir de hoje, ajuda-me a não deixar que o meu coração se perturbe e que eu não queira fazer mais do que aquilo que me pedes pela voz de outros, a não me sentir ofendido nem diminuído se não for chamado para nada.
Que eu possa sentir no meu coração que és Tu, Senhor, que permites que assim seja para que eu aprenda a humildade e o serviço a Deus e nos/aos outros.

Ajuda-me Mãe, modelo de humildade e serviço, a viver para o Teu Filho, conforme a vontade do Pai, guiado pelo Espírito Santo.
Dá-me a mão Mãe e guia-me a vida.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 14

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Quarta feira, 26 de Novembro de 2003

Obrigado Senhor por este dia e os dois dias anteriores. Obrigado Senhor pelas horas difíceis de Segunda feira e porque estiveste comigo e me deste força.
Obrigado Senhor, por continuares a derramar o dom da fé na minha vida.

Que seria de mim sem Ti, Senhor? Como poderia eu passar horas tão amargas, tão difíceis, se Tu, Senhor, não estivesses comigo?
Obrigado Senhor pelo Teu amor.

Reconheço que sem Ti nada sou, e que todo o orgulho e vaidade do ter, querer e poder, para nada servem quando as provações, as contrariedades, as adversidades nos batem à porta.
Só contigo, Senhor, se podem atravessar “vales tenebrosos”, pois só em Ti podemos confiar e esperar.

Pobre e fraco que sou, demoro muito tempo a aprender que só em Ti devo esperar e confiar, mas peço-Te Senhor, não desistas de mim, não desistas de mudar o meu coração, a minha cabeça, porque eu quero ser Teu, Senhor.

Abandono-me aTi e com medo, mas confiante, peço-Te Senhor, a Ti que me conheces, se o meu coração ainda não percebeu, se a minha vida ainda não mudou, continua Senhor a provar-me até que tudo em mim clame por Ti, até que tudo em mim Te pertença e eu esteja todo entregue a Ti.

Mãe, minha querida Mãe, ajuda-me, ensina-me a dizer sim, como tu disseste sim, porque acreditaste que do Pai só vem o melhor para nós.
Mãe, minha Mãe do Céu, ensina-me a humildade e o silêncio que levam à santidade.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 13

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Terça feira, 4 de Novembro de 2003


Obrigado Senhor por mais este dia e por todas as graças que durante ele derramaste em mim.
Não sei Senhor quais foram, provavelmente nem as senti, mas creio Senhor que nunca abandonas os Teus e por isso estás sempre a derramar o Teu amor em cada um de nós.
Concedeste-me, com certeza, a grande graça de afastares de mim o mal e me dares forças para resistir a muitas tentações.
Glória a Ti, Senhor.

«Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração» Rm 12,12
Obrigado Senhor por esta Palavra, por este conselho, por esta advertência.
Tantas vezes que me deixo levar pela “desesperança” e tantas vezes, mesmo esperando, me deixo arrastar pela tristeza, como se realmente nada esperasse.
Senhor eu creio em Ti, creio que estás sempre comigo e creio que só fazes ou permites o que é melhor para mim, por isso tenho de esperar em Ti, e esperar alegremente. Dá-me Senhor da Tua alegria.

Tantas vezes que reclamo das tribulações, das adversidades, das provações, e afinal, Senhor, também são caminhos para encontrar a humildade, para encontrar-Te e perceber que sem Ti nada posso.
Dá-me Senhor, o dom da paciência, para que possa viver as tribulações pacientemente esperando em Ti.

Tantas vezes oro, e me canso de orar, como se houvesse um espaço de tempo para me responderes e que no fim desse tempo eu já nada deveria esperar.
Às vezes é tão difícil, Senhor, perseverar.
Estou a orar correctamente? Estou a fazer o que Deus quer?
Se essas perguntas se me põe é porque estou a pensar em mim e não me estou a abandonar a Ti, para que seja o Teu Espírito Santo a orar em mim.
Dá-me o dom da perseverança, para que a minha vida seja oração, que me leve à paciência na tribulação e à alegria na esperança.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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quinta-feira, 30 de julho de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 12

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Segunda feira, 3 de Novembro de 2003

Obrigado Senhor por mais este dia, pelo fim de semana, pela tarde de louvor no Domingo, e por tudo quanto fizeste na minha vida.
Obrigado Senhor por me mostrares como sou fraco e com que facilidade caio no pecado, com que facilidade quebro os meus compromissos para contigo. Perdoa-me Senhor e sobretudo dá-me forças para não pecar.
Obrigado Senhor por me mostrares o meu erro. Afinal o meu compromisso para contigo, vivia-o mais por orgulho e vaidade, para ser “apontado” e “admirado”, do que para Te agradar, para fazer a Tua vontade. Afinal estava mais preocupado com o que conseguia fazer, do que com o que eu Te deixava fazer em mim.
Por isso era fácil cair, faltar ao compromisso: afinal estava a pensar em mim próprio e pior do que isso, estava a orgulhar-me, a envaidecer-me de algo que tinhas colocado no meu coração e eu me estava a servir para “minha glória”.

Perdoa-me Senhor, reconheço o meu erro, os meus erros.
Quero recomeçar o meu compromisso, mas entregue a Ti, para Te agradar, para não Te ofender mais, que já foste tão ofendido.
Peço-Te Senhor, que quando estiver para cair, para quebrar o compromisso, ou para pecar, me mostres o Teu sofrimento e que eu possa sentir que sou a causa dessa dor, desse sofrimento. Que eu possa sentir que Te estou a “magoar” e a “crucificar” mais uma vez.

Quero Senhor agora caminhar na santidade, na humildade do meu íntimo, deixando que sejas Tu a fazer em mim, porque só assim poderei vencer as tentações e resistir ao pecado e à morte que ele traz consigo.
Glória a Ti Senhor, para sempre.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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sexta-feira, 24 de julho de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 11

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Quarta feira, 29 de Outubro de 2003


Obrigado Senhor por este dia, por esta noite de Missa e adoração ao Santíssimo Sacramento.
É bom Senhor estar contigo, assim “mais perto”, e sentir a Tua graça, sentir que me conduzes, que me guias, embora eu muitas vezes não me deixe conduzir nem guiar e também muitas vezes me orgulhe de mim, quando afinal és Tu que tudo fazes em mim. Obrigado Senhor e perdoa-me pela minha fraqueza.

Obrigado Senhor pela palavra que hoje me quiseste dar no livro de Santo Afonso Maria de Ligório: “A oração deve fazer-se para dar gosto a Deus, isto é, para conhecer o que Deus quer de nós e pedir-lhe o Seu auxílio para o praticar”.

Com efeito na minha oração, passo a maior parte das vezes à procura de consolação para mim, de respostas para mim, de coisas para mim, quando deveria orar para Te agradar Senhor, porque quero estar contigo, porque quero viver contigo, porque quero gozar da Tua companhia, do Teu amor e não obter algo para mim que não seja a alegria de saber que cumpro a Tua vontade.

Sou tão interesseiro Senhor! Perdoa-me e ensina-me a estar contigo apenas para Te agradar, para Te consolar, para Te louvar, para Te amar, para Te adorar.
Que não haja em mim interesses de obter algo de Ti, porque eu possa julgar que Te estou a dar alguma coisa.
Tudo Te pertence e eu nada Te posso dar a não ser aquilo que Te é devido, o meu amor e a vida que Tu criaste em mim.

Como Job, também Te quero dizer que, “Deus mo deu, Deus mo tirou”, e que tudo Te pertence e de nada eu posso dispor se não for para cumprir a Tua vontade e servir-Te, servindo os irmãos.
Obrigado Senhor.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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segunda-feira, 20 de julho de 2009

CARTA A UMA AMIGA QUE SOFRE

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«Agora, alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja.» Cl 1, 24

Jesus Cristo, Senhor da vida, escolheu um caminho de sacrifício e de total entrega da Sua vida para nos salvar.
Poderia ter escolhido outro caminho?
Com certeza que sim, mas quis mostrar-nos que tudo o que constitui a vida do homem é caminho de salvação, se o homem quiser viver cada momento da sua vida em comunhão com Cristo.
É fácil vivermos com Cristo nos momentos bons, em que tudo está bem.
Difícil mesmo é viver em Cristo e com Cristo os momentos de dor, de sofrimento, que são tantas vezes para nós inexplicáveis.
São Paulo mostra-nos assim um modo de viver esses momentos, não só em Cristo, com Cristo e para Cristo, mas também, que ao vivermos assim esses sofrimentos, próprios da vida humana, também podemos “completar”, colaborar na obra salvífica de Jesus Cristo Nosso Senhor.
Mostra-nos que pela aceitação dos nossos sofrimentos, unidos a Jesus na Sua Cruz, também essa nossa entrega pode ser e é, intercessão firme, bondade e caridade para com os outros, e que na misericórdia de Deus se transforma em derramamento de graças sobre aqueles que mais precisam.

Minha doce amiga que sofres.

A tua entrega, a tua aceitação, o teu silêncio perante a tua própria dor, é assim, como São Paulo nos diz, «completar na tua carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja.»
Como podemos nós saber o que Deus está a fazer com o teu sofrimento, ou melhor, com a tua entrega, com a tua aceitação das tuas dores?
Aqui, ao pé de ti, ou longe em África, na Ásia, nas missões, quantas graças o Senhor está a derramar sobre tantos que tanto necessitam?
Com esta tua entrega, com esta tua aceitação, quantos que não rezavam, rezam agora com empenho dedicado e o Espírito Santo vai actuando neles por força da sua entrega também em oração?
Quantos que não pensavam em Deus, o fazem agora, mesmo questionando, mesmo duvidando, mas não deixando de procurar a Verdade?
E sabes, minha doce amiga, quem procura, encontra:
«Digo-vos, pois: Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á.» Lc 11, 9-10
Já to disse uma vez, ou talvez mais, que Deus na Sua infinita sabedoria “escolhe” uns quantos a quem “dá” forças que vão para além do nosso entendimento.
São aqueles, como também já te disse, que são feitos do “barro dos santos”.
E tu és assim, a fé inexpugnável, a entrega sem esperar recompensa, a aceitação porque para ti, é vontade de Deus, a dádiva da tua vida pelos outros.
Sim, é verdade, conheço-te e sei que não o fazes por ti, mas por aqueles que ainda não encontraram o Senhor que tu já encontraste, e que é para ti a Verdade, que é para ti o Caminho, que é para ti a Vida.
E não O trocas por nada.
Porque se alguém te viesse dizer que ficarias curada mas tinhas de deixar Jesus, tu nem hesitarias em responder que isso não te interessava, porque sem Ele não tinhas vida.
“Invejo-te”, minha doce amiga, nessa tua entrega, nessa fé que te faz viver e lutar.
És para mim ensinamento constante de que a vida, seja ela qual for, deve sempre ser vivida em Jesus Nosso Senhor.
Quer Ele que nós soframos?
Não, com certeza que não, pois Ele veio «para que tenham vida e a tenham em abundância.» Jo 10-10
Mas há uns que Ele escolheu para que «completassem na sua carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja», porque para esses o sofrimento reveste-se de entrega na aceitação da sua própria cruz e assim a sua alegria é completa, porque se transforma em bênção de Deus para os outros.

Deus tem-te ao Seu colo e enche-te de amor, do Seu amor.
Olha para ti com ternura, aquela mesma que Ele teve quando naquela Última Ceia disse aos Seus Apóstolos: «Tomai, comei: Isto é o meu corpo» Mt 26,26
E tu, minha doce amiga, comungas do Corpo de Cristo, na Eucaristia e na Cruz.

Mas é tempo de vida, é tempo de viveres e lutares com sempre lutaste pela vida que o Senhor te deu.
E ainda há tanto por fazer!
Ainda há tantos homens que não ouviram, que não conhecem a Palavra de Deus, que é o próprio Deus!

Por isso pego-te na mão, ajoelho-me ao lado da tua cama e rezo contigo:

Obrigado Senhor
pela vida que me dás, com tudo o que ela tem.
Dá-me mais tempo, Senhor, para falar às minhas irmãs e aos meus irmãos do Teu amor, de como Tu estás vivo no meio de nós, mas Senhor, como sempre, que seja feita a Tua vontade e não a minha.
Ámen.

Que o Senhor te abençoe, te guarde e proteja, minha doce amiga, para que todos juntos contigo, estas e estes que rezamos por ti, num dia que vem breve, possamos dar graças pelo dom da tua vida.

Abraço-te com alegria, a alegria que vem de Deus, em Cristo Nosso Senhor
Joaquim
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quarta-feira, 15 de julho de 2009

TENHO O CORAÇÃO NAS MÃOS

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Senhor,
Tenho o coração nas mãos!
Sofre porque se sente impotente
para aliviar o sofrimento
daquela que sofre,
e de tanta outra gente.
Eu rezo, Senhor,
Tu sabes que eu rezo,
mas no meu coração
persiste a dor
de me saber tão fraco
para tão grande missão.
Tu ouves-me, Senhor?
Eu sei que me ouves,
a todos e cada um.
Mas Senhor,
a tentação é tanta,
de Te pedir sinais visíveis,
no alívio do sofrimento.
Eu sei, Senhor,
eu sei que Tu já nos deste
o Teu sinal maior,
a Tua Ressurreição,
promessa de vida em Ti,
certeza de Salvação.
Mas que queres Senhor,
vivemos neste mundo,
agarrados a um nada de vida,
porque a verdadeira vida,
só nos virá depois,
desta peregrinação.
Mas agarramo-nos a ela,
e queremos agarrar também
todos os que nos são queridos,
não os queremos ver partir.
Senhor,
tenho o coração nas mãos!
Confio,
e tenho medo!
Espero,
mas também duvido!
Aceito,
mas também me revolto!
Por um momento,
Senhor,
pára o sofrimento,
dela frágil,
e de todos os que sofrem.
Leva-os a contemplarem
o porquê de tanta dor,
porque ao perceberem
que do mal Tu fazes bem,
o sofrimento far-se-á vontade,
e a dor será amor.
Senhor,
tenho o coração nas mãos!
Ouve então o meu lamento,
que suba ao Teu Coração,
cadinho de sofrimento.
Depois olha por ela,
pelos outros também,
e alivia toda a dor,
com o Teu imenso amor.

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA

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Fecho os olhos e deixo que me conduzas.
Ao princípio cada passo é uma decisão, um medo de tropeçar e cair, um medo de me magoar, mas dou-Te a mão e confio.
Acredito que não me deixas cair.
Depois os passos vão-se tornando mais firmes, mais decididos, mais confiantes, porque então já não só acredito mas tenho como verdade, que Tu não me deixas cair.
Torno-me mais afoito, há momentos em que já corro, há momentos em que até perco o bom senso e já me atiro para a frente como se não houvesse pedras de tropeço, buracos onde cair.
Mas ainda Te dou a mão e Tu, com todo o Teu amor, vais-me chamando a atenção, vais-me pedindo calma, vais-me dizendo para me agarrar ao Teu tempo e não querer "fazer" o meu.
Mas eu acho que já sou capaz, porque estou tão certo das certezas que Tu me deste, que elas já me parecem minhas, e assim até me parece que o estar de mão dada conTigo me impede de caminhar, de correr, da fazer tudo aquilo que eu já penso conseguir fazer sozinho.
E Tu cheio de paciência vais-me dizendo com amor, que sozinho não sou capaz, que o caminho só tem sentido, verdade e vida, se for vivido conTigo, segundo a Tua vontade.
Mas aí eu já não Te ouço, tão cheio estou das minhas capacidades, que até começa a parecer que o aluno quer ultrapassar o Mestre.
E esbracejo e corro, atiro-me para a frente, e até parece ao princípio que afinal tinha razão pois tudo corre tão bem.
Mas de repente, a pedra de tropeço, o buraco fundo e intransponível, onde caio e não me consigo levantar!
Olho para Ti, estendo-Te a mão e digo:
Levanta-me Senhor, que me afundo em mim!
E a Tua mão logo surge, agarra a minha com força, tira-me do abismo em que caí e olhando-me nos olhos, dizes-me cheio de amor:
Eu não te disse meu filho que sem Mim, não há caminho. Eu não te disse meu filho, que não podes viver em Meu Nome, se não me quiseres ao teu lado.
É que sabes, meu filho, tu tens olhos para ver, ouvidos para ouvir, boca para falar, mente para pensar, coração para amar, mas se não viveres na e da minha luz de nada te serve caminhar.
Por isso Eu te disse sempre e continuo a dizer: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida
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sexta-feira, 26 de junho de 2009

COMO DEUS NOS FALA!

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Estive no Sábado passado em mais um almoço de ex-combatentes da Guiné.

Nestes encontros vivem-se sempre momentos de emoção profunda, motivados pelos reencontros com aqueles que connosco viveram situações tão difíceis, e porque se relembram histórias em que as nossas vidas estiveram em perigo real e verdadeiro.

A fé que agora vivo, (naquele tempo vivia afastado de Deus e da Igreja), leva-me sempre a tentar tirar de tudo o que eu faço, de tudo o que eu vivo, um ensinamento, uma mensagem, que Deus sempre tem para aqueles que o escutam de coração aberto e confiante.

E meditei num paralelismo de situações, entre a vivência daqueles anos de guerra e a nossa caminhada de cristãos, atendidas claro está as diferenças, pois a vida de um cristão não é uma guerra contra ninguém, mas uma batalha contra tudo aquilo que o quer afastar do Caminho, da Verdade, da Vida.

E uma das primeiras coisas que logo me apercebi não foi uma semelhança, mas uma diferença.

Quando partimos para uma guerra como esta, longe da pátria e da família, um dos nossos principais pensamentos vai para o tempo que ainda falta cumprir, e vão-se contando os dias que ainda precisamos viver naquela vida para finalmente regressarmos a casa, que é para nós naquela situação, lugar de paz, de alegria, de harmonia, de felicidade.

Diferentemente na nossa vida de cristãos, também contamos os anos, mas esperando sempre que a partida desta vida seja sempre o mais tarde possível.

Mas não é verdade que Jesus Cristo nos prometeu a vida eterna, no gozo eterno da presença de Deus, finda esta vida terrena?
Então não deveríamos nós lutar, perseverar no caminho da vontade de Deus, afastando o mal das nossas vidas, (tal como na guerra fazemos para não perecermos), e então contarmos os dias e os anos que nos faltam para encontrarmos a Casa do Pai onde encontraremos finalmente a paz, a alegria, a harmonia, a verdadeira felicidade?

Na guerra procuramos ansiosamente chegar ao fim do tempo para podermos encontrar um sonho de paz e felicidade.
Na vida de cristãos procuramos retardar o mais possível o fim das nossas vidas, o que não tem sentido, visto que esse fim nos levará ao encontro com a realidade da promessa de Deus, que é o gozo eterno na Sua presença.

Na guerra procuramos salvar as nossas vidas para as vivermos neste mundo. Como cristãos devemos procurar perder as nossas vidas deste mundo, para as podermos viver na eternidade com Deus.

Na guerra há certos ferimentos, certas doenças que nos trazem de volta a casa, o que por vezes até agradecemos.
Nas nossas vidas de cristãos não queremos aceitar as provações, as doenças, que são muitas vezes motivo para mudança das nossas vidas, mudança essa que nos leva ao caminho para a Casa do Pai.

Na guerra unimo-nos e ajudamo-nos uns aos outros, defendemo-nos em conjunto dos ataques do inimigo, partilhamos alegrias e tristezas e até os poucos bens que possamos ter ou nos vêm da casa dos pais.
Na nossa vida de cristãos tantas vezes nos centramos no nosso egoísmo, e em vez de nos unirmos, dividimo-nos em querelas sem sentido, em vez de ajudarmos os outros, fechamo-nos na indiferença, em vez de lutarmos juntos em Igreja contra o inimigo, dividimo-nos em grupos e atitudes, em vez de partilharmos as nossas emoções, os nossos sentires e os nossos bens materiais, vivemo-los apenas para nós, em vez de colocarmos ao serviço os bens, (dons), que o Senhor nos dá, guardamo-los connosco e assim acabamos por os perder.

Na guerra estamos sempre vigilantes para não cairmos nas emboscadas e nos podermos defender.
Na nossa vida de cristãos vivemos tantas vezes distraídos, deixando que o inimigo se aproxime e nos faça cair.

Na guerra saímos em patrulhamentos para afastarmos o inimigo dos nossos quartéis.
Na nossa vida de cristãos deixamo-nos estar sentados sem nada fazer e muitas vezes até trazemos o inimigo para dentro das nossas casas, nas coisas que lemos, que vemos, que fazemos.

O que interessa verdadeiramente é procurar em tudo a mão de Deus, é tentar ver em tudo a presença de Deus, é discernir em tudo, o que o Senhor a todo o momento nos quer dizer.
Dizemos tantas vezes que Deus não fala connosco, quando verdadeiramente cada momento das nossas vidas é um diálogo com Deus, se O quisermos escutar, se O quisermos seguir, se a Ele nos quisermos entregar.
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terça-feira, 23 de junho de 2009

CARTA DE SÚPLICA ZANGADA

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Ó meu Jesus amado,

Escrevo-te esta carta com o coração nas mãos.
Sobretudo o coração daquela minha amiga, acompanhado do meu coração.
Sabes Jesus, já não sei se me zangue contigo, se Te grite ao coração, se me agarre a Ti a chorar.
Que queres Tu Senhor, que queres Tu mais que ela Te possa dar?
E eu Senhor, que Te posso eu dar de mim, por ela?
Eu sei Senhor, que colocas no meu coração essa certeza de que ainda queres muito dela, mas Senhor, porquê todo este sofrimento?
É verdade Jesus, hoje sai do meu coração este grito de revolta, cheio de fé em Ti!
Eu sei Senhor, que não queres que ela sofra, que não queres que nós soframos, mas porquê agora tanto só a ela?
Tantas vezes já intervieste na vida de tantos, operando milagres, então Senhor, que esperas agora, porque deixas que este sofrimento continue?
Grito ao Teu coração que só sabe amar:
Toca Senhor, toca como só Tu sabes tocar!
E não me digas que já tocaste e que é preciso esperar.
Eu não quero esperar, ela não quer esperar, os seus amigos não querem esperar, por isso Senhor, agora é o tempo de operares definitivamente o milagre da cura.
Mesmo que não seja o Teu tempo Senhor, por esta vez aceita agora o nosso tempo!
Eu espero em Ti, e nunca deixarei de esperar, eu confio em Ti, e nunca deixarei de confiar, eu amo-Te, Senhor e nunca deixarei de Te amar, mas agora Senhor, agora ouve definitivamente as nossas súplicas.
Se calhar ao rezar-Te assim, não sou digno do sofrimento que ela suporta em silêncio, mas que queres Tu Senhor, sou bem mais fraco do que ela e não quero ver mais o seu sofrimento.
E se me zango Senhor, é por amor, é porque Te amo e amo aquelas e aqueles que colocaste no meu caminho.
Obrigado Jesus, obrigado!
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segunda-feira, 15 de junho de 2009

A LUZ PEQUENINA

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Tens os olhos fechados,
e queres ver.
Tens a boca fechada
e queres falar.
Tens o coração encerrado
e queres amar.
Tens a vida contida
e queres viver.
Perdeste a chave
do teu sentido,
e já não a consegues achar.
Procuras nos bolsos,
nas gavetas da memória,
até no mais profundo recôndito
do teu cérebro,
e nada consegues encontrar.
Dás voltas e mais voltas,
já não sabes o que fazer,
para que te possas dar,
talvez mais que receber,
para que tenha sentido,
a tua vida,
o teu viver.
Olha lá bem no fundo,
no fundo do coração,
vês uma luz pequenina
que teima em não se apagar?
Toma-a na palma das mãos,
não precisas de a proteger,
porque quanto mais vento lhe der,
mais a chama vai crescer.
Deixa que ela incendeie
todo o teu coração,
deixa que ela te queime,
num arder que não tem dor,
deixa que ela te ilumine
para que os teus olhos possam ver,
deixa que ela te fale,
da vida e do amor,
e quando a luz pequenina
te iluminar por completo,
quando a luz pequenina,
do teu tamanho for,
então deixa que se veja,
também no teu exterior,
para que quem passar por ti,
veja os teus olhos a ver,
ouça a tua boca a falar,
sinta o teu coração a amar,
perceba que em ti a vida
é um permanente viver.
Porque essa luz pequenina,
quando a deixamos crescer,
torna-se toda amor
e faz-nos irmãos e discípulos
de Jesus, Nosso Senhor.

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