quarta-feira, 28 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 5

Em todo este caminho de vida nova, o amor à Palavra de Deus, a sua meditação diária, a entrega ao discernimento do que o Senhor me queria dizer em todos os momentos servindo-se dEla, foi o guia seguro que me conduziu e tem conduzido no caminho que Ele abre à minha vida.
A Bíblia ganhou uma dimensão que eu não suponha Ela pudesse conter!
Educado que fui nos anos em que a Bíblia, quase não era “aconselhável” para o comum leigo, Ela não passava para mim de um conjunto de histórias, umas mais bonitas que outras e algumas delas sem grande sentido e de difícil veracidade.
Ao principio, e ainda movido pela emoção do caminho novo e a ânsia de tudo querer saber, utilizava muitas vezes apenas a cabeça para ler e interpretar a Palavra, o que me levava a interpretações literais, (que logicamente serviam sempre às mil maravilhas ao que eu pensava), e não me conduziam a uma verdadeira mudança de vida interior e exterior.
As passagens que já conhecia, passava-as sem nelas me deter, no pensamento de que, já as conhecendo, nada me podiam trazer de novo.
Encontro ainda em muitas pessoas este modo de pensar.
Mas volta e meia, ao ler certas passagens dessas mais conhecidas, havia pormenores que me saltavam à vista, ou melhor dizendo, ao coração, e ao pedir ao Espírito Santo que me desse o discernimento necessário, aparecia a Palavra viva, que se fazia vida e me questionava em tantos procedimentos do meu dia a dia.
Fui assim descobrindo a riqueza da Palavra de Deus e percebendo que afinal quando nos queixamos tanto que Ele não fala connosco, é porque não queremos escutá-Lo através da Sua Palavra.
E é escusado desculparmo-nos com uma qualquer desculpa de não sabermos “como se faz”, porque Ele próprio, (estando nós de coração aberto), vai conduzindo cada um conforme as suas necessidades, os seus conhecimentos, a sua cultura.
Um dia em que falava sobre este tema, o Senhor quis dar-me um modo de exemplificar o que eu queria dizer, o que eu queria explicar:
Numa exposição de pintura moderna, perante um quadro que “apenas” tenha várias cores, e se intitule, por exemplo, “Senhora num banco de jardim”, é muito provável que não consigamos minimamente ver o que o titulo “apregoa”.
Chamando o pintor e com as suas explicações é então muito possível que já consigamos distinguir o que ele quis “retratar”.
Assim se passa com a Palavra de Deus.
Muitas vezes não entendemos, não percebemos o que Ela nos quer dizer, e então é preciso chamar o Autor, o Espírito Santo, para que Ele nos ilumine e nos faça entender o que a Palavra, o que Deus nos quer dizer.
Mas há uma grande diferença entre as duas situações.
Enquanto aquilo que está no quadro é imutável, ou seja representa aquilo que o pintor quis “retratar”, e apenas aquilo, e depois de percebermos isso está tudo compreendido, a Palavra de Deus, iluminada pelo Espírito Santo é sempre diferente, responde sempre de maneira diversa, conforme as necessidades da minha vida a que Deus quer responder, para me guiar.
E aquilo que está no quadro é igual para todos, representa sempre o mesmo, mas a Palavra de Deus, na mesma passagem bíblica, pode ser diferente para cada um conforme a sua necessidade em cada momento.
Ou seja o quadro é “estático”, a Palavra de Deus é viva!
Este tema leva-me a falar dos dons, dos talentos, que o Senhor coloca em cada um para nos colocarmos ao Seu serviço, servindo os outros.
Passados poucos meses de estar no grupo de oração, foi-me pedido pela responsável do grupo, que fizesse um “ensinamento”, (como chamamos no Renovamento Carismático), ou seja, uma “pregação” tendo como tema a oração.
Recorri a vários livros, Catecismo, Bíblia, etc., e tudo escrevi, (confesso que um pouco convencido que estava a fazer um bom trabalho), para depois ler no grupo de oração.
Assim foi, e percebi que tinham apreciado o “trabalho”, mas que as palavras não tinham tocado os corações, por variados factores, entre eles o facto de ter lido o texto, o que, numa pregação nestas circunstâncias, (grupo de oração), lhe retira alguma vivacidade e a possibilidade dos outros intervirem.
Passou algum tempo em que não tornei a fazer ensinamentos, embora percebesse em mim algo que me impelia para isso.
Uns meses depois, pedimos à Comunidade Canção Nova, que nos ajudasse no sentido de darmos mais vida ao grupo de oração.
Assim, alguns membros da Canção Nova vinham todas as semanas ajudar-nos na oração semanal e passados uns tempos vieram ter comigo para eu fazer novo ensinamento, pois era necessário o grupo ter alguém que o fizesse semanalmente.
Apeteceu-me recusar, lembro-me que ofereci muita resistência ao “pedido”, (até porque eu era muito tímido para falar em publico), mas lá me dispus a fazê-lo.
Preparei-me, muito bem preparado, e à medida que o ia fazendo ia crescendo em mim a certeza de que tudo iria sair muito bem, que eu era inteligente, etc., e portanto não iria haver problemas e até iriam ficar espantados com as minhas capacidades.
No dia semanal da oração lá estava eu convencido que iria ser muito fácil.
Quando chegou o momento, levantei-me, rezaram por mim, e eu comecei a falar.
Disse duas ou três frases, calei-me, fiquei envergonhadíssimo e disse: Eu não sou capaz, e sentei-me.
Nessa altura o Marcelo, (recentemente ordenado sacerdote e que nessa altura era ainda membro da Canção Nova), voltou-se para mim e disse: Tu és capaz Joaquim, não desistas. Repara que ainda agora disseste uma frase linda que eu nunca tinha ouvido.
Nunca me esqueci dessa frase: “Jesus Cristo é a prova constante do amor do Pai”.
Levantei-me outra vez e falei, falei não sei o quê, mas falei o que me vinha ao coração.
Foi uma lição que não esqueci.
O Senhor mostrou-me que sozinho nada sou, nada posso, e que tudo o que faço em Seu Nome é Ele que coloca em mim e eu apenas tenho que me disponibilizar com as capacidades que Ele me deu.
A partir daí comecei a fazer os ensinamentos, não só no meu grupo, mas passado algum tempo noutros grupos e locais do país para onde me convidavam.
Mas havia uma luta interior em mim, por causa do meu orgulho, da minha vaidade.
Ao falar em publico expunha-me, e as pessoas vinham ter comigo e isso envaidecia-me, orgulhava-me, julgando eu severamente esses meus pecados.
Num retiro no Seminário da Torre d’Aguilha organizado pela Pneumavita, (passados uns anos do primeiro), e durante a adoração nocturna ao Santíssimo Sacramento, pedi ao Senhor que retirasse de mim esse “dom”, esse “talento” de fazer os ensinamentos, porque me estava a fazer pecar, porque me estava a “ocupar” numa luta constante contra os meus sentimentos de orgulho.
Dormi descansado, sabendo que Ele não deixaria de responder ao meu apelo.
No outro dia e no final do retiro o Padre Lapa perguntou se alguém queria partilhar, dar testemunho do que se tinha passado no retiro.
Depois de algumas pessoas terem falado, levantou-se um homem que disse mais ou menos isto:
Não vou falar sobre o retiro, mas tenho de testemunhar isto que me aconteceu. Sou um jogador inveterado e gasto todo o meu dinheiro no jogo. Estou no Renovamento há uns anos, já rezaram por mim, para me libertar deste vicio, estive alguns dias sem jogar, mas volto sempre ao mesmo.
Estive no principio deste ano nas termas de Monte Real e fui ao grupo de oração que havia lá mais perto.
Voltando-se para mim, disse então:
Ali o Joaquim, fez um ensinamento sobre os vícios que acontecem nas nossas vidas e nos escravizam e eu desde essa noite, já lá vão 6 meses, nunca mais joguei.
Calculam como eu fiquei, não orgulhoso, mas envergonhado, corado, sem saber onde me meter.
Percebi o “recado” de Deus!
Tinha-me respondido, não como eu queria, mas de modo a que eu percebesse que se queria estar ao Seu serviço, tinha de enfrentar as dificuldades e mais do que isso, que o inimigo se serve de coisas aparentemente boas, (libertar-me das razões do meu orgulho), para nós não utilizarmos os dons, os talentos que o Senhor nos dá para O servirmos, servindo os outros.
Levou-me a perceber que nunca sabemos quando uma palavra, um gesto, uma atitude que Deus coloca em nós, vai servir o outro, vai mudar a sua vida, vai dar-lhe paz, vai fazê-lo sentir-se amado, acolhido, vai ser o “empurrão” decisivo para uma tomada de decisão que mude a sua vida, por isso mesmo temos de estar disponíveis a sermos utilizados por Deus, servindo-nos dos dons e talentos que em nós coloca.
Entendi também algo que tenho dito muitas vezes, a muita gente:
Não digas que não és capaz! Não te escuses com desculpas de que não sabes, não tens conhecimentos, és tímido, envergonhado e por aí fora.
Deus colocou em ti talentos, a voz para cantar, a voz para falar, os ouvidos para ouvirem, os braços para trabalharem, para abraçarem, a capacidade de organizar, a criatividade para embelezar, tantas, tantas coisas, até à capacidade de limpar, e todos, todos esses dons, esses talentos, são necessários à Igreja, são necessários aos outros.
Lembremo-nos sempre que tudo o que façamos em caridade, se o fizermos em Seu Nome, será sempre Ele que fará em nós e aquilo que fizermos será para Sua Glória e para bem de todos nós.
(continua)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 4

Neste caminho de vida nova, que se fez e faz de avanços e paragens, de consolações e desertos, de muitas certezas e dúvidas, o Senhor sabendo-me fraco, foi-me concedendo as graças necessárias para cimentar e aprofundar a fé, para me guiar na Sua vontade.
Uma das graças que Ele me quis conceder, (muito importante particularmente para mim), foi o despertar de um amor forte e constante à Igreja.
E quando me refiro à Igreja, refiro-me à Doutrina, ao Santo Padre, aos Bispos, aos Sacerdotes, aos Diáconos, às irmãs e irmãos, consagrados ou não, que caminham em Igreja.
Quando afirmo que é uma graça particularmente importante para mim, digo-o porque quero agora fazer uma revelação, que há alguns que me lêem já conhecem, e que constitui um testemunho que, espero eu, possa ajudar outros que vivam nas mesmas circunstâncias.
Com efeito esta minha caminhada desde 1997 é feita, como já afirmei, com a minha mulher, só que, por motivo de um anterior matrimónio meu, não nos era possível celebrar o Sacramento do Matrimónio em Igreja.
Ao fim de nove anos de um processo no Tribunal Eclesiástico, em que tudo colocámos nas mãos de Deus aceitando o veredicto qualquer que ele fosse, pudemos em 2006 celebrar o Matrimónio, que tanto desejávamos.
Mas se esta celebração foi o selo de Deus na nossa vida de casal, de família, de vida como igreja doméstica, os anos que vivemos esperando esta bênção de Deus, foram de uma riqueza espiritual extraordinária, por isso afirmava que esta graça do amor à Igreja, se revelou tão importante para nós, para mim.
Nunca em momento algum me senti excluído, me senti colocado de lado, me senti inútil à Igreja que me acolhia.
Cantei no coro da minha paróquia, colaborei em tudo o que me foi pedido, nunca recusando “emprestar” a minha voz, dando o testemunho da minha vida, falando da Palavra de Deus, da riqueza da oração permanente, sobretudo em encontros de jovens, a quem gosto muito de falar, até por causa da minha experiência de vida.
Foi-me até pedida colaboração em reuniões organizadas pela Diocese, acompanhando Sacerdotes e falando da minha experiência no acolhimento, ao que, depois de lembrar a minha situação, acedi de coração aberto e agradecido.
Tive momentos de “intensidade” espiritual maravilhosos, quando, por exemplo, perante a impossibilidade da comunhão eucarística do Pão Sagrado, me deixava envolver interiormente, numa comunhão espiritual, por essa presença amorosa de Deus, que nunca abandona os que O procuram de coração aberto.
Também nunca me excluí, ou seja, por vergonha, respeito humano, ou qualquer outro sentimento, que nos leva muitas vezes a pensarmos que somos excluídos, quando afinal somos nós mesmo que nos afastamos.
E esse amor à Igreja é vivido sempre em desejo de comunhão, porque só assim ele tem sentido.
Tive e tenho dúvidas, não concordava e não concordo com certas coisas, mas sempre colaborei e colaboro em tudo o que me é pedido e é nessa colaboração que partilho os meus pensamentos, as minhas dúvidas, e é em comunhão com todos que pretendo ajudar a construir uma Igreja mais fraterna, mais viva, mais actuante, mais alegre, numa palavra, mais cristã e católica.
Não criticava, nem critico por fora a Igreja, e se por acaso o fazia, ou faço, mercê das circunstâncias, nunca deixava, nem deixo de reafirmar a minha comunhão e a minha obediência de amor à Igreja de Jesus Cristo.
A Igreja fez e faz sempre parte das minhas orações diárias.
Outra graça maravilhosa que o Senhor quis derramar na minha vida foi o perdão, ou seja, perdoar, pedir perdão e reconhecer o Seu infinito perdão.
No inicio, era-me muito difícil conceber que Deus me perdoasse de tanto mal que tinha feito, aos outros e a mim.
Durante uns tempos esse sentimento perseguia-me, e infiltrava-se no meu coração como que dizendo: “ Faças tu o que fizeres, é tarde, pois são tantos e tão grandes os pecados que não têm perdão”.
Depois da minha primeira confissão, (passados quase 30 anos da última que tinha feito), num primeiro momento a paz foi indescritível, o sentir do amor de Deus tomava conta de mim, e durante algum tempo vivi em paz com Deus e comigo próprio.
Mas as dúvidas regressaram, e se o perdão de Deus me parecia ponto assente, o meu perdão ao meu passado, parecia-me impossível e se umas vezes, e eram tantas, o passado me regressava ao pensamento em força, era para me atormentar causando-me vergonha, ou pior ainda uma certa complacência, um certo gosto.
A luta era difícil e muitas vezes quase me impedia de crescer, de caminhar para Deus.
Um dia, durante uma adoração ao Santíssimo Sacramento pedi ao Senhor Jesus que me concedesse essa graça do perdão, não só de o receber, mas de o dar aos outros e a mim próprio.
Confesso que não me lembrei muito mais desse pedido e só passado algum tempo me apercebi, por qualquer facto que recordei do passado, que a paz estava presente nessa recordação e que o passado já não tinha qualquer efeito pernicioso em mim.
Mais, dei por mim a louvar o Senhor pelo meu passado, na convicção de que, se não o tivesse vivido, provavelmente seria agora um cristão “morno”, cumprindo estritamente a lei nos seus “mínimos”, não me apercebendo, nem vivendo a graça maravilhosa que é a presença de Deus nas nossas vidas, que é o Seu amor infinito por cada um de nós e que se faz real no dia a dia das nossas existências.
Claro que todo o outro perdão, (o dar, o pedir, o aceitar), passaram a fazer parte constante da minha vida, o que perante tantas vicissitudes porque passei, (a dada altura perdi tudo o que tinha materialmente), foi o bálsamo mais pacificador da minha vida.
A vontade de querer perdoar levava-me a rezar por aqueles que me tinham magoado, e também por aqueles que eu magoei.
Durante uns tempos essas orações pareciam-me “falsas”, ou seja, no meu coração eu pedia a Deus por eles, mas no meu intimo sentia que não “desejava” esse bem que então pedia.
Mas a graça de Deus precisa apenas da nossa abertura de coração, e assim lentamente, carinhosamente, o Senhor ia colocando no meu coração uma reconciliação, uma paz em relação a essas pessoas e a esses factos, e a vontade de rezar cada vez mais por eles, para além da certeza de que se um dia precisassem de mim, eu não lhes negaria a minha ajuda.
E assim descobri a maravilha de perdoar e pedir perdão, descobri que muitas coisas correm erradas nas nossas vidas porque nos agarramos a rancores e ressentimentos, que envenenam a nossa existência e não nos deixam viver em paz, não nos deixam sequer amarmos inteiramente aqueles que nos são próximos, porque em nós vivem sentimentos de “desamor”.
Todo este caminho levou-me à oração constante, perseverante, umas vezes mais consciente e outras vezes mais distante, mas no entanto sempre oração que lava o coração e alimenta a alma, alimenta o ser.
“Descobri” a graça da oração de louvor nas adversidades, nas provações, agradecendo a Deus por elas e oferecendo-as pelos outros mais sofredores do que eu.
Quantas vezes nestas orações de louvor o Senhor me respondia de imediato, aliviando os meus sofrimentos ou colocando em mim forças para enfrentar as provações, forças que eu desconhecia viverem em mim.
Tanto para dizer, tanto para testemunhar, tanto para agradecer ao Senhor da Vida que nunca nos abandona e nos abraça no Seu amor eterno.


(continua)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 3

O tempo foi passando e a minha procura de viver o que já guardava no coração, ia-se tornando cada vez mais o “Pão Nosso de cada dia”.
Em tudo O procurava, em tudo O queria ver.
Empenhava-me não só no Grupo de Oração, na oração e meditação da Palavra diárias, mas também na paróquia, onde me colocava à disposição para o que de mim precisassem, sobretudo a voz que Deus me deu, cantando no coro.
Tentava especialmente dar testemunho da alegria, da vida que eu vivia, com o cuidado no meu proceder, no meu falar, em todos os campos da minha vida, no trabalho como no lazer.
Ele tinha que fazer parte de tudo, para em tudo tocar e abençoar, segundo a Sua vontade.
Claro que nem sempre assim acontecia, mas então tinha a certeza do Seu perdão, tinha a certeza de que Ele sempre estava à minha espera de braços abertos para me acolher.
Pedia ao Espírito Santo que continuamente guiasse a minha vida e me moldasse segundo a Sua vontade.
Falo no passado, mas que continua a ser presente!
No Renovamento Carismático Católico temos uma caminhada espiritual a que chamamos “Seminários de Vida Nova no Espírito” e que nos conduzem ao “Baptismo no Espírito Santo” ou “Efusão do Espírito Santo”.
Não vou aqui explicar exaustivamente o que é, mas quem quiser conhecer melhor pode aceder ao site da
PNEUMA e procurar,(em “Reflexões”, depois “Meditações”, depois “Pentecostes hoje – a Efusão do Espírito Santo”), o que significa e é concretamente.
Deixo no entanto as palavras e um extracto de entrevista à Zenit do Fr. Raniero Cantalamessa, Franciscano Capuchinho, que é desde 1980 o Pregador da Casa Pontifícia.

A efusão do Espírito Santo, actualização da iniciação cristã
A efusão do Espírito Santo (ou baptismo do Espírito) é uma renovação e uma actualização de toda a iniciação cristã, e não só do Baptismo. O interessado prepara-se para isso, não somente através de uma boa confissão, mas participando em encontros de catequese, nos quais é conduzido a um contacto vivo e alegre com as principais verdades e realidades da fé: o amor de Deus, o pecado, a salvação, a transformação em Cristo, a vida nova no Espírito Santo, os carismas, os frutos do Espírito Santo. E tudo num clima caracterizado por uma profunda comunhão fraterna.
Por vezes, e diferentemente, tudo acontece espontaneamente, fora de qualquer esquema, e é-se como que surpreendido pelo Espírito. (...)
É através do que precisamente se chama baptismo do Espírito que se faz a experiência do Espírito: da Sua unção na oração, do Seu poder no ministério apostólico, da Sua consolação na prova, da Sua luz nas opções. Mais do que na manifestação dos carismas, é assim que se faz a percepção do Espírito: como Espírito que transforma interiormente, que dá o gosto do louvor a Deus, que faz descobrir uma alegria nova, que abre a mente à compreensão das Escrituras, e que, sobretudo, nos ensina a proclamar Jesus como Senhor. E ainda nos dá a coragem para assumir novas e difíceis tarefas, ao serviço de Deus e do próximo.
Fr. Raniero Cantalamessa
in: "Documento de Malines I" (Posfácio à trad.portuguesa), ed. Pneuma

Entrevista à Zenit
–Como o senhor se aproximou do Renovamento?
–Pe. Cantalamessa: Não me aproximei, Alguém me tomou e me levou para dentro. Quando orava com os Salmos, pareciam escritos para mim desde antes. Logo, quando desde Convent Station, em Nova Jersey, fui ao convento dos capuchinhos de Washington, sentia-me atraído pela Igreja como por um ímã, e este era um descobrimento da oração, e era uma oração trinitária. O Padre parecia impaciente por falar-me de Jesus e Jesus queria revelar-me o Pai. Acho que o Senhor me fez aceitar, depois de muita resistência, a efusão, o batismo no Espírito, e logo vieram muitas outras coisas com o tempo. Eu leccionava História das Origens Cristãs na Universidade Católica de Milão; logo comecei a pregar até 1980, quando me converti em pregador da Casa Pontifícia.

Tudo isto para dizer que em Março de 1999, num retiro no Seminário na Torre d’Aguilha, organizado pela Pneumavita, recebi a Efusão do Espírito Santo, que confirmou e continuou a transformação que em mim o Senhor ia operando.
Mais uma vez me sirvo do que então escrevi sobre esse extraordinário momento para mim!
Quando fazia a viagem de regresso a casa, vindo do Seminário, ia aparecendo no meu coração, na minha mente todas as palavras que, mal chegando a casa, passei para o papel e aqui vos deixo.

O Dia da Minha Efusão do Espírito Santo

Estavam os Três reunidos num Só, como desde sempre, quando Deus Pai disse:
- É hora, ide!
Então, Jesus Cristo e o Espírito Santo, desceram da casa do Pai e entraram em mim.
Olharam, tornaram a olhar, franziram o sobrolho e disseram:
- Esta habitação está a precisar de, muitas obras, de melhoramentos, de uma boa remodelação, enfim, praticamente uma casa nova.
Jesus olhou para o Espírito Santo e disse:
- Abre essas janelas, esta casa está fechada há muito tempo, está bolorenta, fria e sem luz nem vida. Sopra o Teu vento para afastar todos estes maus cheiros, todas estas teias de aranhas e perfumar toda a casa com odores de nova Primavera, deixando entrar a Luz.
O Espírito Santo assim fez, e depois da casa arejada e iluminada reparou nas paredes e disse para Jesus:
- Olha para estas paredes, cheias de cores pesadas e desenhos feios e monstruosos! Podias pegar no pincel, na tinta mais branca e dar uma pintura geral, para que a casa brilhe com a Luz, vestida de branco.
Jesus assim fez e quando acabou as pinturas, a casa brilhava, cheirava bem, tinha novos ares, mas ainda com cortinados e mobílias velhas.
Então o Espírito Santo, disse novamente a Jesus:
- Porque não chamas a Tua Mãe para nos ajudar? Ele deve ter jeito para essas coisas!
Assim, Jesus chamou a Virgem Maria, que deixou os seus muitos afazeres e disse-Lhe:
- Mãe, vê o que podes fazer para mudar estes cortinados e esta mobília, porque o mais importante, já Nós fizemos.
Maria, nossa Mãe, deitou mãos à obra com o seu amor maternal e em pouco tempo toda a casa estava habitável, com calor, com luz, esperando a vinda do Pai para a inspecção final.
Veio então o Pai.
Entrou na casa, visitou-a demoradamente, conferiu que o branco era o mais branco que havia, conferiu que a luz era a mais brilhante, confirmou que a mobília e os cortinados eram novos e de material para durar, e disse:
- Sempre gostei muito desta casa, mas assim está muito melhor.
Quereis habitar nela? Perguntou.
Jesus e o Espírito Santo trocaram um sorriso cúmplice e disseram a uma só voz:
- Também gostamos muito mais assim. É uma boa casa para morar, mas antes temos de falar com o senhorio.
Olharam então para mim, com aqueles olhos de infinito amor e perguntaram-me:
- Estás disposto a manter esta casa sempre limpa, arejada, iluminada e com o branco imaculado?
Estás disposto a enchê-la de paz, amor. Tranquilidade e muita alegria?
Estás disposto a não deixar entrar nela ladrões, mentirosos, ou ideias que a corrompam?
Estás disposto, isso sim, a ter sempre a porta aberta aos que necessitam de comer, beber, descansar ou de alguma forma precisem de ti?
Estás disposto a não te servires dela para outros fins, que não sejam a nossa habitação?
Estás disposto a que, quando por qualquer motivo, sujares ou estragares alguma coisa, Nos pedires perdão e de imediato reparares o mal que fizeste?
Estás disposto, disse Jesus, a teres sempre um quarto pronto para Minha Mãe, quando Eu A convidar a Nos visitar?
Estás disposto, enfim, a receber nela os Nossos amigos e aqueles que Nós escolhermos para tu convidares?
E eu, humildemente, alegremente, dançando e louvando, respondi cantando:
- Pois se Tu és o meu Senhor Jesus, que deu a vida por mim, pois se Tu és o meu Senhor Espírito Santo, que me consolas e guias, pois se Tu és o meu Pai Criador, que muito me ama e me criou, como posso eu dizer não?
Digo sim, setenta vezes sete vezes, Sim!
Mas também tenho de Vos pedir, meu Deus, que me ajudeis sempre, que estejais sempre nesta casa, e que meu Pai e meu Deus, quando eu falhar e não Vos pedir perdão por estar distraído, me perdoeis e ajudeis na mesma!
Então o Pai, unido a Jesus Cristo e ao Espírito Santo, num só Deus, com lágrimas de alegria nos olhos, mandou dar inicio à festa do regresso deste Seu filho, tomou conta da habitação e cantando, dançou, para que a alegria fosse completa.
E eu, pequenino e humilde, só louvava, dizendo:
- Glória, glória ao Senhor Nosso Deus, que perdoou, aceitou e fez nascer de novo este Seu servo!

Festa da Ascensão
Monte Real, 16 de Março de 1999

(continua)

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 2

Tinha acabado o fim de semana em Fátima, que agora me parecia curto.
Longe de me sentir desamparado ou sozinho, percebia que algo muito importante tinha mudado na minha vida, ou melhor, na nossa vida, pois a minha mulher sempre viveu, tal como eu toda esta “experiência”, toda esta transformação.
A nossa casa, o nosso núcleo familiar, já não era agora apenas um lar de um casal, era uma igreja viva onde a oração era diária, (conheço agora o termo certo, uma igreja doméstica), onde se procurava viver segundo aquilo que o Senhor ia colocando nos nossos corações.
Percebemos que não podíamos ficar assim, a viver na “recordação do Tabor”, mas que tínhamos de colocar no dia a dia a alegria do encontro pessoal com Jesus Cristo, e deixar que Ele se tornasse presença constante nas nossas vidas.
(Continuarei a partir daqui a colocar este testemunho na minha pessoa, tal como o comecei, afirmando no entanto que este é um testemunho a dois, pois que se o não fosse não seria completo).
Era preciso algo que me ajudasse a viver tudo o que tinha vivido naquele fim de semana, e esse algo sabia-o porque me tinha sido dito, tinha como base um Grupo de Oração do Renovamento Carismático Católico.
E sabia-o porque no fim de semana tinha acontecido um facto “curioso”, (que agora vejo como a mão de Deus), e que foi o seguinte:
No Domingo antes de terminar a Assembleia em Fátima, o Padre Lapa falou-nos da importância de frequentarmos um Grupo de Oração, onde partilhássemos as nossas vivências, onde nos uníssemos em oração, onde ouvíssemos e meditássemos na Palavra, porque seria o “condimento” necessário a tornar sempre actual o encontro pessoal com Cristo que tínhamos vivido naqueles três dias.
Ditas estas palavras, e num gesto de fraternidade, pediu a todos os presentes no anfiteatro que não conhecessem os seus “vizinhos” dos lugares que ocupavam, se apresentassem, dizendo o nome e o lugar de proveniência.
Estávamos numa sala que leva cerca de 2.200 pessoas, mas com as coxias cheias, deveriam estar ali, pelo menos 2.500, de todos os lugares de Portugal.
Quando me apresentei ao casal que estava a meu lado, ficámos muito admirados, pois éramos de localidades vizinhas e mais do que isso, a senhora era a coordenadora do Grupo de Oração mais perto de minha casa.
Coincidências?
Lembro-me do Padre Dário Betencourt dizer numa outra Assembleia que para os cristãos não há coincidências, há “Deuscidências”!
Assim comecei a frequentar esse Grupo de Oração, todas as semanas, e foi ali que comecei a crescer na Fé, a viver Jesus Cristo vivo, a alimentar-me da Palavra, (que tinha passado a ser uma boa “obrigação” diária), a aprofundar os meus conhecimentos sobre tudo o que era a Doutrina e a prática cristã e católica.
Reconheço que a minha ânsia era muito grande e que nem sempre a prudência seria uma qualidade por mim então vivida.
Mas a verdade é que nessa ânsia de saber, sobretudo de viver, fui lendo, lendo, ouvindo, ouvindo, guardando e fortalecendo pela graça de Deus a Fé que Ele tinha colocado no meu coração.
Mas muito melhor do que agora recordo, “fala” com certeza, a carta que então, passados uns tempos escrevi ao Padre Lapa e aqui reproduzo fielmente.
.

Monte Real, 9 de Março de 1998

Caro Padre Lapa

Não posso deixar de lhe testemunhar toda a alegria, paz, tranquilidade e amor que tenho vivido neste meu novo nascimento para o Senhor, para a Fé.
Com efeito, toda a minha vida sofreu um abanão e em boa hora o sofreu, porque tudo se tornou mais nítido, sobretudo nas razões porque se vive e para que se vive.
Eu devia ser este homem que agora sou, só que tinha uma “capa” agarrada a mim, que não me deixava ver, não me deixava sentir, não me deixava viver este amor imenso que Deus tem por nós e que é a única razão de viver.
Tudo o mais deve ser feito baseado nesse amor e na vontade suprema d’Aquele que nos criou, e é isso que, com dificuldades, mas persistentemente venho perseguindo.
Como eu andava enganado à procura de pequenas vitórias ou sucessos pessoais efémeros, numa vida sem rumo e ao avesso de qualquer moralidade, mesmo aquela a que se chama “bom senso”.
Agora sei e percebo o que é viver “para a carne”, e como isso não leva a nada, ou antes, leva-nos a frustrações, tristezas e falsas alegrias momentâneas, mas sem qualquer significado.
Percebo agora que, para além de mentir aos outros, mentia sobretudo a mim próprio, o que me tornava amargo, colérico, vingativo, orgulhoso e vaidoso.
Tudo isso felizmente vai sendo afastado, algumas vezes com muita dificuldade, porque o inimigo não quer perder este “aliado”, que pensava já ter ganho.
Mas o Espírito Santo é mais forte e ajuda-me nos momentos mais difíceis.
Felizmente o Senhor, que tudo sabe e tudo vê, foi buscar aquela luzinha que lá muito no fundo de mim, ainda brilhava e que estava quase extinta, e animou-a, deu-lhe força, encheu-a de vida, para que ela me transformasse num ser mais doce, mais calmo, mais bondoso, mais humilde, numa palavra: Cristão.
E que bom é, Padre Lapa!!!
Que bom é!!!
Tudo me é muito mais fácil.
O trabalho, a vida, as relações entre as pessoas, tudo surge naturalmente, sem crispações, sem vontade de querer ser melhor do que os outros, tentando abafar os ciúmes e as invejas que são tão humanas e tão bem exploradas por aquele que nos quer perder.
Tudo por obra e graça do Senhor, que sem nada exigir, sempre “apostou” em mim e eu sempre Lhe voltei as costas.
Mas agora não, agarro-me a Ele com todas as forças, em tudo vejo a Sua presença, em tudo sinto o Seu infinito amor por aqueles que Ele criou.
E o Renovamento Carismático tem sido a “bateria” que me tem alimentado e impelido a procurá-Lo incessantemente e cada vez mais.
Sinto-me tão bem ali. Somos todos iguais, não há distinções, não há lugares para ricos e importantes, nem para os pobres anónimos. Oramos todos juntos, Àquele que nos criou iguais.
O Espírito Santo serviu-se de si, pois foi a si que escrevi pedindo esclarecimento sobre o Renovamento e foi por sua causa que fui à Assembleia em Fátima, que me encheu de paz e de certeza de estar no caminho certo.
Espanto-me às vezes com as coisas que escrevo, pois há tempos atrás rir-me-ia de quem assim escrevesse.
Fico admirado quando dou por mim a falar de Deus com amigos meus, que continuam na vida que eu levava, e não tenho agora qualquer respeito humano de lhes transmitir as maravilhas desta vida nova.
Dou por mim a cantar na Oração, na Missa, a rezar alto com os outros, quando há tão pouco tempo só de pensar nisso ficaria envergonhado.
Queria conseguir fazer passar esta alegria que sinto e parece-me que não tenho palavras, nem atitudes que a consigam mostrar plenamente.
Apenas posso agradecer ao Senhor esta tão grande graça que me deu, de me chamar novamente ao Seu rebanho.
Esta já vai longa, mas pode ter a certeza que continuaria a escrever muito mais tempo e papel, sobre a transformação radical que Deus operou em mim.
Um abraço muito amigo do
Joaquim

(continua)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 1

Nasci em 1949 numa família tradicionalmente cristã e católica, onde a Fé era vivida, pelos meus pais, diariamente.
Fui assim educado na Fé católica, frequentei colégios católicos, fiz a Primeira Comunhão e o Crisma, fiz retiros espirituais católicos e vivi desse modo a Fé, embora muitas vezes mais por obrigação do que por vontade própria, embora também, na maior parte desses anos eu não tivesse ainda idade e portanto discernimento para saber o que deveria escolher.
Certo é, que por volta, talvez, dos 18 anos, me comecei a afastar da vivência da prática cristã e da Fé.
Com a entrada na tropa, nos meus 22 anos, consumou-se o afastamento definitivo de tudo o que era prática religiosa, e a Fé, se alguma coisa dela restava, morreu também em mim.
Estive na guerra da Guiné, depois em Angola a trabalhar, passei ainda pelos Açores meio ano e regressei finalmente a Portugal.
A minha vida, que já era um pouco errática, mas ainda estável e de algum modo equilibrada, passou a partir de meados dos anos 80 a ser totalmente desregrada e sem nenhum sentido.
Vivia para o mundo, em tudo aquilo que o mundo tem de pior, e passei muito rapidamente por uma espiral de noitadas diárias com tudo o que isso envolve.
Sabemos bem como uma vida dessas pode ser degradante!
Julgo que em determinado tempo terei até perdido a noção dos valores que em criança me tinham sido incutidos.
Por razões que aqui não cabe explicar, (no inicio dos anos 90), comecei a falar de Deus, da Bíblia, com alguém que o Senhor quis colocar no meu caminho, e que também vivia fora da doutrina católica.
Dei por mim a sentar-me na Igreja da minha terra, (sobretudo quando não estava lá ninguém), sem saber muito bem o que fazer e o que esperar.
À minha mente, mais que ao coração, vinham todas as coisas que tinha aprendido em criança sobre Deus, sobre Jesus Cristo, e ia falando com Ele em surdina, esperando não sei bem o quê.
Comecei também a “ir à Missa” e a tentar viver algo que me fizesse dar um “salto”, algo que eu sentia tinha de ser feito, de ser dado, só não sabia como.
Aquilo que fazia não me chegava, e assim ia lendo livros e mais livros procurando o que ainda não tinha encontrado.
Era tudo muito “exterior”, nada ainda me “aquecia” o interior.
Num dos livros que então li, “Jesus está vivo”, falava de um Padre Lapa, que eu tinha conhecido em tempos, e que era o homem, (informava lá), que tinha trazido o Renovamento Carismático Católico para Portugal.
Lembrei-me então de “umas” Missas em que tocavam viola e cantavam alegremente e que, na altura em que as ouvi, quando passava fora da capela, mais me davam “razão”, achava eu, para não frequentar aquelas “coisas”.
Num impulso decidi escrever-lhe e perguntar-lhe o que era aquilo do Renovamento e como poderia fazer essa “experiência”.
Estávamos em Junho de 1997.
Na sua resposta, longe de me dar conselhos ou qualquer outra coisa, dizia-me apenas, para além dos cumprimentos habituais, que iria haver uma Assembleia do Renovamento Carismático em Fátima, organizada pela Comunidade Pneumavita, por ele fundada, e convidava-me a estar presente.
Um pouco temeroso e desconfiado lá fui em Novembro a Fátima, com o sentimento de: “se não gostar daquilo, venho-me logo embora”!
O anfiteatro do Centro Paulo VI estava cheio, o que me atemorizou um pouco, mas “saltou-me” à vista uma certa união de sentimentos em todo aquele povo e sobretudo uma alegria, uma esperança latente naqueles rostos, apesar de perceber sofrimentos ali bem expressos.
Na Sexta Feira ao fim do dia nada me levava a continuar ali, mas levado pela curiosidade, e também por um sentimento de “já que aqui estou”, voltei no Sábado de manhã.
A oração da manhã foi algo que nunca tinha visto, ou seja, a participação de todos, a alegria imprimida na oração, os cânticos, enfim todo um ambiente, (que apesar de não estarmos num templo propriamente dito), respirava espiritualidade.
O pregador, Pe. Alirio Pedrini, falava-nos da Palavra, da Bíblia de um modo como eu nunca tinha ouvido, (no meu tempo a Bíblia era “livro de decoração” na casa de cada um), tornava-A presente e actual e levava-nos a viver a presença de Cristo vivo no meio de nós.
A presença do Arcebispo de Évora, D. Maurilio Gouveia, com palavras que também nunca tinha ouvido no meu tempo à hierarquia da Igreja, confirmavam a comunhão com a Igreja Católica e descansavam as minhas interrogações.
Mas o grande facto deu-se, quando após uma oração de invocação do Espírito Santo, comecei a ouvir a maior parte daquela gente a cantar algo que eu não conseguia entender e me parecia coisa de “doidos”.
Aquela melodia estranha, mas harmoniosa, acompanhada dos braços levantados para o Céu, ao mesmo tempo que me despertava sentimentos do tipo, “que gente é esta, ou, onde é que eu estou metido”, tocava o meu intimo e colocava um sentimento inexplicável de paz no meu coração.
Deixei-me ficar, deixei-me envolver, num sentimento de entrega como se dissesse: “Não sei o que estou aqui a fazer, mas Tu deves saber”…
À noite houve Adoração ao Santíssimo Sacramento, uma adoração como nunca tinha vivido, participada, em diálogo com Jesus Cristo, (que eu começava a sentir verdadeiramente no meio de nós), mas sem nunca se afastar da dignidade da celebração.
Foi então que algo no meu coração se abriu e disse, sem palavras: “Olha, estou aqui, faz de mim o que quiseres.”
Um sentimento de paz, de amor, envolveu-me e comecei a chorar. Um choro silencioso, muito calmo, cheio de paz e de uma estranha, mas muito boa alegria.
No momento não entendi, mas também não me interessava entender, apenas queria viver.
Deve ter sido como Pedro, (passe a imodéstia), na Transfiguração. O que eu não queria era sair dali!
Nessa noite dormi descansado, o que já não acontecia há muito tempo, mas ansioso por voltar àquele lugar.
No Domingo de manhã dei comigo, sem me aperceber, de braços no ar e cantando com os outros e desejando que o fim de semana continuasse indefinidamente!
Havia em mim um fortíssimo sentimento de gratidão a Deus por tudo o que me estava a fazer sentir, a mim, que me achava totalmente indigno de sequer um Seu olhar!
Dirão que houve muita emoção à mistura.
Com certeza que houve emoção, ou será que nós não somos um todo feito de variados sentimentos?
O importante é que a emoção não passe por cima do amor, da entrega, da reflexão.
O importante é que a emoção não abafe a graça que o Senhor derrama nos corações.
O importante é que a emoção não seja superior à Fé firme e constante na presença de Deus em nós.
E comigo foi isso que aconteceu!
Naqueles dias desci da árvore como Zaqueu!


(continua)


Para algum contacto mais pessoal, estou disponível no mail referido no perfil.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

10 ANOS...ESCLARECIMENTO...

Em mails e comentários, preocupam-se algumas amigas e amigos que ganhei nestes espaços dos blogues, com o testemunho de vida que me proponho dar.
Do fundo do coração: Obrigado!
Sinto-vos tão perto, (e nem sequer vos conheço pessoalmente), que só posso dar graças a Deus por vós.
Deus fala-nos de muitas maneiras e uma delas é com certeza, através das pessoas que vão passando nas nossas vidas, muito especialmente as amigas, os amigos, que por nós se interessam, que nos protegem, que connosco se preocupam.
Se nunca foi minha intenção expor a minha vida passada, (com tudo o que ela teve de “inenarrável”), pensava no entanto revelar certas coisas, (para dar mais força ao testemunho, julgava eu), o que já não farei, porque vos ouvi, porque vos escutei, porque acredito que o Senhor me quis alertar e encaminhar servindo-se de vós.
Que bondoso e grande é este Deus que se serve de nós para nos ajudarmos mutuamente a conhecê-Lo melhor, para melhor O amarmos.
Este testemunho, que irá sendo escrito à medida que for sentido no meu coração, basear-se-á sobretudo no caminho do encontro pessoal com Cristo e tudo aquilo que Ele foi mudando na minha vida.
Faço-o porque me lembro de alguns testemunhos que ouvi e me ajudaram a caminhar, me deram forças para acreditar.
Faço-o, colocando-o nas mãos de Deus, para que Ele, dele se sirva, tocando os corações que quiser tocar, ou se deixarem tocar.
Faço-o para que aqueles que já não acreditam, saibam que há sempre tempo para acreditar.
Faço-o para que aqueles que apenas praticam o preceito, a prática religiosa, possam perceber que estão a perder um manancial de graças que o Senhor derrama naqueles que para além de praticar, procuram viver a fé no seu dia a dia e em tudo.
Faço-o, em último lugar, porque sinto que o devo fazer agora.
Nada é meu, porque tudo pertence ao Senhor da vida.
Reconciliado com o meu passado, (que assumo com alegria no Seu perdão), agradeço-o a Deus, entendendo-o como uma “escola” que Ele permitiu na minha vida, para melhor perceber que sem Ele a vida não tem sentido.
Que não haja orgulho em mim, mas apenas vontade de O servir, disponibilizando-me para os outros.