sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (7)

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Muitas pessoas julgam que as superstições se referem apenas àquelas coisas mais comuns, como “não passar debaixo de uma escada”, “do azar de um espelho partido”, “do número 13”, etc.
Mas verdadeiramente as superstições vão muito para além disso pois confinam com o mundo do oculto.

Só por esta palavra, oculto, podemos desde logo perceber, com simplicidade, o erro que estas práticas envolvem.

Tudo o que é oculto, escondido, dissimulado é contrário a Deus, porque Deus é a Verdade que se revelou e se revela aos homens, para que melhor O conheçam e amem, e assim vivam segundo a Sua vontade, aceitando a salvação que Ele mesmo oferece ao homem.
E esse caminho de salvação leva à libertação do homem de tudo o que é oculto, de tudo o que, portanto, não se revela à luz da verdade.

Percebamos assim e também, como são ridículas certas superstições amplamente divulgadas, que ninguém diz seguir, mas de que muita gente tem medo, e às escondidas, (oculto), acabam por praticar.

Claro que todas as superstições têm uma “explicação” tradicional, que vem normalmente do tempo em que o oculto imperava mais sobre a terra, do que a luz da verdade, em que o homem vivia mais no medo do oculto, do que na liberdade do amor de Deus.

Mas não é verdadeiramente ridículo atribuir à quebra de um espelho, sete anos de azar?
Ou ao número treze um predestinado azar?
Ou ainda ao bater com as “nozes dos dedos” na madeira, o afastamento de qualquer mal?

É aliás tão ridículo, que a maior parte das pessoas que praticam estas superstições, não o fazem “às claras”, precisamente porque têm vergonha de cair no ridículo, ou então praticam-nas com uma suposta indiferença irónica, mas a que no fundo está subjacente um medo do oculto.

E se estas práticas são ridículas em qualquer homem, são-no ainda mais num cristão católico, que deve ter toda a sua confiança e esperança centrada em Deus, em Jesus Cristo que se fez Homem, para libertar o homem de todo o oculto que o aprisionava, (as trevas do medo, o pecado, o desconhecimento de Deus), e por Sua graça alcançar a salvação.

Mas a verdade é que todos os dias vemos cristãos “baterem com os dedos na madeira”, e outras coisas mais, que mesmo sendo por hábito rotineiro, não deixam de ser erradas e passam um mau testemunho a quem a elas assiste.

Tal como, por exemplo, o uso de amuletos, (como figas, ferraduras, signos e tantos mais), às vezes “misturados” no mesmo fio ao pescoço, ou no mesmo local, com Crucifixos, com medalhas de Nossa Senhora ou de Santos.

Ou as “pirâmides” e tantas outras coisas, espalhadas pelas casas, pelos locais de trabalho, “a par”, com a Bíblia, e outros símbolos verdadeiramente cristãos.

Ou ainda os terços pendurados nos automóveis, muito mais como “amuleto”, do que como sinal da presença de Deus, como sinal de oração contínua.

Que confusão reina nas nossas cabeças, nos nossos corações!

A nossa confiança e esperança é em Deus, ou pelo sim pelo não, vamos também usando esses amuletos, de modo a estarmos bem “com Deus e com o Diabo”?

E isto leva a perguntarmo-nos, se quando oramos o fazemos com fé e confiança, ou apenas a “ver se dá”, se temos alguma resposta?
É que muitas vezes parece que as nossas orações são do tipo: “ou me dás o que eu quero, ou vou procurar noutro lado!”

Ou seja, com essa prática pretendemos muito mais “servir-nos” de Deus, do que servir a Deus!

As superstições são tão terríveis e enganadoras que nos podem levar até, (mesmo na prática da oração e dos sinais sacramentais), a pecar, caindo na tentação de atribuir eficácia, apenas e só, a fórmulas e acções, (o que não fica longe de um conceito de magia), quando, mais uma vez, a nossa fé, a nossa confiança, a nossa esperança, está e deve estar apenas e só no Deus de amor que se nos revela, nos chama e congrega.

Vejamos o Catecismo da Igreja Católica.

A SUPERSTIÇÃO

2111. A superstição é um desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Também pode afectar o culto que prestamos ao verdadeiro Deus: por exemplo, quando atribuímos uma importância de algum modo mágica a certas práticas, aliás legítimas ou necessárias. Atribuir só à materialidade das orações ou aos sinais sacramentais a respectiva eficácia, independentemente das disposições interiores que exigem, é cair na superstição.

Por isso mesmo devemos ter muito cuidado com aquilo que fazemos, com o modo como oramos, com a intenção com que vivemos a nossa fé, com a prática diária da fé que afirmamos professar, por todas as razões, e sobretudo pelo testemunho que damos aos outros.

Orações infalíveis?
Infalível é Deus, e não a fórmula da oração.

Continuar ou quebrar correntes de oração, mensagens e tantas outras coisas?
Pois se nós quebramos a nossa aliança com Deus quando pecamos e Ele nos perdoa sempre, como poderiam essas práticas “castigar-nos” e/ou prejudicar-nos?

Crucifixos junto com figas e outros amuletos e coisas parecidas?
Quem é que nos protege do mal? É Deus, na nossa comunhão com Ele, ou é o mal que nos protege do próprio mal, o que não faz sentido?

Fazer um determinado número de fotocópias ou de práticas seja do que for, para obter algo de Deus?
Então e quem é que determinou esse número? Foi Deus, ou foram os homens?
Deus age por amor, não age por quantidades, ou por números!

É a água benta, ou o sal benzido, que por si só actuam no homem, ou é a acção de Deus naqueles que percebem e vivem nesses sinais sacramentais a presença de Deus?

«Então, uma mulher, que padecia de uma hemorragia há doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe na orla do manto, pois pensava consigo: 'Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada.' Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse-lhe: «Filha, tem confiança, a tua fé te salvou.» E, naquele mesmo instante, a mulher ficou curada.» Mt 9, 20-22

Então a mulher tinha fé e confiança nas vestes de Jesus, ou no próprio Jesus Cristo?

Se temos fé, temos confiança.
Se temos fé e confiança, temos esperança.
Se temos fé confiança e esperança, é porque permanecemos em Deus.
Se permanecemos em Deus, Ele permanece connosco,
E se Ele permanece connosco, o que podemos temer? Rm 8, 31-39


Monte Real, 25 de Fevereiro de 2011
(continua)
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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (6)

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Regresso ao texto anterior, para tentar clarificar melhor a importância de estarmos atentos e não nos deixarmos levar por sentimentos de “incapacidade”, de falsa humildade, ou de “obsessão” pelos nossos defeitos, que nos podem afastar de darmos de nós aos outros, pois tudo aquilo que o Senhor nos dá, deve ser sempre partilhado em função do bem comum, na proclamação da Boa Nova, no testemunho de Fé.

Pensemos que, (por uma hipótese totalmente absurda), Pedro e os Apóstolos se tinham deixado levar por sentimentos tais como, “eu não sou capaz”, “eu sou muito pecador”, “eu tenho que viver apenas interiormente a minha fé”, ou que Paulo tinha “perdido” o seu tempo preocupado com um seu “possível” orgulho, com uma sua “possível” vaidade, e assim, todos eles por força disso, não tivessem cumprido a missão a que o Senhor Jesus os chamou.

Se assim tivesse acontecido, não teriam chegado aos nossos tempos, (escrita e oralmente), os ensinamentos de Cristo, os Evangelhos, os Actos dos Apóstolos, as Cartas de Paulo, a Tradição da Igreja, enfim tudo que é a revelação de Deus aos homens, para por Ele chamados e convocados, serem Igreja caminhando em comunhão, vivendo o plano salvífico de Deus para a humanidade.

Ensina-nos a Igreja que a revelação de Deus atinge a plenitude em Cristo, mas ensina-nos também que a missão de todo e cada cristão, é dar testemunho de fé, por palavras, actos e até com a própria vida, (se a tal for chamado), na certeza de que nunca lhe faltará em momento algum a assistência do Espírito Santo.

Diz-nos a Lumen Gentium:

«35. Cristo, o grande profeta, que pelo testemunho da vida e a força da palavra proclamou o reino do Pai, realiza a sua missão profética, até à total revelação da glória, não só por meio da Hierarquia, que em Seu nome e com a Sua autoridade ensina, mas também por meio dos leigos; para isso os constituiu testemunhas, e lhes concedeu o sentido da fé e o dom da palavra (cfr. Act. 2, 17-18; Apoc. 19,10) a fim de que a força do Evangelho resplandeça na vida quotidiana, familiar e social. Os leigos mostrar-se-ão filhos da promessa se, firmes na fé e na esperança, aproveitarem bem o tempo presente (cfr. Ef. 5,16; Col. 4,5) e com paciência esperarem a glória futura (cfr. Rom. 8,25). Mas não devem esconder esta esperança no seu íntimo, antes, pela contínua conversão e pela luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos do mal» (Ef. 6,12), manifestem-na também nas estruturas da vida secular.
Do mesmo modo que os sacramentos da nova lei, que alimentam a vida e o apostolado dos fiéis, prefiguram um novo céu e uma nova terra (cfr. Apoc. 21,1), assim os leigos tornam-se valorosos arautos da fé naquelas realidades que esperamos (cfr. Hebr. 11,1), se juntarem sem hesitação, a uma vida de fé, a profissão da mesma fé. Este modo de evangelizar, proclamando a mensagem de Cristo com o testemunho da vida e com a palavra, adquire um certo carácter específico e uma particular eficácia por se realizar nas condições ordinárias da vida no mundo.»

Ora se percebemos acima que a missão de Pedro, de Paulo e dos Apóstolos foi indispensável para a proclamação da Boa Nova, para a edificação da Igreja, continuada essa acção pelos seus sucessores, (os bispos), «pela imposição das mãos», até aos nossos dias e para sempre, percebemos então também, porque a própria Igreja no-lo afirma como acima lemos, que todos somos co-responsáveis na edificação do Reino de Deus, (hierarquia e leigos), e que é missão de cada baptizado colaborar em e com tudo o que o Senhor lhe dá para essa mesma edificação.

Compreendemos por isso, ou devemos compreender, como é importante para o Demónio a tentação que nos pode levar a não exercermos esse sacerdócio comum a que somos chamados pelo Baptismo, e nos deve levar a cumprir a missão a que somos chamados e convocados.

Vejamos como o Catecismo da Igreja Católica nos ensina a importância da iniciativa dos cristãos leigos.

899. A iniciativa dos cristãos leigos é particularmente necessária quando se trata de descobrir, de inventar meios para impregnar, com as exigências da doutrina e da vida cristã, as realidades sociais, políticas e económicas. Tal iniciativa é um elemento normal da vida da Igreja:
«Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: por eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade. Por isso, eles, sobretudo, devem ter uma consciência cada vez mais clara, não somente de que pertencem à Igreja, mas de que são Igreja, isto é, comunidade dos fiéis na terra sob a direcção do chefe comum, o Papa, e dos bispos em comunhão com ele. Eles são Igreja» (Pio XII, discurso de 20 de Fevereiro de 1946; citado por João Paulo II, CL9).

Queixamo-nos muitas vezes que os cristãos católicos não têm conhecimentos, porque não lhes é dada formação, etc., mas a verdade é que a Igreja coloca ao seu dispor um sem número de documentos, grande parte deles de fácil acesso e simples interpretação, para além de tantas obras de autores católicos, disponíveis a todos os fiéis.

Mas a verdade também é que muitos cristãos preferem ler livros de autores que, longe de estarem em conformidade com a Doutrina da Igreja, os levam muitas vezes de forma encapotada, a seguirem caminhos que os afastam da Verdade.

Vejamos por exemplo o sucesso de livros como “O Código Da Vinci”, e outros parecidos, que sem dúvida tantos cristãos leram, para depois afirmarem que ficaram com dúvidas!
Se ficaram com dúvidas é porque, ou a sua fé é “fraca”, ou não nem sequer tentaram aceder a obras que demonstravam sem dúvidas, os erros de tais livros.

Lêem-se livros de “espiritualidades” duvidosas, (como por exemplo Paulo Coelho e tantos outros), mas não há tempo, nem apetência para ler livros de espiritualidade cristã católica, que estão à disposição de todos, talvez até nas mesmas livrarias.

Lêem-se livros sobre as vidas dos Santos, mas a atenção foca-se mais nos milagres aos Santos atribuídos, (o que leva a uma “espiritualidade” de procura da resolução fácil de problemas como se Deus fosse “mágico”), do que na sua vida de santidade, tentando imitá-los nas suas virtudes.

E no entanto, parecendo que estamos a fazer bem, vamos sendo afastados do essencial, para nos fixarmos no acessório.

E não é isto a acção subtil do Demónio?

E não é acção do Demónio levar-nos pelas razões mais espúrias, a recusarmos a missão que o Senhor colocou nas nossas mãos, para com Ele, e a permanente assistência do Espírito Santo, colaborarmos na edificação da Igreja, e n’ Ela todos sermos participantes do mistério de salvação?

Com certeza que esta missão que o Senhor coloca nas nossas mãos, não é do agrado do Demónio, pois leva à dilatação do reino de Deus no mundo, (o próximo e o mais afastado), para glória de Deus.

E leva também ao nosso próprio crescimento e fortalecimento na fé, porque ao exercermos os dons que o Senhor nos confere, (dos mais simples, aos mais difíceis), eles se vão desenvolvendo e prosperando, levando-nos ao encontro da vontade de Deus, porque:
«Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado e terá em abundância; mas àquele que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado.» Mt 13,12

Como podemos nós invocar motivos tais como, “eu não sou capaz”, “eu não tenho conhecimentos”, “eu não tenho talentos”, etc., etc., para não cumprirmos a missão sublime que Jesus Cristo nos deu?

Muito melhor do que quaisquer palavras que aqui escreva, ensina-nos a Igreja com palavras de compreensão simples, acessíveis a todos.

Decreto sobre o Apostolado dos Leigos - «Apostolicam Actuositatem» - Vaticano II

«2. Existe na Igreja diversidade de funções, mas unidade de missão. Aos Apóstolos e seus sucessores, confiou Cristo a missão de ensinar, santificar e governar em seu nome e com o seu poder. Mas os leigos, dado que são participantes do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, têm um papel próprio a desempenhar na missão do inteiro Povo de Deus, na Igreja e no mundo. Exercem, com efeito, apostolado com a sua acção para evangelizar e santificar os homens e para impregnar e aperfeiçoar a ordem temporal com o espírito do Evangelho; deste modo, a sua actividade nesta ordem dá claro testemunho de Cristo e contribui para a salvação dos homens. E sendo próprio do estado dos leigos viver no meio do mundo e das ocupações seculares, eles são chamados por Deus para, cheios de fervor cristão, exercerem como fermento o seu apostolado no meio do mundo.»

E ainda:

«3. A todos os fiéis incumbe, portanto, o glorioso encargo de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens em toda a terra.
O Espírito Santo - que opera a santificação do Povo de Deus por meio do ministério e dos sacramentos - concede também aos fiéis, para exercerem este apostolado, dons particulares (cfr. 1 Cor. 12, 7), «distribuindo-os por cada um conforme lhe apraz» (1 Cor. 12, 11), a fim de que «cada um ponha ao serviço dos outros a graça que recebeu» e todos actuem, «como bons administradores da multiforme graça de Deus» (1 Ped. 4, 10), para a edificação, no amor, do corpo todo (cfr. Ef. 4, 1). A recepção destes carismas, mesmo dos mais simples, confere a cada um dos fiéis o direito e o dever de os actuar na Igreja e no mundo, para bem dos homens e edificação da Igreja, na liberdade do Espírito Santo, que (sopra onde quer» (Jo. 3, 8) e, simultaneamente, em comunhão com os outros irmãos em Cristo, sobretudo com os próprios pastores; a estes compete julgar da sua autenticidade e exercício ordenado, não de modo a apagarem o Espírito, mas para que tudo apreciem e retenham o que é bom (cfr. 1 Tess. 5, 12.19.21).»

Porque não temos formação, conhecimentos, (porque a ela e a eles não queremos tantas vezes aceder), fechamo-nos na nossa “fé privada” e não partilhamos com os outros os dons que o Espírito Santo derrama em cada um para a edificação de todos, mesmo os dons mais simples, como acima lemos no documento citado.

E assim, em vez de aceitarmos e vivermos a missão que o Senhor nos dá, e em comunhão de Igreja, n’Ela colaborando, (pela graça de Deus), para o seu «crescimento e contínua santificação» LG 33, vamos vivendo uma fé “morna”, individualista, tão ao gosto do Demónio que nos quer fazer perder a salvação que o Senhor nos deu e dá continuamente.

Somos baptizados, somos templos do Espírito Santo que habita em nós permanentemente.
Confiemos n’Ele, porque como diz o Senhor:
«mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Jo 14, 26

Marinha Grande, 16 de Fevereiro de 2011
(continua)
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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (5)

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Diz-nos o Catecismo da Igreja Católica
418. Como consequência do pecado original, a natureza humana ficou enfraquecida nas suas forças e sujeita à ignorância, ao sofrimento e ao domínio da morte, e inclinada para o pecado – inclinação que se chama «concupiscência» .

Assim o Demónio serve-se dessa nossa inclinação para o pecado, para tentando-nos, nos levar a pecar, e pelo pecado nos afastar de Deus, razão pela qual e mais uma vez a nossa vigilância tem de ser constante, com uma vivência real e verdadeira da fé que afirmamos professar.

E não nos enganemos, pois é muitas vezes nas mais “pequeninas” coisas que nos deixamos enredar e, em vez de caminharmos em Cristo como é nosso desejo, caminhamos “distraídos”, deixando-nos envolver em coisas que parecem um bem, mas que afinal nos vão afastando do bem que nos é dado quando vivemos segundo a vontade Deus.

Reflictamos agora como por vezes nos podemos deixar levar na tentação subtil, quando nos dispomos a servir, (mesmo fazendo-o em Igreja), que nos leva a afastarmo-nos do bom propósito de algo a que fomos chamados para o bem comum.

Uma história verdadeira, resumidamente, a propósito do que acima é referido.

“Passados uns tempos de ter iniciado a minha caminhada num Grupo de Oração, vieram ter comigo para eu fazer um ensinamento sobre a Palavra de Deus, pois era necessário o grupo ter alguém que o fizesse semanalmente.
Apeteceu-me recusar, lembro-me que ofereci muita resistência ao “pedido”, (até porque eu era muito tímido para falar em publico), mas lá me dispus a fazê-lo.
Preparei-me, muito bem preparado, e à medida que o ia fazendo ia crescendo em mim a certeza de que tudo iria sair muito bem, que eu era inteligente, etc., e portanto não iria haver problemas e até iriam ficar espantados com as minhas capacidades.
No dia semanal da oração lá estava eu convencido que iria ser muito fácil. Quando chegou o momento, levantei-me, rezaram por mim, e eu comecei a falar.
Disse duas ou três frases, calei-me, fiquei envergonhadíssimo e disse: Eu não sou capaz, e sentei-me.
Nessa altura o Marcelo, (hoje sacerdote), voltou-se para mim e disse: Tu és capaz Joaquim, não desistas.
Levantei-me outra vez e falei, falei não sei o quê, mas falei o que me vinha ao coração. Foi uma lição que não esqueci.
A partir daí comecei a fazer os ensinamentos, não só no meu grupo, mas passado algum tempo noutros grupos para onde me convidavam.”

Por esta história podemos perceber dois tipos de tentações, diria quase antagónicos, mas que no fundo apenas pretendem afastar-nos daquilo que somos chamados a fazer.

Por um lado o auto-convencimento de que sou capaz sozinho, e por isso apenas me basta estudar, reflectir e confiar nas minhas capacidades.
Claro que tudo isso é necessário pois Deus serve-se daquilo que cada um é, mas se não nos entregarmos nas Suas mãos, se não nos abrirmos ao Espírito Santo, «que fala em nós» Mt 10,20, como podemos nós transmitir o que Deus quer dizer a nós próprios, e por nós aos outros?
Podemos fazer um belo discurso, com belas palavras, mas esse discurso não terá “efeitos” na vida daqueles que ouvem, porque está “vazio” de Deus, e assim, algo que parecia bom, acaba por não edificar, acaba por não tocar os corações que precisam ser tocados.

Por outro lado, oposto ao primeiro, a assunção de que não somos capazes de fazer aquilo que nos é pedido.
Esta posição que parece realmente oposta à primeira, não o é no entanto em verdade, porque a maior parte das vezes se baseia no medo de falhar, portanto numa vergonha humana, porque verdadeiramente estamos a contar apenas connosco para o fazermos.
A “obra” parece-nos demasiadamente grande e somos levados a recusá-la porque apenas confiamos em nós e assim não usamos os talentos que Deus nos dá e que vão permanecendo escondidos, muitas vezes até para nós, porque nunca nos apercebemos deles, porque não os exercitámos.
Não era Pedro um simples pescador?
E no entanto o Espírito Santo fez nele a obra necessária.
Os talentos que Deus nos dá, são sempre para a edificação de todos no cumprimento da missão a que todos os cristãos são chamados, e se deles não nos servimos, pecamos por omissão e também porque recusamos aquilo a que somos chamados por Deus, mesmo naquilo a que se possa chamar de “serviços mais simples”, mas que o não são, porque todos têm a mesma dignidade aos olhos de Deus.

Outra história que ilustra outra forma de sermos tentados a afastar-nos do essencial, para nos perdermos no “acessório”.

“Ao falar em público expunha-me, e as pessoas vinham ter comigo e isso envaidecia-me, orgulhava-me, julgando eu severamente esses meus pecados. Havia, portanto, uma luta interior em mim, por causa do meu orgulho, da minha vaidade.
Num retiro da Comunidade Pneumavita, e durante a adoração nocturna ao Santíssimo Sacramento, pedi ao Senhor que me “libertasse” de fazer os ensinamentos, porque me estava a fazer pecar, porque me estava a “ocupar” numa luta constante contra os meus sentimentos de orgulho. Dormi descansado, sabendo que Ele não deixaria de responder ao meu apelo.
No outro dia e no final do retiro o Padre Lapa perguntou se alguém queria partilhar, enfim dar testemunho.
Depois de algumas pessoas terem falado, levantou-se um homem que disse mais ou menos isto:
Não vou falar sobre o retiro, mas tenho de testemunhar isto que me aconteceu. Sou um jogador inveterado e gasto todo o meu dinheiro no jogo. Estou no Renovamento Carismático há uns anos, já rezaram por mim, para me libertar deste vício, estive alguns dias sem jogar, mas volto sempre ao mesmo.
No princípio deste ano fui a um grupo de oração perto de Monte Real.
Voltando-se para mim, disse então:
Ali o Joaquim, fez um ensinamento sobre os vícios que acontecem nas nossas vidas e nos escravizam, e eu desde essa noite, já lá vão 6 meses, nunca mais joguei.
Calculam como eu fiquei, não orgulhoso, mas envergonhado, corado, sem saber onde me meter.
Percebi o “recado” de Deus!”

Tinha-me respondido, não como eu queria, mas de modo a que eu percebesse que se queria estar ao Seu serviço, tinha de enfrentar as dificuldades, e, mais do que isso, que o inimigo se serve de coisas aparentemente boas, (libertar-me das razões do meu orgulho), para nós não utilizarmos os dons, os talentos que o Senhor nos dá para O servirmos, servindo os outros.
Levou-me a perceber que nunca sabemos quando uma palavra, um gesto, uma atitude que Deus coloca em nós, vai servir o outro, vai mudar a sua vida, vai dar-lhe paz, vai fazê-lo sentir-se amado, acolhido, vai ser o “empurrão” decisivo para uma tomada de decisão que mude a sua vida, por isso mesmo temos de estar disponíveis a sermos utilizados por Deus, servindo-nos dos dons e talentos que em nós coloca.

Por aqui percebemos como muitas vezes somos levados a lutar obcecadamente contra defeitos nossos, o que nos leva a afastar-nos do essencial, a não nos abrirmos à graça de Deus, e mais do que isso, não confiando em Deus, colocarmos a nossa luta nas nossas capacidades.
E se apenas confiamos em nós, a nossa luta contra o Demónio e as suas tentações estará perdida, porque nada podemos sem a ajuda de Deus.

Diz-nos o Santo Padre Pio
«Não vos esforceis para vencer as tentações, porque esse esforço as reforçariam. Desprezai-as e não vos detenhais nelas.
Acaso não é por inspiração do Espírito Santo que sabemos que, quanto mais uma alma se aproxima de Deus, mais deve estar preparada para as tentações?
Portanto, se é assim, coragem. Combate fortemente e receberás o prémio reservado às almas fortes.
Deves recorrer a Deus durante os ataques do inimigo, em Deus deves confiar e d’Ele deves esperar todo o bem. Não te fixes voluntariamente no que o inimigo te apresenta.
Lembra-te que vence quem foge.
Aos primeiros momentos de tentação, deves desviar o pensamento e recorrer ao Senhor.
Diante d’Ele põe-te de joelhos e, com grande humildade, repete esta pequena oração: “Tem misericórdia de mim, Senhor, pois sou uma pobre doente”.
Em seguida levanta-te e, com santa indiferença prossegue os teus afazeres.»


Outra forma de tentação hoje em dia muito presente é o activismo excessivo, e aqui apenas falamos desse activismo em Igreja.

Somos tentados a abraçar todas as causas, todos os serviços, todas as actividades e logo à partida um mal se detecta: Quem tudo quer fazer, nunca faz nada bem, e raramente acaba o que começa.

Depois este activismo excessivo leva sempre a que se fechem as portas a outros que também querem ajudar, mas já não encontram espaço, porque nós ocupámos os espaços todos.
Leva ao orgulho, sem dúvida, porque leva ao auto-convencimento de que somos insubstituíveis e que sem nós nada se faz.
Assim, também leva à permanência “eterna” à frente de serviços, de actividades, etc., o que provoca sempre um “deserto” à nossa volta e nos leva a dizer, supostamente com humildade, que não podemos sair das nossas “funções” porque não há ninguém para nos substituir.

Mas esse activismo leva-nos também, por falta de tempo, a descurarmos a nossa oração particular, a nossa meditação da Palavra de Deus, enfim o nosso crescimento em conhecimento para melhor amarmos e servirmos a Deus e aos outros.

Até porque esse activismo excessivo leva-nos a concentrarmo-nos em nós, no nosso “gozo” e “prazer”, de tal modo que a verdadeira caridade fica afastada das nossas actividades e o que fazemos é para nosso deleite e não para servirmos a Deus, servindo os outros.

O Papa Bento XVI chama-nos a atenção para este activismo em pelo menos duas ocasiões.

Na Encíclica DEUS CARITAS EST
37. Chegou o momento de reafirmar a importância da oração face ao activismo e ao secularismo que ameaça muitos cristãos empenhados no trabalho caritativo.

E numa catequese sobre São Bernardo de Claraval
«Tem outro escrito que quero assinalar, o «De consideratione», um breve documento dirigido ao Papa Eugénio III.
O tema dominante deste livro, sumamente pessoal, é a importância do recolhimento interior -- e o diz a um Papa --, elemento essencial da piedade. É necessário prestar atenção nos perigos de uma actividade excessiva, independentemente da condição e o ofício que se desempenha, observa o santo, pois -- como diz ao Papa desse tempo, e a todos os Papas e a todos nós -- as numerosas ocupações levam com frequência à «dureza do coração», «não são mais que sofrimento para o espírito, perda da inteligência, dispersão da graça» (II, 3).
Esta advertência é válida para todo tipo de ocupações, inclusive às inerentes ao governo da Igreja.»

Mas se reflectirmos ainda mais ao que pode levar este activismo excessivo, pensemos em alguém que é casado e tem uma família, e assim percebemos como o mesmo é pernicioso, e pode conduzir a danos terríveis na família e na própria vivência da fé pela família.

O homem e/ou a mulher que são chamados ao Matrimónio têm como prioridade a sua família, (a “sua” igreja doméstica), para além, obviamente, da sua prática de vivência diária da fé, individual e em comunhão de Igreja.

Se estão envolvidos, ou se deixam envolver em actividades excessivas, terão consequentemente de faltar em muitas ocasiões à sua comunhão familiar.
Se for um só deles, sofre o outro e os filhos, se forem os dois, sofrem os filhos, sem dúvida, e poderão sofrer os avós e os netos.
Fica destruída a unidade, a comunhão, e o amor familiar, parecendo no fundo que estão a fazer um bem, pois estão a “trabalhar” para a Igreja, pois estão a “fazer” caridade.

Mas pior do que isso, porque aos outros, aos que sofrem pela ausência, a “razão última” de tal acontecer parece ser a Igreja, parece ser Deus!
Ora isto, leva com certeza, a uma revolta contra a Igreja, contra Deus, por parte daqueles que sofrem essa falta de comunhão familiar.

Por aqui podemos perceber como uma coisa aparentemente tão boa, como o estar envolvido em actividades da Igreja, em actividades caritativas, se for em excesso, sem bom senso, sem discernimento, acaba por conduzir a um mal de difícil reparação.

Atentemos ao que nos diz a Constituição Pastoral GAUDIUM ET SPES
52. A família é como que uma escola de valorização humana. Para que esteja em condições de alcançar a plenitude da sua vida e missão, exige, porém, a benévola comunhão de almas e o comum acordo dos esposos, e a diligente cooperação dos pais na educação dos filhos. A presença activa do pai contribui poderosamente para a formação destes; mas é preciso assegurar também a assistência ao lar por parte da mãe, da qual os filhos, sobretudo os mais pequenos, têm tanta necessidade; sem descurar, aliás, a legítima promoção social da mulher.

Em tudo e mais uma vez, devemos vigiar, devemos discernir cada situação, cada decisão, e em todo o momento deixarmos que Deus fale ao nosso coração, pedindo também humildemente conselho, a quem nos pode aconselhar.


Marinha Grande, 8 de Fevereiro de 2011
(continua)
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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (4)

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Hoje vivemos num mundo que não dá respostas ao homem naquilo que ele mais anseia, e que é no fundo, a sua felicidade, a sua realização plena como homem.

O “mundo” pode cobrir o homem de riquezas materiais, de poder, de auto-satisfação, mas a ansiada paz, que é fruto do amor, que leva à felicidade, não pode ser comprada, não pode ser alcançada pelas riquezas materiais, nem pelo poder do “mundo”.

Aliás, o “mundo” ao “cobrir” uns de tantos bens e riquezas, faz com que outros vivam na miséria, e como tal, ao provocar pelo egoísmo de uns a revolta de outros, vai afastando o homem do projecto de Deus, que é o povo de Deus chamado e congregado, em que todos são irmãos, filhos de um Pai de amor que é Deus, unidos em comunhão de amor.

Ora este “mundo” não é o planeta Terra, nem a terra onde vivemos, mas sim a permanente acção do Demónio, que levando os homens ao egoísmo, à obsessão da posse, da riqueza material e do poder sobre os outros, vai provocando a destruição da harmonia entre os filhos de Deus, e como tal, à recusa da aceitação do amor de Deus, que deve levar forçosamente ao amor entre os homens, como filhos do mesmo Pai.

«Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor; amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.» Mc 12, 29-31

Frustrados pelas coisas que este “mundo” lhes oferece, uns porque já não sabem o que podem ter mais, outros porque nada têm, tentam os homens de hoje tantas vezes, procurar no sobrenatural, aquilo que lhes falta para alcançarem a felicidade.

E é muitas vezes aqui que a acção do Demónio se exerce de forma subtil, como ele sempre faz, e mascarando a legítima procura da felicidade, tenta o homem a deixar-se conduzir por caminhos que o levam ao afastamento de Deus.

Assim, hoje em dia o mundo está cheio de “espiritualidades”, umas mais visíveis nos seus propósitos e outras mais encapotadas nas suas formas.

Ainda recentemente ouvi alguém dizer-me que Jesus Cristo tinha sido o primeiro mestre de Reiki!

Se não fosse tão triste a afirmação, daria quase para rir!

Mas a verdade é que estas “espiritualidades” se vão servindo do Nome de Deus, para alcançarem os seus propósitos que, acredito, nalguns que as seguem até podem ser “bem-intencionados”.

Não vou obviamente fazer aqui a análise de todas essas “espiritualidades”, (nem para tal tenha conhecimentos e competência), mas tentar reflectir com simplicidade sobre o que todas essas “espiritualidades” advogam e praticam, conduzindo o homem sem se aperceber, ao afastamento de Deus.

Todas essas “espiritualidades” se fixam e fazem do homem o único autor e interveniente no seu caminho para a felicidade.

Assim procuram apenas a satisfação individual do homem e fazem do homem o centro, e é pelo homem e o próprio homem, que afirmam poder-se alcançar a felicidade e a realização plena.

Podem nos seus “ensinamentos” fazer menção, servirem-se do Nome de Jesus Cristo, algumas até de Maria, nossa Mãe do Céu, e dos Santos, mas no fundo o que apregoam é que o homem sozinho pode atingir a felicidade e a sua realização plena.

Deus é apenas “citado” para dar “credibilidade”.

Ora se acreditamos no Deus Criador, no Pai que enviou ao mundo o Seu próprio Filho para nos remir da lei do pecado e da morte, como podemos nós acreditar que sem Deus podemos alcançar a felicidade e a realização plena como homens?

Se acreditamos que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, como podemos nós alcançar a felicidade e a realização plena, a não ser pelo nosso próprio esforço, obviamente, mas também e sobretudo pela graça de Deus?

Se fossemos capazes sozinhos de alcançar a felicidade e a realização plena, não seriamos nós deuses de nós próprios?

E afinal não foi essa a razão principal para a queda dos anjos, o Demónio e os anjos decaídos, que queriam ser iguais a Deus?

Algum homem, alcançou sozinho a felicidade, a realização plena, libertando-se da lei da morte?

Que necessidade tem alguém que se diz, ou que quer verdadeiramente ser discípulo de Cristo, de procurar fora da Igreja em que foi baptizado, caminhos ínvios, quando tem á sua disposição o verdadeiro caminho?

No fundo ao fazê-lo, ao procurar esses caminhos, não está a fazer mais do que negar o caminho que Deus lhe oferece, e foi revelado ao homem desde sempre, e finalmente em Jesus Cristo.

Claro que em muitas dessas “espiritualidades” se fala em Jesus Cristo, em oração, etc., etc.
Mas se não se falasse, alguém que se diga cristão frequentaria esses caminhos?

O Demónio na tentação, não nos confronta, não nega aquilo em que acreditamos, mas sim, tenta conduzir-nos a caminhos que mistificados por uma falsa “presença” de Deus, acabam por nos ir afastando d’Ele.

Temos por exemplo as “espiritualidades” que levam a acreditar na “reencarnação”, e há infelizmente tantos cristãos católicos que caem nesse erro, muitos provavelmente de boa fé, mas também e apenas porque não querem saber, nem querem conhecer verdadeiramente a Doutrina, para não terem de mudar.

E, no entanto, basta lermos a Carta aos Hebreus 9, 27 «E, assim como está determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento», para percebemos como essa “teoria” está errada.

Ou o Catecismo da Igreja Católica § 1013
«A morte é o fim da peregrinação terrena do homem, do tempo de graça e misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrena segundo o plano divino e para decidir o seu destino último. Quando acabar «a nossa vida sobre a terra, que é só uma» (LG 48), não voltaremos a outras vidas terrenas. «Os homens morrem uma só vez» (Heb 9, 27). Não existe «reencarnação» depois da morte.»

Ou ainda a Constituição Dogmática Lumen Gentium § 48
«Mas, como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que no termo da nossa vida sobre a terra, que é só uma (cfr. Hebr. 9,27)»

Assim, se não temos conhecimentos para nos apercebermos racionalmente desse erro, então porque, afirmando-nos cristãos católicos, em vez de aceitarmos a Doutrina da Igreja, teimosamente persistimos em querer acreditar no erro?

Não sabemos, não queremos saber, mas acreditamos mais naquilo que nos dizem, do que na Igreja a que afirmamos pertencer!

Não é este procedimento a aceitação de uma tentação demoníaca, (fazer a minha vontade e não a vontade de Deus), que tem sempre como fim afastar-nos da Verdade, afastar-nos de Deus?

E as “espiritualidades” que “evocam os mortos”? E a adivinhação e a magia?

Não é tão clara a Bíblia, a Palavra de Deus, sobre estes assuntos?

«Ninguém no teu meio faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha; ou se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à evocação dos mortos, porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas.» Dt 18,10-12

«Não vos volteis para os espíritos dos mortos nem consulteis os adivinhos. Não vos contamineis com isso. Eu sou o Senhor, vosso Deus.» Lv 19,31

«Porque isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: 'Não vos deixeis seduzir pelos profetas que se acham entre vós, nem pelos adivinhos, e não façais caso dos sonhos que tendes.» Jr 29,8

Ou ainda, e mais uma vez, o Catecismo da Igreja Católica

2115. Deus pode revelar o futuro aos seus profetas ou a outros santos. Mas a atitude certa do cristão consiste em pôr-se com confiança nas mãos da Providência, em tudo quanto se refere ao futuro, e em pôr de parte toda a curiosidade malsã a tal propósito. A imprevidência, no entanto, pode constituir uma falta de responsabilidade.

2116. Todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro. A consulta dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos "médiuns", tudo isso encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor amoroso, que devemos a Deus e só a Ele.

2117. Todas as práticas de magia ou de feitiçaria, pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para os pôr ao seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja para lhe obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião. Tais práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas da intenção de fazer mal a outrem ou quando recorrem à intervenção dos demónios. O uso de amuletos também é repreensível. O espiritismo implica muitas vezes práticas divinatórias ou mágicas; por isso, a Igreja adverte os fiéis para que se acautelem dele. O recurso às medicinas ditas tradicionais não legitima nem a invocação dos poderes malignos, nem a exploração da credulidade alheia.

Assim, o homem ao procurar um fim bom, (a sua felicidade, a sua realização plena), deixa-se muitas vezes tentar e, cedendo á tentação, conduzir por caminhos que em vez de o aproximarem do que deseja legitimamente, (e que só se alcança em Deus e pela graça de Deus), o levam a ir-se afastando de tudo o que faz dele um verdadeiro cristão, que é aquele que segue a Cristo e põe em prática os Seus ensinamentos.

«Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática.» Lc 11,28

Porque o homem que segue esses caminhos, apenas procura a sua própria felicidade e realização, e rompendo a comunhão com Deus, rompe também a comunhão com os outros, tornando-se assim em alguém que apenas acredita em si próprio e nas suas convicções, o que o torna presa fácil da tentação e da queda.

E não é isso mesmo que o Demónio pretende?
A falta de amor a Deus, provoca também a falta de amor aos outros.
A falta de amor aos outros e a Deus, provoca a divisão.
A divisão provoca a mentira, a confusão e a guerra.
E esse é o “reino” do Demónio.

Mas não há que ter medo, mas sim a coragem de perseverar, orando, não só em oração individual, em oração de família, mas também em oração de comunhão em Igreja.

É que o Senhor Jesus, sabendo-nos frágeis e fracos, instituiu a Igreja, para que, congregando-nos à volta da Eucaristia, (a Sua presença viva constante junto de nós e connosco), d’Ele sempre nos aproximarmos e alimentarmos, fortalecendo-nos n’Ele, e pelo Espírito Santo, em comunhão de Igreja, acreditarmos que o Demónio já foi vencido, e que com Ele e permanecendo n’Ele, em tudo somos vencedores.

«Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela.» Mt 16,18


Marinha Grande, 2 de Fevereiro de 2011
(continua)
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