segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"DEUS RI"

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Acabei recentemente de ler o livro com o título deste texto: “Deus Ri”.

Quem me conhece, sabe que fui sempre um “arauto” do testemunho de alegria que deve estar sempre presente na vida de um cristão.

Não a alegria da gargalhada fácil, ruidosa e tantas vezes desproporcionada, mas a alegria calma, do humor construtivo, da paz vivida.

Não advogo que o cristão não tem tristezas, amarguras, fraquezas, momentos de dor, e que tendo-os, não os deve viver.
Obviamente que a vida é também composta desses momentos, e, como tal, devem ser sentidos e vividos.
Seria totalmente despropositado, (para não dizer mais), que um cristão chegasse a um funeral* de um amigo que vela alguém querido, e a rir o tentasse fazer rir também!

Não, o que distingue a alegria vivida pelo cristão, é a paz, a tranquilidade, a confiança e a esperança, que ele vive para além dos momentos bons e menos bons da sua vida, porque vive em comunhão com o Deus sempre presente.

Escreve o Papa Bento XVI, no primeiro volume do seu livro “Jesus de Nazaré”:
«As Bem-aventuranças são promessas, em que resplandece a nova imagem do mundo e do homem que Jesus inaugura, a «inversão dos valores». São promessas escatológicas; mas esta expressão não deve ser entendida como se a alegria que anunciam se encontre transferida para um futuro infinitamente distante ou exclusivamente para o além. Quando o homem começa a olhar e a viver a partir de Deus, quando caminha em companhia de Jesus, passa a viver segundo novos critérios e então um pouco de escathon, daquilo que há-de vir, está presente já agora. A partir de Jesus, entra a alegria na tribulação.»

Reflicto muitas vezes no que devem pensar aquelas pessoas que só vão à Missa em determinadas ocasiões, (como casamentos e funerais), quando na altura da Comunhão vêem os cristãos aproximar-se para comungar com um ar compungido, prostrado, a “mostrar” quase uma tristeza, e, até mesmo, quando regressam ao lugar de cabeça baixa, como se a comunhão que acabaram de fazer lhes pesasse demasiado “nos ombros”.

Pode haver algum exagero naquilo que escrevo, mas reparem se a minha descrição não corresponde um pouco à verdade dos factos.
É que me parece que nós confundimos muitas vezes seriedade e dignidade, com tristeza e prostração.

E isso conduz-nos a outro ponto, quanto a mim muito bem focado neste livro, e que é o humor são e construtivo, que também nos serve de caminho de conversão, quando o mesmo até nos leva a rirmo-nos de nós próprios, das nossas importâncias, das nossas vaidades, colocando-nos assim na procura de uma maior humildade em todo o nosso proceder.
«Ele é que deve crescer, e eu diminuir.» Jo 3,30

Nada mais revelo pois a leitura do livro perderia o interesse da descoberta desta alegria, deste humor, em que o autor nos envolve, e torna difícil parar de ler, uma vez aberta a primeira página.

Apenas mais duas palavras, para afirmar que para mim, para além de tantas passagens bíblicas que me levam ao encontro da alegria, as duas que cito abaixo, enformam decididamente esta minha vontade de sempre testemunhar a alegria de viver em comunhão com o “Deus connosco”.

«Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça.» Lc 21, 18

«Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa.» Jo 15,11



Monte Real, 3 de Agosto de 2012


*Uma pequena nota sobre este aspecto dos funerais.
Às vezes, quanto a mim, julgamos haver necessidade de proferir palavras para aqueles que sofrem a morte de alguém que lhes é querido, acabando por dizer frases rotineiras, e que muitas vezes até, provocam momentos de incómodo àqueles que nesse momento não estão preparados para as ouvir. Porque não, então, um simples beijo mais sentido, um abraço mais chegado, um aperto de mão mais apertado, ou até uma festa, uma carícia, (conforme o grau de amizade), que sem palavras, acabam por significar tudo o que queremos dizer.
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10 comentários:

Concha disse...

Fiquei cheia de vontade de ler o livro aqui referido.Quanto à alegria do cristão, estou inteiramente de acordo com o que dizes.Como havemos de dar testemunho aos que não acreditam, de que somos felizes em Cristo,se nós próprios não fazemos transparecer essa alegria no nosso viver?
Um abraço com gratidão na Paz de Cristo.

joaquim disse...

Claro Concha!

Que melhor testemunho nas dificuldades, se não a paz, a tranquilidade, daquele que não se desespera, porque vive na confiança e na esperança em Deus.

Abraço amigo em Cristo

Ni disse...

Deus para mim só faz sentido assim. Não o consigo sequer imaginar zangado.
Se Deus não (sor)risse como haveríamos nós de saber (sor)rir?!

joaquim disse...

Sem dúvida, Ni.

Deus "zangado" é uma coisa sem sentido, realmente!

Deus não se zanga, só ama!

E quem ama sorri!

Um abraço amigo em Cristo

Paulo disse...

Fiquei curioso desse livro.

Ailime disse...

Boa noite amigo Joaquim,
Sempre muito bom lê-lo e não me querendo repetir saio sempre daqui mais rica.
Fiquei curiosa sobre o livro que refere, porque me irá fazer muito bem.
Sobre o que diz abaixo fez-me lembrar o marido de uma senhora minha amiga quando perderam um filho e não sabendo o que lhe dizer, ele disse-me "não diga nada".
Muito obrigada, Joaquim, pelos seus ensinamentos.
Abraço fraterno em Cristo.
Ailime

joaquim disse...

Compra-o Paulo, não te vais arrepender.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado amiga Ailime!

Um abraço amigo em Cristo

Paulo Costa disse...

Ontem, estive a ler alguns trechos desse livro numa livraria e fiquei deveras interessado em ler o resto. Assim que tiver possibilidades, é um livro que quero adquirir.

Como partilha deixo um texto de Henri Nouwen sobre a alegria:

«Jesus revela-nos o amor de Deus para que a sua alegria seja a nossa e para que a nossa alegria seja completa. A alegria é a experiência de saber que somos amados incondicionalmente e que nada - doenças, falhanços, quebras emocionais, opressão, guerras ou mesmo a morte - pode privar-nos desse amor.(...)

É frequente descobrirmos a alegria no meio da tristeza. Eu recordo os tempos mais tristes da minha vida como sendo oportunidades em que tomei maior consciência de alguma realidade espiritual muito maior que eu próprio, uma realidade que me permitiu viver a dor com esperança. Atrevo-me mesmo a dizer: «A minha angústia foi precisamente o lugar onde encontrei a alegria». Seja como for, nada acontece automaticamente na vida espiritual.

A alegria não é algo que acontece assim sem mais nem menos. Temos de escolher a alegria e continuar a escolhê-la todos os dias. É uma escolha baseada no conhecimento de que encontramos em Deus o nosso refúgio e segurança e de que nada, nem sequer a morte, nos pode separar de Deus.»

Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

joaquim disse...

Obrigado Paulo, pelas palavras e pela citação.

Um abraço amigo em Cristo