Nasci nu, sem nada de meu. Nasci apenas com algo que já me pertencia pela graça de Deus: a vida e o amor.
A vida já a vivia, mas o amor ainda não o entendia como meu, mas sentia-o dos outros para mim.
Não tinha nada, os meus bens eram a vida, os meus pais e o meu Deus que velava por mim.
Os bens não me faziam falta, porque rodeado de amor, criança simples, confiava que Alguém tomava conta de mim.
Os anos foram passando e os bens que ia obtendo, pensava eu muitas vezes, eram fruto do meu esforço, ou melhor ainda, eram-me devidos, por qualquer razão ponderosa que eu nunca aprofundava.
Uns bens, passaram de meus pais para mim, outros fui-os adquirindo, outros ainda caíam-me nas mãos muitas vezes sem eu entender porquê.
Passaram anos, bastantes anos e cada vez mais eu acreditava que aquilo que eu possuía, era meu por direito próprio e que nunca me seria tirado.
Nos últimos doze anos da minha vida, quando tocado por Deus, comecei a viver verdadeiramente o dom da vida e a perceber e a sentir o que era o amor, sobretudo o amor de Deus por mim, muito lentamente fui-me apercebendo que talvez os meus bens não fossem pertença minha, mas apenas colocados nas minhas mãos, como graça de Deus.
Não que muitos deles não fossem resposta a algum esforço da minha parte, mas que se esse esforço tinha sido feito é porque Deus me tinha concedido o talento para tal.
Começaram então os problemas com tudo aquilo que eu sempre tinha considerado como meu e que nunca me seria tirado.
Não entendia o que se passava, não entendia porque sendo agora a minha vida mais dedicada ao Senhor, como era possível estarem a acontecer todas aquelas provações, embora, claro houvesse alguma responsabilidade minha, pela vida que antes tinha levado.
Ter-me-ía Deus abandonado, agora que me tinha chamado para Ele?
Comecei a entender que o Senhor na Sua sabedoria me estava a chamar a atenção para alguma coisa da minha vida e que convencido e orgulhoso como eu era, só com grandes sinais, que me tirassem de mim próprio, me poderia fazer perceber o que queria que eu mudasse na minha vida.
Comecei a entender melhor o Livro de Job e perante o que me estava a acontecer, ia-me cada vez mais identificando com ele, não infelizmente na sua entrega e humildade, mas na similitude dos factos que iam ocorrendo.
Até que chegou o dia! O dia em em que fiquei sem nada daquilo porque tanto tinha lutado, a casa, a empresa, enfim tudo aquilo a que a minha vida estava agarrada.
Meu Deus, esqueceste-te de mim? Foi talvez a minha primeira reacção.
Não foi uma reacção zangada ou de raiva, mas uma reacção triste, a que se juntou uma outra muito intensa: não tinha sido merecedor.
Ai aqueles dias como custaram a passar. Como foi difícil suportar a humilhação, sentir os olhares, sentir até talvez o que o meu pai no Céu, junto de Deus, poderia pensar de mim.
Mas veio ao meu coração que, graças a Deus, os santos vivem na misericórdia e com certeza o meu pai no Céu apenas poderia ter compaixão e amor por mim.
Passou na minha cabeça o sacrifício último e pedi ao meu Senhor, que fosse apenas eu a sofrer, que poupasse os meus filhos, a minha mulher, a minha família, aqueles que comigo trabalhavam, aqueles que de mim dependiam.
Calmamente, como Deus sempre faz, foi instalando a paz e a serenidade no meu coração.
Uma certeza calou fundo no meu coração: Sou feliz porque conheço o meu Senhor. Sou feliz porque Ele olha para mim e me prova. Sou feliz porque Ele olha por mim e não me abandona. Sou feliz porque tenho algum merecimento aos olhos do meu Deus, para que Ele permita que tantas coisas me caiam em cima dos ombros, ao mesmo tempo.
O que é tudo isto, comparado com a Cruz do pecado do mundo, aos ombros do meu Senhor.
Lutar, lutar pela felicidade e bem estar dos outros, e deixar que Deus tome conta de mim, foi o que veio ao meu coração.
Obrigado Senhor porque me purificas, porque me provas, porque me amas com amor imenso.
Louvado sejas, Senhor, por tudo o que me acontece, porque acredito agora que é um bem para a minha vida.
Com os olhos levantados para o Céu, faço minhas as palavras de Job 1,25:
“Saí nu do ventre da minha mãe
e nu voltarei para lá.
O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou;
Bendito seja o nome do Senhor!”
Novembro de 2004
______
Esta história, estes factos, são verdadeiros, aconteceram na minha vida.
Isto foi escrito no dia em que o meu mundo, desabou em cima de mim.
Graças a Deus, (isto não é interjeição), verdadeiramente pela graça de Deus, a minha vida estabilizou e continuo ligado à empresa criada por meu pai, embora noutras condições.
Porquê então agora este testemunho, esta exposição da minha vida?
Porque eu quero viver a minha vida dando testemunho do que Deus faz em mim e fazendo em mim, também faz naqueles que dEle se aproximam.
Testemunho não pelos bens, mas pelo amor, a paz, a serenidade, a alegria da Sua presença.
Porquê hoje?
Epifania é a manifestação do Rei-Messias a todas as gentes.
Embora Deus se tenha manifestado na minha vida muito antes e desde sempre, (eu estava "cego" e durante muito tempo não via), foi nestes factos que Ele se me revelou em toda a plenitude do Seu Amor.
Foi a Epifania na minha vida!
6 comentários:
Joaquim,
Li a sua história pessoal com grande admiração, é verdade que tantas vezes não entendemos o que nos acontece, li a sua história e pensei na minha vida nos seus últimos acontecimentos.
Foram tão confusos e tão inesperados, contudo eu sei, mas não sei explicar porquê, sei que Ele esteve sempre presente neles, mesmo nos momentos em que Eu O rejeitei, porque uma tristeza imensa me ter invadido. Ás vezes é tão dificil Ver a mão d´Ele nessas situações que descreve, " Comecei a entender que o Senhor na Sua Sabedoria me estava a chamar a atenção para alguma coisa da minha vida e que convencido e orgulhoso como eu era, só com grandes sinais, que me tirassem de mim próprio, me poderia fazer perceber o que queria que eu mudasse na minha vida"- esta frase é o que eu mais sinto.
Mas o mais incrivel no meio de tudo o que sinto, é que mesmo não compreendendo sei que Ele só quer o nosso bem, e mesmo que nos custe carregar um bocadinho daquela Cruz, é para o nosso bem.
Outra parte do texto que também gostei foi a inicial, a dos bens, que tantas vezes olhamos para estes como nossos, e como algo que nunca nos vão tirar, e não olhamos para eles com o verdadeiro olhar, de agradecimento, de renúncia ( no sentido de que se nos tirarem não morremos por isso), de simplicidade, de "desapego".
Gostei tanto do seu texto, Louvado seja Deus por tudo o que acontece, e por me ter dado a conhecê-lo a si Joaquim, porque Me aparece nas suas palavras.
Um grande beijinho em Cristo
Joana obrigado.
Por graça de Deus, vou-O vendo em tudo o que acontece na minha vida, e portanto de tudo, vou tirando lições que me ajudem a viver mais segundo a Sua vontade.
Assim, tudo o que para mim era importante, bens, posição social, deixou de ter a importância que tinha, para me empenhar em viver uma vida diferente, que me tem trazido mais paz, mais serenidade, sobretudo mais Jesus Cristo.
"Olhai os lirios dos campos..."
Abraço em Cristo
Também tive de ser despojada para poder conhecer Deus. E como Lhe passamos a dar valor...
Que DEus se continue a manifestar nas nossas vidas e em muitas mais e que ajude aqueles que estão a passar pela fase de despojamento. Que não entrem no desepero!
Isto faz-me lembrar como é importante falarmos de DEus aos outros. SE ninguém lhes falar, como é que poderão evitar o desepero? Até podem evitá-lo uma, duas,três vezes...mas vai haver algum dia em que cairão no abismo. E tudo por que nunca lhe falaram do Seu melhor amigo.
beijos em CRisto
Obrigado Maria João
Por isso que dizes é que, apesar de saber que ia expor a minha vida decidi dar este testemunho, porque só Deus sabe se alguém estando na mesma situação ao ler este texto pensa duas vezes antes de tomar decisões erradas.
Abraço em Cristo
Um beijinho.
Para ti também, sobrinha querida.
Enviar um comentário