Quando eu nasci chovia, mas isso não fazia mal nenhum porque o colo da minha mãe era tão quentinho e tão bom, que eu me sentia no paraíso.
Estavam todos á minha volta e olhavam-me com os olhos muito abertos, parece que á procura de semelhanças com a família.
Orgulhosamente a minha mãe fazia questão de me mostrar a toda a gente, dizendo como eu era bonita e perfeita e eu para não a fazer triste, fazia trejeitos com a boca a que eles chamavam sorrisos.
Fomos para casa e o amor rodeava-me, apesar de eu me aperceber que devia haver dificuldades, porque volta e meia sentia a minha mãe um pouco triste.
Ah, mas se eu fazia beicinho, ela ria e brincava comigo, para eu não perceber o que se passava.
Lembras-te mãe, quando eu dei os primeiros passos, quando fiz os primeiros sons, tão contente que tu estavas: telefonas-te a toda a gente, quiseste que todos fossem ver as gracinhas da tua filha.
Fui crescendo e cada vez mais percebi que a minha família não era rica, mas é engraçado que nunca me faltou nada de essencial, a comida, a roupa, (nada de marcas, é certo), os estudos, enfim tudo e sobretudo muito amor.
Lembro-me tão bem quando me apareceu aquele sangue nas pernas e tu mãe, cheia de paciência me explicaste o que era, e que tudo aquilo, para além de outras coisas significava que eu um dia também podia ser mãe como tu.
E o primeiro namorado? Quando ele me deixou, choramos juntas, abraçadas, e tu ias-me dizendo com toda a tua ternura que eu era boa demais para ele, e que ainda havia de encontrar o homem da minha vida.
Ai mãe, estávamos tão perto, éramos tão amigas. Tão bem que nós nos dávamos uma com a outra.
Lembras-te mãe, dos Natais, das festas em família, como combinávamos juntas o que fazer e como fazer.
E quando eu casei, mãe, como estavas contente e feliz, embora nos teus olhos pairasse uma nuvem de tristeza.
Eu ia sair de casa. Mas sabes bem mãe, que sempre estavas no meu coração, como eu sei que estava no teu.
E quando o pai adoeceu, lembras-te? Vim para o pé de ti, e juntas tomámos conta dele até aquele terrível dia em que morreu.
Como tu te abraçaste a mim, como eu me abracei a ti, como juntas suportámos a nossa dor.
E depois, depois a tua alegria, quando nasceu o teu neto, o teu orgulho na tua filha já mãe, os conselhos permanentes, até te aperceberes que eu tinha de fazer as coisas sozinha.
Ficavas ali, embevecida, a olhar para nós dois, muito orgulhosa da tua criação.
Tantas vezes te disse mãe, para fazeres os exames médicos, para ouvires o que te diziam e tu nada, era tudo para nós, para viveres cada dia, cada momento que o teu trabalho deixava, a tua filha e o teu neto.
Por isso mãe, caíste doente e não querias ver ninguém, ninguém, a não ser a mim, como tu dizias: O teu bem mais precioso.
De mãos dadas fomos passando aqueles momentos tão difíceis e abraçada a mim, deste o último suspiro, olhando-me fixamente nos olhos e dizendo-me com o coração: amo-te, minha filha.
Lembras-te, mãe, lembras-te?
Não te podes lembrar, porque quando eu tinha apenas 10 semanas, tu desististe de mim e esta vida que podíamos ter tido, nunca chegou a acontecer, porque tu lhe colocaste fim.
Sei que sofres, que ainda te lembras disso, como uma ferida que não fecha no teu coração, mas mãe eu continuo a amar-te muito e a esperar por ti aqui no Céu, junto a Jesus.
Não percas este caminho mãe, porque aqui tudo é amor e perdão e tudo espera para te acolher e abraçar no amor eterno.
Pois, dirão muitos, mais uma história demagógica, para apelar aos sentimentos, às emoções.
Pois é, direi eu, mas dá que pensar, não dá?
15 comentários:
Dá mesmo que pensar, a vida que ela poderia ter tido e a que escolheu. As opções por mais insignificantes que pareçam marcam a nossa vida.
Obrigado por me fazer pensar.
Beijinhps
Obrigado Joana.
Temos muitas vezes de ser confrontados com as opções que tomamos em tudo para percebermos o que ganhamos e o que perdemos, sobretudo em relação à vida.
Abraço em Cristo
El colo de una madre es siempre el mejor refugio. Su calor abate todos los fríos, derrite todos los hielos, alumbra todas las sombras.
Un fortñisimo abrazo.
Obrigado caminante pela tua visita.
A luta agora em Portugal é pela vida, pelas mães.
Abraço em Cristo
É uma história muito bonita e muito sofrida!
Sim pela vida.
Sim pelo amor completo, isto é, pelo amor feito alegria, tristeza, cumplicidade.
Beijos peregrinos
Esqueci-me de lhe dizer, mas o seu texto fez-me lembrar uma frase na entrevista do P.António Vaz Pinto, desta semana, ( mais uma vez vou fazer publicidade mas vale mesmo a pena ler, na XIS deste sábado, revista que sai com o público ). Perguntam-lhe se de vez em quando não tem saudades de qualquer coisa que poderia ter tido, como vida familiar e filhos e ele responde:
"Há uns tempos vi um filme muito curioso: uma senhora embraça-se na compra de um bilhete e perde o Metropolitano, coisa que a obriga a voltar para casa e a leva a descobrir que o marido afinal tem outra etc. Neste filme há duas histórias paralelas: numa versão ela perde o metropolitano, mas na outra ela entra na carruagem e a sua vida segue doutra maneira completamente diferente. É uma coisa muito bem elaborada que mostra como ganhar ou perder um simples metropolitano pode alterar uma vida inteira. Sempre que escolhemos uma coisa, renunciamos a outra . (...) "
Julgo que o mesmo se pode aplicar ao exemplo que deu no seu post, ao escolher fazer um aborto, matar uma vida, matar a própria filha, toda a sua vida foi alterada, e poderia ter sido um rumo completamente diferente. São escolhas, que as pessoas não percebem que nos marcam, que são mesmo importantes.
Beijinhos
( Desculpe se escrevi de mais... foi o entusiasmo.)
Cara Andante
Obrigado pela visita.
As histórias baseadas na vida, embora "inventadas", servem sempre para nos fazer meditar na própria vida.
Estou contigo: Sim à VIDA.
Abraço em Cristo
Obrigado Joana por mais esta achega.
Podes escrever quanto e quando quiseres, o espaço é teu.
Abraço em Cristo
A Vida não é uma questão de escolhas... eu não escolho ter um filho nem deixo de escolher!
Eu aceito ou não aceito... No caso de não aceitar, deveria existir toda uma sociedade preparada para o fazer dado que eu escolho (agora sim!) assumi-lo ou não!
Enfim... a Vida Humana é uma graça de Deus, nunca uma escolha do Homem!
Caro anónimo
agradeço a tua visita, mas confesso com toda a franqueza que não entendi o teu comentário.
Para mim só há uma escolha possivel: a vida.
Queres explicitar o querias dizer?
Abraço em Cristo
A escolha implica a existência de mais do que uma opção... opções, em relação à vida, quem as tem é Deus, não o homem! Por isso não acho correcto falar em escolhas! Era só esta a ideia...
Agora, eu posso não querer assumir a responsabilidade sobre uma vida... acredito que nestes casos a sociedade deva estar preparada para a receber e promover!
Educar passa por explicar a máxima romana: "a César o que é de César, a Deus o que é de Deus"!
Caro Anónimo
Estou de acordo contigo que não há opções em relação à vida e portanto não pode haver escolha, que é precisamente o que este refrendo quer instituir: a escolha por parte da mãe, sobre a continuação ou fim da vida que tem dentro de si.
Por isso sou frontalmente contra, como depreendo tu também és.
Repara que na minha história nunca falo em escolha.
Quanto à responsabilidade da vida da criança, depois de nascida é lógico que ela pertence à mãe e ao pai,(se o tiver assumido), que no entanto, por razões que só Deus julgará, poderá entregar a criança para adopção, sempre no meu entender, tendo em vista o bem da criança e não um qualquer egoismo por parte dos que a conceberam.
Penso que é aí que referes a obrigação da sociedade, do estado, com o que concordo inteiramente.
Em vez de pagar abortos, o estado, a sociedade, deveria promover a vida e o crescimento harmonioso das crianças.
Permite-me uma correcção:
A frase: "A César o que é de César e a Deus o que é de Deus", não é uma máxima romana, mas palavras de Jesus Cristo, como poderás confirmar, por exemplo, no Evangelho de São Lucas, cap. 20, vers. 25.
Obrigado pelos teus comentários.
Abraço em Cristo
Concordo plenamente com o seu último comentário Joaquim, na vida só à uma opção aceitar a vida, e dar às pessoas condições para terem filhos e não condições para os matar. Porque uma vida é tão importante. Acho que a sociedade devia ter condições pro-vida.
Beijinhos
Joaquim,
Com a carga emocional com que ando, pôs-me aqui a chorar do princípio ao fim, copiosamente como dizem os não muito antigos.
Mas fez-me bem, serviu sobretudo para mais uma vez poder afirmar a mim mesmo: VIDA SIM. Agradeço-te tudo o que fazes aqui, que marca (pelo menos a mim) a nossa vida. Portanto, amigos, entrar aqui é como a história do filme: perder ou não perder o metro.
Um grande abraço, tão grande e sentido quanto possa imaginar,
Diogo
Obrigado Diogo pelas tuas sentidas palavras.
Muitas pessoas têm medo ou vergonha das emoções, vejo que tu não és assim. Ainda bem.
As emoções fazem parte da vida e ajudam-nos a sermos mais "humanos".
Abraço forte e amigo em Cristo
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