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Às vezes, vem-me assim um
abatimento, uma tristeza, não entendo de onde e porquê, como que a dizer-me que
estou só, espiritualmente falando, como se Deus se tivesse apartado de mim e me
deixasse entregue a mim próprio e às minhas fraquezas e defeitos.
E se me distraio e não luto,
há uma secura, um vazio, que me quer iludir, colocando-me dúvidas, que
insidiosamente entra na minha mente e me faz perguntar a mim próprio se tudo
isto faz sentido, se Deus existe, se toda esta entrega me leva realmente a
algum lado.
E hoje, como tantas vezes, o
dia começou assim.
Mas estamos na Quaresma e à
minha mente, à minha imaginação veio a imagem de Jesus Cristo no deserto, só,
em jejum, e a ser tentado pelo demónio.
Qualquer comparação, entre as
duas situações, seria absolutamente absurda, mas abriu-me a mente para a
realidade de que, afinal estes momentos de abatimento, de tristeza, são também
uma tentação do inimigo, a querer afastar-me da certeza de Deus, da alegria de
Deus, da companhia, (mesmo que aparentemente ausente), de Deus.
E quero perceber porque é que
Deus permite tais momentos, permite tais tentações, como um modo de me
fortalecer na fé, tornando mais consciente em mim a necessidade espiritual e de
vida, de cada vez mais estar unido a Ele em oração e vigília permanente, não só
por mim, mas para dar testemunho de que Ele está realmente no meio de nós e em
nós.
E então, a secura pode ainda
permanecer, a sensação de estar só pode ainda continuar, mas no fundo do
coração brilha a luz da certeza do que Ele me diz, do que Ele nos diz, se O
quisermos escutar:
Eu estou aqui e nunca daqui
sairei, a não ser que conscientemente me queiras rejeitar.
Abençoada tentação, que acaba
por produzir tais frutos da graça de Deus!
Monte Real, 27 de Março de
2017
Joaquim Mexia Alves
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