.
.
Neste Domingo celebraremos a Solenidade de Pentecostes.
Todos nós, julgo eu, já lemos e conhecemos bem a passagem dos Actos dos Apóstolos que nos narra a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, a Virgem Maria e outras mulheres, que estavam em oração contínua pedindo o Espírito Santo, tal como Jesus lhes tinha ordenado quando se elevou ao Céu na Sua Ascensão.
Também, hoje em dia, pedimos o Espírito Santo para nós, individual e colectivamente, para Ele nos guiar, para Ele nos ajudar a perceber, a discernir, a vontade de Deus.
No fundo pedimos que Ele nos guie no caminho rumo à santidade, isto é, no caminho a sermos discípulos de Jesus Cristo.
Cuidado com o que pedimos!
O Padre Patrício, nosso pároco, por duas vezes nesta semana, dizia-nos isso mesmo com algum humor, ou seja, que pedir o Espírito Santo é perigoso, porque muitas vezes talvez não tenhamos a perfeita consciência do que pedimos.
A verdade é que, muitas vezes, pedimos o Espírito Santo para fazermos as nossas orações, para que ilumine as nossas vidas, enfim, para as nossas coisinhas, perdoem-me a expressão.
E nada disso está mal, mas hoje gostava que reflectíssemos naquilo que o Espírito Santo quer sempre fazer em nós, e esse sempre fazer em nós é, sem a mínima dúvida, fazer-nos ou levar-nos a ser Igreja.
Sim, o Espírito Santo chama-nos a ser Igreja.
Ah, que bom é ser Igreja!
Mas temos nós a consciência verdadeira do que é ser Igreja?
É que o Espírito Santo, que invocamos., quer que nós sejamos Igreja de Cristo, ou seja, Igreja viva, que une, qua actua, que caminha.
Então temos que perceber que ser Igreja não é só ir à Missa ao Domingo, ir à Confissão ou receber os Sacramentos.
Ser Igreja é muito mais do que isso, que faz parte importantíssima e primordial do ser Igreja, mas o Espírito Santo quer sempre tudo, e não apenas o pouco que a maior parte das vezes estamos dispostos a dar.
Ser Igreja, segundo o Espírito Santo, é ser irmão dos outros, sejam eles quem forem, mesmo até aqueles que ainda não são Igreja.
São Paulo diz-nos na belíssima imagem da Igreja na Primeira Carta ao Coríntios que:
«Pois, como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também Cristo.
De facto, num só Espírito, fomos todos baptizados para formar um só corpo, judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito.» (1Cor 12, 12-13)
O Espírito Santo que tanto queremos e invocamos chama-nos a ser esta Igreja de Cristo, onde ninguém é prescindível, pois todos somos imprescindíveis.
Reparemos, ainda, no que nos diz o Espírito Santo pela escrita de Paulo:
«Há, pois, muitos membros, mas um só corpo. Não pode o olho dizer à mão: «Não tenho necessidade de ti», nem tão pouco a cabeça dizer aos pés: «Não tenho necessidade de vós.» Pelo contrário, quanto mais fracos parecem ser os membros do corpo, tanto mais são necessários.» (1 Cor 12, 20-22)
Mas o Espírito Santo, servindo-se mais uma vez de Paulo, pede-nos ainda algo mais difícil, mas que devíamos ter sempre em conta no nosso dia a dia:
«Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria.» 1 Cor 12, 26)
Cuidamos nós verdadeiramente dos que sofrem, dos que precisam, por vezes mesmo ao nosso lado, nas nossas famílias?
É que muitas vezes olhamos só para fora e não vemos os que estão perto de nós na fragilidade de uma doença ou mesmo da velhice.
Invejamos nós o elogio dado ao outro ou o reconhecimento que lhe for feito por seja o que for que ele tenha praticado em Igreja?
E se em vez de invejarmos, dermos garças a Deus por aquele que fez algo que serviu os outros?
O Espírito Santo, que tanto queremos e invocamos, chama-nos a ser esta Igreja, em que todos na sua diversidade, devem querer ser um com Cristo, no amor do Pai, guiados pelo Espírito Santo.
Mas estamos nós prontos a ser Igreja, segundo a Sua vontade?
O Espírito Santo chama-nos a sairmos de nós próprios, a sairmos das nossas certezas, das nossas coisas, até mesmo dos nossos Movimentos e Obras, entendendo-os como um caminho que só tem sentido em unidade de Igreja, ou seja, sem comparações mundanas de qualidade ou quantidade, do tipo “o nosso é o melhor”!
O Espírito Santo chama-nos a servir, e tantas vezes nós dizemos que não somos capazes, ou que que quem deve fazer são aqueles que estão junto do Padre, como se houvesse algum grupo mais importante do que outro.
Se estão junto do Padre, se calhar é porque se disponibilizam para servir, o que afinal todos podem fazer.
O tal grupo do padre é, apenas e só, toda a comunidade paroquial.
Sim, é muito fácil dizer que não somos capazes, ou passar para os outros tudo aquilo a que nem sequer nos dispomos minimamente a fazer.
Mas não é verdade que o Espírito Santo chama a todos e, chamando a todos, capacita cada um a fazer aquilo a que é chamado?
Porque queremos nós tantas vezes fazer aquilo que o outro já faz, só porque nos parece que é mais visível, ou mais importante, e não discernimos no Espírito Santo aquilo a que somos chamados?
Tão importante aos olhos de Deus é aquele que põe as flores na igreja, como aquele que celebra, quando tudo é feito para servir a Deus servindo em Igreja por amor.
Temos ideias para a Igreja, para a paróquia?
Óptimo, então dêmo-las a conhecer.
Mas primeiro lugar peçamos ao Espírito Santo que nos mostre se essas ideias são da nossa pretensa sabedoria ou se são realmente Sua vontade para a Igreja.
Ficaremos surpreendidos ao perceber que, se discernidas no Espírito Santo, essas ideias podem fazer caminho em Igreja.
Realmente pedir o Espírito Santo é perigoso, como vai sendo perigoso hoje em dia ser Igreja.
Mas quando nos deixamos conduzir por Ele, transformamo-nos em Igreja e a Igreja transforma-se nessa família de Deus, que Cristo colocou nas mãos de Pedro e dos Apóstolos, e que até hoje continua e continuará a ser sempre um farol de amor para a humanidade.
Sejamos valentes, destemidos e invoquemos o Espírito Santo, para que Ele faça de nós a Igreja de quem hão-de voltar a dizer um dia: “Vede como eles se amam”!
Desde sempre Jesus Cristo chamou-nos a ser Igreja, a ser uma comunidade de fé, num só Corpo, que é o Corpo Místico de Cristo
Só o Espírito Santo nos pode unir na fé para sermos Igreja, Corpo místico de Cristo em que Ele é a cabeça e nós os Seus membros.
Sintamo-nos Igreja, porque ser Igreja é ser filho do Pai, irmão de Cristo, templo do Espírito Santo.
Ser Igreja é ser morada de Maria, nossa Mãe do Céu.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Marinha Grande, 6 de Junho de 2025
Joaquim Mexia Alves