quinta-feira, 23 de agosto de 2007

"PARÁBOLA" DAS DUAS PORTAS

(Pecado e Confissão)
Um homem muito atarefado, que mal tinha tempo para se alimentar, conheceu um Senhor muito bom, que lhe fez a seguinte proposta:
“Se mantiveres a porta da frente da tua casa sempre aberta, todos os dias te virei alimentar, sem nada te pedir em troca, a não ser, que mantenhas fechada a porta das traseiras e não a abras por motivo algum”.
Pareceu àquele homem que era uma boa proposta, e assim, pondo de parte o receio, decidiu entregar-se nas mãos daquele Senhor, passando a deixar a porta da frente de sua casa sempre aberta e confiando inteiramente todos os seus bens e inclusive a sua vida, àquele que lhe tinha feito tal proposta.
Constatou imediatamente que nunca lhe faltava alimento, que todos os seus bens estavam bem utilizados, e que eram para si fonte de alegria e não motivo de preocupação, com receio de os perder.
Constatou também que a vida lhe corria melhor, que as contrariedades continuavam a existir, mas que a presença constante, sem imposição, daquele Senhor, lhe transmitia paz, tranquilidade, confiança, esperança e muito amor.
Um dia, (a curiosidade foi mais forte), quis espreitar a parte de trás de sua casa e distraído deixou aberta a porta das traseiras.
Passado pouco tempo, estando na sala a descansar, viu surgir junto de si, um individuo elegante, bem vestido, confiante, de falas doces e sedutoras.
Em vez de o mandar sair de imediato, (visto que tinha entrado em sua casa sem pedir licença), deu-lhe ouvidos e começou a interessar-se pelo que este lhe dizia.
Disse-lhe então o individuo que o alimento que ele estava a receber era bom, sim senhor, mas não dava muito prazer ao corpo e que ele reparasse bem, pois afinal os seus bens que tanto lhe custavam a ganhar, eram utilizados por todos, o que no entender do individuo, não era justo, pois se tinha sido ele e só ele, sem a ajuda de ninguém, a adquiri-los com tanto esforço, só ele então, se deveria servir deles.
Afirmou ainda o individuo, que o homem sozinho e sem nenhum cansaço, poderia preparar um alimento muito melhor todos os dias, e que não se deveria preocupar porque ele o ajudaria em tudo.
Apenas lhe pedia que fechasse a porta da frente da sua casa, para não serem incomodados pelo Senhor e mantivesse sempre aberta a porta das traseiras, para que ele pudesse entrar sempre e a qualquer hora, para assim o poder ajudar.
Levado pela conversa do outro, o homem assim fez.
Ao principio tudo parecia correr bem. O homem andava feliz e contente, e embora a sua cabeça estivesse um pouco perturbada e não conseguisse pensar direito, o corpo andava cheio de prazer e engordava a olhos vistos.
Reparou então, que o individuo, em vez de pedir licença para entrar todos os dias, (como fazia o Senhor anteriormente), já se tinha instalado em sua casa e impondo a sua presença, punha e dispunha de todas as suas coisas, sem nada lhe perguntar.
Começou também a reparar, que embora o prazer corporal fosse bem maior, os seus pensamentos eram mais frios, sombrios, e que a paz, tranquilidade, amor e boa companhia que antes sentia já não existia, e no seu lugar se tinham instalado a dúvida, o nervosismo, a tristeza, a solidão e o medo de perder os seus bens.
Decidiu então expulsar o “novo amigo”, mas isso tornou-se tarefa muito difícil, porque ele não queria sair de sua casa e revelando-se muito insistente, fez novas promessas de felicidade e também algumas ameaças, como se a vida dele já lhe pertencesse.
Assustado, decidiu procurar o Senhor, pedindo-lhe que voltasse para sua casa, e também que o ajudasse a libertar-se daquele “amigo” tão incómodo e que já lhe inspirava tanto medo.
O Senhor e verdadeiramente seu único amigo recebeu-o de braços abertos e disse-lhe:
“Não tenhas medo, que eu também quero voltar à nossa tão antiga amizade, mas para isso tens de fazer duas coisas:
A primeira é, (sem medo, porque eu estou contigo), expulsar esse individuo para fora da tua vida e fechar definitivamente a porta das traseiras da tua casa.
A segunda, (imprescindível, pois sem a satisfazeres não poderei regressar), é que procures um dos meus "agentes", e eu tenho-os em todos os sítios, converses com ele, contando-lhe toda a história, como se passou e tudo o que fizeste durante todo o tempo em que estiveste com esse individuo, e lhe digas que sabes agora que estavas enganado, que procedeste mal, e que queres emendar tudo o que fizeste de errado.
Posso afirmar-te, que se o meu "agente" confirmar que estás verdadeiramente arrependido e decidido a não mais abrir a porta das traseiras, não terá dúvidas, a em meu nome te perdoar, e assim será imediato o meu regresso”.
O homem assim fez, e finda a conversa com o "agente" daquele Senhor, verificou com alivio, que a alegria, a paz, a tranquilidade, a esperança, o amor tinham voltado à sua vida, à sua casa, que os seus bens já não lhe causavam qualquer preocupação e que, sobretudo, o alimento que de imediato lhe começou a ser dado, tinha muito mais gosto, reparando ainda que esse gosto se mantinha permanente nele e não era causa de tristeza ou solidão, mas sim de alegria, paz e amor.
Grato ao seu Senhor, tomou a decisão de fechar e barricar a porta das traseiras com tudo o que o seu Senhor lhe fornecesse e estivesse ao seu alcance, resolvendo nunca mais dar ouvidos a quem com sedução o quisesse enganar.
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Escrito em 11 de Janeiro de 2001

8 comentários:

antonio disse...

Vivemos num mudo de sedução.

Muitos confundem-na com amor e por isso se perdem.

Fá menor disse...

Amigo,
hoje venho oferecer-te um prémio, aceitas?

Quanto à linda parábola...
concordo com o António.
Às vezes falta-nos discernimento, outras vezes até sabemos, mas deixamo-nos ir na onda. É preciso a coragem de não deixar certas portas abertas!

Beijinhos

Fa-

André A. Correia disse...

As portas traseiras abrem-se facilmente, fechá-las é que é o "cabo dos trabalhos". Ainda bem que contamos com a Divina Misericórdia.

joaquim disse...

Caro António

É verdade: a palavra "amor" usa-se muitas vezes para tanta coisa que nada tem a ver com o amor...

Abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Amiga Fa

Com certeza que aceito o prémio de uma amiga.
Hoje irei lá vê-lo e recolhê-lo...
O problema está muitas vezes em abrir a "má" porta...porque depois é muito dificil fechá-la...

Abreijos em Cristo

joaquim disse...

Caro André

Se não fosse Ele a fazer a força e a dar-nos força para fechar essas portas, pobres de nós, porque estavam sempre escancaradas...

Abraço amigo em Cristo

Maria João disse...

Sim , se não fosse a Divina MIsericórdia...

S. Francisco de Assis dizia que a maior virtude de DEus é a paciência... E, de facto, Ele tem muita, mas mesmo muita paciência...


beijos em Cristo

joaquim disse...

Olá Maria João

Bem regressada!!!

Pois é...Ele não tem paciência, Ele é a paciência...

Abraço amigo em Cristo