Recentemente em conversa com um amigo em Fátima, falávamos sobre a falta de vocações para o Sacerdócio.
Ontem numa reunião da Comunidade Luz e Vida, a que pertenço, que foi precedida da Eucaristia Dominical, na Igreja Paroquial de Albergaria dos Doze, presidida pelo Senhor D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, que instituiu o Marcelo, (seminarista pertencente à nossa Comunidade), no Ministério de Acólito, (será ordenado Presbitero, se Deus quiser, no final do próximo ano), falou-se novamente do tema das vocações e assim veio à minha memória essa conversa tida em Fátima.
Dizia-me esse meu amigo, que conversando há uns anos com o Padre Emiliano Tardiff, (já falecido), quando ele esteve em Portugal, sobre o assunto das vocações, ele lhe disse surpreendemente o seguinte:
- Diz o meu amigo que é necessário pedir ao Espírito Santo que desperte mais vocações sacerdotais para a Igreja, mas quem lhe diz que não é vontade do Espírito Santo esta "crise" de vocações.
E depois explicou o seu pensamento:
- Sabe nós os Padres, somos muitas vezes "centralizadores", e não deixamos espaço aos leigos.
Assim se houver falta de Sacerdotes, os leigos terão de ser chamados aos Ministérios que eles podem exercer, e também a uma muito maior participação na Igreja, em tantos campos onde é importante a sua participação, o que só pode ser muito bom para a própria Igreja.
Claro que as palavras não terão sido rigorosamente estas, mas este era o sentido do seu pensamento.
Ao referir esta conversa, a um Sacerdote que estava connosco nessa reunião, ele disse-me o seguinte:
- Sabe, na Polónia estão a atravessar uma "crise" ao contrário, ou seja, há tantos Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, que são eles que tudo fazem: dão catequese e "ocupam", digamos assim, os "lugares" onde os leigos podem exercer a sua missão, o que acaba por provocar um certo distanciamento dos leigos em relação à Igreja.
Não serão também estas as palavras exactas, que esse Sacerdote me disse, mas a ideia era esta.
Isto deu-me que pensar, e a ti?
Com isto não quero dizer que vou deixar de rezar pelas vocações, continuarei a fazê-lo com toda a perseverança, mas chama-me também a empenhar-me mais na construção da Igreja, a oferecer-me mais, não só fisicamente, mas também intelectualmente, na evangelização de todos nós, a começar por mim.
15 comentários:
Isto dá- me que pensar o seguinte:
1 - Não me importava nada que em Portugal, por ex., se vivesse a situação da Polónia.
2 - As vidas consagradas são as mais gratas a Deus e as suas preces, directamente ouvidas no Céu. Quanto mais preces...
3 - Justificar um bem - o empenhamento dosleigos na vida da Igreja - com um mal - a falta de vocações, não é decerto correcta.
4 - Jesus disse-o: Ide primeiro à casa de Israel! Para este objectivo não seriam necessários 72 discípulos nem doze Apóstolos, talvez bastassem uns três ou quatro.
5 - Em contraposição com o que disse o tal sacerdote - muito filosóficamente - o que de facto são precisas são vocações santas, de pessoas santas (por outras palavras: qualidade em detrimento da quantidade)
Finalmente: Claro que esta situação é recorrente. Jesus bem o sabia, ex. "a messe é grande mas os trabalhadores são poucos" e, depois,pedir pelas vocações - sempre - é uma obrigação de todo e qualquer cristão: "pedi ao Senhor da Messe que envie operários para a Sua messe".
Não conheci o Padre Emiliano Tardiff pessoalmente, com grande pena minha, mas conheci a sua extraordinária entrega, a obra de evangelização em todo o mundo e os testemunhos vivos e escritos que nos deixou.
De "filósofo" ou a "filosofia" não eram propriamente a sua maneira de viver o Evangelho, mas sim uma entrega constante, até à exaustão, por Cristo nos seus irmãos mais necessitados.
Está aberto, aliás, um processo para a sua beatificação.
Com certeza, que ele não queria dizer que não se rezasse pelas vocações, nem muito menos justificar um bem - o empenhamento dos leigos - com um mal - a falta de vocações.
O que ele queria dizer e muito provavelmente eu não o soube transmitir, é que o empenhamento dos leigos é imprescindivel à Igreja e que, chamando a atenção se calhar a si próprio e aos seus colegas Sacerdotes, é necessário o concurso destes leigos, para sermos uma Igreja mais viva e empenhada.
Aliás, tu próprio acabas por o dizer no teu comentário:(por outras palavras: qualidade em detrimento da quantidade).
Claro que devemos sempre e continuamente rezar pelas vocações, sacerdotais, religiosas e também as vocações no matrimónio e em todas as formas a que Deus nos chama a viver a vida que nos deu.
Tudo por Ele em comunhão de Igreja.
Abraço do teu mano
Joaquim
Estou completamente com o que se diz no post.
"A seara é grande e os operários são poucos". Ontem como hoje.
Que os padres não ocupem o lugar dos leigos nem os leigos o lugar dos padres. Há trabalho para todos e ainda sobra.
Conheço padres que ainda hoje dão catequese a crianças, tirando essa tarefa aos leigos.
Outrora, segundo me é dito, os padres é que faziam tudo. Os leigos eram espectadores.
Mesmo na Eucaristia.
POr aqui se vê que a falta de padres também trouxe algo de bom: a responsabilização dos leigos.
Obrigado "Ver para Crer".
Direi mais, que se completem, que se ajudem, que juntos construam segundo a vontade de Deus.
Abraço em Cristo
Pois é, mas precisamos de mais vocações sacerdotais e de mais leigos empenhados, que se ofereçam para tudo e não apenas para o que lhes (nos) agrada.
Obrigado "Melhor dos Blogues".
Abraço em Cristo
Nós somos Igreja e, como tal, devemos viver empenhados.
Ainda me dói ouvir dizer: São coisas de padres e beatas.
Uma casa só existe se houver vontade que exista. A Igreja continua a existir porque existem padres e leigos comprometidos que caminham de mão dada para construir o Reino.
Beijos peregrinos e andorantes
Obrigado andante.
Podemos até utilizar uma velha frase que vem a propósito:
Todos não somos demais!
Abraço em Cristo
Joaquim,
gostei muito do seu texto, também eu vou rezar mais pelas vocações mas quero ter uma vida mais activa como leiga na comunidade, na igreja.
Um grande beijinho em Cristo
Obrigado Joana
A paz de Jesus.
Rezemos e empenhemo-nos na construção da Igreja.
Façamos como Santo André, (hoje é o seu dia), e sigamos Jesus, porque também a nós Ele diz: Vem e segue-me.
Noutro comentário perguntaste-me sobre o Espírito Santo e eu respondi-te com um texto que já tinha escrito há um tempo atrás.
Serviu?
Abraço em Cristo
No III Forum Nacional das Vocações o padre Amedeo Cencini disse:
Quando se fala na crise das vocações, muitos pensam na contracção numérica dos chamados ao sacerdócio, à vida consagrada e ao ministério de Deus. Por ministério de Deus existe um entendimento geral que se restringe ao ministro extraordinário da comunhão ou ao diácono, ou seja, sempre no âmbito ligado à realidade clerical-ritual.
A paróquia está em crise porque ainda continua a ser demasiado concebida e construída à volta da figura do presbítero, verdadeira pedra angular do edfício-paróquia, ou porque ainda continua a ser a paróquia tipo-funil ou tipo-clepsidra, em que tudo passa e tem que passar através do colo do funil que é o sacerdote. Quando esta figura vocacional do padre-pastor entra em crise, arrasta consigo todas as outras vocações.
A crise vocacional já não significa redução numérica dos aspirantes ao sacerdócio, mas sim crise de todas as vocações, existe um processo de rarefacção eclesial das outras vocações.
Por outro lado, para muitos a paróquia é como uma estação de serviço , um supermercado de provisões espirituais, um self-service onde cada um escolhe o que lhe agrada, para satisfazer as suas necessidades religiosas individuais. A paróquia não é entendida como um lugar vocacional, onde o crente coloca os seus dons e o seu carisma ao serviço da comunidade, mas sim um local e um espaço onde este se transforma num “consumidor de sacramentos”.
O crente ainda não entendeu nada da sua fé se não a vive como um apelo constante ao qual deve dar uma resposta igualmente constante.
Precisamos de uma paróquia onde se viva uma cultura vocacional, plena de sujeitos vocacionais, ou seja de crentes que vivam de forma consciente a sua chamada pessoal, e se sintam responsáveis pela dos outros; o contrário de uma paróquia estéril onde só o pároco tem uma vocação.
A Igreja caminha com os pés dos párocos! Qual o papel do evangelizador? Este tem que ser antes de mais bilingue, falar a linguagem dos Evangelhos e a linguagem de quem o escuta (e que está imerso numa sociedade secularizada), tem que ter a liberdade interior para também ele ser evangelizado, tem que transformar a sua paróquia em posto avançado de evangelização.
Este evangelizador é aquele que passa da fase do receptor do dom da fé para a de emissor/transmissor dessa mesma fé. É o adulto na fé, aquele que passou da fase do dom da fé para a oferta do mesmo dom. É o que transforma em animador vocacional, nesse crente adulto, que alcançou a maturidade na fé, tornando-se activo e empreendedor, e não o simples “consumidor de sacramentos”.
Tornar-se portador e medianeiro do Deus-que-chama, num adulto na fé, que passa da fase e da atitude de chamado à de chamante.
(no Domingo publico o texto integral em www.apartilha.anizan.net)
Caro António
Concordo com tudo o que dizes, que aliãs está implicito no texto do post e dos vários comentários.
O que se passa por vezes, (e atenção que eu amo os sacerdotes), é que muitas vezes são os Párocos, que centralizam e não dão espaço aos leigos para que eles assumam a sua missão.
Compete aos leigos também, pelo seu empenhamento, não só nas celebrações, nas orações, mas também no estudo da Palavra de Deus, no aumentar dos seus conhecimentos sobre a Doutrina, etc, demonstrar aos Sacerdotes que são e podem ser uma ajuda, que podem ser e devem ser, "pedras vivas" da Igreja.
Como eu digo num comentário aqui, que também não queiram, os leigos, apenas aquilo que lhes agrada e muito menos se tornem "donos" do Serviço que prestam.
Se o cristão não for um evangelizador, não é um verdadeiro cristão: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura.» Mc 16,15
Obrigado pela tua visita e comentário muito a propósito.
Abraço em Cristo
Ainda de Amedeo Cencini:
“O presbítero é o responsável na paróquia pelas vocações, como primeiro adulto na fé. É o primeiro agente dessa pedagogia vocacional, que visa o nascimento e o crescimento do sujeito vocacional: aquele que vive a sua própria vocação, a acolhe e se sente responsável pela vocação dos outros.
Cientes de que no Paraíso existe um letreiro: proibido entrar só!”
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Tenho visto muitos leigos mudarem de paróquia ou afastarem-se porque num determinado momento a autoridade sacerdotal foi contra os seus desejos... dizem-me: este padre não cativa!
Procuro não responder de imediato: pobre "Cristo" que habita em vós que precisa de ser cativado pelo sacerdote.
Porque no fim são estes irmãos os que mais precisam do nosso acolhimento.
Obrigado António por mais esta achega.
Abraço em Cristo
Serviu bastante, sabe Joaquim, cada vez que aqui venho gosto mais de ler o que escreve.
Obrigado!
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