Muito se tem escrito sobre a “revolução”
do Papa Francisco, sobretudo afirmando-se ou no mínimo desejando-se, que essa
chamada “revolução” se constitua como um romper com o passado, com a Doutrina,
em suma, um quase romper com a Igreja.
E no entanto, ao lermos o ponto 13 da
Exortação Apostólica Evangelii Gaudium,
do Papa Francisco, percebemos que, se «na realidade, toda a acção evangelizadora
autêntica é sempre «nova» EG11, ela não pode deixar de ter os alicerces na Tradição,
na Doutrina, na História da Igreja, enfim na memória, como o Papa Francisco tão
bem expressa nesse ponto.
13. E também não deveremos entender a
novidade desta missão como um desenraizamento, como um esquecimento da história
viva que nos acolhe e impele para diante. A memória é uma dimensão da nossa fé,
que, por analogia com a memória de Israel, poderíamos chamar «deuteronómica».
Jesus deixa-nos a Eucaristia como memória quotidiana da Igreja, que nos
introduz cada vez mais na Páscoa (cf. Lc 22,19). A alegria evangelizadora
refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que
precisamos de pedir. Os Apóstolos nunca mais esqueceram o momento em que Jesus
lhes tocou o coração: «Eram as quatro horas da tarde» (Jo 1,39). A memória faz-nos
presente, juntamente com Jesus, uma verdadeira «nuvem de testemunhas» (Heb
12,1). De entre elas, distinguem-se algumas pessoas que incidiram de maneira
especial para fazer germinar a nossa alegria crente: «Recordai-vos dos vossos
guias, que vos pregaram a Palavra de Deus» (Heb 13,7). Às vezes, trata-se de
pessoas simples e próximas de nós, que nos iniciaram na vida da fé: «Trago à
memória a tua fé sem fingimento, que se encontrava já na tua avó Lóide e na tua
mãe Eunice» (2Tm 1,5). O crente é, fundamentalmente, «uma pessoa que faz
memória». Evangelii Gaudium
Não se trata de uma rotura com o
passado, com a história, com a Doutrina da Igreja, mas tão “apenas” de, «algumas
diretrizes que possam encorajar e orientar, em toda a Igreja, uma nova etapa
evangelizadora, cheia de ardor e dinamismo. Neste quadro e com base na doutrina
da Constituição dogmática Lumen gentium…»
EG17
Nem podia ser de outro modo, porque o
Papa Francisco é o Sucessor de Pedro e não um “reinventor” da Doutrina e da
Igreja, porque tal como Jesus disse a Pedro, também o diz a Francisco, «és
feliz Francisco, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu
Pai que está no Céu.» Mt 16, 17
A Igreja não anda ao sabor do mundo,
segundo a vontade do mundo, nem sequer segundo a vontade daqueles que se dizem
Igreja, porque «não foi a carne e o sangue que to revelou».
A Igreja move-se, porque é movida pelo
Espírito Santo, no tempo, no espaço, em cada momento específico do mundo, mas
de acordo com aquilo que é o discernimento no Espírito Santo daqueles que foram
chamados, escolhidos para serem os Sucessores dos Apóstolos, ou seja, segundo «o
meu Pai que está no Céu».
Ora o Espírito Santo nunca “ensinará”
algo diferente do que foi ensinado por Jesus Cristo, porque como Ele afirma, «o
Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos
ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Jo 14, 26
Pode mudar a dinâmica, pode mudar o
“estilo”, pode mudar a postura, pode mudar a forma de comunicar, podem até
mudar os edifícios e as estruturas humanas da Igreja, (e alguns desses pontos e
outros será até, talvez, necessário que mudem), mas a Igreja Católica
Apostólica Romana na pureza da sua Doutrina, enquanto Una, Santa, Católica e
Apostólica não pode mudar, nem precisa de mudar, porque Ela é sempre actual,
porque embora constituída por homens é de Deus, e Deus é sempre actual, porque
Ele é o tempo e o espaço em cada momento.
A grande diferença, julgo eu, seremos
nós, membros da Igreja, conduzidos pelo Papa Francisco e pelo Magistério da
Igreja, encontrarmos novas formas, novas dinâmicas, novo ardor, nova alegria
para anunciarmos ao mundo a Boa Nova de Deus.
Marinha Grande, 12 de Dezembro de 2013
Joaquim Mexia Alves
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5 comentários:
Uma benefica revolução. Oxalá Deus o deixe continuar por muitos mais anos a mexer com todos nós, que muitas vezes vivemos num marasmo. Como ele diz numa parte da sua exortação "Muitos catolicos vivem apenas na Quaresma, esquecendo-se da Páscoa"
É verdade, Paulo, deixemo-nos guiar pelo Pastor que Deus nos quis dar.
Um abraço amigo em Cristo
Boa noite Joaquim, desejo-lhe e a sua Família um Santo e Feliz Natal com Jesus.
Abraço em Cristo. Ailime
Bom dia Joaquim, hoje vim aqui com um pouco mais de tempo!
Sobre este assunto na minha humilde opinião penso que todos nós membros da Igreja somos convidados a procurar novas dinâmicas, novas formas de dar a conhecer Jesus! Para isso também necessitamos do apoio e do exemplo a nível local.
Muito obrigada pelas suas reflexões e renovo os meus votos de Santo Natal.
Abraço em Cristo. Ailime
Obrigado Ailime.
Um Santo Natal para si e todos os seus.
Um abraço amigo em Cristo
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