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O meu pai era um homem alto, forte, uma figura que chamava a atenção, tanto mais que tendo nascido em 1899, não havia muita gente do seu tamanho, naquele tempo.
Se bem me lembro nunca o vi fazer uso desse seu tamanho para impor fosse o que fosse, mas era antes um homem calmo, ponderado, de quem emanava uma forte autoridade, sustentada por um testemunho de vida coerente com tudo aquilo em que acreditava.
Tendo servido cargos de estado, nunca se serviu deles, (até por eles terá sido prejudicado), tal como nunca foi contra os seus princípios, sendo um homem livre e independente, nunca permitindo que as suas obrigações colocassem em causa a sua coerência de vida.
Não me lembro de o ouvir alguma vez gritar, mas impunha-se pela sua presença e autoridade imanente.
Embora lhe tivesse um enorme respeito, um quase temor reverencial, sempre senti nele, apesar da austeridade de tratamento, um amor forte, profundo, paternal, que me fazia sentir seguro não só no momento, mas também no futuro.
O meu pai “transformava-se” nas festas de família, sobretudo no Natal e na Páscoa.
Parecia-me que nesses dias se aproximava de mim, (“falo” por mim, mas julgo que o que escrevo poderá ser subscrito pelos meus irmãos), se tornava mais perto, mais terno, mais carinhoso, mais pai de amor, embora e sempre educador.
Muitos diriam ou pensariam que com um pai assim, austero e educador intransigente, a minha infância teria sido dura ou menos feliz.
Estão completamente errados, pois tenho saudades imensas da minha infância, da minha adolescência, do meu crescer suportado nos seus ensinamentos, em palavras e testemunho de vida.
Julgo até que seria impossível ter sido mais feliz!
Mas uma das suas características mais marcantes, para mim, era a profundidade da sua Fé!
Ainda a Igreja, (suponho eu), não tinha falado da família como “igreja doméstica”, e já, olhando agora para trás, eu vejo como o meu pai, (sempre com a minha mãe, claro), moldava a sua/nossa família como uma “igreja doméstica”, sobretudo nesses dias de festa religiosa.
Haveria tanta coisa para escrever, para testemunhar sobre o meu pai, que não pararia de escrever e tornaria este texto de tal maneira longo, que perderia o sentido que lhe quero dar: uma homenagem ao meu pai, para lembrando-me dele, novamente aprender com ele a ser pai nestes tempos tão difíceis que a família agora atravessa.
Mas uma coisa não posso deixar de testemunhar, pois é algo que ainda hoje em dia me toca profundamente.
Sendo, como afirmei no inicio, um homem “imponente”, quando entrava numa igreja para rezar, para participar na Eucaristia, tornava-se “pequeno”, como que desaparecia aos olhos dos outros, e durante todo aquele tempo nada o perturbava, numa comunhão intima com Deus, numa profundidade de oração que ainda hoje me toca e gostaria de imitar.
Hoje, apesar da minha idade, sinto falta da sua segurança, sinto falta da sua presença forte e conselheira, mas sei, no íntimo de mim mesmo, que tenho a sua contínua intercessão no Céu, junto de Deus, que foi a sua razão de viver, que foi o “segredo” da família que criou e moldou, de tal modo, que apesar dos tempos que se vivem, a marca de Deus pelo meu pai deixada, contínua viva no coração de todos nós, sua família, até naqueles que não vivem a fé no seu dia-a-dia.
Louvado seja Deus, pelo pai que me deu, pela mãe que me deu, pela família em que me fez crescer, e pela família que colocou nas minhas mãos de pai e avô.
Marinha Grande, 19 de Março de 2012
Nota:
O meu pai e eu.
Fotografia tirada em 1 de Dezembro de 1971, 20 dias antes da minha partida para uma comissão militar na Guiné.
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12 comentários:
O teu pai, tal como o meu...falta me faz, prematuramente partiu e não o conheci. Ainda ontem um dia lembrado, a lagrima teimou...
Não posso deixar de subscrever inteiramente esta tua memória do nosso querido Pai.
Quando, em 1926, um seu tio lhe deixou as Termas de Monte Real em testamento só aceitou com a condição de que o seu único irmão vivo - o Tio Quim - também fosse herdeiro. Este era o seu sentido de justiça!
Pouco tempo de pois de tomar posse das Termas, então pouco mais que um velho balneário sem condições, escolheu uma grande sala no 1º andar do Balneário onde eram os 'escritórios' do anterior proprietário para ali instalar uma capela provisória tendo obtido licença do Bispo de Leiria para ali se conservar o SSS e assegurou capelães permanentes para o período de funcionamento das Termas. Este era o seu sentido de Cristão!
O nosso querido Pai, Joaquim, era um HOMEM daqueles que Paulo VI tanto pediu em Fátima que houvesse: Homens... sede homens!
Amigo Joaquim;
Ainda que amigo "virtual", permite-me que te diga apenas, que linda homenagem que aqui deixas... e que o teu irmão complementa aqui tão bem...
Estes testemunhos, não podem ficar guardados, para que outros saibam que a Familia existe, que funciona...
Abraço fraternal em Cristo
Caro Paulo
Um abraço amigo em Cristo
É verdade António!
Um abraço amigo em Cristo
Obrigado amiga "Filha de Maria"
Um abraço amigo em Cristo
Amigo Joaquim
Gostei imenso da homenagem que prestas aqui ao teu pai.
Também me fez lembrar o meu pai que foi sempre uma referência para mim.Sou a sétima filha e apareci já os meus pais tinham quarenta e poucos anos.Fui educada à antiga,respeitando as horas da refeições que eram sempre inicíadas com uma oração e onde os mais novos escutavam as conversas dos mais velhos (não se interrompia de modo algum).A partilha com os mais necessitados que por vezes batiam à porta,era feita e havia a preocupação de dar sem ser visto.O meu pai não frequentava a igreja,mas incutiu-nos valores que ainda hoje regem a minha vida.Viviamos numa cidade pequena onde todos se conheciam e lembro particularmente de ir passear com ele e de ver o modo como ele era respeitado por todos.Sentia mesmo um certo orgulho e na minha ingenuidade uma certa vaidade naquele pai altíssimo que não saía à rua sem colocar uma gravata e o chapéu e já agora um homem muito bonito de gosto apurado.Não havia televisão e portanto o serão era passado em família escutando histórias e quando o tempo o permitia passeando no jardim da cidade.O domingo era o dia de ir à missa e mesmo as refeições ficavam feitas de véspera, para que o dia fosse respeitado.Por vezes visitava-se a restante família.À minha mãe competia a tarefa de nos levar à missa e às festas e procissões, bem como a todas as celebrações da semana santa.Há uma imagem que guardo com carinho quando numa tarde de Quinta-feira Santa, fui ao Lava-pés e vi o Bispo de joelhos a lavar os pés aos velhinhos do asilo.Um gesto de humildade que guardei toda a minha vida.
Tenho dois filhos a quem sempre tive a preocupação de transmitir valores, mas muito do que recebi ficou por passar e confesso que tenho pena.
E ficaria aqui a falar do meu pai e do amor que se sentia naquela casa, mesmo se às vezes entre nós havia brigas que o meu pai calava com um simples olhar,fazendo assim com que ficássemos envergonhados.Assemelhava-se um pouco ao olhar do papa João Paulo II.Aliás quando via o Papa tinha sempre presente a imagem do meu pai.
Alonguei-me com o entusiasmo e peço perdão por isso.
Abraço com amizade na paz de Cristo
Obrigado Concha pelo testemunho.
Podes escrever sempre, "alongando-te" à vontade!
Um abraço amigo em Cristo
Um bocadinho tarde mas como todos os dias são dias para festejar o dioa do pai...aqui estou para lhe dar os parabéns por este seu pai, que felizmente sabia estar no sitio certo e no momento certo sabia ser aquele pai que dava educação amor e pão..
Utilia errão
Amiga Utilia, obrigado!
Um abraço amigo em Cristo
Amigo Joaquim,
Com o meu marido também sujeito a uma cirugia não tive oportunidade de ler oprtunemanete com a atenção devida o que partilha connosco.
Quero agradecer-lhe esta partilha no enorme exemplo de Homem como educador e de profunda Fé que que foi o seu Pai.
Que o Senhor o tenha no Seu eterno descanso.
Abraço fraterno.
Ailime
Ailime, obrigado.
Espero que o seu marido já esteja bem.
Coloco-o nas minhas orações.
Um abraço amigo em Cristo
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