sexta-feira, 26 de junho de 2009

COMO DEUS NOS FALA!

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Estive no Sábado passado em mais um almoço de ex-combatentes da Guiné.

Nestes encontros vivem-se sempre momentos de emoção profunda, motivados pelos reencontros com aqueles que connosco viveram situações tão difíceis, e porque se relembram histórias em que as nossas vidas estiveram em perigo real e verdadeiro.

A fé que agora vivo, (naquele tempo vivia afastado de Deus e da Igreja), leva-me sempre a tentar tirar de tudo o que eu faço, de tudo o que eu vivo, um ensinamento, uma mensagem, que Deus sempre tem para aqueles que o escutam de coração aberto e confiante.

E meditei num paralelismo de situações, entre a vivência daqueles anos de guerra e a nossa caminhada de cristãos, atendidas claro está as diferenças, pois a vida de um cristão não é uma guerra contra ninguém, mas uma batalha contra tudo aquilo que o quer afastar do Caminho, da Verdade, da Vida.

E uma das primeiras coisas que logo me apercebi não foi uma semelhança, mas uma diferença.

Quando partimos para uma guerra como esta, longe da pátria e da família, um dos nossos principais pensamentos vai para o tempo que ainda falta cumprir, e vão-se contando os dias que ainda precisamos viver naquela vida para finalmente regressarmos a casa, que é para nós naquela situação, lugar de paz, de alegria, de harmonia, de felicidade.

Diferentemente na nossa vida de cristãos, também contamos os anos, mas esperando sempre que a partida desta vida seja sempre o mais tarde possível.

Mas não é verdade que Jesus Cristo nos prometeu a vida eterna, no gozo eterno da presença de Deus, finda esta vida terrena?
Então não deveríamos nós lutar, perseverar no caminho da vontade de Deus, afastando o mal das nossas vidas, (tal como na guerra fazemos para não perecermos), e então contarmos os dias e os anos que nos faltam para encontrarmos a Casa do Pai onde encontraremos finalmente a paz, a alegria, a harmonia, a verdadeira felicidade?

Na guerra procuramos ansiosamente chegar ao fim do tempo para podermos encontrar um sonho de paz e felicidade.
Na vida de cristãos procuramos retardar o mais possível o fim das nossas vidas, o que não tem sentido, visto que esse fim nos levará ao encontro com a realidade da promessa de Deus, que é o gozo eterno na Sua presença.

Na guerra procuramos salvar as nossas vidas para as vivermos neste mundo. Como cristãos devemos procurar perder as nossas vidas deste mundo, para as podermos viver na eternidade com Deus.

Na guerra há certos ferimentos, certas doenças que nos trazem de volta a casa, o que por vezes até agradecemos.
Nas nossas vidas de cristãos não queremos aceitar as provações, as doenças, que são muitas vezes motivo para mudança das nossas vidas, mudança essa que nos leva ao caminho para a Casa do Pai.

Na guerra unimo-nos e ajudamo-nos uns aos outros, defendemo-nos em conjunto dos ataques do inimigo, partilhamos alegrias e tristezas e até os poucos bens que possamos ter ou nos vêm da casa dos pais.
Na nossa vida de cristãos tantas vezes nos centramos no nosso egoísmo, e em vez de nos unirmos, dividimo-nos em querelas sem sentido, em vez de ajudarmos os outros, fechamo-nos na indiferença, em vez de lutarmos juntos em Igreja contra o inimigo, dividimo-nos em grupos e atitudes, em vez de partilharmos as nossas emoções, os nossos sentires e os nossos bens materiais, vivemo-los apenas para nós, em vez de colocarmos ao serviço os bens, (dons), que o Senhor nos dá, guardamo-los connosco e assim acabamos por os perder.

Na guerra estamos sempre vigilantes para não cairmos nas emboscadas e nos podermos defender.
Na nossa vida de cristãos vivemos tantas vezes distraídos, deixando que o inimigo se aproxime e nos faça cair.

Na guerra saímos em patrulhamentos para afastarmos o inimigo dos nossos quartéis.
Na nossa vida de cristãos deixamo-nos estar sentados sem nada fazer e muitas vezes até trazemos o inimigo para dentro das nossas casas, nas coisas que lemos, que vemos, que fazemos.

O que interessa verdadeiramente é procurar em tudo a mão de Deus, é tentar ver em tudo a presença de Deus, é discernir em tudo, o que o Senhor a todo o momento nos quer dizer.
Dizemos tantas vezes que Deus não fala connosco, quando verdadeiramente cada momento das nossas vidas é um diálogo com Deus, se O quisermos escutar, se O quisermos seguir, se a Ele nos quisermos entregar.
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terça-feira, 23 de junho de 2009

CARTA DE SÚPLICA ZANGADA

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Ó meu Jesus amado,

Escrevo-te esta carta com o coração nas mãos.
Sobretudo o coração daquela minha amiga, acompanhado do meu coração.
Sabes Jesus, já não sei se me zangue contigo, se Te grite ao coração, se me agarre a Ti a chorar.
Que queres Tu Senhor, que queres Tu mais que ela Te possa dar?
E eu Senhor, que Te posso eu dar de mim, por ela?
Eu sei Senhor, que colocas no meu coração essa certeza de que ainda queres muito dela, mas Senhor, porquê todo este sofrimento?
É verdade Jesus, hoje sai do meu coração este grito de revolta, cheio de fé em Ti!
Eu sei Senhor, que não queres que ela sofra, que não queres que nós soframos, mas porquê agora tanto só a ela?
Tantas vezes já intervieste na vida de tantos, operando milagres, então Senhor, que esperas agora, porque deixas que este sofrimento continue?
Grito ao Teu coração que só sabe amar:
Toca Senhor, toca como só Tu sabes tocar!
E não me digas que já tocaste e que é preciso esperar.
Eu não quero esperar, ela não quer esperar, os seus amigos não querem esperar, por isso Senhor, agora é o tempo de operares definitivamente o milagre da cura.
Mesmo que não seja o Teu tempo Senhor, por esta vez aceita agora o nosso tempo!
Eu espero em Ti, e nunca deixarei de esperar, eu confio em Ti, e nunca deixarei de confiar, eu amo-Te, Senhor e nunca deixarei de Te amar, mas agora Senhor, agora ouve definitivamente as nossas súplicas.
Se calhar ao rezar-Te assim, não sou digno do sofrimento que ela suporta em silêncio, mas que queres Tu Senhor, sou bem mais fraco do que ela e não quero ver mais o seu sofrimento.
E se me zango Senhor, é por amor, é porque Te amo e amo aquelas e aqueles que colocaste no meu caminho.
Obrigado Jesus, obrigado!
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segunda-feira, 15 de junho de 2009

A LUZ PEQUENINA

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Tens os olhos fechados,
e queres ver.
Tens a boca fechada
e queres falar.
Tens o coração encerrado
e queres amar.
Tens a vida contida
e queres viver.
Perdeste a chave
do teu sentido,
e já não a consegues achar.
Procuras nos bolsos,
nas gavetas da memória,
até no mais profundo recôndito
do teu cérebro,
e nada consegues encontrar.
Dás voltas e mais voltas,
já não sabes o que fazer,
para que te possas dar,
talvez mais que receber,
para que tenha sentido,
a tua vida,
o teu viver.
Olha lá bem no fundo,
no fundo do coração,
vês uma luz pequenina
que teima em não se apagar?
Toma-a na palma das mãos,
não precisas de a proteger,
porque quanto mais vento lhe der,
mais a chama vai crescer.
Deixa que ela incendeie
todo o teu coração,
deixa que ela te queime,
num arder que não tem dor,
deixa que ela te ilumine
para que os teus olhos possam ver,
deixa que ela te fale,
da vida e do amor,
e quando a luz pequenina
te iluminar por completo,
quando a luz pequenina,
do teu tamanho for,
então deixa que se veja,
também no teu exterior,
para que quem passar por ti,
veja os teus olhos a ver,
ouça a tua boca a falar,
sinta o teu coração a amar,
perceba que em ti a vida
é um permanente viver.
Porque essa luz pequenina,
quando a deixamos crescer,
torna-se toda amor
e faz-nos irmãos e discípulos
de Jesus, Nosso Senhor.

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quinta-feira, 11 de junho de 2009

CORPO E SANGUE DE CRISTO, PRESENÇA ETERNA

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Hoje instalou-se em mim, uma melancolia, uma saudade, um desejo de passado, um “voltar atrás” que quase podia saborear.
E o meu coração entristeceu-se, não com a tristeza dos tristes, mas com a tristeza dos que não têm o agora.
E fiquei a pensar e a perguntar no coração: Porquê, meu Deus?
Porque é que tenho em mim neste momento esta sensação de que o que já tive, é melhor do que o que tenho agora?
Porque é que tenho em mim neste momento esta sensação de me parecer ser melhor voltar para trás, do que seguir em frente?
Porque é que tenho em mim neste momento esta sensação melancólica da certeza de que para trás não posso voltar, mas ao mesmo tempo não me apetecer caminhar?
Medito no dia ... que dia é este?
Dia do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo!
E então Tu irrompes pelos meus pensamentos, ocupas o meu coração, tomas conta da minha vida e gritas a todo o meu ser:
Não vês tu, filho meu, que comigo o passado se torna presente, o presente se torna agora e o futuro já está em ti, porque Eu estou aqui?
Pois é Senhor Jesus, em Ti posso viver o passado agora, mas como Tu és presente, nem o passado é melhor do que o presente, nem o presente melhor do que o passado, porque Tu és e estás nos dois.
Ah, e o futuro também!
O futuro é já presente também, porque é promessa dAquele que é, dAquele que cumpre, só lhe falta o “ainda não”, mas mesmo este é já certeza também, na Tua presença viva.
No Teu Corpo e Sangue, que é presença constante, que é permanente dádiva, faz-se da vida um todo, em que o passado é futuro e o futuro é já vivido na certeza que Tu nos dás:
«Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos.» Mt 28,20
Já não há saudade, nem desejo de passado, o “voltar atrás” é caminhar ... em cada momento para a frente, e a melancolia transforma-se, numa doce e permanente alegria!
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Não sei exprimir melhor aquilo que sinto e queria dizer.
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quarta-feira, 3 de junho de 2009

A UMA AMIGA, PELA GRAÇA DE DEUS

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Hoje, minha amiga,
quando saíres do hospital
olha bem para o teu lado,
repara em Quem te dá a mão!
Sim, é Ele,
não duvides,
com o Seu sorriso amado,
e os olhos a brilharem,
a brilharem da alegria
que Lhe vai no Coração.
Julgavas que era sozinha
que regressavas à vida
neste auspicioso dia?
Não,
nem por um momento sequer,
Ele se afastou de ti.
Em todo o tempo e momento,
segurando-te na mão,
disse-te sempre ao ouvido:
«Não temas, Eu estou aqui.»
Olha-O fundo nos olhos,
abre o teu coração,
deixa que Ele te toque,
e te diga numa oração:
«Eu renovo todas as coisas.»*
Mas se reparares melhor,
verás que por detrás d’Ele,
segue toda uma multidão.
Somos todos nós,
teus amigos,
que contigo também partimos
nesta tua nova vida,
confirmando a comunhão.
Por isso não temas,
amiga,
que tu nunca estás sozinha,
e mesmo que por nossa fraqueza,
cada um de nós te faltasse,
uma é sempre a certeza,
de que Ele nunca te falta,
nem a cada um dos que Ele ama,
que são todos sem excepção,
os filhos do Deus amor,
gerados no Seu coração.
Da nuvem do Seu amor
a chuva de água nova
rompe o tempo
e em ti cai.
Vai, minha amiga vai,
abraça a nova vida,
dá testemunho presente
de que Ele está sempre connosco.
Que todo o homem perceba
que a vida só tem sentido,
quando Lhe damos a mão.
Porque a vida é sempre nova,
renovada em cada dia,
pelo amor que brota,
do Seu Santíssimo Coração.

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* Ap 21,5
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3 de Junho de 2009
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Soube entretanto, que afinal esta nossa amiga não sairá hoje do hospital, mas sim provavelmente apenas na Segunda feira próxima.
Tem importância para ela, claro, que gostaria de já estar na sua casa, mas não tem para o que escrevi, que é verdade tanto hoje como Segunda feira, ou qualquer outro dia.
Rezamos continuamente por ela.
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8 de Junho de 2009 - A nossa e minha amiga já está em casa, graças a Deus, verdadeiramente, graças a Deus!
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