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O meu pai faria hoje 117 anos.
Sempre que não sei bem como
proceder em determinados momentos, penso no que ele faria, mas por vezes neste
mundo, dito moderno, é muito difícil seguir os seus passos.
Quando tinha talvez os meus
16/17 anos, juntava-me com os amigos numa "leitaria", (que naquele
tempo tudo vendiam, até cervejas), na Rodrigo da Fonseca em Lisboa.
O Sr. Augusto, dono da
leitaria, conhecia os meus irmãos mais velhos a todos e por isso permitia-me
certas coisas e uma delas era o poder beber umas cervejas agora e "pagar
depois".
Claro que entre cervejas,
sanduíches, etc., a coisa não deu grande
resultado e quando dei por mim, ao fim de alguns meses já devia uma grossa
maquia talvez à volta de 5 contos, como se dizia naquele tempo. Ele nunca me
exigiu nada, mas quando me apercebi do montante fiquei em "pânico".
Os meus pais,
("presos" em Monte Real pelas Termas e pelo cargo de Governador Civil de Leiria), vinham
a Lisboa uma vez por semana, dormindo normalmente de Terça para Quarta Feira.
Enchi-me de coragem, (o meu
pai era um homem de contas e de uma honestidade acima de qualquer prova), e
falei com o meu pai sobre o meu "problema".
Fiquei espantado, porque em
vez de um enorme "ralhete", coisa que esperava, tal como, me desse de
imediato o dinheiro para pagar a divida, apenas olhou para mim, e disse-me:
Para a semana falamos!
Obviamente o meu pânico
aumentou e durante a semana quase não fui ao Sr. Augusto, (assim chamávamos a
leitaria), com vergonha da minha divida.
Chegou a próxima Terça Feira,
o tempo foi passando, Quarta Feira e o meu pai nada de falar comigo sobre o
assunto, nem lá perto.
Aproximava-se a hora de
regressarem a Monte Real e nada, e o meu pânico ia-se transformando em
desespero.
Quando já estavam para sair o
meu pai disse: Joaquim, chega aqui pois quero falar contigo.
Entrei no quarto a pensar:
Estou tramado!
Olhou para mim e perguntou-me:
Quanto àquele problema que me contaste, como é que passaste esta semana?
Envergonhado disse-lhe: Ó pai,
tenho tanta vergonha que não pus os pés no Sr. Augusto e até tenho dormido mal.
Olhou para mim, tirou o
dinheiro necessário para pagar a divida do seu bolso e disse-me: Espero bem que
tenhas aprendido a lição!
Era assim o meu pai!
Marinha Grande, 26 de Julho de
2016
Joaquim Mexia Alves
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3 comentários:
Era assim o nosso querido Pai!
Sempre e em qualquer circunstância "igual a si mesmo".
Continua a olhar por esta grande família.
Já conhecia esta história exemplar, que o Joaquim já tinha contado. Lendo-a, assim, podendo relê-la e meditá-la, pensando nas minhas próprias estouvadices, ela alcança uma dimensão e uma profundidade tais que se transformam numa daquelas lições de Sabedoria que julgamos muitas vezes só acontecem longe de nós. Mas que são próprias de todo aquele que é temente a Deus e que se deixa guiar pelo Seu Espírito.
Obrigado António e Fernando.
Abraços amigos em Cristo
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