terça-feira, 24 de abril de 2012

COMO JESUS SE DÁ A CONHECER

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«Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.» Lc 24, 39

«Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor.» Jo 20, 20

Nestes versículos dos Evangelhos dos dois últimos Domingos, (de São Lucas e São João), percebemos que Jesus se dá a conhecer pelos sinais da sua Paixão e Morte, ou seja, os sinais dos cravos nas mãos e nos pés e o sinal da lança no seu peito.

É assim que Jesus se dá a conhecer aos seus discípulos!

No entanto poderia dar-se a conhecer como na Transfiguração, por exemplo, ou de tantas outras maneiras que não lhes deixariam dúvidas.
Mas quis dar-se a conhecer assim, deste modo, para que soubessem que o Jesus Cristo que tinha sofrido a Paixão e a Morte era o mesmo Jesus Cristo agora ressuscitado.

Mas também para lhes mostrar, para nos mostrar, que o Cristo glorioso não deixa de ter em si as marcas da Paixão e Morte na Cruz.

Muitos de nós procuramos Deus, “apenas” à procura de uma vida mais fácil, de uma vida sem “dores”, sem problemas, sem contrariedades de qualquer espécie.
Mas a nossa vida aqui na terra é assim, frágil, e com tudo aquilo que é inerente à vida na terra, ou seja, o nascer, o viver e o morrer.
E o viver tem dores, tem sofrimentos, alguns causados por nós próprios e alguns causados pelos outros.

E Jesus ao identificar-se com os sinais da Paixão e da Morte, diz-nos, mostra-nos, que apesar da dor, do sofrimento e da morte, há a Ressurreição, há a vida eterna, a vida em plenitude, onde não haverá mais sofrimento, nem dor, mas apenas e “só” amor.

São Paulo afirma: «Mas, se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos.» Rm 6, 8

«Morrer com Cristo» é viver em comunhão com Ele, é viver por Ele, é viver para Ele, e por isso mesmo, se nos unimos, (com as nossas dores e sofrimentos), à Cruz de Cristo, também com Ele viveremos a alegria da Ressurreição.

Se «morremos em Cristo», então estamos em comunhão com Ele e assim é Ele o nosso Cireneu, Aquele que nos ajuda a suportar e a carregar a nossa cruz.

E Jesus Cristo, pelo amor infinito que nos tem, carrega sempre com “maior parte” da nossa cruz, por isso mesmo nunca suportamos uma cruz maior do que as nossas forças.

«Não vos surpreendeu nenhuma tentação que tivesse ultrapassado a medida humana. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar.» 1 Cor 10, 13


Monte Real, 23 de Abril de 2012

Nota:
Reflexão suscitada por uma homília do Padre Armindo Ferreira, pároco da Marinha Grande.
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terça-feira, 17 de abril de 2012

"ORANDO EM VERSO"

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Da direita para a esquerda: Padre Pedro Viva, (Vigário Paroquial, de pé) Prof. Doutor Mário Pinto, Joaquim Mexia Alves, Padre Armindo Ferreira, (Pároco da Marinha Grande), Irmão Darlei, (Paulus)



Feita a apresentação do livro, é agora necessário vendê-lo, visto que a receita dessa venda se destina a uma boa causa, a construção do Centro pastoral da Marinha Grande. 

A construção do Centro Pastoral da Marinha Grande é uma premente necessidade, porque, para além da Paróquia não possuir nenhuma sala “nobre” de dimensões razoáveis, (como se percebeu na recente visita pastoral do Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto), as salas da catequese são exíguas e inapropriadas, tendo até em vista que só no centro da Marinha Grande há mais de 300 catequizandos.

Para que com alguma comodidade se possa adquiri o livro via net, criámos um endereço electrónico, orandoemverso@gmail.com para receber esses pedidos de aquisição.

Esses pedidos serão respondidos dando indicação do NIB da conta da paróquia para onde dever ser feita a transferência do valor do livro, (e deste respectivo valor), que será depois enviado pelo correio.

Para quem o desejar o livro será “dedicado” e autografado, bastando para tal fazer essa menção.

Muito obrigado, acreditando que compreenderão esta minha iniciativa.
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“PERCENTAGENS” DE CATÓLICOS???

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A maioria dos jornais que temos, rejubila nos seus títulos, que os católicos são cada vez menos em Portugal!
Ora este cada vez menos, dá a entender que, sendo já poucos, estariam os católicos a desparecer!

E, no entanto, dizem as mesmas notícias que deixaram de ser 86,9%, para passarem a ser “apenas”, calculem, 79,5%!!!

Depois as notícias são manipuladas e usam termos como “maioria dos inquiridos”, mas que lendo atentamente, acaba por perceber-se que afinal esta “maioria dos inquiridos” se refere apenas a uma categoria específica!

Enfim, o nosso “bom” jornalismo, ao serviço da “maioria” dos Portugueses, como podemos perceber pelos números do estudo em causa, 79,5%!

Mas o mais importante, não percebem eles, os jornalistas, (que não percebem nada da Igreja Católica nem se dão ao trabalho de tentar perceber), é que a Igreja Católica não é uma qualquer agremiação ou associação, onde se contabilizam os sócios, e onde, portanto, se fica muito satisfeito porque se alcança um determinado número de associados.

O que eles não entendem, porque não conseguem perceber, é que o “número ideal” para a Igreja Católica é … todos!
É que Jesus Cristo fez-se Homem, sofreu a Paixão, a Morte e Ressuscitou, para salvação de todos os homens e não apenas de uns quantos.

Mas como não percebem, (como infelizmente também não percebem alguns católicos), julgam que tudo isto é uma questão de “marketing”, uma questão de mudança de estratégia, leia-se … mudança de Doutrina.

Pois claro, se a Igreja autorizasse o preservativo, concedesse o divórcio, promovesse a promiscuidade, etc., etc., com certeza, teria muito mais “adeptos”, e o número de “associados” aumentaria muito, julgam eles.

Pois, talvez fosse assim, mas já não seria a Igreja Católica, a Igreja fundada em e por Jesus Cristo, e acredito eu, em vez de aumentar os seus membros, vê-los-ia diminuir drasticamente.

É que a Igreja não tem “adeptos”, nem “associados”, tem crentes, tem fiéis, é a assembleia dos baptizados, e como tal, tem uma Doutrina que é a sua, mas que não lhe pertence, pois é Doutrina de Cristo, o próprio Deus feito Homem.

E por não lhe pertencer, não a pode mudar ao sabor dos tempos, porque é Doutrina assente no Amor de Deus, por Ele revelada, e o Amor de Deus é eterno e como tal não muda com o tempo, porque o tempo para Deus é a eternidade.

O que pode e deve mudar, isso sim, é o verdadeiro testemunho dos cristãos católicos, que sendo discípulos de Cristo, o devem ser em Igreja, celebrando, mas também e sempre, no dia-a-dia da vida em família, no trabalho e em sociedade.

Só com esse verdadeiro testemunho de discípulos de Cristo, sendo Igreja Corpo Místico de Cristo, (que belo é o ensinamento de São Paulo: «Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria.» 1 Cor 12,26), a Igreja pode ser e será, a imagem da primeira comunidade cristã, tão bem descrita nos Actos dos Apóstolos:

«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.
Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.» Act 2, 42-47

Assim, sem dúvida, «o Senhor aumentará, todos os dias, o número dos que hão-de entrar no caminho da salvação.»


Monte Real, 17 de Abril de 2012
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sexta-feira, 13 de abril de 2012

UMA MEMÓRIA VIVIDA (2)

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A minha irmã Belinha, (Isabel), faria hoje anos.

Há já muitos anos que não festeja aniversários, porque o tempo para ela é a eternidade, é o Todo, em comunhão com o Tudo.

Ficou-nos a saudade, que se vai libertando da dor, para apenas realçar o amor.

E a Belinha era amor! Oh, se era!

Aquela bondade no trato, aquela forma “desconcertantemente” alegre de parecer não se preocupar com o dia-a-dia, (vivendo a Palavra «Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?» Mt 6, 27), aquele dar-se aos outros, aquele jeito nato de tratar com as crianças, aquela boa vontade com tudo e com todos, faziam da Belinha uma mãe, uma filha, uma irmã e uma amiga de inteiro amor.

A sua criatividade era sem limites, sobretudo para agradar aos outros, especialmente à família.

Lembro-me uma vez, (teria os meus 13/14 anos), de ir passar uns dias à sua casa a Caminha, onde o João Maria, seu marido, exercia funções de Magistrado Judicial.
Num desses dias, tinha-se programado uma ida à praia, só que o dia nasceu cinzento e chuvoso.
Mas a Belinha e o João Maria não se atrapalharam, e indo buscar um plástico grande, colocaram-no no chão da sala, onde acabaram por colocar areia e uma bacia larga cheia de água salgada. Estava feita a praia!!!

Lembro-me dos biscoitos “bêbados” que a Belinha fazia e vem-me água à boca!
Tinha que os esconder de mim, pois uma caixa inteira teria uma existência muito efémera!

A Belinha, para além de minha irmã, era também minha madrinha de Baptismo, e quando, ao fim de muitos anos de afastamento, eu me reencontrei com Deus, ou melhor, deixei que Ele me reencontrasse, tivemos longas conversas onde fui descobrindo nela uma profunda e vivida fé, que conversada e testemunhada por ela, muito me ajudou a encontrar caminhos de sensatez no meio da “excitação” de fé, que eu então vivia.

Partiu cedo, para junto de Deus, sem dúvida para interceder por nós, que ainda não estamos preparados para esse encontro de graça.

Fico-me por estas duas recordações que hoje quiseram vir ao meu pensamento, porque as outras, são recordações do coração e para essas, não há palavras que as consigam descrever.

Decididamente a minha família, meus pais e nove irmãos, vai-se mudando calmamente para o Céu!

Monte Real, 13 de Abril de 2012
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quarta-feira, 11 de abril de 2012

CONVITE A TODOS!

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Por sugestão da Câmara Municipal da Marinha Grande foi alterado o local para a apresentação do meu livro, que assim passa a ser no

Pavilhão do Museu Joaquim Correia

conforme convite.

Este Museu fica mesmo ao lado da igreja matriz da Marinha Grande.
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terça-feira, 10 de abril de 2012

«EU VI O SENHOR!»

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Hoje, ao ler o Evangelho do dia, (Jo 20,11-18), ficou-me gravada no coração esta frase: «Eu vi o Senhor!»

Jesus tinha enviado Maria Madalena a proclamar aos discípulos a Boa Nova da sua Ressurreição.
E Maria Madalena anunciou-lhes de imediato: «Eu vi o Senhor!», contando-lhes depois o que o Senhor lhe tinha dito.

Então este é o anúncio necessário, o anúncio que todos devemos fazer e proclamar: «Eu vi o Senhor!»

Com efeito, neste anúncio, tudo está contido!

Se eu vi o Senhor é porque Ele está vivo e no meio de nós.
Se eu vi o Senhor é porque Ele se encontrou comigo e eu me encontrei com Ele.
Se eu vi o Senhor é porque Ele falou comigo e eu falei com Ele.
Se eu vi o Senhor e Ele me enviou a anunciar a Boa Nova, é porque Ele quer precisar de mim e de cada um que também O vê.

Claro que Maria Madalena viu o Senhor não só com os olhos do corpo, mas também com os “olhos” do coração.

Nós vemos “apenas” com os “olhos” do coração, mas esse ver é tão importante, tão decisivo que o próprio Senhor nos disse: «Felizes os que crêem sem terem visto!» Jo 20, 29

É que se eu vejo apenas com os olhos do corpo, posso sentir ou não, o que vejo, e portanto esse ver, pode ou não ter importância na minha vida.
Mas se eu vejo com os “olhos” do coração, então eu sinto, e esse ver torna-se importante na minha vida, torna-se parte da minha vida.

Ora ver o Senhor, é ver o Amor!

E o Amor não se guarda, não se aferrolha num cofre, o Amor dá-se, partilha-se, torna-se testemunho do Bem e da Verdade, porque o Amor é sempre Bem e Verdade.

No mal e na mentira, não existe amor.

A missão do discípulo é, assim, anunciar o Amor, é anunciar que Jesus Cristo ressuscitou e está vivo no meio de nós, e só no cumprimento desta missão o discípulo vive pelo Amor, vive no Amor, vive para o Amor.

Por isso, minhas irmãs e meus irmãos, eu vos anuncio: «Eu vi o Senhor!»


Monte Real, 10 de Abril de 2012
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domingo, 8 de abril de 2012

quarta-feira, 4 de abril de 2012

QUINTA FEIRA SANTA

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Nas tuas doces mãos
colocas o Pão do amor.

Olhas enternecido para os teus,
fitas neles o teu olhar,
e em cada um deles,
vês um de nós,
daqueles que agora existem,
e os mais que hão-de vir.

Docemente,
em oração profunda,
proferes as palavras,
que tornam em Ti o pão,
que fazem do vinho o teu Sangue!

Oh que sublime momento,
em que dando-lhes o Pão a comer,
o Vinho abençoado a beber,
lhes abres o coração,
fazes-Te para todos alimento.

«Quem comer deste Pão,
quem beber deste Vinho,
terá a vida eterna»,
dizes Tu,
olhando-nos nos olhos,
estendendo-nos a tua mão,
num sussurro de mansinho,
feito de Palavra terna.

E eu,
ali presente,
no Pedro, no João,
no André,
um nada que ninguém vê,
a não ser o teu coração,
que me acolhe docemente,
que me aperta e me ama,
de um modo tão ingente,
que me faz acreditar,
e torna a minha incerteza
numa inabalável fé.

Sim,
é verdade,
eu estive na Última Ceia,
dela participo em cada dia,
em que saindo das dúvidas,
me entrego todo inteiro,
na Santa Eucaristia.



Monte Real, 04 de Abril de 2012
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sexta-feira, 30 de março de 2012

UMA MEMÓRIA VIVIDA

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Os homens da família



Lentamente, dia-a-dia, vai-se desapegando de mim a recordação do corpo, da existência física.
Vai-se esbatendo a imagem da “tenda” que dá forma física ao espírito e à alma.

Essa recordação vai dando lugar a algo mais perene, mais para sempre, mais eterno.

Talvez não me recorde do corpo, da voz, mas recordo fortemente o espírito, aquele espírito que comandava a vontade e o fazia estar sempre disponível para os outros.

Vejo claramente também a imagem da semente, que nos é dada em ensinamento por Jesus Cristo.

Sentados naquele sofá, naquela tarde, esperançosos de uma cura milagrosa, falava-lhe dessa semente que os nossos pais nos plantaram na vida, no coração, que por vezes não regávamos, nem deixávamos germinar.

E ele olhava-me, com aqueles olhos vivos, tentando ver em mim algo para além de mim e dizia-me numa voz firme e muito doce: «Não te preocupes, meu mano, é Ele quem me tem ajudado.»

Mas eu não ficava descansado e insistia, o mais delicadamente que me era possível, com medo de estragar aquele momento tão sentido, tão vivido: «Mas Zézinho, eu conheço um padre muito boa pessoa e que sei tu gostarias dele e vive aqui na cidade.»

E lá veio a resposta, cheio da paciência, ele que era tão impaciente, como todos nós, aliás:
«Não te preocupes, meu mano, já falei com um Franciscano meu amigo. Está tudo tratado.»

Repousei, deixei-me ficar assim calado, pois algo em mim me dizia que a paz estava com ele, tal era a serenidade com que comigo falava.

E depois … depois Deus é grande e é amor perfeito e por isso reconhece o amor naqueles que amam.

E o Zézinho, (que tinha as suas “coisas” como todos nós temos), nunca dizia que não a um pedido de ajuda.
Se ele conseguisse deslocar-se com a velocidade da luz, acredito que no momento em que lhe disséssemos pelo telefone, «Zézinho preciso de ti», ele se “materializaria” junto de nós.

Conseguia coisas que ninguém conseguia, com aquele seu jeito descontraído de fazer de cada pessoa que encontrava, um conhecido, um amigo.
Para ele não havia portas fechadas, havia sim portas que ainda não tinham sido abertas.

Havia nele uma ternura, um modo de se dar, que por vezes nos confundia, até porque não tinha medo dos gestos, (cumprimentávamo-nos de beijo na cara), das palavras, (chamava-me muitas vezes à frente fosse de quem fosse, meu mano querido), não que eu fosse especial, mas porque era assim que sentia os seus irmãos.

Se tinha defeitos?
Claro que tinha! Não os temos todos nós?

Mas a força da sua entrega aos que dele precisavam, o seu desprendimento do pouco ou muito que tinha, a sua ânsia de ajudar, de ser útil, acabavam por prevalecer sobre os defeitos, ou melhor as fraquezas, que deixavam de ter importância, até pela alegria que ele colocava na sua vida.

Por isso não me importo nada que a recordação do corpo, da forma física, da “tenda”, se esbata na minha memória, (o corpo, a existência física, é efémero), porque ao assim acontecer torna muito mais viva a recordação do espírito, da alma, que eternamente, pela graça de Deus, vive a paz e a felicidade que tanto perseguiu, e agora alcançou.

Até logo, Zézinho, como dizemos em Monte Real, mesmo que o logo possa ser ainda distante.



Monte Real, 30 de Março de 2012
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domingo, 25 de março de 2012

AO MEU IRMÃO ZÉZINHO

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Agora,
meu irmão Zézinho,
começa o tempo do amor perfeito.


Tu que tanto amaste,
e tanto te deste,
conheces agora o amor,
o verdadeiro,
o sem limites,
aquele que não deixa dor,
porque é só em tudo amor.


Fica a saudade,
que não é nada,
por sabermos que Deus ama,
os que amam,
e que junto d’Ele,
lhes concede a felicidade.


Vai,
meu irmão Zézinho,
e junto a Ele,
vai preparando caminho,
para nós,
que te havemos de seguir,
quando Deus quiser,
amanhã,
ou no porvir.


Descansa agora,
nos braços do Criador,
adormece em paz
e na serenidade,
(que a tua cara espelha),
agora que afastada a dor,
já liberto da humanidade,
vives o completo amor.


Adeus,
meu mano querido!


Lembras-te,
meu mano querido
que é moda em Monte Real,
quando nos encontramos à chegada,
dizer o adeus,
que os outros dizem
á despedida?



Por isso adeus,
Zézinho
porque agora aqui chegaste,
ao fundo do meu coração,
de onde nunca partirás.


A Deus,
o que é de Deus,
e tu amor doado,
deixas agora os teus,
para os levares em recado,
aos braços,
do nosso Deus.


Marinha Grande, 24 de Março de 2012


Os homens da família

O Pai, (está em Deus), o Manuel José, (está em Deus), o João Duarte, o António Duarte, o José Olympio, (o Zézinho que está agora em Deus), o Pedro António, e eu, o Joaquim Manuel. Faltam a Mãe, (está em Deus), a Maria Filomena, (Mena), a Maria da Trindade, (Trinda), a Maria Isabel, (Belinha, que está em Deus).

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terça-feira, 20 de março de 2012

O MEU PAI

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Ver nota sobre a fotografia




O meu pai era um homem alto, forte, uma figura que chamava a atenção, tanto mais que tendo nascido em 1899, não havia muita gente do seu tamanho, naquele tempo.

Se bem me lembro nunca o vi fazer uso desse seu tamanho para impor fosse o que fosse, mas era antes um homem calmo, ponderado, de quem emanava uma forte autoridade, sustentada por um testemunho de vida coerente com tudo aquilo em que acreditava.

Tendo servido cargos de estado, nunca se serviu deles, (até por eles terá sido prejudicado), tal como nunca foi contra os seus princípios, sendo um homem livre e independente, nunca permitindo que as suas obrigações colocassem em causa a sua coerência de vida.

Não me lembro de o ouvir alguma vez gritar, mas impunha-se pela sua presença e autoridade imanente.

Embora lhe tivesse um enorme respeito, um quase temor reverencial, sempre senti nele, apesar da austeridade de tratamento, um amor forte, profundo, paternal, que me fazia sentir seguro não só no momento, mas também no futuro.

O meu pai “transformava-se” nas festas de família, sobretudo no Natal e na Páscoa.

Parecia-me que nesses dias se aproximava de mim, (“falo” por mim, mas julgo que o que escrevo poderá ser subscrito pelos meus irmãos), se tornava mais perto, mais terno, mais carinhoso, mais pai de amor, embora e sempre educador.

Muitos diriam ou pensariam que com um pai assim, austero e educador intransigente, a minha infância teria sido dura ou menos feliz.
Estão completamente errados, pois tenho saudades imensas da minha infância, da minha adolescência, do meu crescer suportado nos seus ensinamentos, em palavras e testemunho de vida.
Julgo até que seria impossível ter sido mais feliz!

Mas uma das suas características mais marcantes, para mim, era a profundidade da sua Fé!

Ainda a Igreja, (suponho eu), não tinha falado da família como “igreja doméstica”, e já, olhando agora para trás, eu vejo como o meu pai, (sempre com a minha mãe, claro), moldava a sua/nossa família como uma “igreja doméstica”, sobretudo nesses dias de festa religiosa.

Haveria tanta coisa para escrever, para testemunhar sobre o meu pai, que não pararia de escrever e tornaria este texto de tal maneira longo, que perderia o sentido que lhe quero dar: uma homenagem ao meu pai, para lembrando-me dele, novamente aprender com ele a ser pai nestes tempos tão difíceis que a família agora atravessa.

Mas uma coisa não posso deixar de testemunhar, pois é algo que ainda hoje em dia me toca profundamente.

Sendo, como afirmei no inicio, um homem “imponente”, quando entrava numa igreja para rezar, para participar na Eucaristia, tornava-se “pequeno”, como que desaparecia aos olhos dos outros, e durante todo aquele tempo nada o perturbava, numa comunhão intima com Deus, numa profundidade de oração que ainda hoje me toca e gostaria de imitar.

Hoje, apesar da minha idade, sinto falta da sua segurança, sinto falta da sua presença forte e conselheira, mas sei, no íntimo de mim mesmo, que tenho a sua contínua intercessão no Céu, junto de Deus, que foi a sua razão de viver, que foi o “segredo” da família que criou e moldou, de tal modo, que apesar dos tempos que se vivem, a marca de Deus pelo meu pai deixada, contínua viva no coração de todos nós, sua família, até naqueles que não vivem a fé no seu dia-a-dia.

Louvado seja Deus, pelo pai que me deu, pela mãe que me deu, pela família em que me fez crescer, e pela família que colocou nas minhas mãos de pai e avô.


Marinha Grande, 19 de Março de 2012


Nota:

O meu pai e eu.
Fotografia tirada em 1 de Dezembro de 1971, 20 dias antes da minha partida para uma comissão militar na Guiné.
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