segunda-feira, 28 de abril de 2025

FRUTOS

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Sou, ou somos, muitas vezes tentados, quando estamos nestas horas de adoração, a pensar que tal prática para nada parece servir, ou então que nos serve apenas a nós, que sentimos ou não o Seu amor, a Sua presença, mas que nada mais se retirará de fruto nestas horas de adoração.

Penso nestes momentos, por exemplo, nas Irmãs Clarissas ou outras ordens religiosas, que vivem e adoração perpétua, e pergunto-me, um pouco envergonhado, se realmente toda essa adoração, toda essa contemplação, toda essa oração, produz frutos para além daqueles que a praticam, que a vivem.

Coitado, pobre de mim, queria então saber quais as graças que o Senhor pode derramar em alguém, porque alguns se dedicam, se entregam, à adoração ao Santíssimo, em silêncio.

E penso também, que se soubesse que estas horas de adoração, produzem frutos noutrem, me poderia orgulhar e envaidecer por pensar que teria algum mérito nisso.

Mas a verdade é que acredito que estas horas de adoração, como a adoração perpétua, feita em tantos lugares, por todo o mundo, produz frutos e frutos abundantes na humanidade e na igreja, que só Ele sabe quais são.

Assim remeto-me à minha insignificância, e penso que é bem melhor nada saber, e apenas agradecer tudo o que ele faz em mim nestes momentos, e na minha vida em cada dia que passa.

Aliás, prefiro até dizer-Lhe, olhos nos olhos, que não leve em conta a minha fraqueza, a minha fragilidade, as minhas dúvidas, muito provavelmente, a minha insinceridade, mas sim que, apesar de mim, derrame as Suas graças naqueles que mais precisam.

Que aproveite, (oh, sim, e Ele aproveita), todos os momentos em que tantos e eu também, Lhe entregamos a vida, o coração, nestes tempos de adoração, e os transforme em bênçãos para aqueles que mais necessitam.

Ah, se soubéssemos o que o Senhor faz com os momentos de adoração de cada filho, de cada filha, não cessaríamos nunca de adorar em permanência o Santíssimo Sacramento da Eucaristia.




Garcia, 24 de Fevereiro de 2025
Joaquim Mexia Alves
(escritos em adoração)

segunda-feira, 21 de abril de 2025

PAPA FRANCISCO

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Morreu o Papa Francisco!
Rezo por ele hoje, como rezei todos os dias do seu pontificado.
Era um homem bom, acredito firmemente que imbuído sempre do enorme desejo de servir a Cristo, servindo os homens em Igreja.
Foi o “meu” Papa como todos os anteriores foram os “meus” Papas.
Em algumas coisas não estive de acordo com ele, mas duas coisas sempre falaram mais alto, para que eu curvasse a cabeça e obedecesse: Porque era o Bispo de Roma escolhido para liderar a Igreja, servindo a Deus, servindo os homens e, em segundo lugar, pela simples constatação de que eu não sou nada, nem ninguém, para colocar em causa as suas decisões, a sua obra.
O que sempre me tocou nele foi a proximidade às pessoas e a nítida vontade de querer edificar uma Igreja para todos aqueles que a quisessem procurar em verdade.
E isso faz-me sempre lembrar, sem dúvida, as primeiras comunidades cristãs que se amavam entre eles, mas amavam também aqueles que ainda procuravam Jesus Cristo com sinceridade de coração.
Era eu ainda bastante novo e pouco consciente das coisas da Igreja, quando aconteceu o Concilio Vaticano II, mas já nesse tempo algumas coisas não foram entendidas como deveriam ser, por muita gente.
O tempo, guiado pelo Espírito Santo, se encarregou de conduzir as reformas de modo a construir uma Igreja mais fraterna e actual.
E é exactamente nisso que acredito que o Espírito Santo fará com a obra do Papa Francisco
Deus lhe dê o descanso no eterno amor de Deus que ele tanto, com certeza, merece.



Marinha Grande, 21 de Abril de 2025
Joaquim Mexia Alves

sábado, 19 de abril de 2025

O MELHOR RÉU

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Senhor, desculpa, mas Tu és o melhor réu em tribunal, mas ao mesmo tempo o mais desconcertante.

Quando Te querem prender, em vez de fugires, ainda vais ter com os que Te vão prender, apresentas-Te a eles confirmando a Tua identidade, e até o fazes segunda vez, para que não haja dúvidas, facilitando o seu trabalho.

Aliás, ainda curas um dos teus captores, que tinha sido ferido pela espada, em Tua defesa.

Depois, vais sem resistência, para que Te apresentem àqueles que Te vão julgar.

Quando Te acusam de afirmares seres o Filho de Deus, em vez de negares tê-lo dito, voltas a confirmar que o disseste e, mais ainda, que és mesmo o Filho de Deus.

Seguidamente acusam-te de afirmares ser o rei dos judeus, e mais uma vez Tu confirmas que sim, que és Rei.

De tal modo a Tua resposta é desconcertante, que esse Teu julgador fica tão atrapalhado, que logo diz não encontrar nada de culpável em Ti.

Vem um novo julgador que Te faz muitas perguntas e Te pede um milagre.

Mas Tu nada respondes, e nem um pequeníssimo milagre Tu fazes, para que reconheçam o Teu poder, dando assim azo a que continuem a condenar-Te.

Regressado ao segundo julgador, pretendem trocar a Tua liberdade pela de um confesso assassino e, mais uma vez, nada argumentas, nada invocas, em Teu favor, deixando que esse seja solto em Teu lugar.

Perante a pergunta que Te é dirigida - “que é a verdade?” - nada voltas a responder, pois sabes bem que não vale a pena mostrar a Verdade que Tu és, a quem está cego à Verdade.

Por fim deixas-Te levar a uma tortura insuportável, carregas a Cruz, (que não é Tua), sobre os Teus ombros, para nela morreres, por amor, só por amor.

Sim, Senhor, és verdadeiramente “culpado”, és verdadeiramente um réu de amor, que se entrega por amor, por todos nós, até por aqueles que Te condenam.

Não precisavam, sequer, de Te perguntar se eras culpado de amar sem limites a todos por igual, porque a Tua resposta seria sem dúvida: Tu o dizes!




Marinha Grande, 18 de Abril de 2025
Joaquim Mexia Alves

Nota:
Inspirado pela homília do Padre Patrício Oliveira, meu pároco, na Quinta Feira Santa.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

MORRER DE AMOR! - Tríduo Pascal 2025

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Vejo-Te a caminhar para Jerusalém e longe de estares triste ou desanimado, há uma paz e uma alegria serena que habitam o Teu coração.

Vais dar-Te, entregar-Te todo em doação, por aqueles que Tu mais amas!

E sabes por tudo o que vais passar, Senhor, porque assim Te é dado conhecer, mas nem mesmo isso Te faz entristecer, Te demove da Tua obediência ao Pai que Te olha com o infinito amor que Vos percorre no Espírito Santo.

Talvez se possa ver no Teu olhar uma névoa de tristeza, mas não é por Ti ou por tudo o que vais sofrer, é sim por aqueles que, apesar da Tua entrega, Te vão rejeitar e rejeitar a salvação que Tu lhes vais alcançar.

Comes com os Teus essa última refeição, que acabas por transformar em refeição eterna para queles que de Ti se vão querer alimentar.

Então oras.

Tu estás sempre a orar, Senhor, porque Tu, afinal, és a própria oração.

Depois com um beijo, um símbolo de amor, és traído e entregas-Te àqueles que verdadeiramente nada podem contra Ti, mas acredito, Senhor, que ainda lançaste o Teu olhar de amor e perdão àquele que Te traiu.

Humildemente, como só Tu sabes proceder, ouves as acusações iniquas que Te fazem e nada respondes, porque sabes que as Tuas respostas nunca serão aceites por aqueles que, decididamente Te querem rejeitar.

Apenas afirmas, ao Teu jeito de responder, que és a Verdade, mas eles não a podem ver, porque estão cegos à Luz que Tu és.

Humilham-te, escarnecem de Ti, batem-Te, e finalmente fazem-Te carregar a Cruz na qual Te vão crucificar.

Cais por terra com o peso da Tua Cruz, que somos nós, afinal, mas logo Te levantas e continuas o caminho da Paixão, que queres seguir por todos nós, pecadores.

Os cravos rasgam-Te as mãos e os pés, mas nem um queixume se Te ouve, apenas me parece ouvir-Te dizer baixinho, repassado de amor: É por ti, meu filho! É por todos vós!

Mas ainda nos dás mais, porque na pessoa do Teu discípulo amado, fazes nossa Mãe a Tua Mãe, para que Ela sempre nos lembre de fazermos tudo o que Tu nos disseres, em cada momento das nossas vidas.

Finalmente entregas-Te ao Pai, (não sem antes Lhe pedires perdão por todos nós), baixas a cabeça e exalas o Teu último suspiro, que é o Espírito Santo derramado em todos nós.

Rompe-se o tempo, ou melhor, o tempo fica em espera, enquanto a morte vai sendo vencida pela Vida.

Então sim, recomeça o tempo, que já não é igual ao tempo que era, porque se torna eternidade na Tua Ressurreição!







Marinha Grande, 17 de Abril de 2025
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 14 de abril de 2025

QUARESMA 2025 XII

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Aqui, Jesus amado, neste momento de encontro Contigo, abro-me ao Teu amor, deixo-me tocar por Ti, e anseio apenas viver-Te e fazer a Tua vontade.

Aqui, frente a Ti, recordo o que sempre nos dizes: «Nem uma hora pudeste vigiar?» Mc 14, 37

Aproxima-se a Semana Santa.

Já percorres, Senhor, os caminhos em direção a Jerusalém, onde o Teu amor por nós, Te levará à entrega total nas mãos daqueles que Te querem matar.

Permite, Jesus amado, que eu faça este caminho Contigo, pobre de mim pecador, para viver verdadeiramente a Tua entrega por mim, por todos nós.

Permite que eu seja o burrinho com que entras em Jerusalém, permite eu seja como um cãozinho debaixo de Tua mesa da Última Ceia, comendo as Tuas migalhas, permite, Jesus amado, que eu seja um Cireneu e Te ajude a levar a Cruz, que é afinal a soma de todas as nossas cruzes.

Olha para mim, Jesus amado, como olhaste para Pedro que Te negou três vezes, para mim pobre pecador, que Te nego incomparavelmente mais vezes, todos os dias.

Permite, Jesus amado, que me aproxime de Ti na Cruz, e que ali fique a contemplar-Te e a chorar por Ti, ou melhor, a chorar por mim e por todos nós, que Te colocamos na Cruz.

Permite, Jesus amado, que como o centurião, Te reconheça como o Filho de Deus feito Homem para nos salvar.

Que poderei eu, Senhor, fazer para aliviar a Tua dor por tantos filhos Teus que se perdem?

Entrego-me tão só nas Tuas mãos, Jesus amado, nelas deposito a vida Tu mesmo me deste, e peço-Te que a aceites por aqueles que não Te aceitam, por aqueles que não te conhecem nem querem conhecer, por todos aqueles que conhecendo-Te, Te rejeitam.

Abandono-me a Ti sabendo que a viagem começou e não acaba nunca, a não ser no encontro definitivo com o Teu amor.





Garcia, 10 de Abril de 2025
Joaquim Mexia Alves
(escritos em adoração)

quinta-feira, 10 de abril de 2025

QUARESMA 2025 XI

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Hoje, Senhor, dizes-nos muito claramente pela Tua Palavra: «Eu sou a luz do mundo»

Aqui, frente a Ti, posso ser testemunha da Tua luz.

E é dessa luz e nessa luz que quero, que queremos viver.

Tu chamas-nos, Senhor, a sermos também luz no mundo.

Somos luz com a Tua luz, ou melhor, conTigo e em Ti, que és a verdadeira luz.

Ser luz no mundo é ser testemunha da luz que és Tu, Senhor.

Somos nós, sou eu, verdadeiras testemunhas da Tua luz, Senhor?

Reflectimos a Tua luz, ou julgamos nós, de quando em vez, que temos a nossa própria luz?

A Lua não tem luz própria, apenas reflete a luz do Sol.

Assim também nós não temos luz própria, mas apenas podemos refletir a luz que que nos vem de Ti, que és a verdadeira luz.

E só essa Tua luz é que ilumina e guia.

Só essa Tua luz é que é caminho Teu, e para Ti.

A luz que muitas vezes pretendemos ter, apenas aponta para nós próprios e, como tal, não é caminho, mas apenas obstáculo ao caminho.

Aqui, junto de Ti no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, pergunto-me se realmente dou testemunho verdadeiro da minha fé na Tua presença real na Eucaristia.

Afinal a Eucaristia tem que ser o centro da nossa vida cristã, da nossa fé, porque a Eucaristia és Tu, Senhor, realmente presente para nós.

Quando penso na “nossa” fé, pergunto-me se a minha fé é a fé da Igreja, ou é uma fé que eu tenho à minha medida.

É que se não for a fé da Igreja, então não posso refletir a Tua luz, nem posso ser testemunha da Tua presença real na Eucaristia, do Teu infinito amor por todos nós.

Faz, Senhor, que eu seja humilde como a Lua e apenas reflita a Tua luz, o Teu amor, a Tua presença em mim e no meio de nós, na Eucaristia.

Faz-me espelho, Senhor, que reflita a Tua luz, espelho que apenas reflete, mas não se faz notado.






Garcia, 7 de Abril de 2025
Joaquim Mexia Alves
(escritos em adoração)

terça-feira, 8 de abril de 2025

QUARESMA 2025 X

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Aqui estou, mais uma vez, frente a Ti sobre o altar.

Olhas para mim e eu envergonhado baixo os olhos.

Quem sou eu para olhar para Ti?

As Tuas mãos levantam-me a cabeça e o Teu olhar penetra o meu.

Sinto-me inundado de amor!

Sinto que neste momento nada me falta, porque tudo está preenchido pelo Teu amor.

Dizes-me ao ouvido, num murmúrio terno: Este momento deves vivê-lo sempre, porque o Meu amor está sempre contigo, mesmo quando te afastas de Mim.

Eu quero acreditar, eu quero ir mais além deste momento, eu quero viver-Te, Jesus, em cada tempo da vida que me deste.

O Teu amor inunda-me, preenche-me, envolve-me, quase me assusta de tão presente vivo e forte ele é!

Baixo os olhos mais uma vez, e cheio de amor, sussurro:
Obrigado Jesus, obrigado Senhor!






Garcia, 3 de Abril de 2025
Joaquim Mexia Alves
(escritos em adoração)

quarta-feira, 2 de abril de 2025

QUARESMA 2025 IX

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Obrigado, Senhor, porque quiseste fazer-Te presente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia para que todos Te pudessem ver, Te pudessem sentir, Te pudessem adorar na humildade da hóstia consagrada.

E que paciente Tu és, Jesus, que estás horas infindas no sacrário esperando que alguém Te visite, para assim Te fazeres presente na vida daqueles que Te procuram em espírito e verdade.

Não preciso de Te dizer, Senhor, que eu não sou nada paciente, pois Tu conheces-me bem melhor do que eu me conheço.

Nem sequer em tudo aquilo que Te peço em oração, pois quero que tudo me seja dado de um momento para outro, sem cuidar de discernir primeiro se é de Tua vontade conceder-me o que Te peço.

O pior, Senhor, é quando essa minha impaciência é visível aos outros.

Quando tenho atitudes de incómodo por uma homília mais longa, quando encolho os ombros por um conselho repetido, quando o meu olhar endurece pela falta de paciência porque alguém não faz algo como eu acho que deve ser feito.

Quando tenho gestos e expressões de enfado para com aqueles que falam comigo e de quem eu já conheço o discurso repetitivo.

Como se Tu não ouvisses de mim, permanentemente, as mesmas coisas e não as guardasses no Teu coração, olhando-me com o Teu doce olhar.

Mas eu quero que tudo seja como eu quero, e quando demora mais tempo a acontecer, logo julgo que não queres saber de mim.

Então, pacientemente, vais-me dando sinais, para que eu perceba se o que peço é de Tua vontade, ou seja, se é bom para mim ou para aqueles por quem peço.

E eu, impacientemente, vou desdenhando desses sinais, porque a impaciência me tolda o discernimento.

Senhor, perdoa-me e dá-me um pouco da Tua paciência para que possa saber esperar e confiar que tudo me vem de Ti, e que Tu só me dás o que é bom e necessário para mim.

Dá-me um pouco da Tua paciência, para eu ser paciente com os outros e paciente com tudo o que acontece na minha vida.

Ajuda, Senhor, a minha paciência, para que eu saiba amar, porque o amor é paciente.




Garcia, 31 de Março de 2025
Joaquim Mexia Alves
(escritos em adoração)