quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A COMUNIDADE MODELO (5)

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«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.
Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.» Act 2, 42-47



«Eram assíduos…às orações»

«Na Nova Aliança, a oração é a relação viva dos filhos de Deus, com o Pai infinitamente bom, com o Seu Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo.» (Cat. Igr. Cat. 2565)

Se a oração é a relação viva dos filhos de Deus, com a Santíssima Trindade, com o nosso Deus Uno e Trino, compreende-se bem que uma comunidade que se pretende cristã, só o é verdadeiramente se viver em comunhão de oração, oração que a leva à relação viva com Deus, em comunhão de irmãos e individualmente.

E para que a comunidade viva em comunhão de oração, é preciso sem dúvida que cada um dos seus membros viva em oração também, pois só em oração cada um pode ter a relação viva com Deus que transforma o homem e o faz irmão do seu irmão, pela filiação divina que nos é obtida pela graça do Baptismo.

E somos nós «assíduos…às orações»?
E é a nossa comunidade «assídua…às orações»?
É que a nossa comunidade só pode ser «assídua…às orações», se nós o formos também.

E como são as nossas orações?

É que “normalmente” as nossas orações, são orações de petição, ou seja, são orações a pedir, sempre a pedir, e a maior parte das vezes por nós e por aqueles que nos são queridos.
E muitas vezes as nossas orações quedam-se pelo eu e pelos meus, quando deveríamos ao pedir por nós, pelas nossas situações, “alargar” essas orações a todos aqueles que vivem as mesmas circunstâncias, ou seja, passarmos do eu ao nós.

E ainda o que é “mais interessante” é que pedimos, pedimos, e não nos calamos um pouco, ou seja, não fazemos silêncio para escutarmos o que Deus nos quer dizer das e nas situações que enfrentamos.

Costumo dizer a quem me procura e me afirma que reza, reza sem parar, e que acha que Deus não lhe responde, que se fizer silêncio é capaz de “ouvir” a voz de Deus dizer-lhe: «Cala-te um bocadinho, para ouvires o que te quero dizer!»

E a adoração e o louvor, fazem parte das nossas orações?

Dizem alguns autores católicos que a oração de louvor “toca o coração de Deus”.
Se nos deixamos envolver pela oração de louvor, então a oração toma conta das nossas vidas, pois em tudo, até nas contrariedades louvaremos o Nosso Deus e Senhor.

A nossa vida, se em tudo louvamos a Deus, passa então ela própria a ser uma oração, e não é isso mesmo que é ser «assíduo…às orações»?

A verdade é que Deus colocou o mundo nas nossas mãos e chamou-nos a colaborarmos com Ele na obra da criação, o que nós fazemos sempre que trabalhamos tendo em vista não só o nosso bem-estar, mas também o dos outros, o que só podemos fazer, se o nosso trabalho for uma oferta a Deus, for feito com Deus e para Deus.

E se assim fizermos, não será o nosso trabalho uma oração contínua?

Claro que percebemos que nesta frase «eram assíduos…às orações», São Lucas nos remete para a oração comunitária, o que nos leva a reflectir sobre a necessidade de um verdadeiro cristão não limitar a sua vivência da fé, pura e simplesmente, à Eucaristia Dominical.

Com efeito, nas nossas paróquias há muitos momentos, (fora do Domingo), em que a comunidade paroquial se reúne em oração: nas festas religiosas, na recitação do Terço, em momentos de adoração ao Santíssimo, em tempos tão específicos como o Advento e a Quaresma.
E nós, unimo-nos á nossa comunidade nesses momentos de oração?
Somos assim «assíduos…às orações»?

Tal como acima está escrito, não há oração comunitária se não houver oração individual, a oração de cada um, e até a oração em família, que é no fundo a comunidade base, a “igreja doméstica”, onde o primeiro testemunho é dado aos jovens, não só para viverem a fé que lhes é transmitida, mas também para perceberem a importância imprescindível da oração na vida dos filhos de Deus.

Basta lermos os Evangelhos e percebermos que a vida de Jesus Cristo na terra, foi uma contínua oração que os evangelistas fazem questão de salientar, sobretudo nos momentos, digamos, mais importantes da Sua Missão: no Seu Baptismo*, na Sua Transfiguração*, na escolha dos Doze*, na agonia no Monte das Oliveiras*, no momento da Sua Morte*, etc., etc.

Se a vida do verdadeiro cristão é a imitação de Cristo, e deve sê-lo sem dúvida, então a oração deve ser a linha contínua que atravessa toda a sua vida, de tal modo que a vida do cristão seja uma permanente oração ao seu Deus e Senhor.

Só assim seremos verdadeiramente «assíduos…às orações».




* Lc 3,21, Lc 9,28, Lc 6,12, Lc 22, 41-44, Lc 23,46

Monte Real, 21 de Outubro de 2010
(continua)
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8 comentários:

Paulo disse...

A oração, para mim o eterno elo de ligação com Deus, aliás, costumo dizer que as comunidades que vivem "enclausuradas" a rezar permanentemente, são como o Amazonas, isto é, são um pulmão nesta sociedade que cada vez se "esquece" e "afasta" das orações. Admito que não oro todos os dias, mas mesmo que sejam poucas palavras, falo com Ele. Já pedi mais, agora agradeço mais ainda.

joaquim disse...

Paulo, obrigado!

Se mesmo com poucas palavras falas com Ele todos os dias, então meu amigo, tu rezas todos os dias, porque a oração é isso mesmo: falar com Deus.

Repara que o Pai Nosso "não é mais" do que uma conversa com o Pai que está nos Céus.
Repara que as orações de Jesus Cristo são todas um diálogo com o Pai.

Mesmo quando dizemos: "desculpa meu Deus, mas não tenho tempo para rezar agora", já rezámos!

Um abraço amigo em Cristo

concha disse...

Amigo Joaquim
Alguém que não recordo, disse-me um dia que antes de "falar" com Deus é importante louvá-lO por tudo o que já aconteceu na minha vida.Só então depois poderei pedir não esquecendo sempre dizer que se faça a Sua vontade.Sou mais de agradecer do que de pedir,porque não sei o que será melhor para mim.Quando se pede é sempre segundo a nossa lógica,que está a anos-luz da de Deus.
Um abraço na Paz

Blog Almas Castelos disse...

Gosto muito do seu Blog. Sempre venho ler. Parabéns pelos excelentes posts. o trecho dos atos dos apostolos que voce tem no inicio do Blog é bom.
Parabéns, amigo.

Utilia Ferrão disse...

A oração.
Agradecer
Pedir
Interceder
Louvar

Só se dá o que se tem.
Orar é já ter Deus em si... estar cheinho DEle para o poder dar.

Mas a questão é como me posso encher se estou carenciada, faminta?

Começo por pedir a Deus, e pedir a interceção daqueles que estão cheinhos de Deus.

Louvar Deus na miséria não é fácil, aqueles que já fizeram a experiência de Deus esses sim sabem fazê-lo mesmo no maior desespero como Jó.

Agradecer
Podemos sempre e devemos pois temos mile e uma coisas para dar graças a Deus a natureza as pessoas a vida o mundo etç etc

Que o Espirito Santo ilumine sempre na nossa oração.
Abraço fraterno
Utilia

joaquim disse...

Olá Concha

Obrigado pelo teu testemunho.

Porque não sabemos o que pedir é que devemos sempre pedir segundo a Sua vontade.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Amigo Almas Castelos

Obrigado pelas suas palavras.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Amiga Utilia

Obrigado.

Quem descobre a paz e a alegria que nos vem ao louvarmos a Deus nas contrariedades, percebe bem como Ele está sempre connosco especialmente nos momentos amis dificeis.

Um abraço amigo em Cristo