quinta-feira, 31 de julho de 2025

MOMENTOS DE PURO AMOR

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Ele veio silenciosamente e sentou-se no sofá ao meu lado, na minha sala.

Olhei para o lado e dei com a ternura do Seu olhar, com o sorriso inocente na Sua boca e uma ligeira ironia na Sua face, por causa do meu espanto.

Perguntou-me então: Como estás Joaquim? Está tudo a correr bem?

Deixei-me envolver no momento, não sei se O olhei ou se baixei os meus olhos e respondi: Está tudo a correr bem, Senhor. Mas sabes isso bem melhor do que eu.

Ouvi o Seu riso cristalino e a Sua doce voz que me respondia: Eu sei que está a correr bem. Sabes bem que tenho estado sempre contigo e te acompanho em cada momento.

Senti-me como criança apanhado em qualquer travessura e respondi: Então não sei, Senhor?! E tenho sentido bem a Tua presença.

A conversa continuou animada.

Diz-me lá então como sentes a Minha presença?

Oh, Senhor, de tantas formas! Olha, como Tu muito bem sabes, eu sou um impaciente e pouco dado a obedecer a regras. Pois é sem a dúvida a Tua presença junto de mim e em mim que me tem dado uma paciência que eu não conhecia em mim. Calcula Tu que até a Catarina elogiou a paciência com que tenho vivido estes dias. Mas Tu, repito, sabes isso muito bem.

Sorriu, tocou-me na mão e disse-me: Sabes todas estas coisas, sejam elas quais forem, que vão acontecendo na tua vida, se estiveres Comigo, são sempre fonte de ensinamento para o caminho. Eu vou-te sussurrando ao coração o que deves fazer e, quando Tu assim fazes a Minha vontade, tudo se torna melhor.

Ah, Senhor, como eu sei isso tão bem! Mas mesmo assim, de quando em vez, julgo que sei melhor do que Tu e perco-me no caminho.

Não te preocupes porque Eu estou sempre contigo e mal reconheces isso, dou-te a mão e aperto-te com mais força junto de Mim.

Eu sei, Senhor, pois ainda ontem me visitaste na Comunhão Eucarística que aquele meu querido amigo me quis trazer a casa. É tão bom, alimentar-me de Ti!!!

Levantou-se e fixou-me bem no Seu olhar de amor: Agora descansa que Eu velo por ti.

Queria dizer-Te tantas coisas, Senhor, mas parecem-me tão pouco! Por isso apenas Te digo que Te amo com toda a força do meu ser.

Eu sei, Joaquim, mas Eu ainda te amo mais do que tu a Mim.

Fechei os olhos e deixei-me ficar a gozar o momento.

Já nada me interessava a não ser que Ele estava comigo.






Marinha Grande, 30 de Julho de 2025
Joaquim Mexia Alves

sábado, 26 de julho de 2025

REFLEXÕES NO CAMINHO

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Tal como referi no texto anterior, fui a semana passada submetido a uma cirurgia de urgência à vista direita. por causa de um descolamento da retina.

Correu tudo bem e assim que me senti um pouco melhor. comecei a abrir as pálpebras para tentar ver alguma coisa.

Obviamente o que conseguia ver era tudo muito turvo e totalmente indefinido, apenas a luz difusa do momento.

Passados alguns dias já me era possível ver alguns contornos dos objectos. mas sem qualquer definição nem clareza.

Fui sempre tentando obedecer às indicações médicas que me tinham dado e, sempre que forçava ou não o fazia, havia dor e desconforto.

Passados agora nove dias da cirurgia, já consigo identificar mais ou menos os contornos do quadro da minha sala que tomei como referência, embora ainda muito indefinido, mas esperando e confiando que o conseguirei ver, mais tarde ou mais cedo, se perseverar na recuperação com os necessários cuidados.

E vou rezando por todos os que sofrem e por mim também, claro, e reflectindo em tudo isto.

No nosso caminho para Deus quando O encontramos, ou melhor, nos deixamos encontrar por Ele, há muitas vezes, ao início do caminho, uma ansiedade muito grande de O ver, de O conhecer, mas Ele parece, por vezes, esconder-se e só se mostra aos poucos e nem sempre claramente.

Precisamos seguir as “instruções”, ou seja rezar, ler e meditar a Palavra de Deus em que Ele se revela, abrirmo-nos à comunidade, isto é, sermos Igreja, enfim ,tentar sempre fazer em tudo a Sua vontade.

E quando queremos “encurtar” caminho, ou seja, fazer a nossa vontade em vez da d’Ele, parece que andamos para trás, e sofremos porque parece que perdemos o caminho.

Mas se perseverarmos na oração, na Palavra, nos Sacramentos, no ser Igreja, então Ele vai-se revelando cada vez mais até O podermos ver, isto é, O podermos perceber e sentir a Sua presença em todos os momentos das nossas vidas.

E na procura de Deus é sempre Ele quem se faz encontrado, por isso a nossa confiança é total, porque a esperança é real e bem presente.

Até ao dia em que, por Sua Graça, O veremos em toda a Sua glória e viveremos então para sempre no Seu eterno amor.




Marinha Grande, 26 de Julho de 2025
Joaquim Mexia Alves

sábado, 19 de julho de 2025

OS SINAIS DE DEUS

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Era para ser uma consulta normal de oftalmologia. 

Na quarta feira a caminho de Lisboa, pareceu-me sentir algo diferente na minha vista direita mas não dei importância por já ter alguns problemazitos anteriores que eram, aliás, motivo da consulta.

Na consulta a médica, muito simpática e competente, ( amiga do meu filho mais velho e da minha nora), mandou-me ler com a vista  direita as habituais letras do quadro e foi então que percebi que não via nada daquela vista, estava tudo negro, excepto uma pequena nesga do lado direito que ainda tinha imagem.

O susto foi enorme e feitos os exames competentes logo se chegou ao diagnóstico de um grave descolamento da retina que necessitava de intervenção cirúrgica urgente.

A competência e dedicação da médica foram inexcedíveis e conseguiu que uma sua colega arranjasse tempo para me operar no fim da manhã seguinte.

Assim aconteceu e, para encurtar razões, já me encontro em casa, em repouso prolongado para garantir o bom êxito da operação.

Como em tudo o que me acontece hoje em dia tento sempre ver a presença de Deus e o que Ele me quer dizer no que me vai acontecendo.

Assim escrevo este texto que vai ser o último destes próximos dias.

Os sinais de Deus 

A mão de Deus

Esta consulta já tinha sido adiada por mim.
Se fosse quando estava marcada inicialmente o problema não teria sido detectado.
A mão de Deus guiou-me para o tempo certo e as circunstâncias certas.
Nas coisas de Deus não há coincidências, há “deuscidências”.

Sinal de Deus 

A constatação de que nada via da vista direita, como se fosse uma cortina preta, excepto a pequena nesga do lado direito, levou-me a reflectir que muitas vezes nós colocamos essas “cortinas” na nossa relação com Deus e apenas O queremos ver em pequenas partes das nossas vidas.
Também precisamos de uma “operação espiritual” que remova essas “cortinas” da nossa visão de Deus.

A presença de Deus 

Depois do enorme susto de perceber a perda da visão naquela vista, sobreveio uma grande serenidade, aceitação e entrega à vontade de Deus.
Entreguei tudo por aqueles que podendo ver Deus querem continuar cegos à Sua presença nas suas vidas.
Nas horas que fui passando nos cadeirões e macas, fui invocando o Espírito Santo e servindo-me dos dedos das mãos para ir contando as contas do Rosário, sentindo assim bem viva a Sua presença com Maria nossa Mãe junto de mim.

O amor de Deus 

As médicas, as enfermeiras, auxiliares, administrativos daquele Hospital dos Lusíadas, foram de uma simpatia e dedicação a toda a prova, (e reparei que não era só comigo), e isso foi para mim o amor de Deus a rodear-me.

A minha comunidade paroquial da Marinha Grande com os seus grupos a que pertenço com enormes amizades, as minhas amigas e amigos do Renovamento Carismático Católico, no CHARIS, Pneuma, Comunidade Emanuel também do Alpha com as suas orações, foram também, sem dúvida, sinal visível do amor de Deus para mim. 

O meu “velho” grupo de amigos de Lisboa com o Grupo de Forcados de Montemor e não só, já desde a juventude, com a sua amizade e solidariedade, foram uma expressão muito sentida deste amor de Deus que une os amigos. Um deles até escreveu logo que esperava um texto sobre o “acontecimento”!

Os meus filhos, nora e genro, a minha mulher, a minha irmã e irmãos, a minha família e ligados a ela, com o seu carinho e ternura foram e são sempre a parte mais visível e próxima do amor de Deus na minha vida.

A todos, muito, muito obrigado.
Guardo-vos nas minhas orações
Deus vos abençoe, proteja e guarde sempre.

Realmente o amor de Deus não tem largura nem comprimento, é incomensurável, eterno e manifesta-se das mais variadas formas.

Obrigado meu Deus por tanto que me dás e eu dou-Te tão pouco.


Marinha Grande, 19 de Julho de 2025
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 14 de julho de 2025

O INVISÍVEL

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Desde há muito tempo que escrevo sobre os sacerdotes, sobretudo sobre a, nem lhe chamo necessidade, mas sim reconhecimento, pela extraordinária entrega que a enorme maioria deles faz da sua vida pelos outros.

Escrevi várias vezes sobre como são tantas vezes menosprezados, criticados, e até às vezes quase considerados culpados dos “males” da Igreja, até pela própria hierarquia que os devia acarinhar, elogiar e, sem dúvida, ajudar a corrigir o seu caminho sacerdotal, a sua missão, mas devendo ter sempre bem presente a sua vida social, que a maior parte das vezes é o menos visível aos olhos dos outros

E este ter sempre presente também a vida social dos sacerdotes não é responsabilidade apenas da hierarquia da Igreja, mas também dos leigos, sobretudo os paroquianos, a quem esses sacerdotes servem, quase sempre colocando de lado a sua própria vida.

Quem vive e trabalha mais de perto com os sacerdotes, especialmente numa comunidade paroquial, percebe com facilidade quantas vezes são tratados como meros “funcionários” administradores de sacramentos, criticados por tudo ou por nada e como o seu feitio, (eles são homens como os outros com feitios diferentes), bom ou mau, é sempre motivo de conversa critica.

Esquecem-se, esquecemo-nos, de que também os sacerdotes têm famílias a que pertencem, e que, muitas vezes, as doenças e outros males também tocam as suas famílias, e que nesses momentos eles precisam tanto como cada um de nós de um ombro amigo, de uma palavra de consolo, e até de uma ajuda qualquer mais especifica.

Vem isto a propósito de diversos textos que li sobre o jovem sacerdote italiano que se suicidou, (a palavra a usar é infelizmente mesmo esta), que prova, digamos assim, que o que está escrito acima é uma realidade bem presente na vida dos sacerdotes, e que muito falta fazer por eles, quer ao nível da hierarquia da Igreja, quer ao nível dos fiéis leigos que usufruem espiritualmente e não só, da sua entrega ao sacerdócio.

Mas infelizmente, (e posso estar enganado), não li em nenhum desses textos algo que me parece muito importante, ou melhor, importante para a vivência da fé cristã que afirmamos professar.

É que, apontando as razões bem verdadeiras para a morte do referido sacerdote, e nada mais dizendo, quase parece “legitimar-se” o suicídio, o que é particularmente grave.

Acredito que alguém que comete tal acto, não estará na posse de todas as suas faculdades de correcto discernimento, mas o acto não deixa de ser algo que a Doutrina da Igreja afirma e bem, ser pecado e pecado grave, porque a vida só a Deus pertence.

Diz-nos o Catecismo da Igreja Católica:
2280. Cada qual é responsável perante Deus pela vida que Ele lhe deu, Deus é o senhor soberano da vida; devemos recebê-la com reconhecimento e preservá-la para sua honra e salvação das nossas almas. Nós somos administradores e não proprietários da vida que Deus nos confiou; não podemos dispor dela.

E mais adiante:
2283. Não se deve desesperar da salvação eterna das pessoas que se suicidaram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, oferecer-lhes a ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida.

E mais não escrevo, porque nada mais há a dizer a não ser que cada um de nós todos devemos ter consciência de que os nossos sacerdotes precisam tanto de nós como nós precisamos deles e, se mais nada pudermos fazer, teremos sempre as nossas orações diárias por eles e por este jovem sacerdote que tanto precisou dos outros e não encontrou o tal “ombro amigo” disponível para ele.

Que o Espírito Santo proteja, ilumine e guie os nossos sacerdotes, e a todos nós também, para que todos possamos ser “ombros amigos” uns para os outros.






Monte Real, 14 de Julho de 2025
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 10 de julho de 2025

A PAZ

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Dá-nos, Senhor, a paz.

A verdadeira paz, a Tua paz, para este mundo em guerra.

Não queremos a paz do mundo que é feita de acordos, de contratos, de concessões, de vantagens entre os homens, e por isso é sempre uma paz efémera, que à primeira oportunidade é esquecida e posta de lado.

Os homens são frágeis e ambiciosos e, portanto, muitas vezes a paz que procuram é apenas a ausência da guerra, que é uma paz inconstante e débil que a qualquer momento soçobra.

Precisamos, Senhor, queremos a Tua paz, a paz que é amor, que se alicerça no amor e, como tal, é a paz que nunca acaba.

Tu dizes-nos, Senhor, «amai-vos uns aos outros como Eu vos amei», porque sabes bem que só no Teu amor e com o Teu amor, os homens se podem amar como irmãos sem concessões nem vantagens, mas apenas com doação e entrega.

E é essa paz feita realizada e alicerçada no Teu amor que traz verdadeiramente paz aos homens.

Pode parecer utópico, inimaginável até, mas a Ti, Senhor, nada é impossível, e se o Homem, se os homens se deixarem tocar pelo Teu amor e nele quiserem viver, então a paz será uma realidade.

Abre, Senhor, o coração dos homens ao amor, ao Teu amor, para que os homens percebam e sintam que só amando para além de si próprios, podem encontrar a paz, a Tua paz.

Então já «não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher» (Gl 3,28), mas sim filhos de Deus que se amam com o amor eterno do Pai, revelado no Filho, iluminado pelo Espírito Santo.

Então sim, haverá paz, a Tua paz, Senhor, e o Homem encontrará toda a beleza da vida que Tu lhe quiseste dar.






Garcia, 26 de Junho de 2025
Joaquim Mexia Alves
(escritos em adoração)

terça-feira, 8 de julho de 2025

ADORAR-TE!

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Adorar-Te, Senhor
é sair de mim próprio
abandonar-me inteiramente a Ti
nada pedir
nada desejar
a não ser amar
e adorar.

Adorar-Te é
tocar-Te na fímbria do Teu manto
reconhecendo que Tu tudo podes
e eu nada sou
nem posso ser
sem Ti
em mim.

Adorar-Te é
prostrar-me diante de Ti
perceber que não sou digno sequer de Te fitar
mas ao mesmo tempo reconhecer
que Tu me dás tudo o que eu sou
para em Ti
ser para os outros.

Adorar-Te é
ser assim pequenino
perante a Tua grandeza
deixar-me tocar pela certeza
que o tudo que Tu és
também pode viver em mim
por Tua graça.

Adorar-Te é
nem sequer pensar
no que posso fazer 
ou dizer
para Te adorar
mas deixar que sejas Tu
a colocar em mim
tudo o que eu preciso
para Te adorar.

Adorar-Te é
colocar o meu coração nas Tuas mãos
unir-me à Tua Paixão
deixar-me ser Ressurreição Contigo
porque em adoração
me deixei já morrer em Ti.

Adorar-Te é
ser o que Tu queres que eu seja
sem que o meu eu
me impeça de o ser
em tudo na minha vida.






Garcia, 7 de Julho de 2025
Joaquim Mexia Alves
(escritos em adoração)

quinta-feira, 3 de julho de 2025

A TUA VONTADE

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Como é difícil, Senhor, entregar-me a Ti, buscando a tua vontade.

No meio de tudo o que quero pensar, dizer e fazer, vêm ao meu coração todos os pensamentos, planos e ideias que vão germinando na minha vida.

E eu queria saber, Senhor, se são do Teu agrado, se são mesmo esses planos que devo seguir ou outros, que não consigo ainda descortinar da Tua vontade para mim.

Era tão mais fácil se houvesse uma voz audível, inconfundível, que me dissesse que é por ali o caminho, que devo fazer isto ou aquilo, ou seja, uma proclamação da Tua vontade.

“Vejo-Te” sorrir e pergunto-Te: Porque sorris, Senhor? Porque sou criança e não sei o que hei de fazer ou perguntar?

Sorris ainda mais e respondes-me: Mas, meu filho, está tudo escrito. Basta leres e seguires o que fiz escrever sobre a Minha vontade para ti e para todos.

Pois, Senhor, respondo eu, realmente é tão fácil dizer da “boca para fora” que devo fazer o que me diz a Tua Palavra, mas a verdade é que muitas vezes não consigo perceber realmente o que queres que eu faça.

Pois, dizes-me Tu, Senhor, era melhor que Eu te escrevesse umas regras, que te dissesse o que podes ou não fazer, ou até mesmo te obrigasse apenas a fazer a minha vontade. Mas assim o Meu amor por ti seria uma “prisão”, e não a liberdade com que te criei e para que te criei.

É verdade, Senhor, mas que queres? Eu sou assim fraco, frágil e preguiçoso, por isso penso que seria melhor se assim fosse.

E se fosse assim, perguntas Tu, farias tudo o que Eu te dissesse?

Pois, Senhor, provavelmente não, talvez me “revoltasse” e fizesse antes a minha vontade.

Vês, meu filho, afinal apenas tens que perceber uma coisa da minha vontade: Que ames como Eu te amo!






Garcia, 3 de Fevereiro de 2025
Joaquim Mexia Alves
(escritos em adoração)