terça-feira, 24 de maio de 2011

SER SANTO

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Quando eu era rapaz, lá pelos finais dos anos 50, começo dos anos 60, os Santos e Santas, eram algo muito longínquo no tempo, na história da Igreja.

Eram quase sempre bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, ou mártires dos primeiros alvores do cristianismo.

Tirando algumas excepções, as suas vidas descritas em livros, eram quase “lendas”, recheadas de pormenores místicos, em que os milagres acontecidos pela sua intercessão, ocupavam a nossa imaginação, mais do que as suas virtudes e também suas fraquezas.

Esta realidade que envolvia os Santos daquele tempo, levava-nos a uma distanciação da santidade, como algo de inatingível a nós, “pobres mortais”, muito longe daqueles “eleitos”, que assim apareciam aos nossos olhos.
Havia até quase um sentimento, (falo por mim e por aqueles do meu tempo), que os Santos tinham acabado, e que nos tempos que vivíamos e nos tempos vindouros, não haveria lugar a mais canonizações, a não ser que viessem do longínquo passado.

Esta situação, (e repito que falo por mim), abria uma distância espiritual, sentimental e até física, com esses Santos, e como tal, a relação com a santidade era algo muito mais de devoção e admiração, do que vontade e prática de imitação das virtudes, na sensação de que a santidade era algo de inatingível nos nossos tempos.

O Concílio Vaticano II, sobretudo na Constituição Dogmática Lumen Gentium, veio, no entanto, chamar-nos e mostrar-nos esse caminho da santidade nos diversos estados de vida de cada um, como uma vocação de todos os baptizados

Entretanto, chegados aos pontificados, sobretudo, de João Paulo II e Bento XVI, a Igreja começou a revelar-nos Santos e Santas dos nossos dias, dos nossos tempos, perto de nós, dos nossos pais e avós, gente como nós, que viveu tempos como nós, que viveu as motivações, as alegrias, as tristezas, as dificuldades destes últimos três séculos.

Alguns, conhecemo-los já realmente, fisicamente. Tiveram parte nas notícias dos nossos jornais, das nossas televisões, vimo-los com os nossos olhos, pudemos tocá-los com as nossas mãos.
As suas virtudes tornaram-se reais para nós, e percebemos que percorriam os mesmos caminhos que nós percorremos, ou seja, que não viviam num qualquer estado de graça fora deste nosso mundo.
Viviam, sim, num estado de graça, mas neste mundo, porque procuravam em tudo fazer a vontade de Deus, o que não amenizava, nem tornava mais fácil, antes pelo contrário, as dificuldades de viver a Fé e a Doutrina num mundo particularmente adverso a essa vivência coerente e em testemunho constante.

Vem isto a propósito da Beatificação da Madre Maria Clara do Menino Jesus, ocorrida neste Sábado em Lisboa, e em que, graças a Deus, estive presente.

Lembro-me bem da minha mãe me falar da sua prima, (como gostava de lhe chamar), dizendo-me do orgulho em pertencer à família de tão virtuosa mulher.

Não sei o que pode ser mais chegado à realidade da santidade do que isto, ou seja, ter na sua própria família alguém que a Igreja colocou nos altares, e que está afinal tão perto de nós no tempo.

Realmente, quando a Beata Maria Clara faleceu em 1 de Dezembro de 1899, já o meu pai era nascido há 5 meses, e minha mãe nasceria apenas 10 anos depois!

Mas de tudo isto, o que mais importa, é percebermos que a santidade não é algo de longínquo, mas sim uma realidade permanente em cada vida que a queira procurar, não para se ser reconhecido como santa ou santo, mas apenas e tão só, para fazer a vontade de Deus.

É que, ao fazermos a vontade de Deus, estamos a dar-nos, a Ele e aos outros, e estamos a aceitar a vida como um dom de Deus com tudo o que Ele nela queira permitir, em alegrias e também em provações.

E vemos, nesta lista imensa de Santos e Santas nos últimos anos beatificados, canonizados, desde crianças, a pais e mães de família, a jovens, a gente enfim, em tudo semelhante a nós, e vivendo no mesmo mundo em que nós vivemos.

Teria gostado que a Igreja em Portugal tivesse dado uma muito maior divulgação e projecção a esta Beatificação da Madre Maria Clara do Menino Jesus, bem com há cerca de 5 anos à Beatificação de Madre Rita Amada de Jesus, em Viseu, aproveitando para fazer desses dias, duas grandes festas, duas grandes celebrações de alegria, de união, de comunhão, por mais estas duas grandes graças que o Senhor quis conceder aos Portugueses.

E, seja-me permitido, tomar o exemplo da Beata Maria Clara e transportá-lo para os nossos dias de agora, para estes nossos tempos conturbados em que a Fé e a Doutrina são permanentemente postos em causa por um mundo que se afasta de Deus.

Com efeito, a Madre Maria Clara arrostou no seu tempo com uma perseguição maciça e total á Igreja, com a expulsão de Ordens Religiosas, perseguições e atentados de toda a espécie.
Mas nada disso a retirou do seu propósito, da sua vontade, de fazer a vontade de Deus na sua vida, e, se teve que ir para França para prosseguir a finalidade de se consagrar inteiramente a Deus numa congregação religiosa, não deixou de voltar ao seu país para, arrostando com contínuas provações e dificuldades, levar a cabo a vontade Deus inscrita no seu coração, e fundar uma congregação que se dedicava inteiramente aos outros, sobretudo aqueles que mais sofrem.

Não vemos então o paralelismo com os nossos tempos?

Nem todos somos chamados, com certeza, a fundar congregações ou outras instituições, mas somos sem dúvida chamados a darmo-nos aos outros, a entregarmos a nossa vida, as nossas capacidades, os dons que o Senhor nos dá, ao Seu serviço, que é no fundo servir os outros, amando-os e ajudando-os, exactamente como Ele nos ama e serve.

«Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.» Mt 20, 28

E essa coragem que a Beata Maria Clara teve, para afrontar um mundo hostil que se afastava de Deus, é a coragem que devemos encontrar em nós, pela graça de Deus, para darmos testemunho constante e permanente, de não cedermos a leis iníquas, que atentam contra a vida, contra a família, e, na força do testemunho coerente, (também pelo nosso voto no dia das eleições), afirmarmos que só em Deus encontramos o verdadeiro Caminho, a verdadeira Verdade, a verdadeira Vida.

Que a Beata Maria Clara do Menino Jesus interceda por nós, portugueses, para que o Senhor derrame em nós continuamente o Espírito Santo, para na Sua força, darmos testemunho vivo, coerente e permanente em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Monte Real, 23 de Maio de 2011
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14 comentários:

Anónimo disse...

Felizes os que têm crédito junto de Cristo.

Uma alegria sempre terão.

Confia na tua Santa e serás sempre amado.

Um abraço,

Mário

concha disse...

Amigo Joaquim
Mais do que uma honra, ter alguém assim do mesmo sangue,é sem dúvida um incentivo à santidade.Escutar desde tenra idade falar de alguém muito próximo,no que respeita aos seus valores,é uma marca que fica para sempre.
Associo-me, ainda que tardiamente à alegria que deves ter sentido, no sábado passado ali no Restelo.Tive de ficar em casa, para responder a um pedido do meu filho,mas estive frente ao ecran da televisão e confesso que tive pena de não ter havido uma maior participação.Esta data também fica associada particularmente à minha vida, porque no dia seguinte fazia anos :).
Um abraço na Paz

Gisele Resende disse...

Amigo Joaquim,

Deus lhe abençoe por este post!

A medida que caminho vou percebendo cada vez mais o significado da santidade na qual quando era criança por diversas vezes ficava pensando nesta distância achava o quanto era difícil essa travessia, essa entrega... A nossa Igreja Católica é maravilhosa, nos propicia a caminharmos cada vez mais na Fé íntegra e plena tendo esses homens e mulheres de Deus que nos ajudam a seguir...Tantos são os testemunhos de vários Santos que desde então mergulhei neste infinito e passei a ler muito sobre a vida dos Santos um universo que nos surpreende e nos leva a uma interioridade muito forte que eu jamais pensei em encontrar.Palavras, falas,leitura da bíblia, virtudes, gestos que nos abre o coração cada vez mais a comunhão com Cristo, nosso Salvador!
Recentemente li um livro de São Luís de Montfort chamado: Carta aos amigos da Cruz, é um livro de apenas 83 páginas, mas que te leva a uma maravilhosa reflexão sobre este versículo: "Se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me" (Lc 9,23)
O quanto é dificil renegarmos a nós mesmos... É difícil mas não impossível, tendo Cristo como nosso Deus e Senhor, fazendo a vontade do Pai dia após dia. Esses homens e mulheres Santos nos testemunham a essa vida que é plena em Cristo!
Agora estou lendo, Também de São Luis de Montfort, o Tratado da verdadeira Devoção A Santíssima Virgem. Espetacular!

Muito lindo esse seu post. Obrigada por partilhar.O quanto é importante nos dias atuais falarmos mais sobre essas virtudes Cristãs, sobre o testemunho desses Santos que viveram, lutaram por um amor pleno e real em Deus. O quanto é importante para a nossa juventude, as nossas crianças, os nossos filhos viverem esse ambiente de entrega a Deus. E que é possível lutar contra todo esses males que o mundo atual quer nos envolver. Sejamos firmes e fortes em Deus, assim como você mesmo escreveu acima:

"É que, ao fazermos a vontade de Deus, estamos a dar-nos, a Ele e aos outros, e estamos a aceitar a vida como um dom de Deus com tudo o que Ele nela queira permitir, em alegrias e também em provações..."

abraços fratenos,

Gisele

joaquim disse...

Obrigado Mário!

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado Concha.

Fizeste bem em ficar em casa acedendo ao pedido do teu filho.

Devias chamar-te Rita, porque pelos vistos, fazes anos no dia de Santa Rita de Cácia.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado Gisele.

É verdade que o testemunho dos Santos é muito imprtante para cada um de nós, sobretudo estes Santos tão próximos de nós no tempo.

Um abraço amigo em Cristo

Utilia Ferrão disse...

Amigo Joaquim
È muito lindo este testemunho e Saber que esta santa está tão próximo de si e de nós leva-me a lutar cada vez mais para melhorar sempre o meu caminho de vida
Obrigada
Abraço grande e que ela interceda por nós e pelo nosso país
assim seja
Utilia

Paulo disse...

Todos somos convidados a ser santos, dentro da santidade humanamente possivel. Milagres? Todos os dias e a toda a hora acontecem, basta estar atendo a um sorriso ou a um gesto simples como Deus o é.

joaquim disse...

Obrigado Utilia

É verdade, a Igreja chama-nos a esse caminho de santidade no dia-a-dia em tudo o que fazemos, em tudo o que vivemos.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

É verdade Paulo!

O caminho de santidade é caminho diário.

Os milagres maiores são aqueles que não se vêem e são operados em cada coração, nos pequenos gestos e testemunhos, como muito bem dizes.

Um abraço amigo em Cristo

concha disse...

Julgava ter respondido à tua observação,mas esta máquina por vezes falha e é sempre tão bom descarregar as nossas incompetências para uma coisa!
È certo que não me chamo Rita, embora gostasse.No entanto o meu nome Conceição foi o escolhido em honra de Nossa Senhora.Talvez por já ter aparecido tardiamente.Concha foi o nome que me atribuíu um grupo de amigos em Santiago de Compostela,numa peregrinação que foi o início de outras na minha reaproximação a Deus.A Bíblia acentua o valor do nome de cada um de nós e para mim isso tem sido um grande sinal dos céus.
Bem hajas por este espaço de comunhão em Cristo

joaquim disse...

É verdade Concha.

Obrigado pela explicação.

Também tenho uma sobrinha chamada Conceição a quem chamamos Concha!

Um abraço amigo em Cristo

Ailime disse...

Amigo Joaquim,
Sim, na verdade, em criança e até há uns anos atrás sentia que os Santos de Deus seriam pessoas quase que irreais no bom sentido do termo.
No meu caso particular com o conhecimento principalmente das vidas e exemplos dos Beatos João Paulo II e Madre Teresa de Calcutá passei a encarar a santidade de uma forma diferente.
O Senhor apela a que cada um de nós construa a sua vida num caminho de elevação, que nos conduza na fidelidade ao Seu Evangelho e tendo também como exemplo todos os homens e mulheres que entregaram as suas vidas por amor a Jesus.
Na minha Paróquia foi divulgada a beatificação da Irmã Maria Clara e um grupo de paroquianos assistiu às cerimónias no Restelo.
Já agora partilho da sua alegria de a saber do seu sangue orando também para que interceda por todos e que o Espírito Santo derrame sobre nós a Luz do Senhor.
Muito obrigada por mais este momento tão enriquecedor.
Abraço fraterno em Cristo e Maria.
Ailime

joaquim disse...

Obrigado Ailime.

Ajudemo-nos uns aos outros a encontrarmos e vivermos o caminho da santidade.

Um abraço amigo em Cristo