quarta-feira, 11 de maio de 2011

BENTO XVI E O CONCÍLIO VATICANO II

.
.
Alguns cristãos católicos decidiram não aceitar o Concílio Vaticano II, afirmando que o mesmo estaria contra a Doutrina e a Tradição da Igreja Católica.

Estão obviamente enganados nessas suas convicções que apenas dividem, porque a Igreja Católica é a mesma desde Pedro a Bento XVI, a Doutrina e a Tradição são as mesmas, porque é o mesmo Espírito Santo que ilumina e conduz a Igreja, desde sempre e até ao fim dos tempos.

Para que não permaneçam dúvidas, basta ler o Discurso do Papa Bento XVI aos membros do Instituto Litúrgico Santo Anselmo por ocasião dos seus 50 anos de fundação, recolhido na Zenit.

Eminência,
Reverendo Padre Abade Primaz,
Reverendo Reitor Magnífico,
Ilustres Professores,
Queridos Estudantes:

Saúdo-vos com alegria por ocasião do IX Congresso Internacional de Liturgia que estais realizando no âmbito da comemoração do cinquentenário da fundação do Pontifício Instituto Litúrgico. Saúdo cordialmente cada um de vós, em especial, o grão-chanceler, Abade Primaz Notker Wolf, e agradeço pelas amáveis ​​palavras que me dirigiu em nome de todos vós.

O Bem-aventurado João XXIII, recolhendo as instâncias do movimento litúrgico que pretendia dar um novo impulso e um novo fôlego à oração da Igreja, pouco antes do Concílio Vaticano II e durante sua realização, quis que a Faculdade dos Beneditinos no Aventino constituísse um centro de estudos e de pesquisa para garantir uma sólida base para a reforma litúrgica conciliar. Na véspera do Concílio, de fato, parecia cada vez mais viva, no campo da liturgia, a urgência de uma reforma, postulada também pelas petições realizadas por diversos episcopados. Além disso, a forte demanda pastoral que motivava o movimento litúrgico requeria que se favorecesse e suscitasse uma participação activa dos fiéis nas celebrações litúrgicas, através do uso de línguas nacionais, e que se aprofundasse na questão da adaptação dos ritos às diversas culturas, especialmente em terra de missão.

Além disso, mostrou-se clara desde o início a necessidade de um estudo mais aprofundado do fundamento teológico da Liturgia, para evitar cair no ritualismo ou promover o subjectivismo, o protagonismo do celebrante, e para que a reforma estivesse bem justificada no âmbito da Revelação e em continuidade com a tradição da Igreja. O Papa João XXIII, incentivado por sua sabedoria e seu espírito profético, para acolher e responder a estas exigências, criou o Instituto Litúrgico, ao qual quis atribuir imediatamente o título de "Pontifício", para indicar seu vínculo especial com a Sé Apostólica.

Caros amigos, o título escolhido para o Congresso do Ano Jubilar é muito significativo: "Instituto Pontifício: entre memória e profecia". Quanto à memória, devemos observar os frutos abundantes suscitados pelo Espírito Santo em meio século de história, e assim devemos agradecer ao Dador de todo bem, apesar também dos mal-entendidos e erros na realização efectiva da reforma. Não podemos deixar de recordar os pioneiros, presentes na fundação da Faculdade: Cipriano Vagaggini, Adrien Nocent, Salvatore Marsili e Burkhard Neunheuser, que, ao acolherem os pedidos do Pontífice fundador, empenharam-se, sobretudo após a promulgação da Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium, em aprofundar na "função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam - e, cada um à sua maneira, realizam - a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral" (n. 7).

Pertence à "memória" a vida do Pontifício Instituto Litúrgico, que ofereceu a sua contribuição para a Igreja comprometida com a recepção do Concílio Vaticano II, através cinquenta anos de formação litúrgica académica - formação oferecida à luz da celebração dos santos mistérios, da liturgia comparada, da Palavra de Deus, das fontes litúrgicas, do magistério, da história das instâncias ecuménicas e de uma sólida antropologia. Graças a este importante trabalho formativo, um grande número de graduados e licenciados já presta seu serviço à Igreja em várias partes do mundo, ajudando o povo santo de Deus a viver a liturgia como expressão da Igreja em oração, como presença de Cristo entre os homens e como actualidade constitutiva da história da salvação. De fato, o documento conciliar evidencia o duplo carácter teológico e eclesiológico da liturgia. A celebração realiza, ao mesmo tempo, uma epifania do Senhor e uma epifania da Igreja, duas dimensões que se conjugam em unidade na assembleia litúrgica, na qual Cristo actualiza o mistério pascal de morte e de ressurreição e o povo baptizado bebe mais abundantemente das fontes da salvação. Na acção litúrgica da Igreja, subsiste a presença activa de Cristo: o que realizou em seu caminho entre os homens, Ele continua tornando operante através de sua acção pessoal sacramental, cujo centro é a Eucaristia.

Com o termo "profecia", o olhar se abre a novos horizontes. A Liturgia da Igreja vai além da própria "reforma conciliar" (cf. Sacrosanctum Concilium, 1), cujo objectivo, de fato, não era principalmente o de mudar os ritos e gestos, mas sim renovar as mentalidades e colocar no centro da vida cristã e da pastoral a celebração do mistério pascal de Cristo. Infelizmente, talvez, também pelos pastores e especialistas, a liturgia foi tomada mais como um objecto a reformar que como um sujeito capaz de renovar a vida cristã, a partir do momento em que "existe um vínculo estreito e orgânico entre a renovação da Liturgia e a renovação de toda a vida da Igreja. A Igreja extrai da liturgia a força para a vida". Quem nos recorda isso é o Beato João Paulo II, na Vicesimus quintus annus, na qual a liturgia é considerada como o coração latente de toda actividade eclesial. E o Servo de Deus Paulo VI, referindo-se ao culto da Igreja, com uma expressão sintética, afirmou: "Da lex credendi passamos à lex orandi, e isso nos leva à lux operandi et vivendi " (Discurso na cerimónia de oferenda de velas, 2 de Fevereiro de 1970).

Cume para o qual tende a acção da Igreja e, ao mesmo tempo, fonte da qual brota a sua força (cf. Sacrosanctum Concilium, 10), a liturgia, com o seu universo celebrativo, torna-se assim a grande educadora na primazia da fé e da graça. A liturgia, testemunha privilegiada da Tradição viva da Igreja, fiel à sua missão original de revelar e tornar presente no hodie das vicissitudes humanas da opus Redemptionis, vive de uma relação correcta e consistente entre a sã traditio e a legítima progressio, lucidamente explicitada pela Constituição conciliar no n. 23. Com ambos os termos, os Padres conciliares quiseram gravar seu programa de reforma, em equilíbrio com a grande tradição litúrgica do passado e do futuro. Não raro, contrapõe-se, de maneira desajeitada, tradição e progresso. Na verdade, os dois conceitos estão integrados: tradição é uma realidade viva, que por isso inclui em si o princípio do desenvolvimento, do progresso. É como dizer que o rio da tradição leva em si também sua fonte e tende à desembocadura.

Queridos amigos, espero que esta Faculdade de Sagrada Liturgia continue, com um vigor renovado, seu serviço à Igreja, em plena fidelidade à rica e bela tradição litúrgica e à reforma desejada pelo Concílio Vaticano II, de acordo com as directrizes da Sacrosanctum Concilium e dos pronunciamentos do Magistério. A liturgia cristã é a liturgia da promessa realizada em Cristo, mas também é a liturgia da esperança, da peregrinação rumo à transformação do mundo, que acontecerá quando Deus for tudo em todos (cf. 1 Cor 15, 28). Pela intercessão da Virgem Maria, Mãe da Igreja, em comunhão com a Igreja celeste e com os padroeiros São Bento e Santo Anselmo, invoco sobre cada um a Bênção Apostólica. Obrigado.

Mais palavras não são precisas, julgo eu.
Sublinhados meus.
.
.

17 comentários:

NUNC COEPI disse...

Excelente e oportuna publicação.

concha disse...

Amigo Joaquim
Belíssimo esclarecimento.
Abraço na Paz

João Silveira disse...

Nem mais!

joaquim disse...

Obrigado Concha.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

É verdade, caro João!

Tudo bem explicado!

Um abraço amigo em Cristo

Paulo disse...

Que belissima explanação...soberba.

Dulce Gomes disse...

Amigo Joaquim
fiquei muito contente com esta postagem.
Obrigada
Abraço em Cristo

Ailime disse...

Amigo Joaquim,
Nasci e iniciei a minha catequese no Pontificado do Grande Papa João XXIII.
Sempre ouvi falar e continuo a ouvir falar bem das reformas que o Concílio Vaticano II vieram oferecer à nossa Igreja.
Depois de alguns anos de "afastamento" na minha adolescência e para meu agrado aquando do meu "regresso" à Casa do Pai" uma das grandes novidades foi a alegria de as celebrações serem efectuadas na nossa língua!
Também outra mudança que me agradou: os sacerdotes passaram a estar voltados para a assembleia!
Grata por ter trazido este tema sempre importante recordar.
Abraço fraterno,
Ailime

Utilia Ferrão disse...

Antes demais fico muito grata por todo este ensino que nos proporciona Joaquim.
Já tinha passado por aqui e já tinha lido e vou voltar a ler há coisas que quero guardar para mim.
Abraço em Cristo
Utilia

joaquim disse...

Sei que depois de dia 11 deste mês foram aqui colocados mais comentários.

Infelizmente o blogger esteve em manutenção e esses comentários foram apagados.

Do facto não tenho qualquer culpa, mas mesmo assim peço desculpa àqueles que aqui colocaram comentários que agora não aparecem.

Aliás mesmo as minhas respostas aos primeiros comentários foram apagadas.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado António.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado Concha

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

É verdade, João, nem mais!

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado Dulce

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado Ailime.

Eu ainda sou do tempo de Pio XII!

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado Utilia

Espero que tenham entendido que não fiz mais do que transcrever um discurso do Papa Bento XVI, que pela sua clareza não deixa margem para dúvidas.

Um abraço amigo em Cristo

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.