sexta-feira, 18 de junho de 2010

ESTRANHAMENTE SÓ!

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A Igreja Católica em Portugal não se irá intrometer nas eleições presidenciais de 2011, disse esta tarde o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga.
Em declarações aos jornalistas no final da Assembleia Plenária Extraordinária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga recordou que tem sido essa a atitude da Igreja Católica em Portugal: não se intrometer “o mínimo que seja” em qualquer questão de índole política.
“Não nos intrometemos até agora e não nos intrometeremos nesta questão”, afirmou.
Para o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, o trabalho da Igreja Católica é “formar as consciências” para, depois, cada cidadão optar no momento do voto.
Questionado sobre campanhas em curso, até com propostas de homilias, incentivando ao envolvimento da Igreja Católica nas eleições presidenciais de 2011, D. Jorge Ortiga disse que são iniciativas de alguns católicos, no direito que têm de se manifestarem.
“O facto de alguns católicos se unirem para manifestar algum tipo desejo, isso é uma questão pessoal e um direito que se lhes assiste”, referiu.
O Presidente da Conferência Episcopal frisou, no entanto, que “não gostaria de ver o nome de ‘católico’ envolvido nestas coisas”.
Para D. Jorge Ortiga, campanhas que possam estar em curso são de iniciativa individual e não correspondem a “uma atitude da Igreja em Portugal”.

Agência Ecclesia – 17.06.10



Depois de ler esta notícia da Ecclesia sinto-me estranhamente só!
Não me sinto apenas estranhamente só, sinto-me também um anónimo, sem identificação, sem referências!

Sinto-me só, porque a minha Igreja me diz pela voz de um seu pastor que, se eu quiser colocar em prática e viver os ensinamentos do cristianismo na minha vida interior e em sociedade, tentando ajudar a construir um mundo à luz do ensinamento de Jesus Cristo, a minha Igreja não me acompanha, porque não se “intromete nessas questões”!

Julgava eu ainda, que uma das especificidades do cristianismo e da sua prática, era a comunhão em Cristo, por Cristo e com Cristo, em Igreja, no testemunho e na vivência dos valores do homem enquanto criado por Deus e para Deus, na construção dum mundo novo querido por Deus, mas afinal é-me dito que a manifestação desse desejo “é uma questão pessoal e (apenas) um direito que me assiste”!

Aliás estou tão só, que se me envolver numa campanha dessas, faço-o apenas como “iniciativa pessoal”, pois a Igreja a que pertenço afirma, pela voz desse pastor, que tal iniciativa não é “uma atitude da Igreja em Portugal”.

Mas “sinto-me” também anónimo, sem identificação, sem referências porque esse mesmo pastor “não gostaria de ver o nome de ‘católico’ envolvido nestas coisas”, o que quer dizer, que se me envolver “nessas coisas”, não poderei referenciar-me como católico, e por isso mesmo como cristão, mas apenas como um cidadão sem Deus, sem Fé.

Sim, eu sei que estou a exagerar nas considerações que faço, mas não deveria haver muito mais cuidado nas coisas que se dizem, e sobretudo não deveria haver uma reflexão bem mais profunda sobre o papel da Igreja na sociedade portuguesa?

Claro que isto não diminui em nada a minha comunhão e o meu amor pela Igreja, que é uma das matrizes imprescindíveis na minha vida.


Monte Real, 18 de Junho de 2010
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23 comentários:

Canela disse...

Calma amigo Joaquim!

Não estás só! Nunca estamos sós!

joaquim disse...

Amiga Canela

Obrigado, mas a expressão era apenas mera figura de retórica.

Claro que não me sinto só!

Estou sempre em Igreja!

Um abraço amigo em Cristo

Anónimo disse...

Parabéns

concha disse...

Amigo Joaquim!
À primeira impressão, poderá chocar a afirmação de D. Jorge Ortiga.Também penso que ao afirmar-se que a igreja quer formar consciências,o que na realidade se pretende é preparar os católicos para efectivamente não o serem só de nome, porque se avizinham tempos difíceis para a igreja e só os que forem coerentes poderão constituir aqueles pilares que mesmo sujeitos a vários confrontos irão ser a garantia de que a igreja continuará como sempre tem acontecido.O Espírito Santo ilumina e nós que nos afirmamos católicos só temos que não ter medo e confiar.Como o povo de Israel"de dia teremos a coluna de nuvem a proteger-nos e de noite a coluna de fogo para nos iluminar a todos".Com católicos comprometidos,penso não ser necessário a hierarquia da igreja sujeitar-se ás luzes da ribalta, que a maior parte das vezes só servem para denegrir a instituição e desviar atenções do essencial.
Que o Espírito Santo nos ilumine com os seus dons.
Um abraço amigo na Paz

joaquim disse...

Caro Anónimo

Obrigado!

joaquim disse...

Amiga Concha

Obrigado pelas tuas palavras.

Mas não se trata de pedir á hierarquia da Igreja que se envolva numa campanha politica, trata-se isso sim, de pedir á Igreja que esclareça os católicos sobre as responsabilidades da vivência da fé.

Enquanto noutros países, como a Espanha aqui ao lado, a Igreja está na primeira linha do combate ao aborto e à degradação dos valores da sociedade, aqui em Portugal, a Igreja a pretexto de uma "isenção" coibe-se de aconselhar os católicos e de os ajudar a perceber que a vivência da fé não se resume apenas a "frequentar" a Missa, mas também a dar testemunho na vida social do país.
Não criticou o Cardeal Patriarca, Cavaco Silva pela promulgação da lei do "casamento" homosexual?
Então a Igreja tem de ser clara e não colocar as coisas como: uma coisa somos nós hierarquia, outra sois vós leigos!
Isso é o que de mais contrário ao espírito do Vaticano II.
João Paulo II apoiou declaradamente Lech Walesa para a presidência da Polónia e com essa atitude ajudou a dar a "machadada" final no "império soviético".
Não desejo a hierarquia em campanha, desejo a hierarquia em comunhão com os leigos que são Igreja para ajudar a construir um mundo segundo o ensinamento de Jesus Cristo.

Um abraço amigo em Cristo

Sandra Dantas disse...

Olá amigo Joaquim,
tens toda a razão! Por vezes choca a posição que a Igreja toma em certas situações. É claro que os católicos devem estar envolvidos em tudo, há que ser católico e afirmar-se como tal onde quer que se esteja! Só assim se pode construir um mundo melhor!

Um abraço amigo!

C.M. disse...

Toda a razão, Amigo Joaquim!

O D. Jorge Ortiga, e outros membros da Conferência Episcopal, um ou outro por mim interpelados em encontros casuais em Fátima, são de uma “timidez” atroz… e já têm dito coisas que me desgostam…

A Igreja Portuguesa só foi grande e fortemente interventora, proclamando bem alto os seus valores (que são os de Cristo) com D. Gonçalves Cerejeira (para quando a republicação dos seus textos?!).

Então numa conjuntura em que temos um candidato pertencente à maçonaria (Manuel Alegre) a Igreja não deve alertar para tal facto?

Valha a verdade que Cavaco Silva também “não os tem no sítio” pois que, após ter estado com Bento XVI, foi a correr promulgar a lei dos casamentos “gay”…

Conclusão: estamos bem “convidados” pelo “belo” naipe de políticos que temos, e pelos nossos “pastores” que não querem afrontar claramente o inimigo.

São os homens que temos hoje…

Utilia Ferrão disse...

Amigo Joaquim
Um Católico tem deveres e eu penso não falhar aos meus ...Abraço em Cristo

concha disse...

Amigo Joaquim!
Tens toda a razão ao afirmares que a igreja deve esclarecer.Acho mesmo muito importante que o faça.Foram muitos anos de se achar que ser católico era ir á missa ao domingo e confessar-se pelo menos uma vez por ano.Essa mentalidade ainda existe hoje e precisa de ser mudada.Jesus veio ensinar como se pode ser feliz e isso não dá felicidade a ninguém.Penso que também depois da vinda de Bento XVI ao nosso país,a hierarquia da igreja foi um pouco "abanada" e isso terá consequências, assim o espero.Entretanto a cada um de nós cabe fazer a sua parte.
A net é hoje um meio privilegiado de difusão e este blog está excelente no que transmite e na períodicidade com que isso é feito.Bem hajas por isso.
Um abraço na Paz com a gratidão de sempre

zedeportugal disse...

Amigo Joaquim,

Tem toda a razão. As afirmações do bispo Ortiga são absolutamente inaceitáveis.
A quem se refere ele quando diz "a igreja católica"? Esqueceu-se, este homem de quem é a Igreja?
Esqueceu-se, também o que significa cristão? É esse o exemplo de Cristo, fingir que não se vê o que está mal?
Esqueceu-se também do significado de católico? Como pode um católico "não se envolver" no sofrimento social?
Um mau pastor não serve o rebanho. Um pastor cobarde, não defende o rebanho.

Vou enviar-lhe imediatamente a seguir um e-mail com um pedido. Agradeço a sua resposta logo que possível. Bem-haja.

Abraço.

malu disse...

Joaquim, tens toda a razão e deixa-me dizer-te que nem no tempo estás estranhamente só, diz-te e diz-nos o Papa que o apóstolo Paulo, a dada altura, responde a questão mais ou menos idêntica ou num contecto sobre fé ou falta dela, na Carta ao Romanos com uma reflexão filosófica que se apoia nas vicissitudes da história das religiões (transcrevo parte do texto que penso caber aqui):(...) Na megalópole de Roma,, a Babilónia daquela época,, ele depara-se com aquele tipo de decadência moral que se funda na total perda das tradições, na ausência da evidência íntima que anteriormente chegava ao homem através dos usos e costumes. Já não se percebe nada por si, tudo é possível, nada é impossível, já nenhum valor resiste, nenhuma norma é intocável. Agora só contam o eu e o momento. As religiões tradicionais são apenas fachadas de comodismo sem interioridade, o que resta é o cinismo nu. A resposta do apóstolo a este cinismo moral e metafísico duma sociedade decadente, dominada unicamente pela lei do domínio, é espantosa. Ele afirma que na realidade esta sabia muito bem de Deus. « O que se pode conhecer é-lhes manifesto, pois Deus lho manifestou» Rm 1,19) E baseia assim esta asserção:«De facto, o que é invisível n'Ele - o Seu eterno poder e a Sua divindade -- tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras» (1,20) Paulo retira daqui a sua conclusão« Por isso não se podem desculpar (1,20). A verdade ser-lhes-ia acessível, mas eles não a querem, rejeitam as exigências que esta lhes faria. O apóstolo fala de uma «repressão da verdade na injustiça». O homem opõe-se à verdade que lhe exige submissão sob a forma de honra a Deus e de gratidão» (1,21). A decadência moral da sociedade é, para Paulo, apenas a consequência lógica e o reflexo exacto desta contrafacção fundamental; quando o homem coloca a sua vontade, a sua soberba e a sua comodidade acima da pretensão da verdade, tudo no fim é invertido. Deus, a quem é devida adoração, deixa de ser adorado, são adoradas as imagens, a aparência, a opinião que se impõe e que adquire o domínio sobre o homem. Esta inversão geral estende-se a todos os campos da vida. O antinatural torna-se normal; o homem que vive contra a verdade vive também contra a natureza. A sua força de invenção ´já não serve o bem, torna-se genialidade e refinamento do mal. As relações entre homem e mulher e entre pais e filhos desfazem-se, e são assim fechadas as nascentes de vida. Já nao é a vida que domina mas a morte, estabelece-se uma civilização de morte (rm 1,21-32).
Paulo traçou aqui uma imagem da decadência cuja actualidade afecta de modo impressionante o leitor de hoje. Mas ele não se contenta em descrever, como é moda em semelhantes tempos. Há um tipo perverso de moralismo que gosta de se deter no negativo, mesmo enquanto o condena. A análise do apóstolo antes leva ao diagnóstico e torna-se assimmum apelo moral.
(...)

E assim fazes tu. Não me alongo mais. Abraço em Cristo e Maria.

malu disse...

P.S. Desculpa os erros :
conteto - "contexto sobre fé ou falta dela..."

Carta aos Romanos

vírgulas dobradas, palavras pegadas,teclado perro.

E eu não penso que estejas a exagerar. Precisamos de quem apele por nós e/ou connosco.

Bjs.

joaquim disse...

Amiga Sandra, obrigado!



Sim com certeza, pois esse é o espírito do Vaticano II, todos somos Igreja e todos somos corresponsáveis.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

É verdade amigo Delfim!

A nossa Igreja em Portugal parece-me infelizmente um pouco apática em relação à degradação dos valores da vida e da sociedade, sobretudo se compararmos com a Igreja de Espanha, por exemplo.


Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Amiga Utilia

E é isso mesmo que todos precisamos de fazer, mas era bom também que a nossa Igreja nos exortasse a isso mesmo, sobretudo àqueles que têm dúvidas.


Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Amiga Concha

Obrigado, mais uma vez, pelas tuas palavras.

Realmente todos temos de nos empenhar e todos sermos Igreja, testemunhando a nossa fé e os valores da humanidade criada por Deus.


Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Amigo zedeportugal

Obrigado pela sua visita.

Nem é tanto para mim a atitude, já a esperava, mas sim as palavras usadas.

Já respondi aos seu mail.


Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Malu, Malu, obrigado!

Que belo ensinamento aqui nos deixas.

Diz-nos por favor onde encontraste este texto, pois fazes referência ao Papa, mas não dizes onde.

Obrigado mais uma vez.

Que Deus te abençoe.



Um abraço amigo em Cristo

malu disse...

Tens razão, desculpa o lapso, no caso, os lapsos, por não me ter preocupado muma revisão mais apurada do texto e assim ter depois que emendar erros, fechar tags e o tempo fugia. Aqui fica então:

"Olhar para Cristo" - exercícios de fé, esperança e caridade - Joseph Ratzinger.

Abreijos.

joaquim disse...

Obrigado Malu!

Vou procurar e ler.

Abreijos

Alma peregrina disse...

Caro Joaquim:

É preciso considerar toda a vivência da Igreja na sua longa História...

Acho que a Igreja vive à deriva entre dois estados de espírito em relação às matérias políticas.

Num estado, ela direcciona a política de acordo com os seus ideais, que são bons ideais. Infelizmente, isso geralmente leva a Igreja a preocupar-se mais com os assuntos terrenos do que com os assuntos espirituais. Daí até à corrupção é um salto e da corrupção para o descrédito é outro salto.

Então a Igreja passa a evitar-se imiscuir-se em coisas públicas. O que leva à degradação moral. Porque em tudo aquilo em que há ausência de Deus, há Inferno. Se Deus não guia uma Nação, essa Nação está condenada.

A Igreja tem vivido na balança e um excesso num lado acaba por contrabalançar o outro.

Um leitor acima menciona o Estado Novo... mas é preciso não esquecer que muitas políticas do Estado Novo eram pouco cristãs. Ao associar-se ao Estado Novo (que a Igreja, recorde-se, nunca apoiou oficialmente), a Igreja acabou por descredibilizar-se após o 25 de Abril...

Agora há uns certos anticorpos quanto à Igreja imiscuir-se na política... e o resultado é que vivemos num país em que se matam crianças impunemente e em que se equipara a depravação ao casamento.

Daí, eu digo... acho muito bem, muitíssimo bem, que a nossa hierarquia se afaste da política. A vocação deles é cuidar do rebanho, orientando-o nas coisas do corpo mas sobretudo nas coisas do espírito.

É a vocação deles.

Por isso eu revolto-me quando vejo os nossos irmãos leigos a rebelarem-se contra os bispos no que diz respeito à doutrina. Não é a vocação do leigo esclarecer a doutrina ou interpretar a doutrina... os leigos que tenham respeito pela vocação dos presbíteros e bispos.

Mas isso tem um reverso... é que a vocação dos leigos e dos diáconos é viver no Mundo. Ora, se nós seguimos as orientações doutrinais dos nossos bispos e presbíteros, então eles que nos deixem actuar! Respeitem as nossas vocações, tal como nós devemos respeitar as deles...

Que se mantenham neutrais, acho muito bem. Mas ser neutral não é sufocar desta forma as iniciativas do laicado. É incentivar essas iniciativas, sem coagir ninguém na cabina de voto.

Pax Christi

joaquim disse...

Caro amigo Alma Peregrina

Já tinha saudades das tuas intervenções!

Concordo com o que dizes e como sabes neste meu espaço não se critica a Igreja, pois para mim o lugar de criticar para construir é na própria Igreja.

Eu até posso compreender a atitude de "não interferência" da Igreja, mas não compreendo o modo como foi informada e as palavras usadas, que me mercem credibilidade visto serem da Ecclesia e não terem sido "desmentidas".

A Igreja deve sempre orientar os seus fiéis, com clareza e transparência, o que não é de modo nenhum interferir nas eleições.

Há um documento da Congregação para a Doutrina da Fé, do tempo de João Paulo II que exprime bem a "participação e comportamento dos católicos na vida política" e que devia ser dado a conhecer a todos os fiéis, pois nele se explica muito bem essa participação enquanto católicos.

As palavras de D. Jorge Ortiga, “não gostaria de ver o nome de ‘católico’ envolvido nestas coisas”, vêm ao encontro afinal, (embora acredito não seja essa a sua intenção), daqueles que defendem que só se deve ser católico na Igreja, e que essa condição não se deve reflectir na vida politica do crente.

Enfim, enquanto noutros paises a Igreja apoia os católicos nas suas lutas pelos valores do cristianismo, aqui em Portugal assiste-se a uma apatia perante a enorme escalada da degradação dos valores da nossa sociedade.

Obrigado meu amigo pela tua presença aqui.

Um abraço amigo em Cristo