terça-feira, 23 de maio de 2006

ERA DE NOITE E CHOVIA

Era de noite e chovia,
O tempo parecia parado.
O ponteiro dos segundos,
Porque o tempo não avançava,
Nem sequer se mexia.
O que era isto,
Que agora sucedia,
Que coisa estranha era esta
“O que raio se passava”.
Ele não tinha morrido,
Disso tinha a certeza,
Porque sentia o seu corpo,
Porque o seu cérebro sonhava.
O que tinha acontecido,
Para que tão estranho momento,
Tivesse agora lugar.
O mundo parecia oco,
Sentia-se um grande vazio,
Parecia que já nada estava
No seu devido lugar.
Não se ouviam vozes algumas,
Nem risos ou gargalhadas,
Nem sequer lamentos, ou ais.
Ora isto queria dizer
Que pela primeira vez
A humanidade silenciava
O que mais profundo sentia.
Seria porque não queria,
Ou porque algo impedia
A vida de se fazer ouvir.
Uma frase relembrada
Vinha ao seu pensamento,
Mas fora do contexto
Em que fora proclamada:
«Tudo está consumado».
Que queria isto dizer,
Num mundo em evolução,
Que não parava um momento
Para escutar a voz do vento.
«Tudo está consumado».
Sentiu que um frio intenso
Tomava conta de si.
Reparou no mesmo instante,
Que esse frio tão estranho
Tomava conta de tudo.
Abriu-se-lhe o entendimento
Percebeu tudo então.
O homem na sua arrogância
Cheio de si, de importância,
Pensando que tudo ganhava
Tinha accionado o botão.
Era de noite e chovia,
Mas mesmo que não chovesse,
O sol raiasse,
E fosse dia,
Já nada agora importava:
O mundo já não existia.

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