domingo, 24 de abril de 2011

ALELUIA, ALELUIA

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Pedro, João,
deixai-me correr convosco
a caminho do sepulcro.


Deixai-me também entrar
e ver o sepulcro vazio.


Está vazio de morte,
porque nele só pulsa a vida.


Deixai que convosco acredite,
convosco me alegre,
e rejubile,
porque Aquele que procuramos,
«não está aqui: ressuscitou!»*


Deixai que convosco corra
a dizer a toda a gente
que queira vir ao sepulcro:
«Porque buscais o Vivente
entre os mortos?»*


Deixai que dance,
cante,
dê saltos de alegria,
porque das trevas da noite,
rompeu o eterno dia.


Deixai que vos siga,
seguindo os que vos seguiram.


Deixai que vos reveja,
em cada canto da Igreja,
Corpo do Ressuscitado,
por Ela guardado,
e dado em cada dia,
em comunhão,
na Eucaristia.


Deixai que convosco abra as portas,
das salas em que me escondi,
que grite alto,
bem alto,
a todos quantos ouvirem,
a verdade,
só a verdade.


Que Cristo ressuscitou,
está vivo,
não morre mais!


Que a Vida venceu a morte,
que a noite se fez dia,
e que da boca dos homens,
saia um grito de alegria:
Aleluia, Aleluia!






*Lc 24, 6
*Lc 24, 5


Marinha Grande, 24 de Abril de 2011
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quinta-feira, 21 de abril de 2011

QUINTA FEIRA SANTA - 1º DIA DO TRÍDUO PASCAL

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Continuando a nossa caminhada começada no início da Quaresma e que nos vai levar à Páscoa da Ressurreição.

A Quinta Feira Santa é tão rica em tudo o que a Igreja nos propõe, que um simples texto nunca daria para abarcar tudo que neste dia a Igreja nos exorta a meditar e a viver.

Assim, tomei a opção pela 2ª Leitura da Missa Vespertina da Ceia do Senhor, para nos conduzir à “particularidade” mais importante do mistério do sacramento da Eucaristia.

1ª Carta aos Coríntios 11,23-26.

Com efeito, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus na noite em que era entregue, tomou pão
e, tendo dado graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim».
Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim.»
Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha.

Diz-nos João Paulo II
Homilia (a partir da trad. L'Osservatore romano)

«Sempre que comerdes este pão e beberdes este vinho proclamareis a morte do Senhor, até que Ele venha»

«Jesus, sabendo bem que tinha chegado a Sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os Seus que estavam no mundo, levou o Seu amor por eles até ao extremo». E eis que, durante a refeição pascal, a última antes da Sua partida para o Pai, se revela um sinal novo: o sinal da Nova Aliança. «Até ao extremo» quer dizer: até Se dar a Si próprio por eles. Por nós. Por todos. «Até ao extremo» significa: até ao fim dos tempos. Até que Ele venha pela segunda vez.

Desde esta noite da Última Ceia, todos nós, filhos e filhas da Nova Aliança no sangue de Cristo, recordamos a Sua Páscoa, a Sua partida graças à morte na cruz. Mas não se trata apenas de uma lembrança. O sacramento do Corpo e do Sangue tornam o Seu sacrifício presente, fazendo com que nele participemos sempre de novo. Neste sacramento, Cristo crucificado e ressuscitado está constantemente connosco, Ele vem constantemente até nós sob a forma do pão e do vinho, até vir de novo, a fim de que o sinal dê lugar à realidade última e definitiva. Que darei eu em troca deste amor «até ao extremo»?

Salientemos então, vivamente, esta imensa verdade que Cristo nos oferece e que tantas vezes deixamos passar “sobre a rama”.

A Eucaristia é memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

E memorial não é memória, não é algo que se lembra, não é algo que se recorda, é algo sim que se faz presente, total e realmente presente.

E não é uma repetição, ou seja, na Eucaristia, Jesus Cristo não sofre a Paixão, Morte e Ressurreição, outra vez.
Não, na Eucaristia a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo há cerca de dois mil anos, torna-se presente no momento.

É o que nos diz muito claramente o Catecismo da Igreja Católica:

1363 - «Na celebração litúrgica destes acontecimentos, eles tomam-se de certo modo presentes e actuais.»
1364 - «Quando a Igreja celebra a Eucaristia, faz memória da Páscoa de Cristo, e esta torna-se presente: o sacrifício que Cristo ofereceu na cruz uma vez por todas, continua sempre actual: «Todas as vezes que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado", realiza-se a obra da nossa redenção» (LG 3)

E a presença de Cristo sob as espécies eucarísticas, não é simbólica, não é representativa, não é em “vez de”, é sim real e total, como nos diz mais uma vez o Catecismo da Igreja Católica:

1374 - «No santíssimo sacramento da Eucaristia estão «contidos, verdadeira, real e substancialmente, o Corpo e o Sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, Cristo total» (Conc. De Trento: Ds 1651)

Poderíamos escrever, transcrever tratados e mais tratados sobre a Eucaristia, mas todos eles nos levam a esta verdade única e sublime:
Na Eucaristia, Jesus Cristo faz-se real e totalmente presente, na sua Paixão, Morte e Ressurreição, oferendo-se ao Pai por nós e dando-se como alimento divino a cada um de nós.

E é a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica, comunhão de fiéis, desde Pedro até aos nossos dias, em Bento XVI, nos dá e juntos celebramos, este sublime, precioso e todos os dias extraordinário, Sacramento da Eucaristia.

Esta verdade imensa que só Deus pode conter e que a graça da fé nos faz crer, tem de levar cada um de nós a perguntar-se:
Qual a importância da Eucaristia na minha vida, (toda a minha vida, e não só a minha vida em Igreja), como participo eu da/na Eucaristia, como vivo eu a Eucaristia, enfim, como celebro eu a Eucaristia?

Uma Santa Páscoa para todas e para todos.


Amanhã continuaremos com a Marili Alves

quarta-feira, 13 de abril de 2011

DEUS QUE SE REVELA NOS OUTROS

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Temos de um modo geral todos nós, uma grande facilidade em julgarmos os outros, em estabelecermos parâmetros e “verdades” sobre os demais, convencendo-nos que eles são exactamente como nós os vemos e sentimos.

Poderíamos olhar para nós verdadeiramente, e logo perceberíamos que, a face que apresentamos não reflecte a maior parte das vezes a nossa interioridade, e muito mais até, quando nos referimos à nossa prática religiosa.

E é bem verdade que devíamos, devemos, ser testemunhas a todo o tempo do dom da Fé que nos foi dado, da alegria da vida que em nós foi criada, da certeza de sabermos, acreditarmos que o nosso Deus está sempre connosco, mas a verdade é que há sempre uma parte da nossa relação com Deus que apenas exprimimos na nossa intimidade com Ele.

Os momentos de oração em que sozinhos com Deus, nos baixamos na nossa fraqueza para subirmos até Ele, (mesmo em momentos de aridez), ficam nos nossos corações, e não somos capazes, a maior parte das vezes, de os transmitir, não só pela incapacidade das palavras, mas também para preservamos em nós essa doce alegria de olharmos humildemente nos olhos de Deus e nos sentirmos profundamente amados, amando-O com o Seu amor.

É assim muito fácil para os outros, (tal como nós fazemos em relação a eles), fazerem juízos sobre nós, sobre os nossos procedimentos, sobre como tantas vezes parece que o que dizemos, que o que apregoamos, não coincide com o que fazemos, com o que praticamos.

E então estabelecemos padrões, considerando que uns são orgulhosos e vaidosos, outros são falsos, outros apenas querem dar nas vistas, outros ainda nada sabem, nem têm conhecimentos, não cuidando de percebermos se essas fraquezas que lhes apontamos não são afinal um “espinho carne” 2Cor 12,7, que eles diariamente confrontam e combatem, por vezes com um esforço heróico que os leva a abdicarem de si, do seu conforto, para entregarem a Deus o seu sacrifício em penitência pelas suas fraquezas.

Sabemos lá nós dos caminhos de amor que Deus coloca a cada um, servindo-se das fraquezas, para fortalecer as forças, servindo-se do orgulho, para lutarmos pela humildade, servindo-se dum feitio adverso, para construir a Sua vontade?

É tão fácil julgar os outros, não sabendo das suas lutas diárias, da sua dedicação e empenho à conversão, das suas desilusões e tristezas quando em determinados momentos perdem essa luta, e têm de recomeçar de novo!

Resta-nos e consola-nos o amor de Deus, que quando caímos nos vai dizendo em cada momento:
«Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Jo 8,11

Vem isto tudo a propósito de recentemente ter tido conhecimento, que uma determinada pessoa que muito bem conheci, já falecida, lutava diariamente com as suas fraquezas, com o seu especial modo de ser, e que, num amor profundo aos seus mais chegados, foi capaz de se entregar sem medida para combater as suas fraquezas e para se dar em sofrimento pela salvação dos seus.

Essa pessoa foi capaz de, (depois de ter consultado o seu director espiritual), usar um cilício à volta da cintura, bem como flagelar-se, não como um uso espúrio do sofrimento sem sentido, mas forçosamente para se unir à Paixão de Cristo, como expiação das suas faltas e sobretudo entregando-se pela salvação dos seus.

E eu, no meu íntimo, “julguei” muito essa pessoa, o seu feitio, a sua maneira de ser, e não fui capaz de reconhecer as provações, as dificuldades, que um tal modo de ser acarreta a quem quer fazer e viver a vontade de Deus no dia-a-dia.

Não fui capaz de reconhecer que muito mais do que pedir por uma boa vida, (ao jeito do mundo), para quem se gosta, é pedir uma vida com Deus e para Deus, que dá tudo o que precisamos do mundo, e dá o todo que vai para além do mundo.

Nunca é tarde para percebermos o que devemos mudar em nós.
Nunca é tarde para percebermos que não devemos julgar, porque nunca vemos o todo daquele que julgamos.
Nunca é tarde para reconhecermos que errámos, e pedirmos perdão a Deus e àquele a quem julgámos, mesmo que já não esteja entre nós.

Dou graças a Deus por me ter revelado este facto, e por ter colocado na minha vida essa pessoa que assim me ensina, ainda, a ser melhor, e a procurar o bem para os outros e para mim, aceitando e tentando dar de mim, tudo o que for da vontade de Deus.


Monte Real, 12 de Abril de 2011
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segunda-feira, 4 de abril de 2011

27º DIA DA CAMINHADA QUARESMAL

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Evangelho segundo S. João 4,43-54.

Passados aqueles dois dias, Jesus partiu dali para a Galileia.
Ele mesmo tinha declarado que um profeta não é estimado na sua própria terra.
No entanto, quando chegou à Galileia, os galileus receberam-no bem, por terem visto o que fizera em Jerusalém durante a festa; pois eles também tinham ido à festa.
Veio, pois, novamente a Caná da Galileia, onde tinha convertido a água em vinho. Ora havia em Cafarnaúm um funcionário real que tinha o filho doente.
Quando ouviu dizer que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-lhe que descesse até lá para lhe curar o filho, que estava a morrer.
Então Jesus disse-lhe: «Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais.»
Respondeu-lhe o funcionário real: «Senhor, desce até lá, antes que o meu filho morra.»
Disse-lhe Jesus: «Vai, que o teu filho está salvo.» O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe disse e pôs-se a caminho.
Enquanto ia descendo, os criados vieram ao seu encontro, dizendo: «O teu filho está salvo.»
Perguntou-lhes, então, a que horas ele se tinha sentido melhor. Responderam: «A febre deixou-o há pouco, depois do meio-dia.»
O pai viu, então, que tinha sido exactamente àquela hora que Jesus lhe dissera: «O teu filho está salvo». E acreditou ele e todos os da sua casa.
Jesus realizou este segundo sinal miraculoso ao ir da Judeia para a Galileia.

Evangelho de hoje


«Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais.»

Realmente somos assim no nosso dia-a-dia, não só com as coisas do mundo, mas também e sobretudo com as coisas de Deus.

Rezamos orações, recitamos o Credo e o Pai Nosso debitando palavras que se tornam rotina na nossa voz, mas a maior parte das vezes essas palavras não saem da nossa razão iluminada pelo Espírito Santo, não saem do nosso coração repleto do amor de Deus.

Se tudo nos corre bem, vivemos a certeza de que Deus está connosco. Se algo nos corre mal, a nossa reacção é: «meu Deus, onde estás?!»

Que confiança, que esperança, sobretudo que fé, temos realmente em Deus?

No Deus a quem todos os dias, (ou pelo menos assim deveria ser), dizemos nas nossas orações que amamos e cremos.

Por isso não somos capazes de, como aquele homem, «acreditar nas palavras de Jesus e pormo-nos a caminho.»

Acreditarmos que Ele nos perdoa, acreditarmos que Ele está sempre connosco, acreditarmos que Ele nos ama com amor eterno, acreditarmos que a Sua vontade é o melhor para as nossas vidas, acreditarmos que o milagre de cada dia é o dom da vida que Ele nos dá, entregue nas Suas mãos.

E então, se assim vivermos, não duvidamos, apenas constatamos, como aquele “funcionário real”, (o pai viu, então, que tinha sido exactamente àquela hora que Jesus lhe dissera: «O teu filho está salvo»), que Deus está sempre connosco e nunca deixa de responder na Sua vontade, às súplicas da nossa fé.

E ao constatarmos, acreditamos com todo o nosso ser, e acreditando com todo o nosso ser, damos testemunho de fé, e ao darmos testemunho de fé, acreditamos não apenas nós, mas todos os da nossa casa e aqueles que connosco se relacionam, como nos diz a Palavra de Deus: «E acreditou ele e todos os da sua casa.»

Por isso a nossa súplica deve ser, muito mais do que pedir graças e curas, pedir o que realmente importa e leva ao encontro inabalável com Deus:

Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé!


Monte Real, 4 de Abril de 2011

Peço desculpa, mas ontem esqueci-me de colocar aqui que a caminhada continua hoje com a Marili Alves, "Tudo posso naquele que me fortalece!"
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