sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

VIDA NOVA NUM NOVO ANO

É costume dizer-se nesta época do ano: ano novo, vida nova.
É costume também, formularem-se votos de saúde, prosperidade, felicidade, enfim, votos de que tudo corra pelo melhor sem problemas de qualquer espécie.
Pensava em tudo isto quando me preparava para formular esses mesmos votos a todos aqueles que visitam este espaço onde dou a conhecer a minha vivência quotidiana da fé, e me perguntei: E tu o que desejas neste novo ano que vai começar?
Claro que a minha primeira resposta tinha tudo a ver com os votos acima expressos, ou seja, saúde, prosperidade, felicidade, ausência de problemas, de contrariedades, etc.
Depois pensei melhor e reflectindo cheguei à conclusão que ter tudo isso numa óptica de vida no mundo, (e que é impossível de concretizar), é muito redutor, porque se esgota nesta vida mortal, não se projecta para a vida eterna a que eu acredito somos chamados.
Assim formulei então para mim os meus votos para o novo ano!
Que cada vez mais procure e me seja concedida a graça de uma relação mais intima, pessoal e profunda com Jesus Cristo, Senhor e Salvador.
Que cada vez mais me deixe conduzir, renovar, inspirar, iluminar, pelo Espírito Santo, Senhor que dá a vida.
Que cada vez mais me deixe envolver no amor do Pai, Senhor Todo Poderoso, Criador de todas as coisas.
Percebi então que estes são os melhores votos para o novo ano que se avizinha, porque se assim for, sempre estarei acompanhado pela Eternidade do Amor, na saúde e na doença, na prosperidade e na míngua, na alegria e na tristeza, na harmonia e na contrariedade e tudo será vivido na graça do dom da vida que o Senhor me concedeu.
Nada mais posso e quero para mim neste novo ano que vai começar!
Como quero para mim sempre o melhor, também o desejo a todos os outros, amigas e amigos que aqui me visitam, (os que comentam e os silenciosos), na certeza de que, na concretização destes votos só pode acontecer para cada um de vós um Novo Ano cheio de Vida Nova.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

ERA NOITE DE NATAL!

Era noite de Natal!
Estava ali sozinho na sala, sentado no sofá, envolto nos seus pensamentos.
Tinha visto ao longo dos últimos dias as pessoas na rua com um comportamento diferente, um modo de se olharem mais próximo, uns sorrisos que ao longo do ano não se costumavam ver, uma correria para as últimas compras, enfim uma maneira diversa de se relacionarem, mesmo entre aqueles que não se conheciam.
Na sua casa no entanto nada mudava, tudo ficava igual, e era assim que ele queria fosse!
Vivia sozinho e não gostava do Natal!
Aquela coisa da festa da família não lhe dizia nada, pois há muito que vivia só, sem família.
Lembrou-se de quando tinha família e logo uma irritação lhe despontou no seu coração.
A sua mulher tinha morrido há muito tempo e aquele filho único...
Agitou-se no sofá.
Aquele filho único, aquela discussão, aquela zanga, aquele cortar de relações.
Já nem se lembrava bem do que tinha dado origem a tudo aquilo, mas lembrava-se das palavras que ele lhe tinha dito e o tinham magoado, tinham ferido, tinham rasgado tão profundamente os sentimentos, que tinha ouvido distintamente a voz do seu filho dizer: Eu já não tenho pai!
Lembrava-se também de gelidamente nada ter feito para impedir a sua saída de casa.
Tinha-o deixado sozinho naquele momento tão difícil para ele.
Nunca lhe perdoaria!
Não queria saber o que era feito dele, não lhe interessava, embora por vezes viesse ao seu coração um sentimento que não sabia explicar, como que de saudades, o que era de todo impossível porque para ele aquele filho era como se não existisse.
Pôs de lado os seus pensamentos. Não valiam a pena.
Preparou-se para cear qualquer coisa, fazendo essa pequena concessão ao espírito de Natal.
Quando se levantava do sofá, ouviu um carro parar à porta de casa e o bater de uma porta.
Movido pela curiosidade aproximou-se da janela e espreitou para a rua.
O seu coração gelou!
A abrir a cancela do jardim estava o seu filho, com um embrulho nas suas mãos e um grande sorriso na cara.
Ainda hoje não sabe explicar o que aconteceu, mas a verdade é que num instante se encontrou na rua e abraçado àquele corpo, chorava convulsivamente.
O filho empurrando-o gentilmente, afastou-o um pouco e disse-lhe com voz embargada:
Perdoa-me pai, perdoa-me, porque te magoei, porque me afastei de ti, porque não fui bom filho.
Mas ele não tinha palavras, apenas o queria abraçar, apenas o queria sentir junto de si, apenas queria sentir apertado em si, dentro de si, aquela “carne da sua carne”.
No entanto, afastando-se um pouco, olhou-o profundamente nos olhos e disse-lhe:
Perdoar o quê meu filho, (que bem lhe soube aquela palavra, filho), perdoar o quê? Entra, entra, vem para dentro, deixa-me ver-te, deixa-me sentir-te, deixa-me abraçar-te.
Entraram em casa abraçados um ao outro, felizes como duas crianças em dia de aniversário e sentaram-se frente a frente no sofá.
Olhou o seu filho no fundo dos olhos e disse-lhe pesaroso:
Mas eu não tenho nada para festejar! Nem bons vinhos, nem “vitelo gordo”, nem convidados para se alegrarem connosco!
Então o filho suavemente pegou-lhe nas mãos e colocando-as no meio das suas disse-lhe numa voz repassada de amor:
A festa neste momento somos nós meu pai. Porque eu andava perdido, a vida sem ti não tinha sentido, e tu mal me viste correste para mim e me abraçaste. A festa neste momento somos nós, meu pai, porque agora junto a ti, renascemos para o amor.
Ficaram ali, sentados no sofá, olhando-se nos olhos, mãos nas mãos, sem palavras, apenas vivendo-se um ao outro.
No meio deles, sem se ver mas presente, muito presente, (onde está o amor, Ele está sempre presente), estava Jesus Menino, que sorria com um sorriso que fazia empalidecer as estrelas.
Era noite de Natal!
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Monte Real, 20 de Dezembro de 2007

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O DESERTO


Neste Advento, mais uma vez a imagem do deserto me entrou pelo coração adentro.
João Baptista retirou-se para o deserto, e era no deserto que pregava, que ia exortando os outros ao arrependimento e ele próprio procurava o seu caminho para Deus.
Mas porquê o deserto, para além das razões que todos conhecemos, como o isolamento que leva à entrada em nós próprios, à meditação das nossas vidas, a reflectirmos no que há a mudar, o que devemos melhorar.
Fiz também um pouco de deserto em mim, para que me fosse dado descobrir algo mais que o deserto me trouxesse.
E então pensei no deserto, extensão de areia imensa, silenciosa, ali entregue a si própria.
E então vi a mudança permanente que acontece no deserto!
A areia move-se permanentemente ao sabor do vento, ora construindo dunas mais altas, ora retirando-lhes areia fazendo-as assim mais baixas.
E nada pára, tudo se move!
As dunas avançam e recuam, num movimento constante!
E depois percebi: Também são assim as nossas vidas!
Estão em constante movimento, em constante mudança!
E vi mais, vi aquelas areias que estão ao sabor do vento e por ele se deixam movimentar, conduzir, transformar, sem nunca deixarem de ser areias.
E então reparei que devem ser assim as nossas vidas, ao sabor do vento do Espírito Santo!
Devemos deixar-nos conduzir por Ele, pois Ele nunca mudará a nossa essência de homens, mas guiar-nos-á na construção das nossas vidas.
Não nos deixa estarmos parados, pois nos quer em permanente movimento para Deus.
Vai-nos conduzindo cada vez mais para cima, para o Alto em direcção a Deus, mas quando por vezes as alturas nos embriagam e julgamos já sermos alguém, já sermos porventura merecedores, Ele se encarrega de nos mover, retirando-nos altura e fazendo-nos mais baixos, para que outra vez junto ao chão onde nascemos, recomeçar a construir-nos para o Alto.
E nós somos assim como aqueles grãos de areia, só juntos, unidos em comunhão perfeita, dando-nos as mãos, poderemos elevar-nos aos Céus e sermos dunas que se elevam para o alto.
Solitários, como um só grão de areia, nada construímos, nada conseguimos fazer, a não ser ficar pelo chão ao sabor de quem passa e nos leva colados às solas dos seus sapatos muitas vezes para onde não há mais grãos de areia e então acabamos por desaparecermos sem nada termos construído, sem nenhuma finalidade, numa vida sem sentido.
Há contudo uma diferença entre nós e os grãos de areia: Eles são levados pelo vento, sem vontade própria.
De nós o Vento do Espírito Santo, espera a entrega, a disponibilidade, espera que demos o nosso contributo à construção do caminho, à construção das dunas.
Ah, entendo agora melhor o deserto!
Afinal o deserto é vida, é construção, é mudança constante, é comunhão de e onde os grãos de areia juntos constróem caminhos para o alto, levados pelo vento que os transporta, que os conduz.
Ah, então eu quero ser deserto, eu quero ser grão de areia no deserto, quero deixar-me levar pelo vento do Espírito Santo, para que Ele me conduza, me guie, para que Ele faça da minha vida uma construção útil para os outros, para mim, quero que Ele me conduza aos outros, e juntos, unidos, em comunhão, Ele se sirva de nós para construir alturas a caminho de Deus, e nos traga para baixo quando acharmos que de tão altos, já não precisamos de Deus.
Ah sim, é então no deserto que eu quero viver, neste deserto sempre em movimento, neste deserto de comunhão com os outros, neste deserto em que só juntos podemos caminhar para o Alto, neste deserto que se faz Igreja de todos, a caminho do Deus de todos.
Seria isto que o Papa Bento XVI, por outras palavras, nos queria dizer, quando falou aos nossos Bispos em Roma?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

TESTEMUNHO 6

Por razões particulares da minha vida passada e que tocam uma intimidade que não devo e nem quero revelar, foi difícil logo no inicio da minha conversão, (que nunca está acabada), a minha relação espiritual/vivencial com a figura da Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo e nossa Mãe.
O descobrir a presença de Maria na minha vida, nas nossas vidas, foi outra extraordinária graça que o Senhor colocou na minha vida.
Com muita delicadeza, muito lentamente, mas insistentemente, o Senhor foi-me dando a conhecer a figura maternal de Maria, a graça de nEla confiar, a graça de a Ela recorrer, a graça de a Ela pedir a condução segura no caminho para o Seu Filho Jesus Cristo.
Começou a tocar-me profundamente Aquela Mulher, que tudo enfrenta, (e sabemos como seria difícil naquele tempo enfrentar a sociedade), para ser a Mãe do Filho de Deus.
A Sua primeira reacção, ou melhor acção, não é ficar deleitando-se com o facto de ser a escolhida, mas sim, como que num prenúncio da missão do Seu Filho, parte para servir, servir os outros que necessitam, (a sua prima Isabel, grávida de idade avançada), na continuação da sua entrega a Deus, que teria de passar sempre pela entrega aos outros.
«Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.» Mc 10, 45
Discretamente, humildemente vai caminhando a descoberta do seu próprio Filho, seguindo-O em tudo e sobretudo na Sua vontade.
Não quer lugares de honra, não procura “reconhecimento” de ninguém, não se mostra, mas como diz João Baptista, vive intensamente: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir.» Jo 3, 30
A Mãe do Céu, toca assim de um modo muito especifico o meu coração orgulhoso, vaidoso e mostra-me o caminho seguro para Jesus Cristo, nesta oração que um dia vem ao meu coração.
«Mãe ensina-me a ser nada, para que Cristo seja tudo em mim».
Em mim nasce essa certeza de que Ela intercede por nós e que o seu Filho a ouve de um modo muito especial.
Confio-Lhe a minha família, os meus filhos, a Ela recorro em todos os momentos, alegres e nas aflições e “habituo-me” a ser ouvido, correspondido, naquilo que peço, ou na confiança para atravessar as dificuldades.
Com Ela aprendo a entregar-me à oração e o Terço/Rosário passam a ser alimento diário da minha vida, tornando-se muitas vezes num respirar, que verdadeiramente anima a minha vida.
Pois, às vezes parece quase mecânico, rotineiro, mas nunca deixa de expressar uma entrega, uma confiança, uma certeza de que com Ela só há um caminho, e esse caminho é Jesus Cristo nossa Salvação.
Quando por vezes percebo que erradamente querem fazer desta Mãe de humildade, uma quase “deusa”, percebo também como Ela se “revolta”, como Ela se dói, pois Ela é em tudo, o contrário disso mesmo, Ela é “apenas” «a serva do Senhor» Lc 1, 38
Com Ela a minha Fé vai-se enraizando, vai-se fortalecendo, vai-se tornando vida, numa entrega mais esclarecida e verdadeira a Jesus Cristo.
Por vezes penso como me seria possível viver hoje se não estivesse, não vivesse alimentado desta Fé que o Senhor na Sua bondade quis despertar em mim.
É que contrariamente à ciência do mundo, (que faz parte sem dúvida das nossas vidas), a Fé vem de dentro, é semente interior que cresce dentro de nós para depois tomar conta de tudo e tudo ser visto à imagem e obra de Deus.
A ciência vem de fora, da experiência, da verificação, da interpretação dos factos visíveis, para depois se tornar “convicção” no nosso interior e muitas vezes aquilo que hoje é verdade, amanhã já não o é.
A Fé vem de dentro, do interior do nosso ser, faz parte integrante do homem, (até daqueles que dizem não acreditar), é convicção profunda, que nunca muda, porque Deus é, (não foi, nem será), e por isso acaba por iluminar a nossa existência em tudo o que dela faz parte.
E não acontece por mérito do homem, mas porque este se abre ao Criador e Ele lha dá a conhecer no seu íntimo.
Assim, tudo na minha vida pretendo e me esforço para que seja iluminado, conhecido à luz da Fé, que me dá a certeza de que nunca estou só, a certeza de que Ele está sempre comigo e comigo se “preocupa”, que quer amorosamente a minha salvação.
E assim tem sido, as dificuldades, as provações, não deixaram de o ser, mas são vividas na confiança no meu Senhor, os bons momentos, as consolações, são vividas na alegria no meu Senhor e até esta vida, aqui no meio de todos, neste mundo, é colocada confiantemente nas mãos do meu Senhor, na convicção de que: «É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro.» Fl 1,21
Um testemunho de vida nunca está acabado e este não o estará com certeza, porque a conversão é luta diária, porque a Palavra de Deus é sempre viva, porque o Espírito Santo nos diz: «Eu renovo todas as coisas.» Ap 21, 5
Amadurece no meu coração o pensamento de um livro, algo que torne mais acessível a todos, as maravilhas que o Senhor faz na vida daqueles que a Ele se abrem num encontro pessoal, intimo, olhos nos olhos, como o fez a mim e continua a fazer, algo que nos leve a pensar naquilo que escrevi no inicio deste testemunho:
«Faço-o para que aqueles que não acreditam ou já não acreditam, saibam que há sempre tempo para acreditar.
Faço-o para que aqueles que apenas praticam o preceito, a prática religiosa, possam perceber que estão a perder um manancial de graças que o Senhor derrama naqueles que para além de praticar, procuram viver a fé no seu dia a dia e em tudo.»
Termino assim, desta maneira simples, mas que diz tudo sobre a esperança que me/nos anima:«Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça.» Lc 21, 18