quarta-feira, 26 de agosto de 2015

DISTRAÍDOS NA FÉ!

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Entrou na igreja e ficou contente. Não estava ninguém, exactamente como ele desejava.
Em frente ao sacrário, ajoelhou-se, rezou algumas orações e depois sentou-se, olhando fixamente para a porta do sacrário, talvez esperando que ela se abrisse e de dentro saísse Jesus para falar com ele.

Riu-se interiormente da sua imaginação, mas rapidamente a sua cara tomou um ar grave e preocupado.
O assunto que ali o levava era uma situação séria, muito séria, que ele já não sabia como resolver e por isso ali se tinha dirigido para ter uma conversa mais séria e intima com Aquele que ele acreditava lhe poderia mostrar caminho e solução para o seu grave problema.
Numa voz inaudível para outros, ia repetindo: «Senhor, ajuda-me! Mostra-me o que fazer! Eu creio em Ti, mas ajuda-me! Fala, Senhor, que o teu servo escuta!»

Apesar de absorto na oração e na escuta, não pode deixar de perceber que alguém tinha entrado na igreja e se dirigia para o lugar onde ele estava.
Interiormente pediu: «Oh Senhor, eu queria tanto estar um pouco sozinho aqui contigo!»
Pelo “canto do olho”, olhou e percebeu que era aquela senhora, sempre muito problemática, com muitas histórias para contar, para a qual era precisa uma paciência sem limites. Deu um suspiro profundo e pensou se não seria melhor sair e voltar noutra altura em que pudesse ficar só.

Já não teve tempo, porque a dita senhora, rezadas umas apressadas orações de joelhos, sentava-se ao seu lado e já lhe dirigia a palavra, cumprimentando-o. Tentou ser o mais delicado possível, retribuindo o cumprimento numa vaga esperança de que ela se calasse e se fosse embora. Mas não, infelizmente não foi isso que aconteceu, pois ela percebendo na sua cara a preocupação, logo lhe perguntou se estava bem, se precisava de alguma coisa, se ela podia fazer alguma coisa por ele.
Balbuciou qualquer coisa entre dentes, para responder às insistentes perguntas, mas não houve nada a fazer, porque ela continuou numa lengalenga, sem se calar. Ele foi ouvindo as palavras que saíam da boca dela e que iam dizendo coisas do tipo: “pois todos temos problemas”, “a vida não é nada fácil”, “temos que aguentar e pedir a Deus que nos ajude”, etc., etc.
A certa altura começou a contar-lhe uma história complicada que se tinha passado com ela, (curiosamente parecida com o problema que estava a viver), mas com tantos pormenores, que era difícil e fastidioso prestar alguma atenção.

Entretanto a história lá chegou ao fim, com uma solução pelos vistos muito satisfatória, e quando ele se preparava para se levantar e sair, foi ela que o fez, agradecendo-lhe aquele bocadinho em que a tinha estado a ouvir.
Sorriu aliviado, despediu-se, e voltou à sua litania, da qual sobressaía, com um forte sentimento no coração, a oração: “Fala, Senhor, que o teu servo escuta!”

E insistia na oração, sem prestar atenção a mais nada, até que num momento de silêncio lhe pareceu ouvir uma voz que dizia ao seu coração: «Mas Eu já falei contigo! Já te disse o que precisavas saber!»
Admirado, olhou para o sacrário e então ouviu distintamente, (parecia-lhe a ele), a voz que repetidamente lhe dizia que tudo o que tinha de saber já lhe tinha sido dito.
Com algum receio que alguém o estivesse a ouvir, disse: «Mas quando, Senhor?»
Ouviu novamente a voz que lhe dizia: «Lembras-te da história que a senhora, (que consideraste maçadora e incómoda), te contou e tu nem querias ouvir?»
Respondeu: «Sim, Senhor, acho que me lembro!»
E novamente a voz: «E lembras-te como foi resolvida essa situação?»
Respondeu mais uma vez: «Ah, sim, Senhor, lembro-me perfeitamente!»
Uma só palavra interrogativa lhe respondeu: «Então?»

De joelhos, disse em oração: «Oh Senhor, estava tão concentrado em mim, no meu problema, sem dar atenção a quem dela precisava, que nem me apercebi que afinal a história era semelhante à minha situação e que a solução possível é aquela que me foi dita!»
Agradeceu profundamente ao Senhor tudo aquilo que lhe tinha sido dado, e não se esqueceu de rezar um Pai Nosso por aquela senhora que ele tão mal tinha julgado.

Antes de sair da igreja, olhou novamente para o sacrário e disse interiormente: «E dizemos nós tantas vezes que Tu não falas connosco, nem nos dás sinais! Distraídos na fé, é o que nós tantas vezes somos. Perdoa, Senhor!»


Monte Real, 26 de Agosto de 2014
Joaquim Mexia Alves
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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A VIDA CRISTÃ NÃO É UM COFRE!

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Por vezes fazemos da nossa vida cristã um cofre!

Tanto a queremos proteger de influências exteriores, que a fechamos ao mundo, que a escondemos no nosso dia-a-dia, que fazemos dela uma relação quase exclusiva entre Deus e nós, onde outros não entram.

E, no entanto, a vida cristã é essencialmente comunitária, é Igreja, ou seja, assembleia de fiéis, pois se assim não fosse, como poderíamos dar testemunho cristão, como chamar outros a Deus, na certeza de que Ele se quer servir de nós para essa missão?

A nossa relação com Deus, a nossa vida cristã deve revestir-se da certeza de que Ele está sempre connosco, e assim, deve enformar de tal modo a nossa vida diária, que não devemos temer a influência do mundo, pois na comunhão com Cristo e com os irmãos, reside a nossa força para resistir ao pecado.

O mundo é bom, é belo, é uma criação de Deus e como tal o mal não está no mundo, mas sim naquilo que o homem pecador transforma no mundo, e o afasta de Deus.

A Confissão/Reconciliação é realmente uma relação inteiramente a dois, entre o pecador e Deus/sacerdote, mas é celebrada em Igreja e leva sempre à Eucaristia, à Comunhão de Cristo Sacramentado, e essa Comunhão só se torna completa verdadeiramente, quando se torna também comunhão com os outros, amando-nos uns aos outros como Ele nos ama.

Sim, a nossa vida cristã deve ser um cofre para proteger o tesouro mais sagrado da fé em Deus, mas deve ter como combinação de abertura a oração, a Confissão, a Eucaristia, a Comunhão, combinação essa que nos torna sempre abertos ao mundo, aos outros, precisamente porque estamos abertos a Deus.


Monte Real, 20 de Agosto de 2015
Joaquim Mexia Alves


Nota:

Não sei bem porque escrevi este texto, mas sem dúvida que alguma coisa o Senhor me quer dizer com ele.
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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

«EU RENOVO TODAS AS COISAS!»

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Ontem, Domingo, a pedido do meu pároco, fui fazer a celebração da Palavra à igreja de Picassinos, paróquia da Marinha Grande.

Fui acolhido calorosamente, de tal modo que me senti desde logo à vontade naquela porção da comunidade paroquial da Marinha Grande.
O coro e todos os presentes emprestaram à celebração uma dignidade que muito me tocou.
No fim várias pessoas me vieram agradecer, o que calou fundo no meu coração e dá-me a impressão me fez corar com alguma atrapalhação.
Voltei para casa, cheio da alegria de Deus.

Hoje de manhã, naquela sonolência em que sinto às vezes que Ele me fala, uma frase do Apocalipse vinha ao meu coração e à minha mente: «Eu renovo todas as coisas.» Ap 21, 5

E mais uma vez e sempre me espanto com tudo o que Ele faz, quando a Ele nos abrimos e a Ele nos entregamos.
Como é que de alguém, “envelhecido” e “embrutecido” pelo pecado durante tantos, Ele renova, Ele faz de novo, dá vida nova, “amacia” o feitio, o orgulho e a vaidade, (lutas constantes, meu Deus!), e se quer servir de quem tão longe andava d’Ele!
Como é possível desta rocha dura que eu era, (e ainda sou um pouco), fazer barro mole nas Suas mãos!
Realmente Ele renova todas as coisas, porque o seu amor é infinitamente bom!

Apenas Lhe peço constantemente que o seu amor seja sempre e cada vez mais paciente comigo, que sou tão fraco e inconstante.

Tudo e sempre, apenas e só, para a Sua maior glória!


Marinha Grande, 10 de Agosto de 2015
Joaquim Mexia Alves
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