sexta-feira, 9 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 2

Tinha acabado o fim de semana em Fátima, que agora me parecia curto.
Longe de me sentir desamparado ou sozinho, percebia que algo muito importante tinha mudado na minha vida, ou melhor, na nossa vida, pois a minha mulher sempre viveu, tal como eu toda esta “experiência”, toda esta transformação.
A nossa casa, o nosso núcleo familiar, já não era agora apenas um lar de um casal, era uma igreja viva onde a oração era diária, (conheço agora o termo certo, uma igreja doméstica), onde se procurava viver segundo aquilo que o Senhor ia colocando nos nossos corações.
Percebemos que não podíamos ficar assim, a viver na “recordação do Tabor”, mas que tínhamos de colocar no dia a dia a alegria do encontro pessoal com Jesus Cristo, e deixar que Ele se tornasse presença constante nas nossas vidas.
(Continuarei a partir daqui a colocar este testemunho na minha pessoa, tal como o comecei, afirmando no entanto que este é um testemunho a dois, pois que se o não fosse não seria completo).
Era preciso algo que me ajudasse a viver tudo o que tinha vivido naquele fim de semana, e esse algo sabia-o porque me tinha sido dito, tinha como base um Grupo de Oração do Renovamento Carismático Católico.
E sabia-o porque no fim de semana tinha acontecido um facto “curioso”, (que agora vejo como a mão de Deus), e que foi o seguinte:
No Domingo antes de terminar a Assembleia em Fátima, o Padre Lapa falou-nos da importância de frequentarmos um Grupo de Oração, onde partilhássemos as nossas vivências, onde nos uníssemos em oração, onde ouvíssemos e meditássemos na Palavra, porque seria o “condimento” necessário a tornar sempre actual o encontro pessoal com Cristo que tínhamos vivido naqueles três dias.
Ditas estas palavras, e num gesto de fraternidade, pediu a todos os presentes no anfiteatro que não conhecessem os seus “vizinhos” dos lugares que ocupavam, se apresentassem, dizendo o nome e o lugar de proveniência.
Estávamos numa sala que leva cerca de 2.200 pessoas, mas com as coxias cheias, deveriam estar ali, pelo menos 2.500, de todos os lugares de Portugal.
Quando me apresentei ao casal que estava a meu lado, ficámos muito admirados, pois éramos de localidades vizinhas e mais do que isso, a senhora era a coordenadora do Grupo de Oração mais perto de minha casa.
Coincidências?
Lembro-me do Padre Dário Betencourt dizer numa outra Assembleia que para os cristãos não há coincidências, há “Deuscidências”!
Assim comecei a frequentar esse Grupo de Oração, todas as semanas, e foi ali que comecei a crescer na Fé, a viver Jesus Cristo vivo, a alimentar-me da Palavra, (que tinha passado a ser uma boa “obrigação” diária), a aprofundar os meus conhecimentos sobre tudo o que era a Doutrina e a prática cristã e católica.
Reconheço que a minha ânsia era muito grande e que nem sempre a prudência seria uma qualidade por mim então vivida.
Mas a verdade é que nessa ânsia de saber, sobretudo de viver, fui lendo, lendo, ouvindo, ouvindo, guardando e fortalecendo pela graça de Deus a Fé que Ele tinha colocado no meu coração.
Mas muito melhor do que agora recordo, “fala” com certeza, a carta que então, passados uns tempos escrevi ao Padre Lapa e aqui reproduzo fielmente.
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Monte Real, 9 de Março de 1998

Caro Padre Lapa

Não posso deixar de lhe testemunhar toda a alegria, paz, tranquilidade e amor que tenho vivido neste meu novo nascimento para o Senhor, para a Fé.
Com efeito, toda a minha vida sofreu um abanão e em boa hora o sofreu, porque tudo se tornou mais nítido, sobretudo nas razões porque se vive e para que se vive.
Eu devia ser este homem que agora sou, só que tinha uma “capa” agarrada a mim, que não me deixava ver, não me deixava sentir, não me deixava viver este amor imenso que Deus tem por nós e que é a única razão de viver.
Tudo o mais deve ser feito baseado nesse amor e na vontade suprema d’Aquele que nos criou, e é isso que, com dificuldades, mas persistentemente venho perseguindo.
Como eu andava enganado à procura de pequenas vitórias ou sucessos pessoais efémeros, numa vida sem rumo e ao avesso de qualquer moralidade, mesmo aquela a que se chama “bom senso”.
Agora sei e percebo o que é viver “para a carne”, e como isso não leva a nada, ou antes, leva-nos a frustrações, tristezas e falsas alegrias momentâneas, mas sem qualquer significado.
Percebo agora que, para além de mentir aos outros, mentia sobretudo a mim próprio, o que me tornava amargo, colérico, vingativo, orgulhoso e vaidoso.
Tudo isso felizmente vai sendo afastado, algumas vezes com muita dificuldade, porque o inimigo não quer perder este “aliado”, que pensava já ter ganho.
Mas o Espírito Santo é mais forte e ajuda-me nos momentos mais difíceis.
Felizmente o Senhor, que tudo sabe e tudo vê, foi buscar aquela luzinha que lá muito no fundo de mim, ainda brilhava e que estava quase extinta, e animou-a, deu-lhe força, encheu-a de vida, para que ela me transformasse num ser mais doce, mais calmo, mais bondoso, mais humilde, numa palavra: Cristão.
E que bom é, Padre Lapa!!!
Que bom é!!!
Tudo me é muito mais fácil.
O trabalho, a vida, as relações entre as pessoas, tudo surge naturalmente, sem crispações, sem vontade de querer ser melhor do que os outros, tentando abafar os ciúmes e as invejas que são tão humanas e tão bem exploradas por aquele que nos quer perder.
Tudo por obra e graça do Senhor, que sem nada exigir, sempre “apostou” em mim e eu sempre Lhe voltei as costas.
Mas agora não, agarro-me a Ele com todas as forças, em tudo vejo a Sua presença, em tudo sinto o Seu infinito amor por aqueles que Ele criou.
E o Renovamento Carismático tem sido a “bateria” que me tem alimentado e impelido a procurá-Lo incessantemente e cada vez mais.
Sinto-me tão bem ali. Somos todos iguais, não há distinções, não há lugares para ricos e importantes, nem para os pobres anónimos. Oramos todos juntos, Àquele que nos criou iguais.
O Espírito Santo serviu-se de si, pois foi a si que escrevi pedindo esclarecimento sobre o Renovamento e foi por sua causa que fui à Assembleia em Fátima, que me encheu de paz e de certeza de estar no caminho certo.
Espanto-me às vezes com as coisas que escrevo, pois há tempos atrás rir-me-ia de quem assim escrevesse.
Fico admirado quando dou por mim a falar de Deus com amigos meus, que continuam na vida que eu levava, e não tenho agora qualquer respeito humano de lhes transmitir as maravilhas desta vida nova.
Dou por mim a cantar na Oração, na Missa, a rezar alto com os outros, quando há tão pouco tempo só de pensar nisso ficaria envergonhado.
Queria conseguir fazer passar esta alegria que sinto e parece-me que não tenho palavras, nem atitudes que a consigam mostrar plenamente.
Apenas posso agradecer ao Senhor esta tão grande graça que me deu, de me chamar novamente ao Seu rebanho.
Esta já vai longa, mas pode ter a certeza que continuaria a escrever muito mais tempo e papel, sobre a transformação radical que Deus operou em mim.
Um abraço muito amigo do
Joaquim

(continua)

14 comentários:

Fá menor disse...

Meu querido amigo,
é Deus que fala em ti...
... mais uma vez me comoveste, obrigado pelo teu belíssimo testemunho.

Abracinho em Cristo

Fa-

Sandra Dantas disse...

;)
É verdade que nunca se tem as alavras suficientes para se expressar toda a alegria de uma experiência assim!!!!

Um abraço!

Anónimo disse...

Cá estou eu de novo Joaquim, lendo o teu testemunho tão bonito. Obrigada.

Abrajinhos.

joaquim disse...

Obrigado Fa amiga, pela tua presença sempre tão próxima...

Abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado Sandra.

Às vezes quase fico triste por não ter palavras que descrevam a alegria que é ter Jesus Cristo na minha vida....

Abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado eu Malu, pela tua presença amiga e sempre encorajadora...

Abraço amigo em Cristo

Maria João disse...

Ainda bem que esse caminho é feito a dois...

Igreja doméstica... Como seria tão bom haver mais igrejas assim...

Que Deus vos abençoe e que nos dê mais famílias assim... Vocês são um exemplo de como o hoje não é tarde...
No meu blog falo do senhor que precisa de ajuda...

beijos em Cristo

joaquim disse...

Pois não Maria João, nunca é tarde...

Se algumas familias soubessem, experimentassem as graças que o Senhor derrama nelas quando vivemos a Igreja doméstica...

Abraço amigo em Cristo

Vítor Mácula disse...

Caro Joaquim

Tenho impressão que é sempre no fundo dum poço qualquer que Ele nos vem buscar (tira-nos do nada;)

Mesmo que o poço não seja tão evidente como dissipar-se em orgulhos e noitadas.

Eu lembro-me de dizer: Mas que queres? Como raio te lembraste de mim?

E até por vezes: Deixa-me em paz!

Mas a sua resposta descoroçoou-me, a pouco e pouco, e continua a fazê-lo: Que todos te tivessem esquecido, tu próprio de ti tivesses desistido, eu nunca te esquecerei, e estarei sempre aqui, para lá de todas as mortes.

As “deuscidências”… é tanto assim, e com mais despertar e atenção, suspeito que notaríamos que tudo é sinal e apelo de Deus.

Muito obrigado pelo testemunho, Joaquim. Este vou guardá-lo, evidentemente no coração, mas também impresso a papel na gaveta do quarto ;)

Um abraço em Cristo

PS: A capa, claro: Deus é aquele que me desnuda, e eu resisto.

joaquim disse...

Caro Vitor

O teu comentário tocou-me e por isso to agradeço do fundo do coração.

«E até por vezes: Deixa-me em paz!»

Compreendo bem o que queres dizer, porque às vezes nos parece tão mais fácil viver de outra maneira...mas a verdade é que a outra maneira não tem a beleza, a maravilha, a certeza, que esta tem.

É verdade Vitor, se estivermos atentos, de mente e coração abertos, vamos perceber que tudo é sinal de Deus e que tudo tem, ou aponta caminho para nós, por onde ir e por onde não ir.

É isso que vou tentando, com os erros das minhas fraquezas...

Abraço amigo em Cristo

antonio disse...

Caro Joaquim, recomendo-te vivamente: Todos os caminhos vão dar a Roma. Estou certo que como casal encontrarão muito do vosso percurso neste testemunho.

joaquim disse...

Obrigado António.
Depois da explicação que te pedi e me deste com paciência, irei tentar comprar o livro "Todos os caminhos vão dar a Roma"

Obrigado também por nos dares e fazeres companhia no caminho.

Abraço amigo em Cristo

C.M. disse...

Joaquim, quando diz:" só que tinha uma “capa” agarrada a mim, que não me deixava ver, não me deixava sentir, não me deixava viver este amor imenso que Deus tem por nós e que é a única razão de viver", tal também experimentei e vivi: andei anos como que adormecido, alienado... Jesus terá pensado: já sofreste muito, andas perdido, vou ao teu encontro...

As nossas vidas Joaquim!

joaquim disse...

Por isso é preciso amar este Deus que nunca nos abandona e que permanentemente tem os braços abertos para nós.

Fico feliz por si, amigo Cabral-Mendes.

Abraço amigo em Cristo