segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

«TIRE O DEDO DA LENTE!»

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No Sábado publiquei no facebook uma fotografia do Santuário de Fátima, onde estava a fazer a recolecção anual dos Ministros Extraordinários da Comunhão da Diocese de Leiria-Fátima.
Com o meu “particular jeito” para a fotografia, a mesma saiu com uma falha, a qual o Pe Patrício, Vigário Paroquial da “minha” Paróquia da Marinha Grande, meu amigo e meu vizinho, companheiro de muitas orações, logo notou, e com o seu particular humor, que eu muito aprecio, comentou: «Tire o dedo da lente.»

E eu, como sempre, fui rindo e pensando se poderia retirar alguma lição do acontecido para a minha vivência cristã.

Ora bem, o dedo na lente não permitiu, não permite, que a grandeza e beleza do Santuário de Fátima seja vista na sua totalidade, ou seja, retira, mesmo que pouco, a dimensão, (não só de espaço, mas também espiritual), que afinal a fotografia queria mostrar/dar a outros.

Também nós temos vários “dedos” que, colocados nas nossas vidas, não nos deixam “ver” Deus em toda a sua dimensão de amor, não nos deixam, por isso mesmo, viver o nosso Deus que a todos se oferece inteira e continuamente, e não aos “bocados” ou só em certos momentos, como esses “dedos” acabam por provocar.

É o “dedo” do orgulho, o “dedo” da vaidade, o “dedo” da indiferença, o “dedo” da falta de perdão, o “dedo” do medo da mudança, o “dedo” das nossas “certezas”, o “dedo” das nossas vergonhas, e tantos mais “dedos” que cada um, com certeza, reconhece na sua vida.

Então, chegamos à conclusão que esses “dedos” nos retiram a “possibilidade” de “ver Deus por “inteiro”, de viver Deus em todo o seu amor, de comungar Deus em toda a sua entrega, e tal como Pe Patrício comentou, deveremos dizer a nós próprios e aos outros também: «Tira os “dedos” da tua vida … para poderes ver e viver Deus que se faz presente para ti.»


Marinha Grande, 23 de Janeiro de 2017
Joaquim Mexia Alves
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

AS ESFERAS MAGNÉTICAS

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Ontem os meus netos, Diogo e Leonor, almoçaram comigo.
Mas a curiosidade deste facto é que a minha neta Leonor trazia com ela, umas pequenas esferas magnéticas com as quais ia fazendo diversos objectos, anéis, etc., e, claro, tais esferas tornaram-se a dado momento no nosso foco de atenção.
A certa altura a Leonor, separou as esferas umas das outras e colocou-as suficientemente longe para que não se atraíssem e assim ficassem todas separadas.
Depois pegou numa só, e com essa foi unindo todas as outras até que se tornaram numa só “esfera/bola” maior.

Hoje de madrugada acordei e recordei aquela brincadeira, que entretanto me fez pensar no simbolismo que dali podia retirar para a minha vivência cristã.

Cada esfera separada não pode por si só fazer qualquer construção, qualquer objecto, ter qualquer função, digamos assim.
E cada esfera separada fica ali quieta, sem se mover, sem avançar, nem recuar, sem movimento.
Cada um de nós, somos um pouco assim, ou seja, permanecendo sós nada podemos construir, e, embora possamos andar, sozinhos não encontramos direcção, nem sentido para a vida.

Obviamente que penso naqueles que como eu acreditam em Deus, ou querem, ou desejam acreditar em Deus e ter uma vivência cristã.

Mas depois, uma só esfera, (e podia ser qualquer uma), levada junto das outras une-se a elas, e acabam por formar uma só forma maior, mantendo no entanto cada uma a sua própria forma e dimensão.
Se temos em nós a presença de Jesus Cristo, nos deixamos tocar pelo amor do Pai e nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo, então, sendo testemunhas disso mesmo, somos cada um de nós como cada uma daquelas esferas, ou seja, somos, (ou deveríamos ser), união para os outros e dos outros connosco, passando a constituir uma só forma, a Igreja, mas mantendo cada um de nós a sua individualidade, embora a mesma se esbata no bem comum que é o sermos um com Ele, que é o sermos Igreja na unidade, com a sua própria diversidade.
Por isso é tão importante a Igreja, porque sós, nada podemos, nem somos, mas unidos em Igreja temos caminho, fazemos caminho e ajudamo-nos a caminhar.

Aquelas esferas têm a particularidade de serem magnéticas, terem ímã, e é por isso mesmo que se atraem, unem e permanecem unidas.
Assim é para nós também, porque é em Igreja que vamos buscar o “ímã” que atrai, que nos atrai e se faz presente em nós e nos outros, cada vez que celebramos unidos, cada vez que O comungamos, sendo assim nós próprios comunhão com Ele, nEle e por Ele, para os outros e nos outros.

E esse “íman” é, obviamente, Jesus Cristo, que se entregou por nós e que permanentemente nos chama à união em Igreja, no amor de Deus, para nos amarmos uns aos outros como Ele nos ama.


Marinha Grande, 16 de Janeiro de 2017
Joaquim Mexia Alves
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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

UM VAZIO CHEIO DE AMOR!

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Há dias que começam assim!
Uma sensação de vazio interior, um frio insensível, um sentimento de abandono.

Elevo os olhos ao Céu, levanto as mãos para Deus, faço uma oração envergonhada, e digo baixinho, como se quisesse que Ele me ouvisse, mas não percebesse a minha dúvida sobre a Sua presença: Bom dia, meu Deus. Estás aí?

Tudo fica na mesma, o vazio continua, o sentimento de abandono parece instalar-se, mas um calor sensível toca o meu coração e ouço no meu interior: Claro que estou! Não estou Eu sempre aqui, contigo? Bom dia meu filho!

Abandono-me, rendo-me!
Que me interessa o vazio interior, se o Amor está presente!


Monte Real, 10 de Janeiro de 2017
Joaquim Mexia Alves
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sábado, 7 de janeiro de 2017

«AI, JESUS!»

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Estou sentado na sala de espera das urgências do hospital de Leiria.

Numa sala de tratamentos mesmo ao lado ouvem-se os contínuos lamentos e ais de um homem já com alguma idade, percebendo-se que deve estar a sofrer dores difíceis de suportar.
Faz impressão porque não se ouve ninguém a falar com ele, que a tentar distrai-lo do seu sofrimento, a tentar de algum modo amenizar a situação em que se encontra, embora muita gente passe por ele continuamente.
Pelas pessoas que estão na sala, percebe-se que foi deixado no hospital por alguém que já ali não está e que nestes momentos se deve encontrar sozinho, sem ninguém.

Pelo meio dos simoples ais, ouve-se de quando em vez um “ai Jesus” que parece ser mais uma manifestação de dor, do que uma invocação do Santo Nome do Senhor.

Interiormente faço uma oração a Deus, ao Pai, que o envolva no seu amor, ao Filho que lhe dê a mão e ao Espírito Santo que o cure e liberte do sofrimento.

Mesmo com a oração, o sentimento de impotência, (pois não posso entrar ali), é enorme e o meu coração derrete-se com os ais de quem nem sequer conheço, nem reconheço.

Lembro-me da poesia, “mas às crianças Senhor porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim”, e troco as crianças pelos velhos, (dos quais rapidamente me aproximo em idade), e fico ainda mais triste, revoltado mesmo, porque a juntar às dores, ao sofrimento, vem sempre acompanhado um certo abandono, que leva à terrível sensação de que “já não estou a fazer nada nesta vida”.

Em que momento deixamos nós, sociedade, de nos preocupar verdadeiramente, emocionalmente, com os outros, sobretudo com aqueles que estão no início da vida, (matamo-los até no ventre da mãe), e no fim da vida, criando em tudo o que é lugar “dispensários de velhos” mais ou menos abandonados”?

Tem compaixão, Senhor, não de nós egoístas, fechados nas nossas vidas, mas daqueles de quem se ouvem os ais, que entram no coração e fazem chorar sentimentos antigos, de famílias reunidas à volta de todos, custasse o que custasse.

Aos poucos parecem esbater-se os ais!

Acredito que foste Tu, Senhor, que ouviste os “ai Jesus”, ou então foi o cansaço que venceu a dor.

De qualquer modo, obrigado Senhor, porque só em Ti encontramos o descanso que vence a dor, só em Ti encontramos a paz e a vida.


Leiria, 7 de Janeiro de 2017 (05:30)
Joaquim Mexia Alves 
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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O MELHOR REMÉDIO!

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Acabei o ano velho e comecei o ano novo com uma forte constipação, coisa que normalmente deita qualquer homem abaixo.
Fico sem ânimo, sem força, sem vontade para nada, assim uma coisa do tipo, “deixem-me morrer”!!!
Para quem tem de quando em vez pedras nos rins, é um pouco ridículo que uma constipação me consiga derrotar mais do que as incríveis e insuportáveis dores que as “pedrinhas” provocam quando decidem passear por sítios onde não deviam estar.

Mas enfim, nada disso é importante quando penso que afinal a constipação também me ajuda a perceber a minha fraqueza, a minha debilidade, pois que, afinal, sendo eu tão grande, (em tamanho, apenas, claro), sou um fraco, um pequenino, um “desamparado”, quando tenho uma vulgar constipação.
E, claro, lá vem a comparação com as coisas que aconteceram e vão acontecendo na minha vida, algumas que foram tão difíceis, mesmo tão difíceis e “desesperantes”, e perante elas não me senti fraco, não me senti pequenino, não me senti desamparado, mas sim e ao contrário com uma enorme vontade de lutar e continuar em frente.

É que o “Panasorbe”, o “Ben-u-ron”, e restantes remédios, tiram a febre, tiram a dor, fazem até sentir melhor, mas não nos fazem companhia, não nos mostram caminho, não nos dizem, “estou aqui”!

Deus tem essa enorme e total diferença!
Pode permitir a dor, mas dá ânimo para a suportar, pode fazer-nos sentir pequeninos, mas é apenas para nos pegar ao colo, pode até permitir que quase nos desesperemos, mas tem sempre a mão estendida para nos agarrar e retirar das águas que nos querem afogar, pode permitir que nos sintamos sós, mas mal nos voltamos para Ele logo ouvimos: “Mas Eu estou aqui, Eu sempre estive aqui, nunca te abandonei!”

Acabo de escrever este texto e sinto-me renovado, contente, alegre mesmo, e quase me apetece dizer: Obrigado Senhor, pela doença, que me faz procurar, encontrar e viver o melhor “remédio” que existe!
O Teu Amor!!!

Convenhamos que, para começar o ano novo, é um óptimo pensamento, que se torna realidade se assim o desejarmos.


Marinha Grande, 3 de Janeiro de 2017
Joaquim Mexia Alves
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